O melhor livro sobre nada

O melhor livro sobre nada.
Recordar é viver.

Se você gostava da série Seinfeld, vai gostar deste livro. Sabe aquelas piadinhas que Jerry fazia no início e no fim de cada episódio, em cima de um palco? O Melhor Livro Sobre Nada é uma coletânea delas.

Na introdução, Jerry Seinfeld explica que começou a escrever as ideias engraçadas que lhe ocorriam por volta dos 15 anos de idade. O resto é história: aos vinte e poucos, já tinha uma boa carreira fazendo stand-up comedy nos bares de Nova Iorque e em 1990 criou com Larry David sua própria sitcom. O seriado teve oito temporadas formidáveis e inegavelmente faz parte da cultura pop.

O livro (lançado nos EUA em 1993, ainda durante a produção da sitcom) traz esquetes familiares aos fãs do seriado, como as teorias sobre shoppings, a redundância que é praticar exercícios físicos para ficar em forma (para praticar exercícios físicos) e minha passagem favorita: a busca pela caixa perfeita. Como tenho memória de peixinho dourado, não me arrisco a dizer que todas as piadas do texto apareceram na televisão, mas posso apostar que a maior parte delas está nos episódios.

Esse é, ao mesmo tempo, o mérito e o defeito d’O Melhor Livro Sobre Nada: mérito por alegrar os saudosistas, defeito (perdoável, mas o principal responsável pelas 3 estrelas que dei) por trazer mais do mesmo.

Vá lá, se você nunca viu Seinfeld ainda pode curtir o livro. São coisas independentes. O único problema é que, por alguma razão que desconheço, nem todos gostam do humor de Jerry Seinfeld e você corre o risco de comprá-lo e detestar da primeira à última linha. O que não é nenhum drama, já que todos nós corremos esse risco o tempo todo (prefiro esquecer as bombas que já li ao longo de duas décadas e meia).

Trechos

Mas o que eu ganho em troca de todo o dinheiro que pago em impostos? Não tenho filhos, não uso escolas públicas. Não uso a polícia ou as prisões. Nunca chamei as Forças Armadas. Basicamente, uso o correio e a lista branca nas estradas. Ou seja, um terço da minha vida de trabalho em troca de selos e de dirigir em linha reta. (p. 97)

Há muitas coisas que você pode mostrar como prova de que os seres humanos não são inteligentes. Mas a minha prova favorita é que nós precisamos inventar o capacete. Pelo visto, o que estava acontecendo é que estávamos praticando uma porção de atividades que estavam quebrando as nossas cabeças. Decidimos não parar de fazer essas atividades e inventar um negócio para que pudéssemos continuar a gozar do nosso estilo de vida racha-crânios. O capacete. E nem isso funcionou, porque nem todo mundo usava o capacete, de modo que tivemos de inventar a lei do capacete obrigatório. O que é uma coisa ainda mais besta, porque é uma lei que visa proteger um cérebro cujo juízo é tão torto que nem tenta evitar que a cabeça onde ele está instalado se rache ao meio. (p. 105)

Minha ideia da sala de estar perfeita é a cabine de comando da Enterprise: poltrona grande, TV legal, controle remoto. Por isso, Star Trek é a fantasia de todo homem: voando pelo espaço na sua sala de estar, vendo televisão. (p. 131)

Meus pais tinham duas discussões constantes no carro: a que velocidade meu pai estava indo e quanta gasolina tinha no tanque. Meu pai tinha uma defesa padrão para qualquer acusação: “É porque você está olhando o mostrador de lado. Se você estivesse aqui, ia ver. De onde você está sentada, parece que estou a 120 por hora com o tanque vazio, mas daqui dá pra ver que estou a 80 com o tanque cheio”. (p. 149)

A morte é a última mudança da sua vida. O carro fúnebre é um caminhão de mudanças, os caras que carregam o caixão são seus amigos íntimos, os únicos a quem você pediria que ajudassem numa grande mudança como essa. E o caixão é aquela caixa grande e perfeita que você estava procurando a vida toda. O único problema é que, quando você a encontra, você está dentro dela. (p. 158)

Ficha

  • Título original: The Best Book About Nothing
  • Autor: Jerry Seinfeld
  • Editora: Frente
  • Páginas: 158
  • Cotação: 3  estrelas
  • Encontre O melhor livro sobre nada.

Folgando na Rede # 26

Rede arco-íris Muitos links acumulados, então separei-os em blocos temáticos.

Eleições

Que candidato pensa como você? – São vinte questões de múltipla escolha para descobrir com quem suas opiniões estão mais alinhadas. O resultado pode surpreender.

A internet pode mudar o seu voto. – A rede é uma grande ferramenta na hora de pesquisar a ficha de cada candidato. Dica do Jorge Araujo.

Internet, este imenso palanque virtual. – Uma visão geral do uso da web nas eleições de 2010: as regras do TSE, o que o blogueiro pode ou não fazer, como usar orkut e outras redes sociais para apoiar candidatos e alguns sites úteis para pesquisar informações e ver em quem vale a pena votar.

Moda e Beleza

Sobre o tamanho do seu bolso. – Belo texto sobre até onde consumir, diante de uma enxurrada de blogs de moda e maquiagem. Há coisas muito mais importantes que comprar, comprar, comprar.

Onde os magros não tem vez. – Um pouco sobre o Fashion Weekend Plus Size, em que são exibidas roupas feitas para mulheres cheias de curvas.

Celebridades com e sem maquiagem. – Certo, sou contra essa ditadura que submete as celebridades a estarem sempre lindas-maravilhosas, mas é inegável que faz bem pro ego vê-las de cara limpa.

Hobbies

FemAle Carioca – Blog sobre cerveja artesanal e assuntos relacionados, feito só por mulheres.

78 dicas de fotografia para idiotas. – Ou para distraídos. Ou pra gente com pouca intimidade com a câmera fotográfica. Dica da @adachivers.

Como seria sua vida sem internet? – Olha como faltaria graça na sua vida. Isso pra não mencionar as inúmeras questões sobre a vida, o universo e tudo mais, que só São Google responde.

Férias Brasil – Seu Guia de Viagem e Turismo. – Dicas de hospedagem, culturais e gastronômicas para vários destinos.

Mais

Entrevista com Ney Matogrosso (vídeo). – Adoro! Vi no twitter da @srtabia.

Kindle, imunidade tributária e mandado de segurança: breve roteiro e modelo de petição inicial. – O advogado Marcel Leonardi obteve sentença judicial que afasta a incidência do imposto de importação sobre o kindle e compartilhou a petição inicial e uma série de dicas valiosas para quem quiser fazer o mesmo.

Dewey – um gato entre livros

Dewey, um gato entre livros.
Prato cheio para gateiros.

Apaixonada por livros e por gatos, claro que me interessei assim que ouvi falar de Dewey – um gato entre livros. Demorou um tanto até comprar o livro, mais outro até ler… mas valeu a espera.

Se você não gosta de gatos, não vai achar muita graça na história de Dewey Readmore Books. Como uma mãe coruja, Vicki, funcionária da Biblioteca Pública de Spencer, conta com todo o desvelo o cotidiano do gato da biblioteca durante 19 anos, desde que foi encontrado na caixa de coleta. Para quem ama felinos, é uma delícia ler sobre esse gatão laranja afetuoso e louco por colo, que se deita sobre a mesa cheia de papéis para pedir atenção, adora um colo na hora de dormir e tem verdadeiro horror ao veterinário. Se você tem gatos, certamente vai rir uma hora ou outra das travessuras de Dewey, identificando-as com as dos seus próprios felinos, ou vai lançar aquele olhar típico de reconhecimento que sempre acontece entre dois gateiros que conhecem muito bem as idiossincrasias desses adoráveis animais.

A história vai um pouco além de Dewey. Vicki conta sobre sua vida, problemas de saúde, dramas familiares. Também faz uma detalhada exposição da cidadezinha de Spencer, localizada no estado agrícola de Iowa. São duas décadas na vida da pacata cidade, perturbada principalmente pela crise na agricultura dos anos 80 (que guarda, aliás, bastante semelhança com a crise de crédito imobiliário de 2008), da qual foi difícil reerguer-se. A cidade conseguiu, como já tinha conseguido superar outras crises; mas, desta vez, tinha a ajuda de Dewey, devotado à biblioteca e aos seus usuários, sempre pronto a receber carinho, brincar e confortar.

O livro é modesto, sem qualquer pretensão literária. Se você não ama gatos, pode se entediar; se não vê graça em bibliotecas, talvez não se interesse; se não gosta de História, vai achar enfadonhas  as partes dedicadas a Spencer. Gostei de todas as histórias paralelas, mas morri de amores mesmo pela história do protagonista.

Dewey é a história simples de um simples gato que foi capaz de tocar os corações de uma cidadezinha – e depois de um estado, de um país e do mundo todo (Dewey ficou famoso até no Japão!). Justamente por ser um enredo simples, é tão emocionante. Deixe a caixa de lenços por perto.

Trechos

Ali estava um gato vira-lata, deixado como morto em uma caixa de coleta congelada, aterrorizado, sozinho e agarrando-se à vida. Ele sobreviveu àquela noite escura, e esse evento terrível acabou sendo a melhor coisa que lhe aconteceu. Jamais perdera a confiança, não importa em que situação, ou seu apreço pela vida. Era humilde. Talvez humilde não seja a palavra certa – ele era um gato, afinal -, porém não era arrogante. Era confiante. Talvez fosse a confiança do sobrevivente que quase morreu: a serenidade adquirida quando se chegou ao fim, além de qualquer esperança, e conseguiu voltar. Não sei. Tudo o que sei é que, a partir daquele momento que o encontramos, Dewey acreditou que tudo ia dar certo. (p. 33)

Essa é a sutil diferença entre cachorros e gatos, e especialmente um gato como Dewey: os gatos podem precisar de você, porém não são carentes. (p. 73)

Quando os gatos não sabem que algo existe, é fácil mantê-los afastados. Se eles não conseguem chegar a alguma coisa e é algo que eles resolveram querer, é quase impossível. Gatos não são preguiçosos. Eles se esforçam por frustrar até os planos mais elaborados. (p. 128)

Muitos gatos odeiam o veterinário no consultório, mas o tratam como qualquer outra pessoa fora de lá. Dewey não. Ele temia o doutor Esterly incondicionalmente. Se escutasse a voz dele na biblioteca, Dew rosnava e se mandava para o outro lado da sala. Se o doutor Esterly conseguisse chegar até ele, despercebido, e estendesse a mão para afagá-lo, o gato pulava, olhava em torno em pânico e fugia. acho que ele reconhecia o cheiro do doutor Esterly. Aquela mão, para Dewey, era a mão da morte. Ele encontrara seu arquiinimigo e, por acaso, era um dos homens mais legais da cidade. (p. 181)

Em tempo: no youtube, você encontra reportagens (em inglês) sobre Dewey e pode ver esse gato lindo em ação. Dois exemplos: Memories of Dewey Readmore Books (matéria citada no livro) e Dewey the Cat (filmada após o lançamento do bestseller).

Ficha

  • Título original: Dewey – the small-town librery cat who touched the world
  • Autora: Vicki Myron com Bret Witter
  • Editora: Globo
  • Páginas: 271
  • Cotação: 3  estrelas(mas, se você ama gatos, vale quatro estrelas facilmente)
  • Encontre Dewey – um gato entre livros.

House a a Filosofia – todo mundo mente

House e a Filosofia - todo mundo mente.
E nunca é lúpus.

Para quem curte cultura pop e filosofia, a coleção organizada por William Irwin é um achado. Li alguns volumes (os mais antigos), tenho outros na lista de espera e este ano, embora não devesse comprar livro algum antes de esgotar a pilha monstruosa que habita meu armário, não resisti e encomendei House e a Filosofia.

Como os outros volumes da coleção, este é uma coletânea de ensaios. Cada texto aborda um tema diferente do seriado House por uma perspectiva filosófica. Alguns artigos cuidam de episódios específicos, outros dão uma visão geral; uns enxergam aspectos utilitaristas, outros kantianos, alguns discutem temas como o amor e por aí afora. Tem até ensaísta que conseguiu enxergar, imagine só, filosofia zen em House. É, também fiquei surpresa.

A maioria dos ensaios é bem interessante. O que trata de filosofia zen pareceu-me forçação de barra e não me agradou – mas, quando isso acontece, resta o consolo de que os textos são curtos. Por outro, o artigo House e Sartre: “O Inferno são os outros” é tão bacana que me interessaria ler um livro inteiro sobre o tema (possivelmente porque sempre gostei do existencialismo e o ensaio analisa meu episódio favorito, One Day, One Room).

É, sem dúvida, livro para fãs do seriado.  Gostar de filosofia ajuda, mas essa coleção tem o mérito de contextualizar os filósofos e usar linguagem acessível, sendo um ótimo primeiro contato para quem acha que a filosofia é abstrata demais ou difícil demais.

Trechos

Toda espécie de amor envolve uma capacidade de confiar, uma abertura para se magoar e uma vulnerabilidade em relação a outra pessoa. É por isso que House tem dificuldade não só para amar uma mulher, mas também para ter amigos. Mesmo com Wilson, seu único amigo, ele está sempre na defensiva. A amizade dos dois baseia-se apenas na habilidade de Wilson em mantê-la vida, em sua capacidade para perdoar House e ser paciente. Sem dúvida, House afeiçoa-se a Wilson, mas faz tudo para dominá-lo. Isso pode funcionar em um relacionamento entre amigos, que é menos rígido e exclusivo que um relacionamento romântico. Mas sua luta para controlar tudo não pode dar certo no contexto de eros, para o qual uma espécie peculiar de intimidade confiável é fundamental. (p. 169)

House nos fascina, em parte, porque ele é bom demais em seu trabalho e muito ruim em todo o resto, e esses dois fatos parecem relacionados. Queremos que House seja uma pessoa melhor? Não, se estivermos sofrendo de alguma doença misteriosa. Nesse caso, não nos importaríamos de tolerar sua rudeza, desonestidade e propensão a burlar a lei. (p. 190)

Ficha

  • Título original: Dewey – the small-town librery cat who touched the world
  • Coordenação de William Irwin
  • Editora: Madras
  • Páginas: 208
  • Cotação: 4 estrelas
  • Encontre House e a Filosofia: todo mundo mente.