Mais uma presepada do Judiciário brasileiro

Caros magistrados deste país varonil, quando o assunto envolver internet – mesmo que remotamente – suplico-lhes: calem-se. Por favor. Por caridade. Não você, Jorge. Aliás, seria ótimo que todos os processos que envolvem web fossem parar nas mãos do Jorge. Pena que não dá.

Também não dá pra obrigar os magistrados que acham que tudo sabem a ouvirem peritos quando o caso tiver relação com a internet. Bastaria navegar cotidianamente pela web e ter mais de dois neurônios (ou de dois centímetros de testa, como diz a Nosphie) para ser perito.

Mas os juízes, ah, eles não precisam de peritos. Têm todas as respostas para a vida, o universo e tudo o mais. São dotados de notório saber – não só jurídico, mas universal, transcendental, sobrenatural.

Impressionante é que, apesar de todo esse conhecimento, proferem uma asneira atrás da outra.

Nem estou me referindo ao Caso Cicarelli – embora esta seja, ainda, a presepada internética judiciária mais conhecida. Do jeito que vão as eleições municipais, logo veremos coisa pior.

Por exemplo, o Tribunal Eleitoral de São Paulo já proibiu um candidato de linkar, em sua página de campanha, vídeos do youtube. Segundo a decisão, tal prática feria a isonomia do processo eleitoral. O juiz até mandou computar esse uso do youtube nos gastos de campanha. Hello? Alguém explica pro juiz que o youtube é di grátis? E que a internet é a ferramenta mais democrática e isonômica possível, justamente pela profusão de serviços gratuitos que oferece?

As regras para a campanha eleitoral via web são de um absurdo sem tamanho. O candidato tem de criar um site próprio, com terminação .can.br. Se quiser, até pode hospedar vídeos lá – aí sim, gastando com hospedagem, tráfego de dados e manutenção, onerando os candidatos com menor poder aquisitivo. Usar serviços gratuitos e simples? Isso é proibido.

Sem contar a insistência do Judiciário em aplicar à internet – mídia livre, em que cada um acessa o que quer, quando quer – as normas da propaganda política na televisão, essa sim, concessão pública que, ademais, entra casa adentro sem pedir licença e sem mostrar todos os lados de uma questão.

Mas tergiverso. Comecei este artigo pra contar da última do Judiciário.

Foi o seguinte. A prefeita petista de Fortaleza (Ceará), candidata à reeleição, sentiu-se ofendida ou sei lá o quê por causa de um perfil falso no twitter, o serviço de microblog mais popular do Brasil. Aí, entrou com ação no Tribunal Eleitoral do Ceará contra… o twitter. Isso. Como se o twitter tivesse alguma responsabilidade pela criação de perfis falsos.

Mas tudo bem, você diz, ela provavelmente só quer que o twitter remova o perfil. Duvido muito (dado o desdobramento do caso), mas é difícil dizer ao certo, já que a petição inicial não está na internet. Só um resuminho do processo (clique para ampliar):

TRE do Ceará e a ameaça ao twitter - clique para ampliar.

O ilustre magistrado nas mãos de quem caiu a ação ordenou a retirada do ar do… perfil falso? Não. Do twitter? Tente de novo. Do Twitter Brasil. Um blog não-oficial que comenta recursos e novidades do twitter. Que não tem nada a ver criação do tal perfil falso. Que sequer trata de política. O Twitter Brasil entrou de gaiato nessa história. A incompetência ou a preguiça ou a ineficiência foram bater lá em Fortaleza e alguém achou que o Twitter Brasil fosse o twitter. Vai entender.

Repare: o juiz, do alto de sua sapiência, decidiu liminarmente, isto é, sem ouvir o outro lado – o twitter, o Twitter Brasil, tanto faz. Nem quis saber se havia uma forma menos drástica de resolver a pinimba. “Ah, fecha logo essa joça toda e estamos conversados”, deve ter dito o magistrado.

A Raquel Camargo, uma das responsáveis pelo site, conta a história no seu blog. E conclui: “o twitter está ameaçado”.

Sim, caríssimo leitor, caríssima leitora. Se o Twitter Brasil foi tirado do ar por essa liminar, adivinha o que teria sido bloqueado caso o equívoco não tivesse ocorrido? O próprio twitter, claro. Essa ferramenta que uns amam, outros odeiam, mas que, acima de tudo, é democrática, como democrática é a internet.

Sacou? No fim das contas, é a democracia brasileira que está ameaçada. De novo. Ou ainda. Porque a impressão é que em 508 anos de história este país nunca viveu uma democracia real.

O que acontecerá quando o ilustre magistrado ou a coligação da candidata à reeleição descobrirem que o twitter continua no ar (bem como o perfil falso)? Dá bem pra imaginar, não?

Se a tal candidata sentiu-se ofendida, muito bem. Que vá ao Judiciário e peça a retirada do tal perfil. Que corra atrás de punir o responsável pela sua criação, que mova céus e terras para garantir seus direito.

O que não dá é pra achar que o direito de uma única criatura sobrepuja o direito dos milhares de brasileiros que utilizam o serviço todos os dias. Não dá pra tolerar um autoritarismo desses.

Mais intolerável ainda é constatar (mais uma vez) que estamos nas mãos de um Judiciário completamente incapaz de entender a internet. É nas mãos desse Judiciário que reside, em última análise, a fraca democracia brasileira.

Os protestos no twitter durante o dia de hoje foram inúmeros. A notícia também já chegou a alguns veículos de imprensa (acompanhe o clipping que a Raquel está fazendo). A Lu Freitas mandou para o Digg um artigo explicando o desmando. Quanto mais votos, melhor, para gerar barulho internacional.

O blog Twitter Brasil voltou ao ar no fim da tarde. Aparentemente, houve um erro do tribunal (jura?). O retorno do site foi rápido graças à mobilização da blogosfera, que botou a boca no trombone – usando, entre outras ferramentas, o twitter. Que, se não fosse por esse “erro”, estaria fora do ar agora, graças à liminar absurda.

Tem gente falando: “ah, isso foi bom pro Twitter Brasil, deu visibilidade”. Essa não é a questão. A questão é que estamos cercados de gente absolutamente despreparada para lidar com a internet. Pior: ao lado dessa gente despreparada há figuras mal-intencionadas que morrem de medo do potencial democrático da internet e que só esperam uma brechinha para nos transformar numa China tupiniquim.

O que podemos fazer?

Podemos protestar (eu aproveitei para mandar um email pra tal candidata). Podemos botar a boca no mundo. Podemos pensar muito bem em quem votaremos nas próximas eleições.

Ao fim e ao cabo, temos de dormir com os olhos bem abertos, se não quisermos que nos furtem essa tal de democracia na calada da noite.

BlogDay 2008 – com dias de atraso

Eu nem ia participar do BlogDay este ano, mas o caso é que conheci tantos blogs e blogueiros legais nas últimas semanas que resolvi entrar na roda, mesmo com atraso. Se você não sabe o que é o BlogDay, dá uma passada no site oficial, ou veja a explicação no blog do LuluzinhaCamp.

Blog Day 2008

Sem mais delongas, vamos às cinco indicações:

Brontossauro em meu jardim: os temas do blog são científicos, abordados por Carlos Hotta com linguagem cotidiana, tornando a leitura bem interessante. O blog está, agora, em um rede de blogs científicos, a Lablogatórios.

Planejando Meu Casamento: ei, não o meu casamento. Mas, quem sabe, ajudando a planejar o seu? A Cíntia partilha com os leitores os preparativos para seu próprio casamento, com um objetivo em mente: chegar ao altar sem nenhuma dívida.

Rastro de Carbono: a Paula Signori mantém esse ótimo blog voltado às questões ambientais. Conheço o blog já há algum tempo, o BlogCamp foi a chance de conhecer a blogueira, que alterna artigos técnicos com outros voltados à conscientização e mudança de hábitos.

Sturm und Drang: volta e meia, a Denise apresenta ótimos textos sobre o meio ambiente e sustentabilidade, como essa dica para fazer uma horta de apartamento. Além disso, mantém com seus alunos um projeto de incentivo à leitura muito bacana.

Urblog: A Ju Vilas é a simpatia em pessoa – cativou todo mundo durante sua apresentação no BlogCamp. Com um N95 na mão e sem pauta predefinida, a Ju sai todos os dias pelas ruas de São Paulo à caça de histórias para contar.

Viajante Consciente: Lyanne e Marcelo são um casal nota 10 e ambos têm em comum a paixão por viajar. Usam o blog para divulgar seus roteiros, dar dicas de turismo e destacar a necessidade da preservação ambiental e sócio-cultural dos locais visitados.

Ôpa! Foram seis indicações ao invés de cinco. Que seja. Todos os blogs valem a leitura. Aproveite!

LuluzinhaCamp e BlogCamp SP 2008 – comparações e comentários

Quando você trabalha nos bastidores de um evento, sua percepção é completamente diversa daquela que os participantes têm. Para bem e para mal.

No caso do LuluzinhaCamp, trabalhar nos bastidores foi uma experiência fantástica. Gratificante, acolhedora, leve. No caso do BlogCamp SP… bem, acompanhar os trabalhos da coordenação foi o exato oposto. O artigo da Nospheratt dá uma boa idéia dos vários problemas enfrentados. Mas vamos por parte, como Jack.

LuluzinhaCamp 2008 – colaboração é a palavra

Bolos deliciosos do Cobra - foto da Lili Ferrari. Tudo começou com uma idéia da Lu Freitas. A logo foi feita pela talentosa Juliana Garcia Sales, bem como a personalização do tema do blog, escrito a várias mãos. Percebe o clima colaborativo?

Não parou por aí: para resolver a questão dos lanches (já que não tivemos patrocínio e ninguém ganhou nem um centavo, embora haja quem pensa o contrário), criei uma lista de discussão e rapidinho brotaram voluntárias – a começar pela Lili Ferrari, que nos garantiu café preto o dia inteiro. As meninas levaram tantas comidinhas que faltou mesa para colocar todas de uma vez – e sobrou bastante coisa.

Quadro de discussões do LuluzinhaCamp 2008 - foto de Lu Freitas. Sem contar o Cobra, que chegou cedinho ao local do evento e nos presenteou com nove bolos ma-ra-vi-lho-sos – nunca comi um bolo de limão tão gostoso!

Na abertura do dia, a Lu Freitas explicou como funciona o modelo de desconferências. Por alguns instantes, fiquei preocupada. No BlogCamp ES o modelo não deu certo. Será que fucionaria no Luluzinha? Bom, o quadro foi preenchido em minutos, com um tema mais interessante que outros. A foto ao lado não deixa dúvidas sobre o sucesso do modelo entre a mulherada. Queria ter participado de mais desconferências, mas a única que consegui assistir do começo ao fim foi sobre stalkers – e rendeu-me algumas ótimas idéias para posts futuros.

O sorteio dos brindes foi um capítulo à parte. Havia tanta, mas tanta coisa a ser sorteada que todo mundo saiu com, pelo menos, uma lembrança. Tudo, novamente, na base da colaboração. Quem podia, contribuía com algo. De cabeça, lembro-me desses mimos:

  • Sacolas da Ecoblogs (várias)
  • Vinho oferecido pelo QVinho
  • Sabonenefeeds da Srta. Bia
  • Bolsas La Reina Madre
  • Livro em quadrinhos Luluzinha (um oferecimento do Dia de Folga)
  • Livro sobre o Direito do Trabalho e as mulheres (que eu ganhei)
  • Canecas Pólvora

Quem ofereceu brindes pode avisar nos comentários, que atualizo a lista.

Saí do Luluzinha feliz da vida – cansadíssima, já que quase não tinha dormido na noite anterior, mas muito contente em ver tantas mulheres juntas, colaborando para fazer o melhor evento possível.

O blog vai continuar. A lista de discussão também. E já tem gente animadíssima com o LuluzinhaCamp 2009.

Outros textos sobre o LuluzinhaCamp (com mais detalhes e outras perspectivas) estão linkados no artigo da Lu Freitas. Fotos no Flickr.

BlogCamp SP 2008 – gafanhotos, reclamações e (quase) prejuízo

Desde o início, os primeiros comentários vieram na forma de reclamações: “Por que abriram as inscrições tão em cima da hora?”, “Por que tão poucas vagas” e por aí afora. Garanto que era da vontade da organização fazer um evento num lugar maior e mais bacana só que, simplesmente, não rolou, embora tenham começado a procurar local meses antes de abrirem as inscrições. Quem não tem cão, caça com gato e se vira para acomodar 270 inscritos num lugar que mal comporta 100 pessoas. Tudo para não deixar a tal da blogosfera na mão.

Se eu estivesse na pele do Cobra ou da Lu Freitas, que ralaram por semanas para organizar o evento, eu jamais faria outro BlogCamp. Ou Blog-sei-lá-o-quê. Ou qualquer-coisa-camp. Não vale a pena trabalhar tanto e de graça, e ainda ter de ouvir insinuações de que estavam ganhando grana. Antes estivessem – porque merecem e porque só relógio trabalha de graça – mas não foi esse o caso. Com a desistência em cima da hora de alguns patrocinadores,  quase amargaram um prejuízo enorme, só evitado pela venda das camisetas do evento.

Para completar, ainda tiveram de aguentar o chororô de quem não conseguiu se inscrever e, ainda assim, achava que tinha o direito de entrar. Foi triste ver os blogstars em ação. Pior ainda foi ver gente achando que a organização estava de má vontade ao dizer “não dá pra entrar!”. Quem foi ao BlogCamp no primeiro dia viu como o espaço estava lotado. Só se empilhassem blogueiros uns sobre os outros para caber mais gente.

Desconferência no BlogCamp SP 2008 - foto do Cardoso. Claro que nem tudo são espinhos. As oficinas introduzidas nesta edição funcionaram muito bem ao lado do modelo de desconferências (algumas, como a do Markun sobre Creative Commons, realmente viraram desconferências). Em geral, as discussões nos dois dias foram de alto nível e iniciativas interessantíssimas como o Movimento Blogueiro foram apresentadas. Eu pude conhecer o Maestro Billy (e fiquei altamente sem graça, tietei mesmo) e todos viram o Gabriel Naressi, blogueiro de apenas 11 anos que puxou uma discussão bacana sobre humor.

Ainda rolou autógrafo em camisetas do BlogCamp – duas delas serão sorteadas, uma no blog do Celso Junior, outra no do Cobra. Aliás, no blog do Cobra você pode ver uma cobertura completíssima do evento.

Camiseta autografada no BlogCamp SP 2008 - foto de Lu Freitas. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. O BlogCamp SP 2008 foi um sucesso do ponto de vista das participações e das desconferências. Foi, nesse sentido, o melhor BlogCamp a que já compareci. Mérito do Cobra, da Lu Freitas, da equipe de bastidores e de cada blogueiro que compareceu com vontade de compartilhar, colaborar, bater papo e passar 2 dias agradáveis. Sim, cada um dos inscritos que compareceu merece um “muito obrigada” por ter construído um BlogCamp bacana.

Na verdade, só quem viu os bastidores é que sabe como foi duro levar esse evento adiante. Ótimo, melhor mesmo que nada disso tenha vazado para os dois dias de evento. Se haverá próximos? Não faço idéia. A minha opinião é a de que o BlogCamp SP cresceu demais e precisa rever o modelo – inclusive com a cobrança de inscrições para cobrir custos e diminuir o índice de abstenções.

Fotos no grupo BlogCamp Brasil, no Flickr. Mais textos no technorati.

Fotos (pela ordem): Liliane Ferrari, Lu Freitas, Cardoso e Lu Freitas.

Eu tô voltando

Quase duas semanas sem atualizar o DF, antecedidas por duas semanas de atualizações escassas. Eu sei, estou sumida. Tirei férias, viajei – ainda estou na Morada das Deusas, aliás -, escrevi para outros cantos e o Dia de Folga foi ficando para trás. Nem é falta de assunto – nunca é. Mas semana que vem eu tô voltando.

Em tempo, aí vão 1.000 UCI: você sabia que Tô Voltando não é do Chico Buarque? Pesquisas googlísticas revelam que o samba é parceria de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós. Papagaio come milho…