Dreamblood – Duologia

Você acha que já leu todo tipo de fantasia? Leia N. K. Jemisin. Ela foge aos clichês do gênero e cria histórias poderosas com palavras exatas. O leitor é conduzido com esmero por um mundo novo e logo tem a sensação de ter nascido nesse mundo. É o que acontece na duologia Dreamblood.

O primeiro livro, “Killing Moon”, demora um pouco a engrenar, o que não é raro em livros de fantasia com worldbuilding complexo. Quando engrena, agarra o leitor e não solta mais. Senti-me no deserto com Ehiru e Nijiri, compartilhei suas incertezas e naveguei com eles no mundo dos sonhos – eles são Gatherers, sacerdotes da deusa Hananji e do templo Hetawa que usam magia para (entre outras coisas) conduzir a alma dos suplicante ao além-vida. Subitamente, veem-se envolvidos por uma intriga política que começa sutilmente e se revela uma grande ameaça.

O segundo livro, “The Shadowed Sun”, transcorre no mesmo mundo, dez anos depois. Dessa vez, acompanhei os Sharers, outra vocação no Hetawa. Numa simplificação, se Gatherers curam a alma, Sharers curam o corpo, também por meio de magia e do mundo dos sonhos. Hanani, única Sharer mulher, enfrenta um enorme desafio enquanto tenta se encontrar em meio às exigências do Hetawa e às suas próprias necessidades. Jemisin me fez sentir as angústias de Hanani com tanta força que às vezes era preciso interromper a leitura.

O worldbuilding é excelente e os personagens são complexos e multifacetados, mas a força da escrita de N. K. Jemisin é a construção de relacionamentos. Essa habilidade torna Dreamblood uma história inesquecível.

Infelizmente, ainda não há tradução para o português. O jeito é ler em inglês ou aguardar a tradução pela @editoramorrobranco.

@soterradaporlivros e a @livroseletricos também resenharam a duologia (era pra ser leitura coletiva, eu flopei), vai lá ver.

Estrelinhas no caderno: 5 estrelas

O Nome do Vento

Fazia tempo que eu não lia um livro de fantasia que realmente me fizesse entrar na história. “O Nome do Vento” foi um belo resgate do meu gosto pelo gênero.

O livro de Patrick Rothfuss narra a infância e os primeiros anos da adolescência de Kvothe. Em meio a perdas violentas, traumas e a luta para sobreviver a cada dia, Kvothe encontra ajuda, amigos, mentores e o amor. Enquanto busca a resposta para a maior tragédia da sua vida, aprende magia e, mais que isso, resiliência – e começa a se tornar um herói.

O autor escreve o meu estilo de fantasia: economiza descrições e foca na trama, sem esquecer de criar personagens cativantes. O único defeito é que o livro é o primeiro de uma trilogia, e fujo de séries – mas essa vou acabar lendo.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Circe, de Madeline Miller

@tinyowl.reads organizou uma leitura coletiva de “Circe” (de Madeline Miller) e o livro, que comprei há uns meses por recomendação da @soterradaporlivros, furou a fila na minha tbr (to be read – a listinha de livros esperando para serem lidos). (Na verdade, eu não tenho uma tbr… mas, quando eu cumpro a tbr, eu dobro a tbr). A autora reconta alguns mitos gregos do ponto de vista de Circe, deusa, bruxa, mulher, pária dentro da própria família.

A escrita não me cativou. A narrativa em primeira pessoa geralmente me “tira” da história, e foi o que aconteceu na primeira metade do livro – uma sensação de distanciamento. O fato de Circe ser um tanto chorona nessa primeira parte não ajudou.

A história melhora muito a partir da segunda metade. Começa a melhorar antes mesmo da chegada de Odisseu (os mitos de Circe e Odisseu são entrelaçados), pois Circe começa a descobrir sua força e sua voz. Daí pra frente, o livro fluiu bem.

Algumas resenhas dizem que “Circe” é um livro feminista. Não é, mas trata que questões ligadas ao feminino e ao feminismo. Mesmo entre os imortais, a vida é mais difícil se você é uma deusa. Aos homens, tudo é perdoado. Das mulheres, tudo é exigido.

Estrelinhas no caderno: 3 estrelas

Morte no Nilo, de Agatha Christie

Livro da vez: “Morte no Nilo”, de Agatha Christie.

Um dos poucos livros do Poirot que não li na adolescência (porque eu não gostava da capa) é também um dos melhores.

Em “Morte no Nilo”, Agatha Christie se preocupa em criar histórias e idiossincrasias para os personagens, algo que ela nem sempre faz e que enriqueceu muito o livro. As pistas para desvendar os crimes (sim, há mais de um) existem e, coisa raríssima, consegui adivinhar os criminosos e suas motivações. Mesmo assim, alguns lances me surpreenderam.

Foi uma leitura diferente porque fiz numa sentada. Talvez por isso tenha conseguido adivinhar… talvez tenha sido apenas sorte. Fato é que ler de uma vez foi uma experiência prazerosa e pretendo repetir com os próximos da Dama do Mistério. São sempre livros fáceis e a leitura de um fôlego só parece deixá-los melhores.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas