Revelações

Ficha técnica

The Human Stain. EUA/ Alemanha/França, 2003. Drama. 106 min. Direção: Robert Benton. Com Anthony Hopkins, Nicole Kidman e Ed Harris.

Baseado em livro de Philip Roth, descreve os problemas de um professor universitário que tenta evitar que um segredo venha à tona.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

3 estrelas

Revelações até que não é ruim. Hopkins e Nicole Kidman estão excelentes em seus papéis. O enredo, contudo, não conseguiu me cativar. Para piorar, não “comprei” a moral da história.

Teoricamente, o protagonista (Hopkins) foi injustamente acusado de racismo e essa injustiça custou seu emprego e a vida de sua esposa. Só que, por tudo que o filme conta, fiquei com a impressão de que a acusação não foi tão injusta assim… talvez, injusto o momento em que foi acusado, mas não a acusação em si. Afinal, ao longo de toda a vida o protagonista buscou esconder suas origens. Renegou sua ascendência negra, escondeu sua família. Magoou profundamente sua mãe. Tudo porque tinha vergonha e, ao mesmo tempo, medo da reação das outras pessoas ao saberem que vinha de uma família negra. Isso não é uma espécie de racismo? Um preconceito, uma discriminação contra si próprio e contra os seus?

Não consegui, enfim, ver o protagonista como um sujeito bonzinho.

Dogville

Ficha técnica

Dogville. Dinamarca/EUA, 2003. Drama. 117 min. Direção: Lars von Trier. Com Nicole Kidman, Harriet Andersson e James Caan.

Nos anos 30, uma fugitiva de gângsteres chega à pequena cidade de Dogville, onde conhece um homem que lhe propõe um acordo: em troca de um lugar seguro para ficar, ela deve trabalhar para o vilarejo por duas semanas. Do mesmo diretor de Dançando no Escuro (2000).

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

5 estrelas

Quando comento um filme aqui no blog, procuro não contar a história, para não estragar o prazer dos leitores que ainda não o assistiram. Só que é impossível comentar Dogville sem entrar em detalhes. Se você ainda não viu o filme, pare de ler esse texto agora mesmo.

O primeiro impacto é o do cenário. Não, acho que não. O que chama a atenção, antes mesmo da primeira cena, é o seguinte texto, dito pelo narrador (que participa de todo o filme, por sinal): “essa história se passa em nove capítulos e um prólogo”. O filme tem esse ar meio literário, mesmo.

Voltemos ao cenário. Não há cenário. Não como estamos acostumados. Há apenas um grande tablado, no qual marcas feitas a giz indicam as ruas, casas e lojas do vilarejo chamado Dogville. É como se você estivesse assistindo a uma peça teatral feita com poucos recursos. Nem mesmo paredes existem. Estranho no começo, mas lá pela metade do filme já nem se percebe mais. Começa-se a imaginar o que não existe com grande facilidade, devido à atuação do elenco e aos truques de iluminação.

Agora, o enredo. O tal homem de que fala a sinopse acima é o pretenso líder da comunidade. Não há prefeitura. Ele é o mais estudado, metido a filósofo. Conhece as almas dos habitantes da vila e, portanto, consegue manipulá-los. O trato é aceito, mas de início ninguém precisa de nada. Grace (a fugitiva) não encontra serviço algum. Aos poucos, vão-lhe dando atividades que não precisam ser feitas, realmente. Os habitantes começam, então, a perceber como é bom e conveniente ter alguém que faça o serviço que, na verdade, nem precisava ser feito. Vão-lhe dando mais e mais tarefas. Sua jornada diária de trabalho, antes leve, passa a ser desumana e pessimamente remunerada.

Em meio a tudo isso, há a chantagem: eles estão escondendo uma fugitiva, provavelmente perigosa. Estão correndo risco para ajudar Grace. O mínimo que ela pode fazer é retribuir-lhes com seu trabalho. Claro, se ela preferir, eles podem chamar a polícia e entregá-la.

Ela começa a querer fugir da cidade. Thomas (o líder), que a esta altura já está apaixonado por ela, oferece ajuda. O plano não dá certo. O próprio Thomas contribui para o insucesso, por medo. A partir desse momento, o que já era ruim para Grace transforma-se em um verdadeiro inferno.

Estafada, já não desempenha bem suas tarefas. Começa a ganhar a antipatia dos moradores por suas faltas. É violentada por quase todos os homens da aldeia. Fraca, humilhada, submissa, já não tem ânimo para nada. Por outro lado, os “dogvillenses” já não estão mais dispostos a assumir o risco por mantê-la escondida.

Entregam-na. Os gângsteres retornam à cidade. O filme tem um desfecho que, se não surpreende, certamente é incisivo, cru e adequado ao filme. Bem ao estilo de Lars von Trier.

Não está em jogo apenas a crueldade de um homem para com outro, embora essa seja uma das formas de se abordar o filme. A moral da história poderia ser o clássico “o poder absoluto corrompe absolutamente”, porém há mais ainda. A relação doentia mostrada entre os habitantes de Dogville e Grace e um microcosmo do que acontece entre governantes e governados, entre países ricos e pobres. Sem escolha, os fracos submetem-se aos fortes. Se, no futuro, vislumbrarem uma possibilidade de vingança, irão usá-la – afinal, os fortes tinham a obrigação de terem agido de outra forma. Eles não deram o seu melhor. Não merecem, portanto, o perdão. O resultado de tudo isso? Guerras, atentados, violência gerando violência.

Impossível não enxergar no filme uma crítica à sociedade americana e ao seu governo. Por outro lado, o que acontece nas grandes cidades brasileiras segue o mesmo padrão. Um grande número da população é excluído, humilhado, explorado. Sua chance de vingança surge pela entrada no tráfico de drogas e de armas, no negócio rentável dos seqüestros, na bandidagem pura e simples.

Grace tinha ideais quando chegou em Dogville. Foi a população local que os destruiu e, posteriormente, pagou o preço por isso. Sem querer fazer apologia ao crime ou justificá-lo, quantas pessoas, pelo mundo inteiro, já não passaram por esse processo que ela passou?

São quase três horas que passam rápido graças à boa construção do enredo e aos vários momentos tensos ao longo da história.

As Invasões Bárbaras

Ficha Técnica

Les Invasions Barbares. Canadá/França, 2003. Drama. 99 min. Direção: Denys Arcand. Com Rémy Girard, Stéphane Rousseau e Marie-Josée Croze.

Um professor à beira da morte revê a família depois de anos. Seu filho organiza uma reunião de despedida, com as amantes e os amigos do pai. Continuação de O Declínio do Império Americano. Vencedor dos prêmios de melhor roteiro e melhor atriz no Festival de Cannes.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

4 estrelas

Quando perguntei a uma colega que já tinha visto As Invasões Bárbaras se o filme era uma comédia, ela hesitou um bocado antes de responder que sim. Entendo, após assistir, o motivo da hesitação. O filme proporciona boas e várias risadas, mas não é apenas uma comédia. Está muito além disso. Força o espectador a refletir sobre a vida e a morte, sobre a forma como gastamos nossos dias, como passamos nossas vidas.

Fala-se de muita coisa importante ao longo da história: a força do amor e o poder do dinheiro; o valor das amizades; a hipocrisia das autoridades; a falência do sistema público de saúde (não, o filme não se passa no Brasil); a corrupção; drogas; e outras coisas que, se mencionar aqui, poderão diminuir o impacto do filme. Tudo isso vem entremeado com uma boa dose de humor francês. Ácido, corrosivo, negro. Cenas que nos provocam risos e, quando paramos para refletir, percebemos que estamos rindo das nossas próprias misérias.

Não é um filme leve como Simplesmente Amor ou O Albergue Espanhol, os dois últimos que vi. A história é densa. É impossível não se emocionar.

Execelente filme.