Campos do Jordão

Já que estou morando em São Paulo, resolvi aproveitar a oportunidade para conhecer alguns pontos turísticos próximos e que, se não estivesse do lado, não me daria ao trabalho. Comecei com Campos do Jordão.

A Viagem

A passagem de ônibus de ida e volta custou 106 reais (já com a taxa de conveniência por comprar em casa), pela empresa Pássaro Marron. É preciso trocar o voucher na rodoviária antes de embarcar, o que achei uma grande perda de tempo mas, pelo menos, na ida já pude trocar o voucher da volta também.

O ônibus é básico, mas confortável (sem wifi, como o motorista fez questão de avisar antes que tivesse de ouvir 34 pessoas perguntando) e a estrada, claro, é excelente. Afinal, estamos em São Paulo. A viagem dura três horas.

O Hotel

Campos do Jordão me espantou pelos preços. Já sabia que era um destino caro – aparentemente, todo paulista é ricaço -, mas mesmo assim levei um susto ao pesquisar preços no booking.com. Qualquer pousada simples e com avaliação abaixo de 9 cobra 300 reais a diária, em baixa temporada.

Pesquisando em blogs, descobri a Pousada solar D’Izabel (que não está no booking.com). Os comentários sobre ela no TripAdvisor são os melhores possíveis, e com justiça. Ok, não foi baratinha, 285 reais a diária. Pela qualidade, localização e pelos preços da cidade, porém, acabou sendo justa.

A pousada está mais para um hotel, na verdade. É grandinha, com recepção 24 horas, amenidades de banheiro e quartos espaçosos (o armário é pequeno, mas presume-se que você não ficará muito tempo em Campos do Jordão – volto nisso mais à frente). Tudo muito limpo, novo, bem cuidado.

Dois são os pontos fortes da pousada. O primeiro é a localização – não poderia ser melhor! Está a uns oito minutos a pé do centrinho de Campos do Jordão (no Capivari). Você chega num segundo na parte turística da cidade. Por outro lado, dorme em paz. Não há bares por perto, não há música noite adentro, não há ninguém perambulando na rua. Uma paz de dar gosto. (A pousada admite crianças, e algumas têm pais que não sabem educar, mas fazer o quê, isso é vida em sociedade.)

O segundo ponto forte do Solar D’Izabel é a alimentação. O café-da-manhã é muito completo e vai das 8h ao meio-dia, com várias frutas, sucos, pães, frios e bolos, entre outras guloseimas. Há a opção de pedir ovos feitos na hora. À tarde, há chás de vários sabores (twinings, pra minha felicidade), café espresso (grão moídos na hora – nova onda de felicidade) e bolo à disposição. A recepção informa que ficam até as 19h, mas acho que esse é apenas o horário máximo para a reposição dos bolos. O que sobra fica lá e a máquina de café (que também libera a água quente pro chá) pode ser usada até as 22h. Pra finalizar, às sextas e sábados há sopa (no meu primeiro dia, era um creme de palmito divino; no segundo, uma sopa toscana) das 19h às 20h30m, que você pode comer à vontade com torradas feitas lá mesmo e queijo ralado.

Pra ficar ainda melhor, a comilança é servida em uma louça linda.

O Transporte na Cidade

Conforme um taxista me disse, Campos do Jordão tem duas ruas principais e quase nada além disso. É fácil se localizar na cidade. Por outro lado, se você não está de carro, terá contratempos.

Eu nunca estou de carro quando viajo, detesto dirigir onde não conheço e detesto perder tempo procurando vaga. Normalmente, fico bem contente em usar o transporte público. Acontece que transporte público não é o forte de Campos do Jordão e quase todos os pontos turísticos são distantes – o ônibus demorará muito, ou até nem haverá linha de ônibus.

A segunda opção, claro, é o táxi (não existe uber e, a bem da verdade, os apps para chamar táxis não funcionam a contento). Prepare-se para se assustar com a conta. Não vi o preço da bandeirada, mas é alta: uma corrida de 3 km. custa entre 25 e 30 reais, sem trânsito.

Existe a possibilidade de contratar uma van, formando um pequeno grupo (adequado a famílias grandes) ou encaixando-se em um (opção para casal ou pessoas viajando sozinhas), mas claro que isso traz o inconveniente da “excursão”: horários fixos e companhias que você não escolhe. Por outro lado, sai bem mais barato que corridas avulsas de táxi.

Campos do Jordão implora por um ônibus do tipo hop on/hop off.  São cerca de dez pontos turísticos relevantes, num raio de cerca de dez quilômetros. No trânsito fácil da cidade, um ônibus como esse, com circulação em fins-de-semana e feriados, economizaria tempo e dinheiro e beneficiaria as próprias atrações turísticos com uma afluência maior e mais constante de público.

As Atrações Turísticas

Eu tinha três dias e escolhi aproveitá-los com calma, sem querer conhecer todos os pontos famosos da cidade – até poque vários deles envolvem trilhas e caminhadas pelo mato, que me interessam apenas em doses homeopáticas.

Baden Baden

Cheguei à rodoviária, almocei muito bem (mais abaixo) e fui para a fábrica da Baden Baden. É necessário agendar o tour. É mesmo necessário agendar o tour. Se você não agendar, pode até conseguir um encaixe, mas precisará de sorte e paciência.

O tour dura cerca de meia hora. O visitante é apresentado aos quatro elementos que compõem qualquer cerveja: água, lúpulo, levedura e malte de cevada ou trigo (também é alertado de que aquelas cervejas baratas de latinha levam milho ou arroz em vez de cevada, por isso são baratinhas e quase intragáveis). É possível ver os tonéis por onde passa a mistura até virar cerveja. O tour se encerra com a apresentação da linha completa da Baden Baden (ressaltando-se a composição de cada uma e dicas de harmonização) e com a degustação de dois tipos. No meu dia (fiquei com a impressão de que isso varia), era a vez da indian pale ale e da chocolate. Por fim, o turista ganha um copinho de cerveja de lembrança (confesso que esperava uma das taças bonitas da Baden, mas nem) e passar na loja, que não tem os melhores preços, mas pode ser interessante para comprar uma ou outra linha que dificilmente se vê em supermercados. Eu comprei a Witbier, cerveja de trigo adicionada de laranja e coentro, premiada em competições na Europa. Muito leve e fresca, pouco amarga, gostei bastante.

À noite, saí pra conhecer o centrinho de Capivari. Eu já tinha comido (o creme de palmito delicioso da pousada), então fui só passear e tomar chocolate quente. Não faltam opções pra isso, aliás. Acabei indo à loja Araucária, tanto por ser famosa quanto por ter um espaço agradável e um preço menos caro. Chocolate quente aprovado, cremoso, delicioso. No dia seguinte, provei o chocolate branco quente e, como se pode imaginar, é muito doce. Ficou perfeito quando segui a sugestão da vendedora e derreti um tablete de chocolate amargo nele.

Sobre o centrinho, é bem inho mesmo, mas charmoso e bom pra andar a pé (as ruas são fechadas para carros). Tem um clima meio natalino, graças ao friozinho da Serra da Mantiqueira e às luzinhas que decoram algumas fachadas. Quase todo restaurante tem música ao vivo, o que pode ser um pesadelo se você não curte MPB e rock dos anos 80 (eu curto, desculpa). Tem umas galerias, umas lojinhas de artesanato, várias lojas de malhas e tricôs e um empório – o Matterhorn – que fica aberto até a meia-noite, ótimo pra comprar água e lanchinhos.

Outros pontos que visitei e foram bacanas:

  • Amantikir: lindo, mas muito difícil de chegar.
  • Teleférico e Parque dos Elefantes: divertido especialmente para crianças.
  • Palácio Boa Vista: se você tiver tempo.
  • Bosque do Silêncio: perto do centro e bastante agradável.

Pontos turísticos famosos que não me interessaram: Pico do Itapeva (só tem uma vista incrível se o céu estiver limpinho, e estava nublado durante a maior parte da viagem), Pedra do Baú (trilhas e mais trilhas), Horto Florestal (talvez eu fosse se tivesse um dia a mais, mas, como ouvi dizer que não é bem cuidado, não me animei), trenzinho pela cidade (tedioso), trem até Santo Antônio do Pinhal (seria uma alternativa se eu tivesse um dia a mais, mas já fiz passeios de trem maiores e mais bonitos), fábrica de chocolate da Araucária (apenas uma sala com vidraças e duas pessoas temperando chocolate) e Ducha de Prata (vi fotos e achei bem mequetrefe).

Comes & Bebes

Assim que desembarquei na rodoviária, abri o TripAdvisor pra escolher onde almoçar. A sugestão que acolhi foi o Sans Souci (pertinho da rodoviária, dá pra ir a pé), sétimo restaurante melhor avaliado da cidade (de uns 360). Não me arrependi.

Outros restaurantes que visitei e foram bacanas:

  • Restaurante Capivari
  • Villa Gourmet

Tudo isso entremeado com as comidinhas da pousada e com o chocolate quente da Araucária. No fim das contas, comer faz parte das atrações turísticas da cidade.

“Mas você não foi ao Restaurante Baden Baden?!” O restaurante fica no centrinho e, a bem da verdade, não é da Baden há anos, embora revenda os produtos. Está sempre cheio, o que me desencorajou, porque dizem que o atendimento fica péssimo quando está cheio. No domingo à noite estava vazio, tentei dar uma chance, mas fui mal atendida e saí antes de pedir qualquer coisa. Então não, não fui à Baden Baden, e não recomendaria, num lugar com tantas outras opções.

“Mas você não comeu o pastel do Maluf?!” O tal do pastel gigante, na verdade, equivale a dois pastéis de feira e custa 30 reais. Eu moro uma região cheia de feiras com pastéis deliciosos por menos de 5 reais cada. Então, não, não fiz a menor questão de comer o pastel do Maluf, que deve ter esse nome por ser um roubo, só pode.

Veredito

A viagem foi muito agradável. Foram dias gostosos, com um friozinho bom e tempo pra espairecer, mas não entendo essa fissura de alguns paulistanos de quererem ir pra lá todo ano, e até várias vezes no mesmo ao. Três dias está de ótimo tamanho (eu teria ficado entediada com mais tempo), e passemos aos próximos destinos.

Montevidéu – dicas variadas

Veja todos os textos sobre Buenos Aires e Montevidéu.

Algumas dicas para tornar sua estada em Montevidéu ainda mais agradável.

Informações e Deslocamento

  • Montevidéu não tem metrô, mas andar de ônibus por lá é simples e o site da intendência (equivalente a governo de estado) torna tudo mais fácil, indicando os trajetos a pé ou de ônibus. A passagem custa R$1,70 e, diferentemente de Buenos Aires, você não precisa ter o dinheiro certinho para embarcar.
  • Táxi é barato e as distâncias geralmente são pequenas, o que o torna ainda mais convidativo.
  • Se os argentinos são polidos ao dar informações (o que já considero excelente), os uruguaios são solícitos, amáveis e quase se oferecem pra acompanhar você ao destino.

Câmbio

Palacio Salvo ao fundo, Edifício Santander na frente.
O contraste entre antigo e contemporâneo é frequente em Montevidéu.
  • A moeda leva o mesmo prenome da argentina, mas é diferente. Um real vale 10 pesos uruguaios (na Argentina, um real equivale a dois pesos).
  • No centro da cidade, tem uma casa de câmbio a cada esquina. Sem exageros. Não precisa se preocupar em pegar muitos pesos – troque seus dólares e reais conforme for precisando.
  • Pela diferença cambial, pode-se supor que o custo de vida no Uruguai é menor que na Argentina, e é mesmo: tudo lá é mais barato, de comida a eletrônicos.
  • Atenção para a pegadinha: nas vitrines, os preços de eletrônicos e de outros itens mais caros (roupas de grife, por exemplo) são apresentados em dólares. Afinal, se aquela tv de LED de última geração custasse só 300 reais, teria caravana de brasileiros pra comprar em Montevidéu.

Dia-a-dia

Ciudad Vieja, em frente ao Mercado do Porto.
Ciudad Vieja, em frente ao Mercado do Porto.
  • Uruguaios adoram brasileiros. Sério. O garçom da Pasiva (uma rede de lanchonetes deliciosa) quase puxou uma cadeira e sentou pra bater papo quando ouviu a gente (eu e a Nosphie) falando português. Um outro senhor fez questão de interromper seu trajeto para nos dar conselhos de segurança.
  • Falando em segurança, Montevidéu é uma cidade bem tranquila, mas não é aconselhável passear pela Ciudad Vieja (Cidade Velha, o centro histórico de Montevidéu) depois que anoitece.
  • Vinho é muito barato – e me refiro a vinho decente, não aos Marcus James e Chapinhas daqui. Você compra um vinho comparável a um Concha y Toro (que não é o vinho, mas é digno e custa entre 15 e 20 reais no Brasil) por algo entre 5 e 10 reais no supermercado. Alguns vêm em caixa longa-vida, mas não julgue o livro pela capa, digo, o vinho pela caixa – eles também são razoáveis.
  • Não se preocupe em trazer vinhos para o Brasil. Livre-se dos problemas para acondicionar garrafas e do excesso de peso: beba tudo no Uruguai.
  • Esqueça o que você entende por alfajor. Nem Havanna, nem Cachafaz, muito menos o alfajor da Turma da Mônica: o negócio é o Agua Helada, que é artesanal e está sempre fresquinho. Você encontra nos mercados (de bairro, inclusive) e nas padarias, tem de vários sabores e todos são deliciosos.
  • Se não encontrar o alfajor “Agua Helada” (vá por mim, procure que você acha), experimente o “De la Sierra de Minas” (semiartesanal). A marca já deixa os alfajores argentinos no chinelo.
  • O clima da cidade é mais frio que o de Buenos Aires – leve casacos e roupas quentes para dormir.
  • A voltagem em Montevidéu é 220.
  • As tomadas não seguem um padrão, mas é fácil encontrar adaptadores à venda em lojas de ferragens ou supermercados.

Dê uma olhada nas minhas dicas para Buenos Aires – várias delas (como aprender o mínimo de castelhano e seguir os conselhos válidos para qualquer viagem internacional) se aplicam perfeitamente ao Uruguai.

Montevidéu – como chegar e onde ficar

Veja todos os textos sobre Buenos Aires e Montevidéu.

Sim, claro que você pode chegar de avião, e também pode usar as milhas/pontos acumulados. Tudo que eu disse sobre Buenos Aires vale para Montevidéu – inclusive que os pacotes vendidos pelas agências de viagens não compensam se você está viajando só. Aliás, pode assumir isso como regra geral: em caso de viagem solo para o exterior, pacotes não compensam financeiramente. Para viagens dentro do Brasil, há casos em que compensam, mas ainda assim vale pesquisar.

(Honestamente, não sei como as agências de viagens sobrevivem em tempos de internet.)

Acontece que saí de Buenos Aires pra chegar a Montevidéu, e aí o melhor jeito de viajar não é de avião, mas de navio (ou buque).

No Buque, de Buenos Aires a Montevidéu.
Quem quis, viajou sem ninguém ao lado.

São duas as empresas que fazem esse trajeto: Buquebus e Seacat. A Seacat não tem barcos diretos pra Montevidéu – é necessário desembarcar em Colônia do Sacramento (fundada pelos portugueses, é a mais antiga cidade uruguaia) e tomar um ônibus até Montevidéu. A viagem fica mais cansativa, mas há mais opções de horários e as tarifas são menores.

A Buquebus tem dois trajetos: pode passar por Colônia (a passagem de ida e volta sai por uns 160 reais) ou ir direto a Montevidéu, com ida e volta por 350 reais.  Sim, a diferença de preço é grande, mas pra mim foi compensada pela menor duração da viagem. Veja o que fica melhor pra você. E compre a passagem com a maior antecedência possível, para garantir as melhores tarifas.

O terminal de embarque lembra em tudo um aeroporto. Você chega uma hora antes da partida, despacha as malas (mas vi gente embarcando com malas grandes), entrega o papel xexelento que recebeu ao entrar na Argentina (o papel da imigração, que eu só não joguei fora porque meu santo é forte), recebe outro para entrar no Uruguai (bem mais apresentável) e vai para a sala de embarque. Os lugares no barco não são marcados e é comum os passageiros fazerem uma fila de malas junto ao portão de embarque. Nem me preocupei com isso: era uma segunda-feira, havia poucas pessoas embarcando e o buque é, digamos, enorme.

Freeshop e primeira classe.
Freeshop e primeira classe (acima).

Quando entrei no barco, pensei “isso sim, é jeito de viajar”. Sério, conforto pouco é bobagem. Poltronas grandes, lanchonete com dezenas de opções (você paga, e eles não aceitam cartões, só “efectivo” – dólares ou pesos), um freeshop pra passar o tempo e, maravilha das maravilhas, wi-fi durante todo o percurso. Também tem sinal de celular e, embora tenha visto alguns passageiros fazendo uso, não ouvi nenhum deles – os hermanos são educados e falam baixo ao telefone (tenho horror só de pensar como será quando liberarem os celulares nas rotas aéreas brasileiras). Há um mezanino para a primeira classe, mas francamente, o conforto na classe turística é tanto e a viagem é tão curta que não se justifica pagar mais caro.

E a paisagem… a paisagem é belíssima, especialmente se você chegar a Montevidéu por volta das seis da tarde (fora do horário de verão), quando tem o bônus de assistir ao pôr-do-sol no Rio da Prata. Rio esse que, aliás, passa muito bem por mar, com direito a água a perder de vista e  uns sacolejos logo que o barco sai do porto (nada que justifique tomar dramin ou carregar um saquinho a tiracolo). Minha única queixa, de fato, é não ter um deque para apreciar melhor o passeio. As escotilhas são de plástico, como as de avião, e por isso as fotos não fazem jus ao cenário.

Pôr-do-sol no Rio da Prata.
Pôr-do-sol no Rio da Prata.

Para aproveitar melhor a viagem, sente-se do lado esquerdo do buque e, claro, na janelinha. Ah, sobre o freeshop: ele abre meia hora depois do barco deixar o porto e fecha meia hora antes de atracar em Montevidéu (funciona em águas internacionais). É pequeno, mas bem servido em cosméticos e guloseimas. Aceita cartões e os preços são similares aos de Ezeiza (mas em Ezeiza encontrei ótimas promoções que não vi por lá).

Chegando ao terminal de desembarque, tenha paciência: a barreira sanitária é rigorosa e, por isso, a fila é lenta. Não porte alimentos in natura, ou terá de deixá-los no terminal. Vi um passageiro ser incomodado por transportar quatro ou cinco garrafas de uísque, mas não assisti ao desfecho.

Pronto, você está em solo uruguaio. Pegue um táxi na frente do terminal de desembarque e siga para o hotel.

Aliás, falando em hotel…

Tenho uma confissão a fazer. Os textos do Uruguai não serão tão detalhados quanto os da Argentina (ou os outros de viagens que qualquer hora vou escrever) porque foi muito menos uma viagem de turismo e muito mais um reencontro de duas amigas que se adoram e maldizem a distância pelo menos uma vez por semana: eu e a Nospheratt. Tive a honra de ficar hospedada na casa dela. Divertimo-nos muito, conversamos mais que o homem da cobra e dormimos de madrugada todos os dias pra (tentar) colocar o papo em dia. O resultado é que turistei pouco por Montevidéu.

Obviamente, portanto, não posso contribuir com conhecimento de causa no quesito “hospedagem”, mas aconselho o Íbis (Rede Accor). A diária custa cerca de 120 reais e a localização é excelente: na Rambla (orla), de frente para o Rio da Prata, a poucos minutos do centro e do Shopping Punta Carretas.

Tem mais dicas de onde se hospedar em Montevidéu? Compartilhe no formulário de comentários!

Buenos Aires – gastronomia

Veja todos os textos sobre Buenos Aires e Montevidéu.

Adoro turismo gastronômico, mas confesso que não aproveitei Buenos Aires tanto quanto poderia nesse aspecto. Saía para bater perna antes das 10 da manhã, voltava para o hotel exausta às 7 da noite e, geralmente, não tinha ânimo para ir aos restaurantes. Para complicar, vários lugares pedem reserva e eu não queria engessar meu dia.

Teto do Café Tortoni
Café Tortoni.

Vai daí que meu turismo gastronômico ficou centrado nos cafés e padarias, e devo dizer que a capital argentina está muito bem servida neste ponto. As empanadas deles são as nossas coxinhas. Encontrei empanadas assadas em todo canto e empanadas folhadas na confeitaria London City (Avenida de Mayo, 599), deliciosas. Em tempo: sob nenhuma circunstância peça empanadas nos kioskos 24 horas espalhados pela cidade – as chances de se deparar com algo pior que salgado de praia da semana passada são grandes.

Buenos Aires tem um circuito de cafés notáveis, ou cafes notables, que se destacam pela importância cultural ou histórica para a cidade. O London City é um deles. O Café Tortoni (Avenida de Mayo, 825) é o mais famoso do roteiro e está sempre cheio à noite, quando exibe um show de tango. Se não quiser perder a viagem ou esperar na fila, prefira conhecê-lo de manhã. A decoração é belíssima e só por ela já vale visitar.

Outro que está no roteiro é o Richmond (Florida, 468). Nele descobri que o nosso hambúrguer é conhecido por lá como “milanesa” – e eis aí uma excelente opção de almoço, já que é (muito bem) servida no prato.

Sendo fã do filme Evita, foi atrás da Confitería Ideal, em que foi filmada uma das minhas cenas favoritas: a canção “Oh What a Circus”. Achei o lugar, entrei, sentei… tomei uma coca zero e saí correndo. Embora faça parte do circuito de cafes notables e tenha um site com belas fotos, o lugar exala decadência, desleixo e abandono (nem vou dizer o que ele exala em sentido literal).

As padarias são uma ótima alternativa para lanches rápidos. Na Calle Defensa, esperando a Feira de San Telmo pegar fogo, encontrei a La Continental; a La Quintana foi um achado do dia de compras pelos outlets e fica na esquina da Scalabrini Ortiz com a Corrientes, a dois passos da estação Malabia da linha B do metrô.

O atendimento nos cafés e padarias não é, como direi, paulista. Os garçons não estão sempre a postos, não atendem rapidamente e, na verdade, não parecem ter pressa pra nada. Pode ser porque os 10% venham em nota separada e sejam, realmente opcionais (no Brasil, convenhamos, são quase obrigatórios), mas esse descaso acaba caindo bem, já que você pode usar o wi-fi gratuito do estabelecimento (o único lugar em que entrei e não tinha wi-fi foi o Havanna Café) sem pressa e sem sentir qualquer obrigação de consumir.

Não pode faltar uma parada na sorveteria Freddo (se não tiver tempo, peça do hotel que eles entregam). Todos os sabores que provei eram deliciosos, mas o de doce de leite é coisa de outro mundo.

Quanto à alta gastronomia, Buenos Aires concentra em Palermo a maior parte dos seus restaurantes internacionais. A Recoleta também conta com bons representantes e, claro Puerto Madero é visita obrigatória. A região não conta com tantos restaurantes – oito ou nove, talvez -, mas todos têm comida e atendimento de primeira, além de uma linda vista para o rio da Prata. Consegui comer sem fazer reserva no Bahia Madero, mas talvez tenha dado sorte, já que era cedo para os padrões dos argentinos. Às oito da noite, quando cheguei, o restaurante estava quase vazio. Saí depois das dez, e aí a casa já estava bem movimentada.

Os preços das refeições continuam muito favoráveis aos brasileiros (até McDonalds é mais barato por lá). No Bahia Madero, pedi entrada (uns bolinhos que de “inhos” não tinham nada, de espinafre e não me lembro mais o quê), prato principal (massa e molho com filé), sobremesa (crème brûlée), água e vinho por cerca de 75 reais.  Todos os pratos estavam deliciosos e muito (exageradamente) bem servidos.

Com este texto, encerro a viagem por Buenos Aires. A seguir: Montevidéu. 🙂