As minas do rei Salomão

Livro da vez: “As minas do rei Salomão”, de Henry Rider Haggard.

Allan Quatermain lidera Henry Curtis e o Capitão Good em uma aventura na África com pouco mais que um mapa feito a mão. Os objetivos: encontrar a lendária mina de diamantes do rei Salomão e o irmão de Sir Curtis, perdido há anos. Logo se junta ao grupo o nativo Umbopa. A expedição enfrentará deserto, neve e até uma guerra na tentativa de cumprir suas missões.

A introdução já avisa que é um livro “para meninos” – porque provavelmente o que se esperava das meninas em 1885 era que aprendessem a cozinhar e bordar, jamais exercitando a imaginação ou sonhando com aventuras.

Dito isso, é preciso lembrar que ninguém escapa inteiramente ao seu tempo e essa colherada de machismo não deve espantar. Por outro lado, considerando-se a época e o contexto social do autor, ele foi muito progressista. Os negros não são tratados como coitadinhos que precisam ser salvos pelos brancos, nem como bestas de carga. Ao contrário, são personagens fortes, e o narrador em diversos momentos elogia sua inteligência e organização social. São admirados. Há até um romance interracial, e dá pra imaginar como isso deve ter chocado a sociedade vitoriana.

“As minas do rei Salomão” foi o último livro do #projetoexploradores e foi um dos meus favoritos. O projeto durou um ano e foi uma oportunidade incrível de revisitar Júlio Verne (o primeiro autor de ficção científica que li) e conhecer obras que, embora famosas, nunca tinham me interessado muito. Jack London foi um presente, um autor de quem mal tinha ouvido falar e que me encantou (lemos dois livros dele, “O lobo do mar” e “Caninos Brancos”, e ambos são meus favoritos do projeto). Saí da minha zona de conforto e explorei mundos incríveis na companhia dos demais exploradores literários.

Obrigada às organizadoras por terem proporcionado essas viagens: @soterradaporlivros@tinyowl.reads@chimarraoelivros e @fronteirasliterarias!

Estrelinhas no caderno:
Para o livro do mês: 4 estrelas
Para o projeto: 5 estrelas

Jonathan Strange e Mr. Norrell

O livro é um tijolo? É, mais de 800 páginas. A leitura é lenta? Se você comparar com livros convencionais de fantasia, sim. A história é chata ou arrastada? De jeito nenhum. Foi um dos melhores livros que li em 2020 (até agora) e virou um dos meus favoritos do gênero.

Norrell é um velho mago teórico (na maior parte do tempo) e rabugento (sempre). Strange é um jovem que não sabe o que quer da vida e que se depara com a magia por acidente. Lá pelas tantas, essa dupla é reunida na Londres georgiana (começo do séc. XIX) e nasce daí uma improvável amizade. A história é permeada de fatos históricos e referências a pessoas reais, o que torna tudo mais interessante. A escrita de Susanna Clarke tem o ritmo certo para mergulhar o leitor numa Inglaterra que poderia ser real – se a magia não tivesse sido esquecida.

Esqueça Harry Potter. Esqueça O Senhor dos Anéis. Esqueça histórias capa-e-espada e ambientações medievais. Se você gosta de fantasia e é capaz de encarar esse livro sem ideias preconcebidas, terá grandes chances de se divertir com ele. E sim, é um tijolo, mas olhe pelo lado bom: é volume único.

Minha crítica fica para as personagens femininas que, embora cruciais na trama, não são muito desenvolvidas.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

O Nome do Vento

Fazia tempo que eu não lia um livro de fantasia que realmente me fizesse entrar na história. “O Nome do Vento” foi um belo resgate do meu gosto pelo gênero.

O livro de Patrick Rothfuss narra a infância e os primeiros anos da adolescência de Kvothe. Em meio a perdas violentas, traumas e a luta para sobreviver a cada dia, Kvothe encontra ajuda, amigos, mentores e o amor. Enquanto busca a resposta para a maior tragédia da sua vida, aprende magia e, mais que isso, resiliência – e começa a se tornar um herói.

O autor escreve o meu estilo de fantasia: economiza descrições e foca na trama, sem esquecer de criar personagens cativantes. O único defeito é que o livro é o primeiro de uma trilogia, e fujo de séries – mas essa vou acabar lendo.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Quem me ama, me segue!

Dica de filme: “Quem me ama, me segue!”

Esse filme francês podia ser sobre seus vizinhos: a história gira em torno de Gilbert, Simone (casados) e Étienne (amante de Simone), três amigos que se conhecem desde a juventude hippie e que tentam se reinventar na velhice. Uma dramédia simples, terna e cativante.

Daniel Auteuil, Bernard Le Coq e Catherine Frot estão excelentes: interpretam seus papéis sem exageros, de modo convincente. Auteuil rouba a cena com seu rabugento Gilbert e Frot entrega uma interpretação segura e sutil.

Em cartaz nos cinemas a partir de hoje!

Distribuição: @a2filmesoficial

Estrelinhas do caderno: 4 estrelas