Um Ano Sem Comprar – Um Ano Sabático

Quando falei da minha vontade de editar a vida, fiquei surpresa com a quantidade de comentários positivos que recebi (não só no blog, mas também pelo twitter e facebook). Como essa é uma ideia que me acompanha há vários meses, já tinha comentado a respeito por aí e nem sempre ganhei respostas positivas. De algumas pessoas, recebi até um tom de agressividade, como se elas se sentissem atacadas por mim e fossem obrigadas a se justificar.

Felizmente, antes que eu me sentisse a única doida do universo, houve quem me desse força – sem contar que há uma muitos blogs escritos por pessoas que repensam o consumo e o consumismo, e são verdadeiras inspirações.

Como tudo começou

Passei a analisar meus hábitos de consumo no início de 2010. Quando visitei minha amiga-irmã Nospheratt, em abril de 2010, muitas das nossas conversas transformaram-se em reflexões e mudaram minha forma de ver as coisas.

Na mesma época, comecei a ler o blog mnimalist. Embora o Leo Babauta seja radical (e eu não tenha simpatia por nenhum tipo de radicalismo), várias críticas que ele faz à sociedade de consumo são relevantes.

Depois, conheci o Hoje Vou Assim Off e a proposta de recessionismo fashion da Ana. Eu tinha passado os últimos três ou quatro anos comprando mais roupas do que precisava, sempre naquela de “não posso perder essa liquidação” ou “essa saia é linda demais pra não levar”. Resultado: um armário abarrotado e eu usando sempre as mesmas peças – havia roupas compradas dois anos antes que ainda tinha etiqueta! Eu tinha muita roupa, muito mais do que precisava. Decidi parar de comprar e usar tudo que eu tinha em sete meses – o que não fosse usado, seria doado. A experiência foi fantástica e em breve farei um relato dela.

No início de 2011, li uma matéria sobre desapego na revista Vida Simples e comecei outro desafio: os 50 desapegos. Passei adiante (mais) roupas, cds, dvds, material de artesanato, utensílios de cozinha… Joguei fora papéis, ferramentas enferrujadas, brincos quebrados. Foi gratificante ver o resultado: uma casa mais leve e organizada.

Falando em organização, criei um blog, o Mania de Organizar, dedicado ao tema. A sra. Monte não me deixaria dizer que sou organizada “desde sempre”, porque a verdade é que meu armário era uma bagunça quando eu era pirralha. O hábito da organização surgiu da necessidade, quando passei a morar sozinha e num espaço bem pequeno. Não demorou muito para que organizar se tornasse um prazer e um passatempo para mim.

Durante 2011, encontrei cada vez mais blogs sobre organização, consumo e minimalismo – esses três assuntos caminham juntos e, em outro texto, falarei dessa relação. Um dia, achei o Um Ano Sem Compras. Os textos da Marina são excelentes, trazem reflexões sobre o consumismo, mostram como é difícil mudar velhos hábitos e resistir às compras por impulso… Li o blog de cabo a rabo, sempre pensando: será que dou conta? E resolvi tentar um 2012 sem compras.

Ano Sabático?

Sim, ano sabático no tocante aos hábitos de consumo. Um período sabático é, por definição, um tempo dedicado à reavaliação – você pode fazer um sabático para refletir, analisar e reavaliar toda a sua vida, ou a sua carreira, ou seus relacionamentos etc. Seu sabático pode durar dois dias ou dois anos.

2012 será meu sabático de compras. Pelo que tenho acompanhado da jornada da Marina, não se trata simplesmente de decidir não comprar e pronto; manter a decisão exige esforço e acaba levando a um maior autoconhecimento: quais são meus padrões?; quais são meus impulsos?; o que me faz falta, e por que sinto falta dessas coisas?

Um ano sem comprar NADA?

Não, não é bem assim. Como todos que encaram essa proposta, tenho as minhas exceções.

O que posso comprar:

  • Uma lente fotográfica, porque no fim de 2011 ganhei o corpo de uma Canon EOS 500.
  • Equipamentos para praticar pilates em casa, um plano para o segundo semestre.
  • Um netbook (porque o meu está sem bateria há meses).
  • Serviços: restaurante, cabeleireiro, médicos, veterinária (tenho uma gata), internet, revelação de filmes etc. A ideia é não consumir bens materiais; não é viver como uma ermitã.
  • Experiências: “experiências” são aquelas coisas que não ocupam espaço, mas contribuem para a felicidade. A lista é pessoal – a minha engloba viagens, vinhos, queijos, saídas com os amigos, idas ao teatro etc. Estou fazendo essa experiência para ser mais feliz, não o contrário.
  • Itens de consumo constante e inevitável: alimentos, produtos de higiene pessoal, material de limpeza, remédios, combustível, tênis (eu pratico corrida e, seu meu tênis furar, será inevitável comprar outro).
  • Presentes (para outros, não para mim mesma, claro!).

O que não posso comprar:

  • roupas
  • sapatos
  • acessórios
  • cosméticos
  • livros
  • cds
  • dvds
  • eletrônicos (a não ser para reposição por quebra)
  • revistas (isso vai ser difícil)
  • e tudo que não se encaixar na lista de exceções.

Por que estou fazendo isso?

Sempre que comento que não vou comprar nada em 2012, a primeira pergunta que ouço é “por quê?”. Eis as respostas:

  • Porque eu quero. Ninguém está me obrigando. Não tenho dívidas. Meu saldo não está no vermelho. Não vou picar meus cartões de crédito.
  • Para ver se consigo. Nunca fui uma compradora desenfreada a ponto de gastar mais do que podia, mas em diversos momentos comprei mais do que precisava. Tive a fase dos casacos, a dos cds, a das maquiagens, a dos esmaltes… Quero ver se consigo passar um ano inteiro sem ter um surto consumista.
  • Porque será um desafio. Embora tenha reduzido muito meu consumo em 2011, dei-me ao luxo de comprar um sapatinho lindo e a coleção completa de Friends, por exemplo. Como será quando eu quiser muito alguma coisa durante 2012?
  • Porque será um processo de autoconhecimento, a julgar pelos textos da Marina e de outros blogueiros que encaram desafios semelhantes.
  • Para usar melhor tudo que já tenho: minhas roupas, meus sapatos, a maquiagem, os dvds…
  • Para poder falar sobre o tema. Consumo consciente é um tema que me interessa cada vez mais. Suas implicações no conjunto de valores pessoais e no meio ambiente são dois dos aspectos que mais me cativam.
  • Porque acredito que menos coisas geram mais felicidade.

Virei minimalista?

Não. Essa proposta me lança no mundo do consumo mínimo, não do minimalismo. Ainda tenho coisas demais pra poder me considerar minimalista e, embora continue em eterno processo de desapego, não creio que chegue ao ponto de viver com apenas 100 itens. Ou 50. Nem pretendo dar todos os meus livros e dvds.

Como eu disse lá em cima, radicalismos me desagradam e há muito radicalismo entre os minimalistas. Li certa vez que alguns chegam a competir para ver quem tem menos coisas – o que é o exato oposto do consumismo, em que se compete para ver quem tem mais coisas. A virtude, como sempre, está no meio.

Há, contudo, vários minimalistas que não se livram de absolutamente tudo. Esses procuram o equilíbrio e são os que dão os insights mais bacanas. Aos poucos vou compartilhando textos e referências por aqui.

Acompanhe a experiência

A cada mês, publico um texto sobre a experiência de ficar sem comprar durante um ano. Você pode ver todos eles aqui:

O que você acha disso tudo?

Falei demais – e não cheguei nem perto de esgotar o assunto. Agora é sua vez de falar. O formulário de comentários é serventia da casa. 🙂

Editando a Vida

Em 2012, um novo assunto aparecerá bastante por aqui: o minimalismo. Não me refiro a arquitetura minimalista, ou culinária minimalista, mas a uma vida minimalista.

Não, não vou reduzir meus pertences a uma lista de 100 itens, nem vou abandonar meu emprego, vender meu carro ou mudar-me para uma casa menor. Tenho lido bastante sobre o tema há meses (e praticado um bocado também) e se tem algo que aprendi é que o minimalismo não precisa ser radical. Trata-se, mais propriamente, de saber o que é importante – de saber que coisas não são importantes, experiências é que são. Buscar uma vida minimalista é perceber que as minhas coisas consomem tempo, dinheiro e espaço que poderiam ser melhor direcionados. É entender que o consumismo não prejudica apenas o meio-ambiente, essa expressão que pra muita gente parece distante e abstrata, mas afeta a vida cotidiana. É aprender a consumir racionalmente.

Como aperitivo do que vem pela frente, deixo três referências:

1. O blog Um Ano Sem Compras, nascido do desafio que a Marina se propôs e lotado das reflexões que ela tem feito sobre o assunto. E sim, vou fazer de 2012 meu ano-sem-compras.

2. O vídeo Less stuff, more happiness (tem legendas em português). Em menos de 6 minutos, Graham Hill resumiu brilhantemente o conceito de vida minimalista. Foi do seu projeto Life Edited que retirei o título desse texto.

3. A explicação da Miss Minimalist sobre consumo mínimo:

O instinto do consumo está enraizado na sobrevivência e é difícil de ser contido. Os fabricantes exploram esse fato e continuamente nos apresentam novas “necessidades” para suprimir nosso sentimento de realização. Eles tentam nos convencer de que nossas vidas são incompletas sem o mais recente aparelho; que nossas casas estão desatualizadas e devem ser “melhoradas”; que nossos carros devem ser novos e nossas roupas devem estar na moda.

Bem, nós declaramos “Basta!” Recusamo-nos a passar a melhor parte das nossas vidas desejando, adquirindo e pagando por coisas. Não somos Consumidores ou Anti-Consumidores, mas Consumidores Mínimos [observação: a autora cunhou a palavra minsumers para resumir esse conceito]. Nossa estratégia é simples:

  • Minimizar nosso consumo ao que atende nossas necessidades.
  • Minimizar o impacto do nosso consumo no meio-ambiente.
  • Minimizar o efeito do nosso consumo sobre a vida das outras pessoas.

Para tanto, não vamos gastar nosso dinheiro ou os recursos do planeta em coisas frívolas. Vamos reutilizar e reaproveitar o que podemos, e preferir coisas usadas a novas. Vamos evitar artigos feitos com a exploração da mão-de-obra ou com a violação dos direitos humanos. Vamos suportar nossas economias locais e trabalhar para criar comunidades sustentáveis. [observação: não faço a mínima ideia de como implementar alguns desses itens.]

Honestamente, não sou minimalista. Não sei se serei. Nesse momento, estou aprendendo a olhar minhas coisas de modo diferente e a analisar o consumo e o consumismo sob outra ótica. Quer aprender junto comigo?

A Histeria Natalina

Jingle Bells, Jingle Bells, já chegou o Natal… e sabe o que mais chegou? A histeria coletiva.

Todo ano é a mesma coisa.

O trânsito fica ainda mais caótico porque as pessoas querem resolver a vida em uma semana. A maioria delas está com a cabeça no mundo da lua – ou melhor, nos presentes, nos gastos… ai, os gastos! “Como vou pagar por isso? Será que encontro mais barato em outro lugar? Fulano disse que viu o celular que meu filho quer em promoção, e a loja nem é tão longe assim, fica só a uns 30 quilômetros daqui. Internet, internet, preciso de internet pra pesquisar os preços “- ufa!

Canso só de escrever, aliás, só de pensar nesse frenesi.

Vejo as filas quilométricas de carros com gente ansiosa para entrar em estacionamentos lotados, acotovelar-se nos corredores dos shoppings, correr de uma loja a outra, encarar filas monstruosas para pagar (caro) pelos cobiçados presentes… cobiçados por quem, mesmo? Pode ser que o presenteado goste, mas há uma boa chance que aquilo vire mais um excesso, mais uma tranqueira sem uso. E você investiu tanto tempo, esforço e dinheiro para agradá-lo, não é mesmo? E tinha que ser agora, no natal, sem falta!

Diga, por que você se esforçou tanto? Foi por amor? Sim, em alguns casos foi. Em outros tantos (a maioria, arrisco-me a dizer), foi apenas para cumprir uma obrigação social. Nem vou falar do consumismo, da hiper-exposição a anúncios, da pressão interna e externa para comprar, comprar, comprar e comprar um pouco mais. Estamos cansados de saber que é assim que o mercado funciona.

E você se rende ao mercado. Normalmente nem percebe essa loucura toda, sequer toma uma decisão consciente de participar desse fenômeno. Quando tudo acaba, o resultado é cansaço, estresse, endividamento e, ainda por cima, um gostinho amargo de que não fez o suficiente, não deu o melhor presente, esqueceu de alguém, desagradou não sei quantos, não cumpriu sua obrigação a contento. Jura que vai fazer diferente no ano seguinte – pelo menos, vai antecipar as compras! – mas lá no fundo sabe que tudo se repetirá.

Não é à toa que tanta gente chega absurdamente estressada aos dias das festas, incapaz de aproveitar o que quer que seja e com um pavio tão curto que não precisa muito para surgirem as tradicionais brigas familiares.

Minha família é pequena. De comum acordo, abolimos os presentes de natal há vários anos. Confesso, um tanto envergonhada, que não gostei da decisão logo de cara. Hoje, no entanto, sinto-me privilegiada. Fico verdadeiramente feliz quando percebo que estou fora dessa roda vida, que estou livre da neurose, que posso ter um fim de ano decente, até sossegado. Ao meu redor, as pessoas estão ensandecidas, correndo feito baratas tontas, histéricas mesmo. Assisto a tudo como se fosse um filme em fast foward e fico me perguntando: como elas aguentam?! Como não piram no meio da rua, como não saem batendo o carro, esbravejando e xingando o mundo?? (Bem, algumas fazem exatamente isso.)

Não vou aqui dizer pra você fazer o mesmo que fizemos na minha família. Não vou dizer que esse consumismo todo é vicioso, venenoso e destruidor. Não vou dizer que é preciso mudar os valores, as prioridades e o estilo de vida que tem predominado nas últimas décadas.

Cada um faz o que quer. Cada um escolhe o que acha melhor.

Desde que seja uma escolha.

Você já pensou que tem uma escolha?

Já pensou que as coisas não precisam ser assim?

Que as festas de fim de ano podem ser mais leves?

Que a falta de presentes não significaria falta de amor (da mesma forma que presentes não significam amor)?

Que talvez valha a pena tentar algo diferente no ano que vem?

Também vou falar da Hope.

Mas não será um texto sobre a propaganda recentemente veiculada para a empresa. Também não gostei, mas muita gente boa já escreveu a respeito. Confira, por exemplo, o excelente texto da Srta. Bia.

Acontece que uma coisa é publicidade, outra é produto e outra bem diferente é atendimento ao consumidor. Se uma empresa falha no primeiro item, tem de ser muito boa nos dois últimos para que eu não deixe de consumir. Agora, se falha no produto ou no atendimento, pode ter a propaganda mais perfeita do mundo que jamais terá novamente minha confiança.

O produto da Hope é muito bom. No Brasil, só ela e a Liz se preocupam em vender sutiãs com uma marcação para o tamanho das costas e outra para o bojo (já há outras marcas surgindo com a mesma proposta, mas atingem apenas o sudeste). Por isso há anos só compro sutiãs delas.

Vai daí que, dia desses, resolvi testar a Hope Online. Frete grátis promocional, peças lindas no outlet, sabe como é…

Só que não comprei o sutiã habitual, mas outros produtos. Acabei errando ao pedir os tamanhos. Solicitei a troca (a primeira é gratuita) e, já que teria de trocar os tamanhos de algumas peças, aproveitei pra pedir a troca de outras cujas cores não me agradaram. Tem problema? “Não senhora, nenhum”.

O detalhe é que a etiqueta tem de estar presa na peça para validar a troca, mas a do short doll prendia a parte debaixo à de cima, tornando impossível experimentar sem tirá-la. Tem problema? “Não, nenhum”.

Dias depois, recebo uma ligação: “Senhora, infelizmente algumas peças não existem mais nos tamanhos solicitados”. E agora? “Não podemos reenviar apenas uma parte da encomenda, mas podemos estornar toda a compra na forma de um vale-presente, mantendo o frete grátis”. Beleza. Nem achei ruim o fato de não terem mais no meu tamanho – outlet é assim mesmo.

Num domingo, tentei fazer a nova compra. Hum, quiseram cobrar o frete. Mandei email solicitando novo vale-presente. Na segunda de manhã, a resposta: “Desculpe o engano. O vale-presente já foi consertado, pode usá-lo e o frete será grátis”. E foi mesmo.

Mimo da Hope
Sabonete delicioso.

Poucos dias depois, apesar da greve dos correios, minha encomenda chegou. Abri a caixa e… bah, não era nada do que eu tinha pedido. Mandaram-me a encomenda de outra pessoa. Novo email, reclamando. No mesmo dia, um pedido de desculpas muito educado e a informação de que meu pedido seria logo enviado.

Dois dias depois (com os correios ainda em greve), recebi a caixa. Pesada… será que erraram de novo? Quando abri, lá estava minha encomenda, perfeita. Junto, uma carta pedindo desculpas e um frasco (de vidro, não de plástico) de sabonete líquido com aroma de erva cidreira delicioso, como brinde pelos transtornos!

Erros acontecem com compras online. Eu errei nos tamanhos e nas cores quando fiz o primeiro pedido. A Hope errou quando me mandou a caixa de outra pessoa. O que importa mesmo (além da qualidade do produto) é o atendimento. Especialmente o atendimento pós-venda. E nisso a Hope está de parabéns. É um belo exemplo a ser seguido por outras empresas, inclusive por gigantes que enviam macarrão instantâneo no lugar de um notebook e só atendem o consumidor decentemente depois que a história cai na mídia.