Aos Meus Amigos

“Il faut faire du scandale.”
(a frase preferida do personagem Léo)

Aos Meus Amigos A minissérie do início do ano da Rede Globo, desta vez, foi Queridos Amigos. A responsável pela adaptação de livro em minissérie foi a própria autora do original: Maria Adelaide Amaral escreveu Aos Meus Amigos em 1992 e reconstruiu a narrativa para adaptá-la à televisão. O resultado foi excelente, com atores de primeiro time e uma trilha sonora maravilhosa, com estrelas como Gonzaguinha e Elis Regina. Como geralmente acontece, porém, o livro supera a adaptação.

Aos Meus Amigos tem Léo (interpretado pelo excelente Dan Stulbach) como personagem central. Ele é a “cola” da história, embora o primeiro diálogo já anuncie: “O Léo morreu”. Léo foi inspirado numa figura real: o jornalista Décio Bar, que cometeu suicídio em 1991 e era amigo da escritora. Foi sua morte que motivou o livro, dedicado a ele. O pano de fundo, na ficção, é 1989, marcado pela volta das eleições diretas no Brasil e, no mundo, pela queda do Muro de Berlim. Era uma época de grandes transformações, de paradigmas quebrados e esperanças renascidas.

Toda a história de Aos Meus Amigos se passa em pouco mais de um dia. Os amigos de Léo se reencontram – alguns não se viam há anos – para o velório e o enterro. O leitor penetra em seus mundos, repletos de frustrações, casamentos desfeitos, fragilidades, amargura e incertezas. É um grande mosaico, formado de fragmentos de histórias pessoais mescladas a fatos históricos, frutos das reminiscências dos protagonistas.

Aos Meus Amigos flui facilmente, mas não espere encontrar um livro leve. Pelo contrário: há momentos em que é preciso interromper a leitura para respirar, dar uma pausa nas tragédias dos personagens, nos seus dramas. O livro não cansa, mas exaure em alguns momentos. Se você lembrar que boa parte dele se passa durante o ambiente depressivo de um velório, isso faz todo o sentido.

Queridos Amigos herdou do livro os personagens e seus contornos psicológicos, mas inovou muito na história. Na verdade, ela não foi adaptada, mas inspirada no livro, como frisa a nova edição e indicava a abertura da minissérie. A própria Maria Adelaide Amaral explicou, no Marília Gabriela Entrevista (canal GNT), que teve de criar várias situações novas para fazer as trezentas e poucas páginas preencherem 25 capítulos.

O resultado é que a minissérie, embora tocante, diluiu bastante a história. O primeiro capítulo apresenta Léo tentando reunir seus amigos para “celebrar a vida”; sua morte ficou para o final. Novos personagens aparecem e a trama se prolonga por dias e dias. Nesse processo, a grande perda foram os diálogos fortes do livro. No original, há debates intensos sobre política, crenças, movimento estudantil, crises existenciais, amor, filosofia. Na televisão, não há a mesma profundidade.

Queridos Amigos foi uma excelente minissérie, mas Aos Meus Amigos é ainda melhor. Seria interessante ver o livro transformado em filme. O cinema aproveitaria melhor toda a densidade e o drama da história, sem a necessidade de concessões, com mais fidelidade ao texto e ao ritmo. Aos Meus Amigos renderia um filmão e fugiria do tema vida-de-pobre-é-difícil, em que o cinema brasileiro tornou-se especialista.

Ficha Técnica

  • Título: Aos Meus Amigos
  • Autora: Maria Adelaide Amaral
  • Primeira edição: 1992
  • Editora: Globo
  • Páginas: 336
  • Pesquise o preço de Aos Meus Amigos.

George e o Segredo do Universo

Lá pelos meus 10 anos, meus pais compraram a Enciclopédia Barsa e, junto com ela, veio um atlas científico que dedicava as primeira páginas à teoria do Big Bang e da formação dos corpos celestes. Era lindo, cheio de fotos belíssimas. Fiquei completamente apaixonada pelo livro, lido e relido incansáveis vezes.

Claro que eu não entendia todos os conceitos naquela época. Uma pirralha de quinta série não tem arcabouço científico o suficiente para isso. Seria muito, muito legal se, naquele tempo (ai, minhas rugas), houvesse algum livro voltado para crianças e adolescentes que explicasse tanta informação de uma forma mais acessível.

Agora existe.

George e o Segredo do UniversoEscrito por Stephen Hawking (admirado por 10 entre 10 geeks), em parceria com sua filha Lucy Hawking, George e o Segredo do Universo mistura ciência com fantasia, ação e uma dose de mistério. Ensina os mais interessantes fenômenos do universo sem ser chato ou professoral. Por outro lado, não subestima a inteligência do leitor. Vai daí que é uma leitura divertida não só para crianças e adolescentes, mas também para adultos curiosos.

A história gira em torno do garoto George, filho de pais pós-hippies/ecochatos/naturebas que vêem a ciência como um bicho papão feio, bobo e chato. George morre de tédio e sonha em ter um computador. Sua vida fica muito mais interessante quando visita a Casa Vizinha e descobre Cosmos, um supercomputador que lhe mostra as maravilhas do universo de uma forma muito inusitada.

Além de ser muito bem escrito, George e o Segredo do Universo impressiona pelo capricho na edição, desde a capa prateada até as belas fotos do espaço, reunidas em 4 encartes. Além disso, é todo ilustrado com cenas das aventuras de George.

O livro é o primeiro de uma trilogia. É um ótimo agrado na volta às aulas, despertando nas crianças a curiosidade pela ciência. Para os adultos, é uma chance de aprender ou relembrar conceitos científicos de um jeito bem agradável.

Bônus: no site George e o Segredo do Universo, você pode ler o primeiro capítulo do livro, baixar papéis de parede e concorrer a prêmios. Se você entende a língua de , pode se divertir mais ainda no site em inglês, mais completo.

Bônus 2: como recebi 2 exemplares do livro, em breve farei alguma promoção para dar o segundo. Aguarde novidades!

Ficha Técnica

  • Título original: George’s Secret Key to the Universe
  • Autores: Lucy & Stephen Hawking
  • Primeira edição (nos EUA): 2007
  • Editora: Ediouro
  • Páginas: 305
  • Pesquise o preço de George e o Segredo do Universo no JáCotei.
A citação ao livro é patrocinada; a minha opinião é livre.

Blog Retrospectiva 2007

Hoje, o Desafio 21 da Nospheratt é recuperar meus 12 melhores textos do ano (na minha opinião, claro), com uma breve justificativa. Os melhores momentos do “Dia de Folga” em 2007 passam por tecnologia, livros, blogosfera, cinema, ecologia, acessibilidade e internet.

Janeiro

Uma estação desequilibrada e um governo alienado – chamei a atenção para os grandes desequilíbrios ambientais ocorridos em várias partes do globo há um ano.

Fevereiro

O que são feeds? – uma chamada para o texto explicativo sobre feeds, que foi publicado como página e, por isso, não entra na cronologia normal do blog. Recebi emails de gente que sempre quis saber o que é feed e nunca entendeu o technobbable, gente que achou o texto útil e começou a usar feeds a partir dele. Gratificante, sem dúvida.

Março

Borat (ou O Pior Filme de Todos os Tempos) – apresentei minha opinião claramente e recebi algumas críticas nos comentários (umas bem construídas, outras dispensáveis). O debate foi interessante – vale a pena ler a maior parte dos comentários – e marcou uma virada no DdF: voltei a opinar mais, algo que tinha deixado meio de lado.

Abril

Twitter – será que a moda pega por aqui? – comecei a usar o twitter em março, quando ninguém pensava que viraria moda entre os blogueiros brasileiros. Sim, errei na análise, mas gosto do texto mesmo assim. 😉

Maio

5 livros para ler ainda este ano – feito para uma promoção do Darren Rowse, rendeu vários trackbacks e deu-me a oportunidade de falar de livros que adoro.

Junho

Seu blog é acessível? – artigo de utilidade pública, ressaltando pontos importantes para melhorar a acessibilidade de um blog para deficientes visuais.

Julho

Blogs versus Mídia Tradicional: a guerra começou? – motivado pela polêmica campanha do Estadão contra os blogs. E não, não acredito nessa tal “guerra” que representantes de ambos os lados tentaram forjar. Aposto na complementaridade dos veículos.

Agosto

Faça Você Mesmo – compilação de dicas e links para solucionar as dúvidas que quem dá os primeiros passos no WordPress.

Setembro

O BlogCamp foi… – esse entra na lista por motivos sentimentais, admito. Foi o primeiro BlogCamp, foi nacional (sim, rolou em São Paulo, por votação) e foi a chance de transformar em carne e osso gente que eu só conhecia por pixels. Deu início a uma nova fase bloguística.

Outubro

Tropa de Elite – outubro teve o maior índice de assuntos com alguma provocação social ou política. O filme foi o assunto do mês e rendeu reflexões importantíssimas para o amadurecimento da sociedade brasileira.

Novembro

Podcast – já ouviu falar? – da mesma forma que no texto sobre feeds, procurei explicar os podcasts de uma maneira simples, voltada para quem não é geek. Calhou de ser um assunto bem debatido dias depois, no BlogCamp PR.

Dezembro

iPhone em revenda TIM – o mês está só no começo, com apenas dois artigos (três, com este). Por enquanto, fica o do iPhone, com destaque para o problema da ausência de homologação pela Anatel.

Que venha 2008!

Perca um livro!

Perca um LivroA Agência Espalhe iniciou o Perca um Livro, uma mistura de campanha de marketing e projeto de incentivo à leitura. O funcionamento é simples: você tira a poeira daquele livro encostado na estante, cadastra-o no site, imprime e cola uma etiqueta com o código conferido ao livro e deixa-o por aí. Quem achá-lo, tem a missão de informar o código no site e, depois de o ler, pode perdê-lo novamente, reiniciando o ciclo.

BookCrossingA idéia não é nova. Há seis anos existe o BookCrossing, uma comunidade muito ativa, construída em torno da idéia de que livros não são feitos para mofarem em prateleiras, mas para circularem de mão em mão. O nome do projeto acabou virando substantivo comum, tamanha a sua popularidade. O código de rastreamento torna tudo mais interessante, aproximando pessoas que leram a mesma obra e motivando a continuidade da brincadeira. Formaram-se os bookrings: alguém divulga que tem um determinado livro e os interessados se manifestam; o livro vai passando de um a outro, via correio, até voltar ao seu dono. O bookray funciona da mesma forma, mas o livro nunca volta ao dono.

Também há listas de discussão, fóruns e comunidades no orkut que agregam participantes do BookCrossing. Hoje em dia, redes sociais estão na moda; o BookCrossing teve início antes de todas elas, constituindo-se uma verdadeira rede social de amantes da leitura.

Aqui no Brasil, a idéia nunca pegou. A uma, porque a grande maioria dos livros do BookCrossing é escrita em inglês. A duas, porque brasileiro não é mesmo fã da leitura. Por outro lado, quem gosta de ler tem a tendência de apegar-se à sua coleção, hesitando em passar obras adiante, sempre pensando “posso querer ler isso de novo um dia”. E ainda tem o fato de que nem todos têm acesso fácil à internet para informar o código de rastreamento – alguns livros podem ficar, teoricamente, perdidos para sempre.

Apesar disso tudo, a Espalhe quer provar que o bookcrossing pode funcionar em terras tupiniquins. Para o pontapé inicial, a Editora Zeiz “perdeu” por aí 150 exemplares do livro A Unidade dos Seis – O Herdeiro Especial. Quem encontra um exemplar é convidado a cadastrá-lo no Perca um Livro, lê-lo e perdê-lo novamente. O meu chegou pelo correio (mais uma cidade além de São Paulo, Rafael) e já está emprestado. Depois que o ler, vou soltá-lo aqui em Brasília. Também já separei uns livros para perder: O Príncipe, Pandora e O Fantasma de Manhattan.

Embora o Perca um Livro tenha começado como uma ação de marketing, não pretende esgotar-se nisso. Existe potencial e intenção de que cresça e tome proporções de um verdadeiro bookcrossing. A barreira da língua, ao menos, fica afastada. Já existe comunidade no orkut para reunir os participantes. Torço para que a adesão aumente. Quem sabe, daqui a algum tempo, tenhamos algo de proporções semelhantes ao BookCrossing.

Quem gostou da idéia e quer liberar um livro deve escolher o local de forma a favorecer o seu resgate. Os veteranos do bookcrossing recomendam alguns pontos: cafés, restaurantes, arredores de livrarias, museus, teatros e cinemas, salas de aula, salas de espera, bancos de parques.

Sugestões

Porque, é claro, eu preciso dar meus pitacos. 😉

Seria ótimo se houvesse uma forma de imprimir as etiquetas em branco, sem o código do livro. Nem todos têm impressoras – quem não tem, poderia usar a de um colega, ou de uma gráfica para imprimir o modelo em branco e, na hora de cadastrar o livro, copiaria a mão o código no espaço correspondente.

O BookCrossing vende, pelo correio, etiquetas auto-adesivas que são uma mão na roda na hora de liberar livros, além de serem muito bonitas. Fazem séries comemorativas e tudo o mais. Exageram no tamanho das encomendas – cada pacote tem 250 etiquetas – mas o preço é camarada: cada etiqueta sai por uns 30 centavos de dólar. Iniciativa semelhante do Perca um Livro viria a calhar.

Faltam ao site ferramentas que o deixem com cara de rede social, como cadastro de participantes e uma pesquisa mais detalhada dos livros cadastrados. Uma seção “Sobre” mais detalhada também é necessária para fisgar novos participantes.

Será que você não tem algum livro esquecido num canto? Dê uma espanada, cadastre-o no Perca um Livro e deixe-o em algum lugar bacana. Livro é feito pra circular!