Não sei por que demorei tanto a ler a biografia do Renato Russo. Sou fã do cara há tanto tempo que cheguei a ter duas biografias dele, até o dia em que percebi que eram apenas edições diferentes (disfarça) e passei uma adiante.
O texto de Arthur Dapieve é muito bem conduzido. A discografia da Legião guia o passeio pela vida do seu vocalista, sem esquecer suas fases anteriores, como a da banda Aborto Elétrico e as apresentações solo como “O Trovador Solitário”. Também não foram deixadas de lado situações trágicas como o tumultuado show de 1988 em Brasília (razão pela qual a banda nunca mais tocou na cidade), nem os discos solo de Renato, que foram sua tábua de salvação numa época em que tinha duas escolhas: entregar-se ao trabalho ou à depressão.
Um dos pontos bacanas do livro é a desmistificação das lendas que rondam algumas músicas: “Dado Viciado”, por exemplo, não foi feita para o integrante Dado Villa-Lobos; o famoso casal “Eduardo e Mônica” nunca existiu (embora a Mônica da música tenha sido inspirada em uma amiga de Renato). Também há a confirmação de outras histórias: o fato de “Giz” ser sua música preferida; a decisão de se conduzir de forma absolutamente discreta quando descobriu que era portador do HIV (diferentemente do que fez Cazuza, embora Renato o admirasse).
Entre altos e baixos, Renato Russo caminhou muito cedo para a morte. Em 11 de outubro de 1996, aos 36 anos, morreu de complicações ligadas à AIDS, em seu apartamento em Ipanema. Suas letras marcaram uma geração que ainda hoje se identifica com o que ele cantava. Não eram músicas feitas só para fazer barulho, ou para emplacar uma coreografia besta/vulgar, ou pra tocar no rádio (quem imaginaria que Faroeste Caboclo, com 9 minutos de duração, faria sucesso?). Eram histórias, eram poesias sobre política, incerteza, saudade, homossexualidade, medo, amor e outras tantas coisas significativas.
Senti falta de mais material histórico permeando o texto: mais fotos, mais manuscritos, um pouco do que vi na exposição do Centro Cultural Banco do Brasil há anos (guardo o catálogo até hoje). Apesar dessa lacuna, o livro é indispensável para os fãs de Renato Russo, da Legião Urbana e do rock brasileiro.
Trechos
Sou um jovem de vinte e poucos anos, não sei nada da vida. [Frase de Renato Russo.] (p. 98)
Já desisti de fazer música para salvar o mundo. Eduardo e Mônica estão divorciados. [Frase de Renato Russo.] (p. 109)
Um belo dia, o público vai descobrir que o seu ídolo tem pés de barro, e é uma coisa muito dolorosa porque messias não existem. [Frase de Renato Russo.] (p. 110)
O que era mais difícil de entender era o caminho que o repertório do disco que os havia levado até ali [o álbum “Equilíbrio Distante”] estava tomando. Todos os italianos, de Fiorella a Minna, tinham ficado pasmos quando Renato lhes dissera que pretendia gravar alguma coisa de Laura Pausini. Equivaleria ao maior cantor de rock italiano, Eros Ramazzotti, chegar ao Brasil para gravar um disco de canções em português e declarar estar muito ansioso para pegar algo do repertório de Sandy. (p. 152)
Ficha
- Título: Renato Russo: o trovador solitário
- Autor: Arthur Dapieve
- Editora: Ediouro
- Páginas: 191
- Cotação:
- Encontre Renato Russo: o trovador solitário.