Globo de Ouro 2006

A pior parte do Globo de Ouro é que a maioria dos filmes ainda não estreou no Brasil. Fica complicado acompanhar e tecer comentários a respeito.

A parte mais interessante é que a premiação tende a ser um bom indicativo do Oscar, que acontece daqui a dois meses. Seguindo-se essa lógica, o grande premiado do Oscar 2006 será Brokeback Mountain (no Brasil será chamado de O Segredo de Brokeback Mountain[bb], com estréia prevista para 3 de fevereiro) O filme, que mostra o amor que surge entre dois cowboys, é dirigido por Ang Lee (Razão e Sensibilidade, O Tigre e o Dragão, O Incrível Hulk) e na noite de ontem levou os melhores prêmios: melhor filme de drama, melhor diretor e melhor roteiro. Abocanhou também o Globo de Ouro de melhor música (A Love That Will Never Grow Old, do argentino Gustavo Santaolalla).

O brasileiro Fernando Meirelles (Cidade de Deus[bb]) concorreu como melhor diretor de filme de drama por O Jardineiro Fiel, e a película também foi indicada como melhor filme de drama. Rachel Weisz concorreu como melhor atriz coadjuvante e ganhou, o que deve projetar bastante o nome do filme e valorizar seu diretor. A única dúvida é se ela interpretou mesmo uma personagem coadjuvante – na verdade, o filme todo gira em torno de Rachel.

George Clooney, charmoso como sempre, ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante por Syriana, uma história sobre a indústria do petróleo norte-americana, declaradamente anti-Bush (previsão de estréia no Brasil: 10 de fevereiro).

Felicity Huffman ganhou o Globo de melhor atriz em filme de drama por Transamerica[bb], em que interpreta um transsexual. Ao lado das premiações dadas a Brokeback Mountain, o fato levou Rubens Ewald Filho – que comentou o evento no SBT – a exclamar: “Gente, é um Globo de Ouro gay!”.

Os Produtores, que teve passagem meteórica pelas salas brasileiras, concorreu nas categorias de melhor filme musical/comédia, melhor ator em filme musical/comédia (Nathan Lane), melhor ator coadjuvante (Will Ferrell), melhor canção (There is Nothing Like a Show on Broadway). Apesar de ser um ótimo filme, não levou nenhum prêmio.

O prêmio Cecil B. DeMille, concedido pelo conjunto da obra, coube a Anthony Hopkins que, indicado seis vezes ao Globo de Ouro, nunca havia levado um para casa.

Hugh Laurie ganhou o globo de melhor ator em série dramática pelo médico rabugento que interpreta em House[bb], excelente seriado transmitido pelo Universal Channel.

O quarteto protagonista de Will & Grace[bb] apresentou um dos prêmios da noite. A série está em sua última temporada nos Estados Unidos e não concorreu em nenhuma categoria este ano.

Veja a lista de todos os ganhadores do Globo de Ouro 2006.

Atualização: texto publicado originalmente em 17 de janeiro de 2006, um dia após a premiação, e perdido devido à esquizofrenia do WordPress 2.0. Ei-lo novamente, graças ao sempre leal WordPress 1.5.2.

Se Eu Fosse Você

Ficha técnica

Brasil, 2006. Comédia Romântica. Direção: Daniel Filho. Com Glória Pires, Tony Ramos, Thiago Lacerda, Danielle Winits, Lavinia Vlasak, Patrícia Pillar, Dênis Carvalho, Ary Fontoura, Jorge Fernando, Glória Menezes.

Cláudio (Tony Ramos) é um publicitário bem sucedido, dono de sua própria agência, que é casado com Helena (Glória Pires), uma professora de música que cuida de um coral infantil. Acostumados com a rotina do dia-a-dia e do casamento de tantos anos, eles volta e meia têm uma discussão. Um dia eles têm uma briga maior do que o normal, que faz com que algo inexplicável aconteça: eles trocam de corpos. Apavorados, Cláudio e Helena tentam aparentar normalidade até que consigam revertar a situação. Porém para tanto eles terão que assumir por completo a vida do outro.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

3 estrelas

Numa manhã de quinta-feira, duas opções: chegar duas horas mais cedo ao trabalho ou assistir a Se eu fosse você.

A história é banal – a velha guerra dos sexos, temperada com a famosa teoria homens-são-de-marte-e-mulheres-são-de-vênus (veja livro). O final é previsível. A moral da história, conhecida. Apesar de tudo isso, o filme rende boas gargalhadas, graças à dupla Tony Ramos & Glória Pires, ambos fantásticos.

Típica sessão-da-tarde. Veja, se estiver à toa como eu estava, ou aguarde o lançamento em dvd.

O Exorcismo de Emily Rose

Ficha técnica

The Exorcism of Emily Rose. Estados Unidos, 2005. Terror. 119 minutos. Direção: Scott Derrickson. Com Laura Linney, Tom Wilkinson, Campbell Scott, Jennifer Carpenter.
Emily Rose (Jennifer Carpenter) é uma jovem que deixou sua casa em uma região rural para cursar a faculdade. Um dia, sozinha em seu quarto no alojamento, ela tem uma alucinação assustadora, perdendo a consciência logo em seguida. Como seus surtos ficam cada vez mais frequentes, Emily, que é católica praticante, aceita ser submetida a uma sessão de exorcismo. Quem realiza a sessão é o sacerdote de sua paróquia, o padre Richard Moore (Tom Wilkinson). Porém Emily morre durante o exorcismo, o que faz com que o padre seja acusado de assassinato. Erin Bruner (Laura Linney), uma advogada famosa, aceita pegar a defesa do padre Moore em troca da garantia de sociedade em uma banca de advocacia. À medida que o processo transcorre o cinismo e o ateísmo de Erin são desafiados pela fé do padre Moore e também pelos eventos inexplicáveis em torno do caso.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

3 estrelas

Quem vai ao cinema e, como eu, não lê nem a sinopse antes, poderá se surpreender. O Exorcismo de Emily Rose está mais para “filme de tribunal” (deveriam incorporar de uma vez essa expressão na lista de gêneros do cinema) do que para filme de terror – o que acabou contribuindo para que eu gostasse bastante da história.

Apesar disso, os sustos existem e são bons, não decepcionando quem gosta de passar medo no cinema. A trilha sonora contribui decisivamente para criar momentos de tensão, ao lado da maquiagem, impactante especialmente na primeira imagem exibida de Emily no tribunal.

O argumento é muito interessante e provoca reflexões sobre os papéis que cabem à ciência e à religião. Esses questionamentos, no entanto, não quebram o ritmo da fita. Você pode passar batido por eles e simplesmente curtir o filme.

A atuação de Jennifer Carpenter é um tanto caricata do início, mas depois encaixa-se bem na trama. Por outro lado, o padre exorcista é interpretado fantasticamente por Tom Wilkinson, e Laura Linney também está ótima no papel da cética advogada.

O Exorcismo de Emily Rose é baseado na história de Anneliese Michel, jovem alemã que morreu em 1976.

Filme despretencioso, de baixo orçamento, com um resultado muito bom.

Para saber mais sobre a história que deu origem ao filme, leia a crítica no site Universo Católico.

Outros filmes que valem a pena, vistos no fim de 2005

Os Produtores: mas apenas se você gosta de musicais e aprecia uma historinha que foge do “politicamente correto”.3 estrelas

Quem somos nós?: em cartaz apenas no circuito cult, Quem Somos Nós? é um documentário que tenta explicar o ser humano por meio da física quântica. Esse sim, é um filme capaz de provocar profundos questionamentos a respeito das nossas crenças e das premissas sobre as quais construímos nossas vidas.5 estrelas

A vida é cheia de som e fúria

“As pessoas mais afetivamente infelizes que eu conheço
são as que mais gostam de música pop.”
(Rob Fleming)

Tem gente que, aos domingos antes do almoço, zapeia pela televisão. Outras pessoas lêem o jornal. Eu, como não tenho tv a cabo e detesto jornal impresso (por razões pessoais e frescas), surfo pela internet por uma hora, mais ou menos, entre acordar (lá pelo meio-dia) e sair para o almoço. Às vezes leio blogs, às vezes fico à toa, às vezes procuro o que fazer à noite.

E, procurando o que fazer, descobri ontem uma peça fantástica, em cartaz no CCBB de Brasília. A vida é cheia de som e fúria é baseada no livro Alta Fidelidade, de Nick Hornby, um dos meus favoritos. O livro já rendeu até filme, mas a montagem teatral é anterior à cinematográfica e, em alguns aspectos, ainda melhor.

O filme, de 2000, conta com John Cusack no papel de Rob Gordon, um sujeito que acaba de ser chutado pela namorada e, como uma forma de aliviar sua dor, resolve fazer uma lista dos cinco maiores foras. Gordon tem 35 anos, é dono de uma loja de discos, tem amigos esquisitos, não sabe o que quer da vida e é fissurado em música pop. Tem mania de fazer listas no estilo “5 mais” (Top 5) sobre todo e qualquer assunto.

A versão do cinema consegue ser bem fiel ao livro que é, realmente, fantástico. Sem dúvida, o filme está no meu “Top 5” de filmes favoritos – e sim, eu também tenho a mania dos Top 5. Não é à toa que tenho uma categoria com esse nome aqui no blog que, aliás, chamava-se “Alta Fidelidade”. Como quase ninguém entendia a referência, mudei o nome da categoria.

John Cusack é fantástico e dá vida a Rob Gordon – que, no livro, tem o sobrenome Fleming – brilhantemente. O filme só peca em dois pontos: passa-se nos Estados Unidos – a história original situa-se em Londres – e, talvez justamente por isso, não é fiel às referências musicais presentes na história de Nick Hornby, quase todas inglesas. O diretor Stephen Frears preferiu desenvolver uma trilha sonora nova, ao invés de aproveitar a fantástica trilha sugerida pelo livro.

A peça corrige essas diferenças: Rob Fleming (o nome do protagonista é respeitado) é londrino e a trilha sonora é toda tirada do livro – e melhor que a do filme, na modesta opinião de quem conhece muito pouco de pop internacional. Comparações entre John Cusack e Guilherme Weber são inevitáveis, mas duram apenas os primeiros cinco minutos. Weber é excelente ator, com um carisma incrível e interpreta fantasticamente Fleming. O livro é em primeira pessoa e assim também é a peça. Weber passa quase três horas em cena, sem deixar cair o ritmo. O elenco todo, aliás, está impecável, em atuações ágeis e cheias de personalidade.

O título da peça é uma alusão (também presente no livro de Hornby) a Macbeth, de William Shakespeare:

A vida é só uma sombra; um mau ator
que grita e se debate pelo palco,
depois é esquecido; é uma história
que conta o idiota, toda som e fúria
sem querer dizer nada.

A cenografia é inovadora, fazendo uso de um telão à frente dos atores, em que são projetados trechos de clipes e de algumas letras mencionadas, além, é claro, das listas de Fleming. O cenário por trás dos personagens representa vários dos ambientes da história e a criatividade dos atores ilustra outras tantas situações.

A vida é cheia de som e fúria é uma adaptação fidelíssima do romance que retrata toda uma geração, perdida em meio da milhares de canções pop, sem saber a que veio, solitária em meio às multidões das metrópoles e sempre em busca de amores e amigos.

Uma montagem que está, definitivamente, entre as minhas cinco favoritas de todos os tempos.

A vida é cheia de som e fúria

  • CCBB Brasília
  • De 13 a 23 de outubro
  • De quarta-feira a domingo, às 20h
  • Ingressos: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia)
  • SCES Trecho 2 Conjunto 22 – Brasília-DF
  • Informações: (61) 3310- 7087
  • Montagem da Sutil Companhia de Teatro.

Para mais informações sobre a peça e a relação dos diversos prêmios que recebeu, visite o link da Companhia.