House M.D.

Este artigo é a primeira parte da tag As 10 Melhores Séries de Todos os Tempos.

House M.D.Fazia uma eternidade (desde 1991, para ser exata) que eu não viciava numa série com tamanha rapidez e intensidade. House me fisgou no primeiro episódio. Tanto que a principal razão para mudar de serviço de tv a cabo foi o fato de não contar com o Universal Channel (que exibe House e outras séries bacanas) na minha antiga prestadora.

House é uma série médica que aprofunda os relacionamentos entre os personagens. A diferença para outras do estilo é que o protagonista é um anti-herói rabugento, arrogante, viciado, quase insuportável – mas genial. O que você prefere? Um médico bonzinho que não assume responsabilidades e riscos, ou um teimoso e tremendamente irritante, mas que salvará sua vida?Diagnóstico diferencial, gente!

O technobabble costuma ser bem pesado, mais que em outras séries médicas. O interessante, porém, não é a resolução dos casos médicos, mas como os personagens interagem ao resolvê-los. Greg House conta com três empregados nessa tarefa. Lida, ainda, com a diretora do hospital, com o (único) amigo e, regularmente, com advogados e pacientes revoltados.

House assume, quase com um mantra, que todo mundo mente; assim, não vê necessidade de entrar em contato com os pacientes que, certamente, contarão mentiras que dificultarão o diagnóstico. Na verdade, evita relacionamentos como o diabo foge da cruz. Não perde tempo em repelir uma boa intenção com uma palavra seca. Conquista inimigos por onde passa. Ainda assim, conta com admiração quase irrestrita no campo profissional e, veja só, algumas pessoas com quem ele trabalha até gostam dele.

Personagem Favorito

O mau-humorado Dr. Gregory House (Hugh Laurie).

Cenas Inesquecíveis

Alguns episódios antes da separação.Em Need to Know (segunda temporada), House dispensa Stacy, seu único amor, de uma vez por todas:

House: Como você acha que isso vai acabar? Seremos felizes por quanto tempo? Algumas semanas, alguns meses. E então, eu direi algo insensível, ou começarei a ignorar você. No começo, tudo bem. É só House sendo House. E depois, em algum momento, você precisará de algo mais. Precisará de alguém que possa te dar o que eu não posso. Você sabe que eu estou certo. Eu já passei por isso antes.
Stacy: Não tem que ser assim.
House: Tem, sim. Não quero passar por isso de novo. Sinto muito, Stacy.

Em seguida, está sozinho, no telhado do hospital. O Grilo Falant- digo, o dr. Wilson chega:

Wilson: O que você disse a ela?
House: Eu disse a ela que ela ficará melhor sem mim.
Wilson: Huh. Provavelmente, é verdade.
(Pausa para House tomar suas bolinhas.)
Wilson: Você é um idiota. Você não acredita que ela ficará melhor sem você.
House: Certo. Eu a dispensei por capricho.
Wilson: Você não faz idéia de por que a dispensou.
House (dando-lhe as costas): Não faça isso.
Wilson: Não há nenhum grande sacrifício aqui! Você a dispensou porque você tem que ser infeliz.
House (voltando-se para Wilson): Esse tipo de psico-lixo ajuda seus pacientes durante as longas noites? Ou é só para você? Confrontar, ajudar as pessoas a sentirem suas próprias dores, te dá prazer?
Wilson: Você não gosta de si mesmo. Mas você admira a si mesmo. É tudo que você tem, então você se agarra a isso. Você tem tanto medo de que, se mudar, perderá o que o torna especial. Ser infeliz não o faz melhor que ninguém, House. Apenas o faz infeliz.

No episódio Clueless (segunda temporada), A dra. Cameron aposta com House que o casamento do paciente do dia é excelente. Durante a trama, descobre-se que não é bem assim e House, pra variar, ganha a aposta. Cameron vai à sala dele entregar o dinheiro e fala:

Cameron: Você está contente. Você acredita que provou que todo casamento é um erro.
House: Eu pareço contente?
Cameron: A ignorância é uma bênção.

O embate entre médico e pacienteEpisódio One day, one room (terceira temporada), um dos melhores da série: uma paciente vítima de estupro insiste em ser tratada por House, que tenta recusar o caso de todas as formas, que simplesmente não o interessa. São vários os embates. Eis o que dá o título do episódio:

Eve, a paciente: Sua história – ela é verdadeira?
House: É verdadeira para alguém.
Eve: Mas não pra você.
House: Coisas assim acontecem. Aconteceram com outras pessoas. Que diferença faz se aconteceu comigo?
Eve: Elas não estão neste quarto.
House: Você vai basear sua vida inteira em quem está preso num quarto com você?
Eve: Eu vou basear este momento em quem está preso num quarto comigo! É isso que a vida é: uma séries de quartoes, e as pessoas com quem ficamos presas nesses quartos definem o que nossas vidas são.

A mais bela fotografia de House M.D., até o momento.Neste mesmo episódio, One day, one room, tem-se a mais bela fotografia da série até o momento, além de um profundo debate sobre o aborto.

Saiba mais

Compre

Seinfeld

Este artigo é a sétima parte da tag As 10 Melhores Séries de Todos os Tempos.

Kramer, George, Elaine e Jerry Seinfeld.Uma série sobre… nada. É assim que Seinfeld se define. Tente lembrar-se dos detalhes de um episódio qualquer, mesmo que você o tenha visto há apenas dois ou três dias – é um desafio e tanto. Jerry, George, Kramer e Elaine se envolvem nas mais inusitadas aventuras, freqüentemente deixando de lado qualquer escrúpulo.

Dos quatro amigos, Jerry Seinfeld é o mais bem-sucedido. George Costanza é o perdedor nato (o perfeito “loser”), Cosmo Kramer está sempre dando um jeitinho para se virar (podia ser brasileiro) e Elaine Benes tem uma situação estável profissionalmente, mas caótica em termos sociais e afetivos.

A série tem tiradas hilariantes. Fugindo ao padrão das sitcoms (as comédias de situação), Seinfeld é subversiva, sarcástica e irônica, destacando-se pelo humor negro.

Personagem Favorito

Jerry Seinfeld, com suas idiossincrasias em assuntos amorosos e seu hábito incorrigível de tirar sarro dos amigos.

Cena Inesquecível

O Nazista da SopaQualquer fã de Seinfeld é capaz de passar horas recordando momentos absolutamente nonsense do seriado. Sem dúvida, uma das primeiras situações a ser lembrada será a do Nazista da Sopa, do episódio The Soup (sexta temporada): se o freguês do tal restaurante de sopas pensa um pouco mais na hora de fazer o pedido, ou se comete a audácia de reclamar de algo, fica sem sua refeição (“No soup for you!!!”):

(George e Elaine estão na fila da loja de sopas. É a primeira vez de Elaine.)
George: Shh! Preciso me concentrar. Estou entrando no “modo de sopa” [soup mode]
Elaine: Ai, meu Deus!
(A fila anda. Chega a vez de George.)
George: Boa tarde. Uma sopa grande de caranguejo para viagem. Pão. Lindo.
Nazista da Sopa:Você está abusando da sorte, homenzinho…
George: Desculpe. Obrigado. (Recebe a sopa e sai.)
Elaine: Oi pra você. Hum, uh… (Tamborila no tampo da linha de serviço.) Oh! Oh! Oh! uma sopa mulligatawny [segundo o Kramer, uma sopa indiana feita com maestria pelo Nazista] e… uma… De que é essa aí? Feijão?
Nazista da Sopa (já sem paciência): Sim.
Elaine: Nunca gostei muito… (Tosse sobre o balcão.) Uhm… (Encara o Nazista.) Sabe de uma coisa? Alguém já lhe disse que você é a cara do Al Pacino? Sabe, o de “Perfume de Mulher”.
Nazista da Sopa: Muito bom. Muito bom.
Elaine: Bem, eu…
Nazista da Sopa: Sabe de uma coisa?
Elaine: Hmmm?
Nazista da Sopa: Nada de sopa pra você!
Elaine: O quê?!
Nazista da Sopa: Volte no ano que vem! O próximo!

Curiosidade: a cena é baseada num restaurante de sopas real, que tem um dono tão nazista quanto o Nazista.

Saiba mais

Compre

O Cheiro do Ralo

Ficha Técnica

Brasil, 2006. Comédia. 112 minutos. Direção: Heitor Dhalia. Com Selton Mello, Paula Braun, Lourenço Mutarelli, Flávio Bauraqui, Fabiana Guglielmetti, Sílvia Lourenço.

Lourenço (Selton Mello), dono de uma loja que compra e vende objetos usados, vê-se em apuros após ter que se relacionar com uma de suas clientes, que julgava estar sob seu controle.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

5 estrelas

Parece que os filmes nacionais sempre vêm sob rótulos: antes, era o cinema novo, depois foi a pornochanchada. Recentemente, a comédia de situação. Não que haja algum demérito em seguir padrões de sucesso a cada época. Por outro lado, é agradável ver um filme ignorar tendências e crescer por si mesmo. É o caso de O Cheiro do Ralo.

Quem espera uma comédia como O Auto da Compadecida ou O Coronel e o Lobisomem, dois outros filmes que têm Selton Mello como protagonista, pode começar a rever seus conceitos. Em O Cheiro do Ralo, a comédia anda de mãos dadas com o drama e o papel de Selton Mello é bem diferente daqueles em que o público está acostumado a vê-lo.

Lourenço é um sujeito misantropo e taciturno. Sua interação com outros seres humanos dá-se na base da compra e venda (ou apenas compra, já que não se vê nada sendo vendido na loja que lhe pertence). Seu olhar sobre as pessoas não é diferente do que lança aos objetos que lhe são apresentados. Não por acaso, nenhum personagem tem nome além do próprio Lourenço. O protagonista coisifica todos que o rodeiam, avalia-os de cima abaixo em busca de alguma utilidade ou função para si próprio. Assim, mantém tudo sob o estrito domínio dos seus interesses – ou quase tudo.

As maiores frustrações de Lourenço são, justamente, as duas únicas “coisas” que não pode controlar: o cheiro do ralo do banheirinho de seu galpão e a garçonete da lanchonete da esquina. Esses elementos se tornam, conseqüentemente, suas grandes obsessões.

O Cheiro do Ralo, em termos visuais, é muito simples – aliás, foi filmado com a cara e a coragem, gastando modestíssimos, 300 mil reais, uma ninharia para um longa-metragem. O que chama a atenção é o discurso. Num filme, espera-se encontrar vários pontos de vista, colocados obviamente ou não. Em O Cheiro do Ralo, a narrativa é toda em primeira pessoa. A câmera acompanha o olhar de Lourenço, com poucos escapes – e, mesmo durante estes, a perspectiva é a de Lourenço. A direção de Heitor Dhalia entrega aos espectadores a idéia de que Lourenço é o centro do mundo, exatamente como lhe parece.

Lourenço guarda inegável semelhança com Mersault, personagem psicopata do livro O Estrangeiro, de Albert Camus. O caráter obsessivo do protagonista de O Cheiro do Ralo contribui, ainda, para aproximá-lo do livro O Processo, em que Joseph K. sente-se torturado por não descobrir as causas que o levaram a ser processado. O existencialismo é a tônica do filme.

Haverá quem critique a produção pelas cenas de nudez – que, realmente, seriam apelativas se não tivessem um contexto, evidenciando ainda mais a coisificação das criaturas. Minha única crítica é que O Cheiro do Ralo tenta se explicar demais, fazendo questão de traduzir em palavras suas idéias. Talvez tantas explicações sejam necessárias para que a história se faça compreender pelo grande público.

O Cheiro do Ralo é daqueles filmes que entrarão para a história do cinema nacional, graças à qualidade de seu argumento e à ousadia de sua equipe.

Merece destaque a atuação de Sílvia Lourenço como uma viciada em desespero. O filme traz, ainda, as participações especiais de Suzana Alves, a Tiazinha, como uma professora de ginástica, e de Paulo César Peréio como a voz do pai da noiva de Lourenço.

Referências

Volver

Ficha técnica

Volver. Espanha, 2006. Drama. 121 min. Direção: Pedro Almodóvar. Com Penélope Cruz, Carmen Maura, Lola Dueñas, Blanca Portillo, Yohana Cobo, Chus Lampreave.

Raimunda (Penélope Cruz) é uma jovem mãe, trabalhadora e atraente, que tem um marido desempregado e uma filha adolescente. Como a família enfrenta problemas financeiros, Raimunda acumula vários empregos. Sole (Lola Dueñas), sua irmã mais velha, possui um salão de beleza ilegal e vive sozinha desde que o marido a abandonou para fugir com uma de suas clientes. Um dia, Sole liga para Raimunda para contar que Paula (Yohana Cobo), tia delas, havia falecido. No mesmo dia, Raimunda encontra o marido morto, o que a impede de comparecer ao enterro da tia. Em meio a tudo isso, Irene (Carmen Maura), mãe de Raimunda e Sole, morta há anos, aparece para Sole.

Mais informações: Adoro Cinema.

Cometários

5 estrelas

O novo filme de Almodóvar caiu rapidamente no gosto do público e da crítica. Não é para menos: o diretor espanhol mais aclamado de todos os tempos retoma alguns dos seus melhores elementos e cria uma história dramática de um lado e divertidíssima de outro, bem diferente de seu último filme, Má Educação, tenso da primeira à última cena. É difícil rotular Volver simplesmente como “Comédia” ou “Drama”, já que, para Almodóvar, um gênero não exclui necessariamente o outro.

Volver aproxima-se de Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos – tanto nesse trabalho de 1988 (quanto teve início a desavença entre Almodóvar e Carmen Maura, após seis filmes juntos) quanto em Volver (que marca o retorno da sua parceria profissional), o diretor aborda o universo feminino com muito bom-humor e cores vivíssimas. Apesar dessas semelhanças, Volver é um filme mais amadurecido, com um forte argumento e um jogo muito interessante com o surrealismo.

Volver aborda a morte, as relações familiares e a cumplicidade feminina. Os homens são retratados da pior maneira, representando traição, violência, deslealdade. As qualidades, da doçura à determinação, são todas das mulheres.

Além de um retorno à parceria com Carmen Maura, Volver traz de volta Penélope Cruz, dirigida por Almodóvar em dois outros filmes (Carne Trêmula e Tudo Sobre Minha Mãe). Outro retorno é às origens do diretor: Almodóvar declarou que baseou o filme nas recordações da sua infância passada no interior da Espanha e nas lembranças que guarda de sua própria família.

O elenco é de primeira grandeza. Carmen Maura dispensa comentários, Penélope Cruz está absolutamente perfeita e Lola Dueñas (que interpretou Rosa no excelente Mar Adentro) não deixa por menos. Tanto assim que o time, completado por Blanca Portillo, Yohana Cobo e Chus Lampreave, ganhou o prêmio coletivo de melhor interpretação feminina do Festival de Cannes de 2006 (além do prêmio de melhor roteiro).

Volver foi o filme espanhol indicado para representar o país no Oscar 2007 e tem chances reais de receber uma estatueta. Acabou de ganhar da Academia Européia de Cinema os prêmios de melhor diretor, melhor atriz (Penélope Cruz) e melhor compositor (Alberto Iglesias), e ainda o prêmio do público de melhor filme europeu.

Aos fãs de Almodóvar é imprescindível uma visita à sua página oficial, que conta com textos escritos por ele mesmo sobre as filmagens de Volver, além de outros artigos.