As Invasões Bárbaras

Ficha Técnica

Les Invasions Barbares. Canadá/França, 2003. Drama. 99 min. Direção: Denys Arcand. Com Rémy Girard, Stéphane Rousseau e Marie-Josée Croze.

Um professor à beira da morte revê a família depois de anos. Seu filho organiza uma reunião de despedida, com as amantes e os amigos do pai. Continuação de O Declínio do Império Americano. Vencedor dos prêmios de melhor roteiro e melhor atriz no Festival de Cannes.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

4 estrelas

Quando perguntei a uma colega que já tinha visto As Invasões Bárbaras se o filme era uma comédia, ela hesitou um bocado antes de responder que sim. Entendo, após assistir, o motivo da hesitação. O filme proporciona boas e várias risadas, mas não é apenas uma comédia. Está muito além disso. Força o espectador a refletir sobre a vida e a morte, sobre a forma como gastamos nossos dias, como passamos nossas vidas.

Fala-se de muita coisa importante ao longo da história: a força do amor e o poder do dinheiro; o valor das amizades; a hipocrisia das autoridades; a falência do sistema público de saúde (não, o filme não se passa no Brasil); a corrupção; drogas; e outras coisas que, se mencionar aqui, poderão diminuir o impacto do filme. Tudo isso vem entremeado com uma boa dose de humor francês. Ácido, corrosivo, negro. Cenas que nos provocam risos e, quando paramos para refletir, percebemos que estamos rindo das nossas próprias misérias.

Não é um filme leve como Simplesmente Amor ou O Albergue Espanhol, os dois últimos que vi. A história é densa. É impossível não se emocionar.

Execelente filme.

O Albergue Espanhol

Ficha técnica

L’auberge espagnole. França/Espanha, 2003. Comédia Romântica. 115 min. Direção: Cédric Klapisch. Com: Romain Duris, Judith Godrèche e Audrey Tautou.

Rapaz francês vai estudar na Espanha e divide apartamento com estudantes de várias nacionalidades.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

4 estrelas

Não me lembro exatamente quais as nacionalidade dos moradores dessa irreverente “república”. Há uma inglesa, um alemão, uma única espanhola. Xavier, o rapaz francês mencionado na sinopse da Folha, fica felicíssimo quando consegue vaga nesse exótico mundo. Depois dele, ainda passa a morar com eles uma belga homossexual que dá a Xavier algumas aulas sobre o que as mulheres gostam – ensinamentos que ele não tarde em pôr em prática. Ah, sim, o irmão da inglesa passa uma temporada no apartamento, também. Eu não tinha mencionado que isso se passa em um apartamento? O que você esperava? Uma mansão? Aí, não teria graças, oras!

O Albergue Espanhol é envolvente. Traz algumas doses de drama, mas o que predomina mesmo é o humor – não o pastelão americano, mas o humor mais cotidiano dos europeus. Cotidiano e, por isso mesmo, factível. É possível colocar-se no lugar da personagem, imaginar-se vivendo as mesmas situações.

O idioma “oficial” do albergue é o inglês, carregado de sotaque – ótimo para ser entendido por quem não fala grande coisa, como eu. Há trechos também em francês (vários), espanhol e até catalão.

Saí do cinema com vontade de “mochilar” pela Europa. Sabe o que fiz? Fiquei quietinha e esperei a vontade passar! Sou organizadinha demais para conseguir viver em uma república, especialmente em uma tão bagunçada!

Ah, a protagonista de Bem-me-quer, mal-me-quer, Audrey Tautou, tem uma participação nesse filme, como a namorada do Xavier, Martine. Ela também  interpreta o papel principal de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.

Um dos filmes mais divertidos do ano.

Simplesmente Amor

Ficha técnica

Love Actually. Inglaterra, 2003. Comédia Romântica. 135 min. Direção: Richard Curtis. Com: Hugh Grant, Colin Firth, Emma Thompson, Rodrigo Santoro e Laura Linney.

O filme acompanha a história de vários personagens envolvidos em questões amorosas, desde uma empregada portuguesa até o primeiro-ministro britânico, às vésperas do Natal. Estréia na direção do roteirista de Quatro Casamentos e um Funeral (1994).

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

3 estrelas

Certo, é um filme bobo, não nego. Daqueles que, daqui a três ou quatro anos, irá parar na Sessão da Tarde ou, na melhor das hipóteses, na Sessão de Sábado. Só que é um filme bobo delicioso!

É “água com açúcar” na medida certa. Todo mundo que já se apaixonou ao menos uma vez na vida vai se identificar com alguma cena, com alguma história: o primeiro amor, a fase da conquista, as tentativas frustradas, a traição, o recomeço.

O enredo é construído a partir de várias histórias paralelas, o que dá agilidade às mais de duas horas de projeção. Gosto desse tipo de filme, formado por vários esquetes. O elenco é excelente, contando com grandes nomes e outros não tão conhecidos, mas que desenvolvem muito bem seus papéis. O Rodrigo Santoro arrancou suspiros extasiados da platéia na sua primeira aparição e em algumas nutras cenas muito, muito bonitas, eu diria. Inegavelmente, está um gato!

Se você está amando, não deixe de ver o filme. Se está feliz sozinha, como eu, também assista-o pois, além da “água com açúcar”, Simplesmente Amor traz situações inesperadas, provocando bons momentos de risos. Ótima opção para as férias.

O Júri

Ficha técnica

Runaway Jury. EUA, 2003. Suspense. 127 min. Direção: Gary Fleder. Com John Cusack, Gene Hackman e Dustin Hoffman.

Homem misterioso começa a manipular um julgamento envolvendo uma indústria de tabaco e uma viúva. Do mesmo diretor de Refém do Silêncio. Fonte: Guia da Folha de São Paulo.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

4 estrelas

É a segunda sinopse que leio que afirma que a trama se refere a uma indústria de tabaco. Na verdade, trata-se de uma indústria de armas.

Sou um tanto suspeita para comentar esse filme. Adoro “filmes de tribunal”. Sempre gostei deles, mesmo antes de estudar Direito (não, não foi por isso que resolvi fazer esse curso).

Em O Júri, somos forçados a refletir sobre a credibilidade dos julgamentos realizados por leigos. É uma questão bastante delicada. A idéia por trás de um julgamento realizado por populares é permitir que os indivíduos sejam julgados por seus pares, afastando-se o legalismo, a frieza das normas e privilegiando-se o clamor das multidões. Supõe-se que, em determinadas matérias, é mais importante atender às aspirações sociais de justiça do que às normas postas em caráter abstrato, freqüentemente inadequadas ao mundo real.

Os críticos do julgamento pelo júri defendem que a emoção trazida ao tribunal por leigos é, muitas vezes, exacerbada, o que pode levar a injustiças. Argumentam que o juiz togado , que estudou por anos o Direito, está mais habilitado a dizer o justo e a dar a medida adequada da pena. Acrescentam que é muito fácil manipular as emoções dos leigos para absolver ou condenar os réus, sendo a decisão final tomada não com base em fatos, mas em prol do advogado/promotor com melhor poder de argumentação ou encenação. Por fim, há o problema dos quesitos, por meio dos quais chega-se ao veredicto, freqüentemente mal formulados.

No Brasil, o Tribunal do Júri tem competência para julgar os réus acusados de crimes dolosos contra a vida: homicídio, induzimento, auxílio ou instigação ao suicídio, aborto e infanticídio. Não sei qual é a lei dos Estados Unidos, mas certamente atribui mais competências ao Júri do que a nossa.

O filme, baseado em livro de John Grisham, é instigante. Faz-nos questionar sobre a real capacidade dos jurados em decidir imparcialmente uma causa. Mostra como pode ser fácil, para alguém competente, manipular o júri a ponto de fazê-lo tomar essa ou aquela decisão. Não se trata, apenas, da manipulação feita pelos operadores da lei, mas principalmente daquela que pode correr nos bastidores, organizada por um dos jurados. Além de tudo isso, esclarece que existe toda uma técnica na escolha das pessoas que farão parte de cada júri – técnica com a qual é fácil vencer, mesmo quando não se tem razão.

Gene Hackman rouba a cena no papel do consultor de júri contratado pela indústria de armas. John Cusack está ótimo. Dustin Hoffman está um tanto apagado, em uma posição de mero coadjuvante, sem grande expressividade.

A Folha de São Paulo deu apenas uma estrela para o filme. Nada poderia ser mais… injusto, na minha modesta opinião. O filme é excelente, o roteiro é ágil e prende a atenção do público, as reviravoltas surpreendem. Como disse no início, sou suspeita por gostar do gênero, mas dou quatro estrelas.

Saí do cinema com vontade de ler o livro. Já está na minha listinha.

Atualização: lendo uma crítica ao filme, finalmente descobri o motivo de as críticas sempre se referirem a uma indústria tabagista – no livro, a guerra é contra uma delas. Fica a pergunta: será que nenhum dos críticos realmente viu o filme?! Como levar a sério a nota baixa dada pela Folha depois de um “fora” tão grande??