Mais Estranho que a Ficção

Ficha Técnica

Stranger than Fiction. EUA, 2006. Comédia. 113 minutos. Direção: Marc Forster. Com Will Ferrell, Tony Hale, Maggie Gyllenhaal, Emma Thompson, Queen Latifah, Dustin Hoffman.

Certa manhã, Harold Crick (Will Ferrell), um funcionário da Receita Federal, passa a ouvir seus pensamentos como se fossem narrados por uma voz feminina (de Emma Thompson). A voz narra não apenas suas idéias, mas também seus sentimentos e atos com grande precisão. Apenas Harold consegue ouvir esta voz, o que o faz ficar agoniado. Esta sensação aumenta ainda mais quando descobre pela voz que está prestes a morrer, o que o faz desesperadamente tentar descobrir quem está falando em sua cabeça e como impedir sua própria morte.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

2,5 estrelas

Filme do mesmo diretor de Em Busca da Terra do Nunca, excelente produção de 2004. Infelizmente, Mais Estranho que a Ficção não manteve a excelência, apesar de seu elenco de estrelas. Emma Thompson – sem maquiagem e perfeita no papel de escritora atormentada – e Dustin Hoffman – um tanto sub-aproveitado – não são suficientes para conferir dinamismo a um roteiro pretensioso, que não entrega o que promete.

A idéia que impulsiona a história – a discussão sobre o ato de escrever um romance, numa espécie de metalinguagem – sequer é original. Tema semelhante (especificamente, o processo de escrever um roteiro para cinema) foi explorado em Adaptação, do fantástico Charlie Kaufman. Mais Estranho que a Ficção também incorpora um pouco de O Show de Truman (sensação de perda do controle sobre a própria vida) e de Quero ser John Malkovich (tem gente na minha cabeça!),outro filme imperdível de Kaufman. Não é à toa que, como me disse um amigo, tem gente definindo o filme como “um Kaufman para quem não entende Kaufman”.

Só que é simples assim: se você quer ver surrealismo com tensão bem colocada e generosas doses de humor negro – drama e comédia ao mesmo tempo e na medida certa -, não aceite imitações: só Kaufman é original.

Em Mais Estranho que a Ficção, falta, além de criatividade, ritmo. O filme é tão irremediavelmente lento que nem mesmo a vivaz personagem de Maggie Gyllenhaal consegue animá-lo, embora a ela sejam devidos bons momentos poéticos.

A história ainda poderia ser salva por um desfecho incomum, mas nem no último momento o filme se recupera. O espectador é levado a ansiar pelo final perfeito, apenas para ver-se frustrado.

Um dos diálogos finais vem sob medida para definir o filme:

– It’s ok.
– But not great?
– No; it’s ok.

Esse trecho, dito no contexto do filme e referindo-se ao seu elemento principal, ao lado da cena em que Harold afirma ter gostado especialmente de uma determinada parte da história – que é, de fato, uma das melhores -, são as grandes piadas do filme sobre si próprio. Essa brincadeira seria interessante, se fosse honesta. Não é o caso aqui. Mais Estranho que a Ficção, longe de ser um roteiro que confortavelmente ri de si mesmo, propõe-se a ser uma história cult, “cabeça”, inteligente. Se não tivesse tantas aspirações, seria divertido. Como as tem, é apenas medíocre.

Indicados ao Oscar 2007

Hora de comentar rapidamente as indicações ao prêmio mais badalado da indústria cinematográfica.

O recordista foi Dreamgirls: oito indicações, sendo três na categoria de melhor canção original. Ultrapassou Babel, fracasso de público nos Estados Unidos e sucesso de crítica, que recebeu sete menções. Duas atrizes de Babel concorrem à estatueta de melhor atriz coadjuvante. Isso é raro (nem sei se já aconteceu) e, de certa forma, prejudica as chances de o filme levar o Oscar da categoria, já que os votos acabam se dividindo entre as duas concorrentes.

Brilhante (e esperada) a indicação de Uma Verdade Inconveniente ao Oscar de melhor documentário em longa-metragem. Mesmo que não ganhe, a indicação já dá mais visibilidade ao filme. É possível que volte às telonas no Brasil. Tomara que seja bem divulgado, desta vez, e atinja um público maior. A causa é boa e precisa ser difundida.

Pequena Miss Sunshine compete em quatro categorias, merecidamente. Abigail Breslin, que interpretou a adorável menininha do filme, foi indicada como melhor atriz coadjuvante.

A consagrada Meryl Streep, que há alguns dias levou o Globo de Ouro 2007 de melhor atriz pelo papel em O Diabo Veste Prada, concorre agora ao Oscar.

Os Infiltrados, filme fantástico, teve cinco indicações. Será que Scorsese finalmente ganhará o reconhecimento da Academia?

O Grande Truque ficou com duas indicações, ambas técnicas: melhor fotografia e melhor direção de arte.

A grande surpresa, para mim e para o resto do mundo, foi a ausência de Volver entre os indicados a melhor filme estrangeiro. A Academia deve ter pensado “Ah, esse Almodóvar vive concorrendo, faz filmes bons direto, vamos dar chance a outras produções”. Tudo bem, mas Volver é um dos melhores filmes do diretor espanhol, senão o melhor (dos que já vi, é meu preferido). A indicação era dada como certa.

O link para a lista completa de indicados está aí embaixo. Agora, é correr para assistir aos favoritos antes da premiação, o que a torna sempre bem mais interessante. Temos até 25 de fevereiro.

Referência

Lista dos indicados ao Oscar 2007

O Amor Não Tira Férias

Ficha Técnica

The Holiday. EUA, 2006. Comédia romântica. 138 minutos. Direção: Nancy Meyers. Com Cameron Diaz, Kate Winslet, Jude Law e Jack Black.

Iris Simpkins (Kate Winslet) escreve uma coluna sobre casamento bastante conhecida no Daily Telegraph, de Londres. Ela está apaixonada por Jasper (Rufus Sewell), mas logo descobre que ele está prestes a se casar com outra. Bem longe dali, em Los Angeles, está Amanda Woods (Cameron Diaz), dona de uma próspera agência de publicidade especializada na produção de trailers de filmes. Após descobrir que seu namorado Ethan (Edward Burns) não tem sido fiel, Amanda encontra na internet um site especializado em intercâmbio de casas. Ela e Iris entram em contato e combinam a troca de suas casas, com Iris indo para a luxuosa casa de Amanda e esta indo para a cabana no interior da Inglaterra de Iris. Logo a mudança trará reflexos na vida amorosa de ambas, com Iris conhecendo Miles (Jack Black), um compositor de cinema que trabalha com Ethan, e Amanda se envolvendo com Graham (Jude Law), irmão de Iris.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

3,5 estrelas

O que me chamou a atenção e motivou-me a ver esse filme foi o elenco. Kate Winslet e Jude Law protagonizaram dois dos meus filmes favoritos, Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças e Closer. Jack Black tem um ótimo papel em outro da minha lista de Top 5 (claro…), Alta Fidelidade (baseado em livro, que também virou peça teatral). Cameron Diaz já provou que é mais do que apenas um rostinho bonito e tem boas atuações em excelentes filmes (Shrek, Minority Report, Vanilla Sky). Assim, rendi-me a um típico romance-água-com-açúcar-de-fim-de-ano.

A sinopse já mostra como a história é previsível. Não espere grandes reviravoltas, nem emoções tumultuadas – não é para isso que comédias românticas existem, afinal. Elas são feitas para alegrar o espírito, acalmar o coração e reacender velhas crenças em amor verdadeiro, paixão à primeira vista, essa bobagem “mulherzinha”. Nessa missão, o filme é bem-sucedido. Como toda boa produção de fim de ano, O Amor Não Tira Férias ainda cumpre o tradicional papel de deixar uma mensagem de esperança diante do novo ano.

A direção de Nancy Meyers (responsável, também, por Alguém Tem Que Ceder e Do Que As Mulheres Gostam) é boa, o elenco está excelente. A trilha sonora é de primeira, com um quê de bossa-nova. De quebra, o filme faz referência a várias produções norte-americanas, tanto antigas quanto mais recentes, e brinca com músicas famosas e com a criação dos trailers, cativando os cinéfilos. E tente reconhecer os figurões que aparecem numa das cenas finais.

Quer se divertir assistindo a uma comédia bem feita e sair mais leve do cinema? Coloque O Amor Não Tira Férias na sua lista de programas de férias.

Globo de Ouro 2007

Tim Robbins e Jamie FoxxParece que Rubens Ewald Filho não quis repetir o fiasco de 2006, em que apresentou o Globo de Ouro ao lado de Analice “Casa-dos-Artistas” Nicolau, pelo SBT. Claro que o vexame não foi do crítico de cinema, mas de Analice. Aliás, os vexames, no plural. Quem viu, ainda se lembra da ignorância completa da moça, capaz de confundir Tim Robbins com Jamie Foxx. A impaciência de Ewald Filho era patente e, elegantemente, ele deu uma série de “cortadas” em Analice.

Este ano, Rubens Ewald Filho narrou o evento para a Warner Channel. “Narrou” mesmo, não comentou, porque não sobrava tempo. Ewald Filho ficou sobrecarregado com a tentativa de tradução simultânea, que tomou o tempo que seria melhor empregado em seus ótimos comentários sobre artistas e produções indicados ao prêmio. O esforço de traduzir foi vão, já que não é essa a sua praia e o crítico perdeu-se várias vezes. Apesar da burrinha Analice, tenho que admitir que o modelo do SBT funcionou melhor: dois tradutores simultâneos, e parte do tempo que seria dos comerciais destinada aos comentários excelentes de Rubens.

A premiação não surpreendeu muito. Scorsese confirmou seu favoritismo ao Oscar 2007 – é bem provável que este ano a Academia confira ao diretor a tão aguardada estatueta pelo excelente Os Infiltrados. O melhor filme dramático foi Babel, que estréia nas telonas brasileiras na próxima sexta-feira, dia 19. Cartas de Iwo Jima, produção norte-americana dirigida por Clint Eastwood inteiramente falada em japonês, foi eleito o melhor filme em língua estrangeira. Dreamgirls ganhou como melhor filme – drama/musical. Cartas de Iwo Jima[bb] estréia no Brasil em 22 de fevereiro, e Dreamgirls chega uma semana antes, dia 16. Meu amado-idolatrado-salve-salve Hugh Laurie ganhou, pela segunda vez consecutiva, o Globo de Ouro de melhor ator em série dramática, graças ao seu trabalho como o antipático protagonista de House[bb]. Essa foi uma das maiores surpresas da noite, primeiro pela dobradinha, segundo porque Patrick Dempsey era forte concorrente por seu papel em Grey’s Anatomy[bb] (indicada em quatro categorias e vencedora como melhor série dramática).

A Warner retransmitirá o Globo de Ouro 2007, com legendas, no dia 21 de janeiro, às 17 horas.

Referências