Livro da vez: Chuva de Papel, de Martha Batalha.
Joel é um jornalista septuagenário aposentador, amargurado, conservador e misógino que se revela incapaz de tirar a própria vida. Como ninguém o tolera, acaba precisando contar com a caridade da tia idosa de um antigo pupilo, e sequer consegue ser grato no início.
O cara é insuportável e eu não estava interessada na vida dele, mas aos poucos essa senhora idosa, a Glória, começa a ganhar espaço na história, junto com sua vizinha Aracy. As reminiscências dos protagonistas se misturam ao tempo presente, o cotidiano mesquinho se entrelaça com grandes tragédias e essa colcha de retalhos se torna mais interessante a cada página.
Martha Batalha sabe narrar com maestria as vidas da classe média e, embora seus livros se situem no subúrbio do Rio de Janeiro (ao menos os dois que já li), os dramas são mais amplos que a geografia.
Recomendo para quem gostou de A vida invisível de Eurídice Gusmão ou para quem busca uma escritora brasileira contemporânea e madura.