Animal em apartamento pode? Pode!

Anos atrás, fiz um post contando o stress que o síndico do meu prédio me fez passar quando adotei minha primeira gata. Quis, inclusive, proibir a entrada do instalador de rede de proteção e me ameaçou com despejo.

O desfecho foi o seguinte: fiz uma pesquisa jurisprudencial, encontrei pouca coisa, mas imprimi o que encontrei; deixei na portaria, com uma carta curta ao síndico resumindo o que dizem a lei e os tribunais; o síndico nunca mais me encheu o saco. Inclusive, depois de um tempo, até começou a me tratar com simpatia, veja só que coisa.

O síndico estava errado, claro, e deve ter consultado algum advogado que lhe disse isso. Infelizmente, esse tipo de aborrecimento é frequente. A prova disso são as dezenas de comentários e emails que recebi de pessoas que passaram pelos mesmos problemas.

O que é importante saber:

  • dentro do seu apartamento, você pode fazer o que quiser – desde que não seja contra a lei e não perturbe o sossego dos vizinhos;
  • ter animais em apartamento não é contra a lei (a principal, no caso, é o Código Civil, com destaque para o art. 1.335);
  • ainda que a convenção de condomínio proíba, você pode ter animais – a convenção não se sobrepõe à lei.

Por que estou falando tudo isso agora? Porque mês passado virou notícia uma decisão judicial sobre o tema e a sentença está facilmente acessível. Ela traz precedentes de diversos tribunais e serve como um bom ponto de partida, caso você precise convencer seu síndico de que você tem direito de manter animais em seu apartamento.

Lembre-se apenas que o seu direito não pode perturbar o direito alheio. Se os seus animais, ou as condições em que você os mantém, perturbarem a saúde ou o sossego dos vizinhos, você pode ser “convidado” a se mudar, sim. São casos extremos: muitos animais, cheiro insuportável, animal agressivo que transita pelas áreas comuns sem focinheira, coisas desse nível. Ou seja: o bom senso continua valendo.

Cacau não aguentou.

Devo ter errado na contabilidade. No último 2 de setembro, Cacau morreu.

Saí às 12h30, depois de dar todos os remédios e alimentá-la com A/D na seringa. Voltei às 19 horas, e ela estava morta. Morreu sozinha, e nunca vou me perdoar por isso.

Essa gatinha foi adotada pra ser “a gata da Mel”, minha branquela hiperativa que precisava de uma companhia felina. Foi escolhida a dedo, em meio a tantos e tantos gatos que aguardavam adoção. Ela reunia tudo que eu sonhava: era adulta, fêmea, laranja (ou quase), calma e muito, muito carinhosa. Grudenta, companheira de todos os minutos. Eu sempre disse que era a minha “gata dos sonhos”.

Cacau levou um pedaço enorme do meu coração. A partezinha que sobrou dói tanto, tanto… eu nem poderia começar a explicar o que estou sentindo.

Fica bem, gatinha. Vai brincar com a Mel, vai caçar os ratinhos brancos que você tanto ama, vai amassar pão em cobertores e pijamas de moletom com aquela carinha de êxtase que só você sabe fazer.

Mamãe te ama demais.

A última foto, tirada na manhã de 27 de agosto de 2012.
A última foto, tirada na manhã de 27 de agosto de 2012. Gatinha, currum, bebê, pamonha, panqueca, lôra. Minha gata dos sonhos.
Hein? Eu só quero relaxar...
O terceiro dia da Cacau em casa, em 23 de fevereiro de 2009.

Contabilidade.

Dizem que gatos têm sete vidas. Vejamos, então, como anda o estoque da Cacau.

Aninhada no meu colo.
Aninhada no meu colo.

1. Muito antes de eu conhecê-la, quando ainda era um bebê, Cacau quase morreu. Foi castrada por um porco carniceiro, teve infecção generalizada e ficou quase um mês internada de barriga aberta. Incrível que tenha sobrevivido.

2. Cacau foi adotada por uma senhora que achou por bem devolvê-la depois de quase um ano. A desnaturada partiu o coração do próprio filho, e partiu o coração da Cacau, que passou três dias sem comer, sem usar a caixa de areia, sem nada. Não bastasse o fato de que poderia ter morrido de tristeza (sim, isso acontece), ainda podia ter sido abandonada na rua por essa desalmada – já pensou? Sorte que foi devolvida para a protetora, que cuidou muito bem dela.

3. Em julho de 2010, minha loira de repente começou a mancar um bocado e a choramingar quando andava. Levei à veterinária no dia seguinte (porque é claro que os sintomas começaram num domingo, é sempre no fim-de-semana que as grandes merdas acontecem), que suspeitou de artrite causada por FeLV. Teste feito, confirmou-se a FeLV e comecei ali a medicação, que é diária e para o resto da vida. Se ela estivesse na rua, não teria sobrevivido.

Tentando pegar um gato pelo rabo...
Tentando pegar um gato pelo rabo…

4. Em junho desse ano, a Cacau começou a ficar amuada, isolada, parou de comer… linfoma, outra consequência da FeLV. Deu muito trabalho (pra mim, pra veterinária, pra Cacau) reverter o quadro, que foi complicado por uma anemia profunda. Foram duas semanas em que não se sabia se ela iria se recuperar. Depois de duas transfusões de sangue, uma dose de quimioterapia injetável, muito soro, alimentação forçada e medicamentos, ela voltou a ser uma gatinha feliz.

5. Domingo passado, novamente minha gata começou a ficar estranha. Menos grudenta e com dificuldade visível para subir até em móveis baixos. Exames feitos, o diagnóstico: o linfoma voltou com tudo, apesar de ela tomar quimioterapia a cada quatro dias há dois meses. Ontem, ela recebeu uma dose pesada de quimio injetável e agora estou aqui, torcendo para que tenhamos mais um tempo juntas. Dessa vez, pelo menos, não há anemia para agravar o que já é grave.

Então, é isso. Cacau tem só mais duas vidas pra queimar. E ainda nem chegou aos cinco anos de idade.

Sete vidas é pouco, viu?