Descomplicadas

Uns meses atrás, fui convidada a participar de uma pequena rede de blogs escritos por mulheres, sob o título Elas Blogam.

O projeto decolou há algumas semanas e está bem bacana. A rede é parte de um portal, o Descomplicadas, que vem cheio de conteúdo, como calendário de menstruação e informações sobre saúde feminina. O site também se preocupa em ensinar netiqueta (e diz não ao miguxês, viva!) e dá dicas para um blog bacana (minha preferida: “NUNCA copie textos de outras pessoas”). A iniciativa é da Intimus.

Presentinhos da Intimus
Kit da Intimus

Claro que nada é perfeito: o portal é lindo, mas tem flash, flash e mais flash. Se a sua conexão é lenta, você vai sofrer. Ei, galera, não era pra descomplicar? Além da demora, existe o problema googlístico: São Google não lida bem com conteúdo em flash.

Enfim, deixemos de lado minha mortal implicância com o flash…

Não pude ir ao encontro das moças que compõem o Elas Blogam, mas ainda assim recebi em casa, semana passada, uma caixa linda com produtos Intimus. Agora, o mais bacana mesmo é o que está dentro dessa caixinha escrita “Nosso site é todo seu”:

Presentinhos da Intimus
Carimbo personalizado!

Carimbos! Achei um barato o “Hoje estou”, mas ca-la-ro que morri de amores mesmo pelo “Dia de Folga”. Estou pensando seriamente em comprar uma almofadinha laranja e começar a carimbar as cartinhas que envio por aí acrescentando um .com ao lado (e, acredite, envio muitas cartas – qualquer hora explico a razão).

Obrigada às meninas que cuidam do projeto pelo convite e por esse mimo. 😉

Tom e Vinícius – O Musical

Fui, vi, gostei. Mas, confesso, esperava mais.

Conseguir ingresso em cima da hora (comprei apenas um dia antes da peça) foi um pequeno  milagre. Apenas quarenta reais – de graça para os padrões do Teatro Nacional de Brasília – e com ator famoso (eu nunca tinha ouvido falar dele, mas não sou noveleira, então não posso ser levada em conta), essa é a combinação perfeita para entradas esgotarem-se antes que você saiba que o espetáculo existe. Certo, fiquei na fila Z, mas quem se importa?

O lugar era central, diga-se de passagem, e, justamente pela distância do palco, propiciava uma boa visão de toda a cena – e aí começa o problema. Cadê cenário? Um projetor sem contraste, trazia uma imagem ou outra do Rio, do Carnegie Hall etc. e tal. No tablado, poucos elementos além dos (também poucos) atores. Um piano, eventualmente uma mesa e algumas cadeiras. Tom e Vinícius poderia manter muito bem esse clima no teatro pequeno e seria um espetáculo intimista. Na sala principal do Teatro Nacional, com capacidade pra mais de mil pessoas, a sensação é de que falta algo.

Marcelo Serrado interpreta Tom Jobim e contracena com o Vinícius de Moraes de Thelmo Fernandes. Serrado convence mais. Fernandes está ótimo, mas exagera um tanto nos trejeitos do poetinha. Nenhum dos dois enche o peito para cantar, sendo salvos por seis excelentes cantores. A pequena banda também é de primeira. Mas, pra quem se acostumou com musicais e cortinas líricas compostas por dezenas de artistas, a produção pareceu pobre, insuficiente para a grandeza dos homenageados.

Outro ponto fraco é o tom professoral de algumas passagens, como se houvesse muito a contar em pouco tempo e a única saída fosse declamar lições didáticas.

Nem tudo é defeito, claro – afinal, eu disse lá em cima que gostei do musical. Os cantores são ótimos e seus figurinos de época caem muito bem. A escolha das músicas marca eventos importantes nas carreiras de Tom e Vinícius. O corte que os autores fizeram para contar as suas vidas é preciso, pinçando ótimos momentos. O musical faz rir quando perde o tom didático e chega a emocionar. Sem contar que recordar Tom e Vinícius é recordar um Rio de Janeiro leve e poético como já não se vê.

Não é imperdível mas, se por acaso voltar aos palcos (segundo Serrado, a apresentação de domingo passado em Brasília encerrou a turnê nacional) e se você for fã da dupla que consagrou a bossa nova, vale conferir.

Ficha

  • Texto: Daniela Pereira de Carvalho e Eucanaã Ferraz
  • Direção: Daniel Herz
  • Direção Musical: Josimar Carneiro
  • Figurino: Marcelo Pies
  • Elenco: Marcelo Serrado, Thelmo Fernandes, Guilhermina Guinle, Ricardo Conti, Lilian Valeska, Marcelo Rezende, Luiz Araújo, Pedro Lima, Luiz Nicolau, Ana Ferraz, Carol Bezerra, Julia Gorman, Luciana Bollina, Marilice Cosenza.

Sem Sangue

Escrito originalmente para a Revista Paradoxo, em 04/11/2008.

É apenas para efeito didático que se marca data para começo e fim de uma guerra. As sementes da Segunda Guerra Mundial começaram a germinar muito antes da invasão da Polônia por Hitler em setembro de 1939 – há quem a defina como mais um capítulo da guerra iniciada em 1916. Da mesma maneira, não se imagina que quando o último soldado norte-americano se retirar do Iraque a guerra terá, de fato, chegado ao fim para os sobreviventes. Na vida que se desenrola além dos livros de História, não existem linhas pontilhadas marcando pontualmente o início e o fim de uma guerra para aqueles que sofrem seus efeitos devastadores. Sejam eles classificados formalmente como vitoriosos ou vencidos.

O término oficial de uma guerra é o ponto de partida para o romance Sem Sangue, do italiano Alessandro Baricco. O escritor faz questão de deixar claro que o texto é ficcional e não fornece informações geográficas ou temporais que permitam ao leitor situar a história. Todas as guerras são, afinal, iguais na dor, nas feridas e nos traumas que causam.

No livro, alguns homens vão à caça de um médico. O ronco do Mercedes anuncia a aproximação e o doutor trata de esconder sua filha num buraco, sob a casa de fazenda isolada. Entrega a ela uma arma, conservando outra para si, e prepara-se para o embate. A primeira impressão é a de que os tais homens no carro são os inimigos, os implacáveis vilões – até que se descobre o envolvimento do médico nos horrores da guerra da qual saiu derrotado.

Décadas depois do confronto na casa isolada, ainda há sobreviventes. A guerra, para eles, não havia acabado no dia determinado pelas autoridades passadas; não acabara na casa de fazenda; e não tem fim até o dia em que se encontram. O curto romance apresenta uma história de morte e vingança em que não é possível tomar partido.

Baricco não se apega a descrições, mas suas frases precisas constroem imagens vívidas e mergulham o leitor numa trama que surpreende e atordoa. É livro com cara de filme, de roteiro pronto para pular para as telas. Enquanto Seda (esse sim, transformado em filme em 2007) conquista pelo lirismo, Sem Sangue impressiona pela dureza. Uma dureza poética.

Trechos

Por mais que a gente se esforce para viver uma única vida, os outros verão outras mil dentro dela, e é por essa razão que não conseguimos evitar de nos machucarmos.

Já não se podia voltar atrás, quando as pessoas começam a se matar não se volta mais atrás. Não queríamos chegar àquele ponto, os outros começaram, depois não houve mais nada a fazer.

Ficha

  • Título: Senza Sangue
  • Autor: Alessandro Baricco
  • Editora: Companhia das Letras
  • Páginas: 81
  • Cotação: 5 estrelas
  • Pesquise o preço de Sem Sangue.

Jean Charles

Ficha Técnica

  • Título: Jean Charles
  • País: Brasil
  • Ano: 2009
  • Gênero: Drama
  • Duração: 1 hora e 30 minutos
  • Direção: Henrique Goldman
  • Roteiro: Marcelo Starobinas e Henrique Goldman
  • Elenco: Selton Mello, Vanessa Giácomo, Luís Miranda, Patrícia Armani, Maurício Varlotta, Sidney Magal, Daniel de Oliveira, Marcelo Soares, Rogério Dionísio.
  • Sinopse: Jean Charles de Menezes (Selton Mello) é um eletricista mineiro que mora em Londres e ajuda na chegada de sua prima Vivian no país onde já vive com Alex e Patrícia. Muito comunicativo, Jean Charles conhece muita gente se envolve em várias situações. Em 22 de julho de 2005 ele é morto por agentes do serviço secreto britânico no metrô local, confundido com um terrorista. O fato abala a vida dos primos, que precisam reconstruir a vida ao mesmo tempo em que buscam por justiça.

Comentários

Jean Charles

A história todo mundo conhece: o mocinho morre no final. Então, por que assistir a Jean Charles?

Porque é um filme redondo, em que atores e cenografia se complementam para desenvolver um enredo que, embora obviamente previsível, emociona. Ao longo do filme, o espectador se envolve com as aventuras de Jean Charles, um de milhares de mineiros que emigram ilegalmente para tentar ganhar a vida. Jean divide um apartamento pequeno com dois primos e ajuda a trazer mais uma para viver com eles a fim de juntar dinheiro para tratar da mãe que tem diabetes.

Jean não é um modelo de cidadão. Dá o perdido nos funcionários da imigração no aeroporto de Londres, enrola o próprio chefe (também brasileiro), encarna o típico malandro – não daqueles que habitam o Congresso Nacional, bem entendido, mas daqueles que fazem trambiques pra levar o dia-a-dia. É bem-humorado, esperto, divertido e disposto a ajudar os amigos, embora nem sempre as coisas corram da forma desejável.

Esse é um dos méritos do filme, aliás: não querer santificar Jean Charles. Ele era apenas um brasileiro como tantos outros. O que o diferencia é o assassinato estúpido de que foi vítima pelas mãos da polícia londrina, paranóica com o terrorismo. Outro mérito da produção é, justamente, resgatar uma história que ainda não teve fim, visto que ninguém foi responsabilizado pela morte de Jean Charles. Mas a tragédia e o que seguiu-se a ela ocupa pouco mais de um quarto do filme. O foco está mesmo na luta pela sobrevivência do grupo de brasileiros ilegais ao qual pertence Jean. Por isso mesmo o filme captura a atenção e emociona, mesmo conhecendo-se o desfecho.

Cotação: 3 estrelas

Curiosidades

Sidney Magal especializou-se em pontas. Lá está ele, como ele mesmo, durante uma festa para brasileiros em Londres. (A festa até aconteceu, mas o cantor na ocasião foi Zeca Pagodinho).

Jean Charles é a primeira coprodução Brasil/Inglaterra.

Patrícia Armani é realmente prima de Jean Charles, interpretando a si mesma no filme.

Não contente com a morte absurda de Jean Charles, o sujeito que chefiava a polícia londrina na época do incidente, Ian Blair, tenta reescrever a história em autobiografia a ser lançada em breve. Segundo ele, se Jean Charles fosse o terrorista procurado, os agentes mereceriam uma medalha de honra. Bem, se aqui nevasse todo mundo usava esqui.

Em 23 de novembro de 2009, foi paga uma indenização de cem mil libras para a família de Jean Charles, a título de acordo. O valor corresponde a cerca de um terço do que os advogados da família pediram e, segundo o jornal Daily Mail, seria maior se Jean Charles viesse de família rica.

O tal Ian Blair recebeu 400 mil libras ao renunciar ao cargo de chefe da polícia metropolitana de Londres.

Até hoje, nenhum policial foi responsabilizado pela morte de Jean Charles.

Serviço

Imagem: divulgação.