Fui, vi, gostei. Mas, confesso, esperava mais.
Conseguir ingresso em cima da hora (comprei apenas um dia antes da peça) foi um pequeno milagre. Apenas quarenta reais – de graça para os padrões do Teatro Nacional de Brasília – e com ator famoso (eu nunca tinha ouvido falar dele, mas não sou noveleira, então não posso ser levada em conta), essa é a combinação perfeita para entradas esgotarem-se antes que você saiba que o espetáculo existe. Certo, fiquei na fila Z, mas quem se importa?
O lugar era central, diga-se de passagem, e, justamente pela distância do palco, propiciava uma boa visão de toda a cena – e aí começa o problema. Cadê cenário? Um projetor sem contraste, trazia uma imagem ou outra do Rio, do Carnegie Hall etc. e tal. No tablado, poucos elementos além dos (também poucos) atores. Um piano, eventualmente uma mesa e algumas cadeiras. Tom e Vinícius poderia manter muito bem esse clima no teatro pequeno e seria um espetáculo intimista. Na sala principal do Teatro Nacional, com capacidade pra mais de mil pessoas, a sensação é de que falta algo.
Marcelo Serrado interpreta Tom Jobim e contracena com o Vinícius de Moraes de Thelmo Fernandes. Serrado convence mais. Fernandes está ótimo, mas exagera um tanto nos trejeitos do poetinha. Nenhum dos dois enche o peito para cantar, sendo salvos por seis excelentes cantores. A pequena banda também é de primeira. Mas, pra quem se acostumou com musicais e cortinas líricas compostas por dezenas de artistas, a produção pareceu pobre, insuficiente para a grandeza dos homenageados.
Outro ponto fraco é o tom professoral de algumas passagens, como se houvesse muito a contar em pouco tempo e a única saída fosse declamar lições didáticas.
Nem tudo é defeito, claro – afinal, eu disse lá em cima que gostei do musical. Os cantores são ótimos e seus figurinos de época caem muito bem. A escolha das músicas marca eventos importantes nas carreiras de Tom e Vinícius. O corte que os autores fizeram para contar as suas vidas é preciso, pinçando ótimos momentos. O musical faz rir quando perde o tom didático e chega a emocionar. Sem contar que recordar Tom e Vinícius é recordar um Rio de Janeiro leve e poético como já não se vê.
Não é imperdível mas, se por acaso voltar aos palcos (segundo Serrado, a apresentação de domingo passado em Brasília encerrou a turnê nacional) e se você for fã da dupla que consagrou a bossa nova, vale conferir.
Ficha
- Texto: Daniela Pereira de Carvalho e Eucanaã Ferraz
- Direção: Daniel Herz
- Direção Musical: Josimar Carneiro
- Figurino: Marcelo Pies
- Elenco: Marcelo Serrado, Thelmo Fernandes, Guilhermina Guinle, Ricardo Conti, Lilian Valeska, Marcelo Rezende, Luiz Araújo, Pedro Lima, Luiz Nicolau, Ana Ferraz, Carol Bezerra, Julia Gorman, Luciana Bollina, Marilice Cosenza.
Ou melhor, as mulheres e os homens de Mario Prata, que resolveu transformar em livro sua agenda telefônica. O resultado é o desfile de mais de duzentas pessoas – várias delas, famosas – em histórias indiscretas, curiosas, algumas melancólicas, quase todas divertidas.