Circe, de Madeline Miller

@tinyowl.reads organizou uma leitura coletiva de “Circe” (de Madeline Miller) e o livro, que comprei há uns meses por recomendação da @soterradaporlivros, furou a fila na minha tbr (to be read – a listinha de livros esperando para serem lidos). (Na verdade, eu não tenho uma tbr… mas, quando eu cumpro a tbr, eu dobro a tbr). A autora reconta alguns mitos gregos do ponto de vista de Circe, deusa, bruxa, mulher, pária dentro da própria família.

A escrita não me cativou. A narrativa em primeira pessoa geralmente me “tira” da história, e foi o que aconteceu na primeira metade do livro – uma sensação de distanciamento. O fato de Circe ser um tanto chorona nessa primeira parte não ajudou.

A história melhora muito a partir da segunda metade. Começa a melhorar antes mesmo da chegada de Odisseu (os mitos de Circe e Odisseu são entrelaçados), pois Circe começa a descobrir sua força e sua voz. Daí pra frente, o livro fluiu bem.

Algumas resenhas dizem que “Circe” é um livro feminista. Não é, mas trata que questões ligadas ao feminino e ao feminismo. Mesmo entre os imortais, a vida é mais difícil se você é uma deusa. Aos homens, tudo é perdoado. Das mulheres, tudo é exigido.

Estrelinhas no caderno: 3 estrelas

Morte no Nilo, de Agatha Christie

Livro da vez: “Morte no Nilo”, de Agatha Christie.

Um dos poucos livros do Poirot que não li na adolescência (porque eu não gostava da capa) é também um dos melhores.

Em “Morte no Nilo”, Agatha Christie se preocupa em criar histórias e idiossincrasias para os personagens, algo que ela nem sempre faz e que enriqueceu muito o livro. As pistas para desvendar os crimes (sim, há mais de um) existem e, coisa raríssima, consegui adivinhar os criminosos e suas motivações. Mesmo assim, alguns lances me surpreenderam.

Foi uma leitura diferente porque fiz numa sentada. Talvez por isso tenha conseguido adivinhar… talvez tenha sido apenas sorte. Fato é que ler de uma vez foi uma experiência prazerosa e pretendo repetir com os próximos da Dama do Mistério. São sempre livros fáceis e a leitura de um fôlego só parece deixá-los melhores.

Estrelinhas no caderno: 4 estrelas

Livros e mais livros!

Meus anos costumam ter um tema, uma espécie de fio condutor. Isso não é uma coisa planejada, simplesmente acontece. Notei o padrão já há um bom tempo e comecei a brincar com isso. Pelo visto, 2019 será o ano de ler.

Adoro ler, sempre adorei, mas o hábito ficou adormecido por muito tempo. Faculdade, excesso de trabalho, os suspeitos habituais. Num período mais recente, internet e redes sociais, que comem um tempo infinito se a gente não se cuidar.

Faz muito tempo que resolvi retomar o prazer da leitura, e em 2008 comecei a anotar os livros lidos anualmente, como uma maneira de estimular o hábito. Alguns anos foram mais produtivos que outros: em 2015, li apenas meia dúzia (em minha defesa, foi “o ano de mudar de carreira” – e de cidade). Já 2018 foi um ano ótimo, 31 livros lidos. Provavelmente desde a adolescência não lia tanto (livros de faculdade não contam).

Ao que tudo indica, 2019 vai superar 2018. Em janeiro, foram oito livros lidos! (E um conto, que não estou contando.)

Dois fatores têm impulsionado incrivelmente meu ritmo de leitura.

O primeiro fator são os clubes de leitura. Estou em quatro, o que significa motivação para ler ao menos quatro livros por mês. Dois clubes são no whatsapp e abertos a novos membro: #lendoscifi e #lendoKing, ambos coordenados pela Ada, minha mais antiga amiga (vida longa e próspera a essa amizade!). O terceiro é fechado e dedicado aos livros da Agatha Christie que têm Hercule Poirot como protagonista – aquele detetive belga baixinho e com cabeça de ovo. Li quase todos na infância e adolescência e tem sido muito interessante reler – se bem que considero leitura e não releitura, porque afinal são pelo menos vinte cinco anos entre uma e outra. O quarto clube é a Tag Inéditos, que assinei por pura influência da galera do #lendoscifi (se você assinar usando esse link, ganha 35 reais pra gastar na loja, e eu também), de tanto ouvi-los falar nesses clubes que enviam um livro por mês para a casa do assinante.

Aliás, essa coisa da influência tem sido significativa. Os grupos de whatsapp me aproximam de gente que lê muito, que tem gostos parecidos com os meus e que está sempre indicando outros livros. Isso é altamente estimulante para a minha curiosidade, com o bônus de ter com quem conversar sobre o que leio.

O segundo fator tem sido o desapego das redes sociais e da mídia em geral. O excesso de notícias e de debates tem sido tóxico para mim. As fake news são exaustivas. Notícia realmente importante me chega por um canal ou outro – ainda vejo um pouco de twitter, ainda ouço um pouco de rádio, ainda estou em alguns grupos de whatsapp não relacionados à leitura. Essas fontes já me bastam, e às vezes até elas são demasiadas.

Sem gastar tanto tempo na internet, claro que sobrou mais tempo e energia pros livros (e pras séries, pros filmes, pra aquarela, pras coisas que me fazem bem).

Tenho algumas amigas que são leitoras vorazes, e sempre me perguntava como conseguiam tempo. Parece que achei a resposta.

Não pretendo fazer resenhas dos livros lidos, mas incluo todos no goodreads – caso você tenha curiosidade, é só dar uma olhadinha.

E você, o que tem lido?

Adeus, Coisas.

Não, não vou me mudar para uma quitinete de 12 metros quadrados, com um futon, uma mala e nada mais. O título do post é o nome do livro de Fumio Sasaki sobre minimalismo, Goodbye, Things – On Minimalist Living, ainda sem tradução em português (mas já traduzido para o espanhol).

Nos últimos anos, tem aumentado a quantidade de livros sobre minimalismo e vida simples. “Antigamente” (leia-se, em 2010, quando comecei a me interessar pelo tema), não havia livros a respeito – no máximo, alguns sobre organização, mas organização e minimalismo são duas coisas bem diferentes, embora uma se beneficie da outra. De lá pra cá, surgiram vários, a maioria derivada de blogs. Uma exceção é o livro da Marie Kondo, A Mágica da Arrumação. Outra é, justamente, Goodbye, Things, que se tornou meu favorito.

Pra início de conversa, não se trata de um “guia prático” ou um manual para destralhar a casa. Ao contrário do livro da Marie Kondo, Sasaki foca no aspecto íntimo, quase filosófico, do processo que o levou a adotar o minimalismo como estilo de vida. Como costuma acontecer com os “convertidos”, um dia ele olhou à sua volta e viu um apartamento atulhado de tranqueiras, coleções e objetos que, supostamente, foram acumulados para fazê-lo feliz, mas na prática representavam um peso. Sasaki relata que era um sujeito inseguro, estressado e, no fim das contas, infeliz. Enfim, chegou à conclusão de que as coisas que o cercavam eram parte do problema, não da solução. No fim do processo, era outra pessoa, mais saudável e satisfeito com sua própria vida.

O livro traz, sim, dicas e listas úteis para quem quer diminuir a quantidade de coisas – ou a bagunça – ao seu redor. O ponto principal, contudo, é a abordagem que o autor faz sobre os passos que o levaram, inicialmente, ao acúmulo, e depois ao minimalismo. Há reflexões interessantes sobre consumismo, felicidade, dinheiro e aparências. Por outro lado, fica claro que ninguém precisa estar disposto a viver praticamente sem móveis. O caminho escolhido por Sasaki levou-o ao outro extremo, mas ele mesmo reconhece que isso não é necessário:

Reduzir o número de coisas que você tem não é um objetivo em si mesmo. Vejo o minimalismo como um método para que cada indivíduo descubra as coisas que são genuinamente importantes para ele. É um prólogo para criar sua própria história.

Goodbye, Things inspira mesmo quem não está interessado no minimalismo, mas gostaria de refletir sobre seus próprios padrões de consumo e suas expectativas sobre a própria vida. A junção da pegada filosófica com as dicas práticas de destralhamento fazem de Goodbye, Things o livro mais completo sobre minimalismo. Se você lê em inglês (ou espanhol) e tem interesse no tema, é a leitura que recomendo. A tradução para o inglês é recente, de 2017, então ainda é possível acreditar que será traduzido para o português num futuro próximo.