O método da Marie Kondo é bacana?

De vez em quando, alguém que sabe do meu interesse por minimalismo me pergunta se li A Mágica da Arrumação, de Marie Kondo. Bom, eu li logo depois do lançamento, anos atrás, e até cheguei a escrever um post pro blog, mas o rascunho se perdeu e acabei deixando pra lá.

A Mágica da Arrumação foi um baita sucesso e introduziu o método konmarie, um trocadilho com o nome da autora. Na prática, o método konmarie consiste em destralhar a casa inteira no menor tempo possível, descartando tudo que não é usado ou não traz alegria (a pergunta a fazer diante de cada objeto tornou-se famosa em inglês: does it spark joy?).

Outro ponto central do método é organizar as coisas por categoria e não por cômodos. Quer dizer, você não deveria deixar uma tesoura na cozinha e outra no escritório, parte da maquiagem no quarto e parte no banheiro etc., mas reunir em um só espaço os objetos que pertencem à mesma categoria, para evitar excessos e duplicatas desnecessárias.

O livro dá outras dicas menores, como arrumar a bolsa com frequência e dobrar as camisas de forma que todas possam ser vistas ao mesmo tempo quando se abre a gaveta.

E o que eu acho disso tudo?

Todo método é bom se ajuda você a se organizar, a destralhar, a viver uma vida mais simples e tranquila. Então, se você quiser testar o método konmarie, compre o livro e ponha em prática (o livro é fininho e você consegue ler em uma tarde).

Dito isso, eu não costumo recomendar as ideias da Marie Kondo, não, por vários motivos.

O que mais me desagrada é a rapidez com que a autora espera que alguém destralhe toda a casa. Isso pode gerar um efeito rebote, uma sensação de vazio que pode levar a um ataque de compras compulsivo. Isso é sério. Muita gente não suporta ver espaços vazios em casa, por isso junta tantos enfeitinhos, caixinhas, livros, cabides etc. Imagina uma pessoa assim aderindo ao método konmarie e destralhando a casa toda de uma vez: a probabilidade de que essa pessoa se sinta agoniada e torne a preencher os espaços vazios logo que possível é muito grande. Pode ser, também, que ela não torne a preencher os vazios (pelo menos não tão rápido), mas guarde uma sensação de perda e de arrependimento por anos, afetando futuras decisões de consumo, de organização e de destralhamento.

Não me agrada essa abordagem radical, de verdade. Acho que ela funciona bem em programas de tv (que nunca mostram como está a casa da pessoa cinco ou dez anos depois), mas o minimalismo não é, ou não deveria ser, uma “dieta da moda”, e sim uma mudança de estilo de vida. E toda mudança de estilo de vida leva tempo para se consolidar.

Outra coisa que me cai mal é o lema “isso me traz alegria?” para decidir o que deve ser descartado e o que deve ficar. Esse método pode levar a pessoa a um beco sem saída, em que tudo, ou quase tudo, “traz alegria” e, por isso, nada é destralhado. É curioso como a Marie Kondo inicia seu método com uma abordagem super prática (“jogue tudo fora”, ou quase isso) para depois sucumbir a uma reação emocional sobre as coisas.

Coisas devem nos servir, não o contrário. É altamente improdutivo desenvolver conexões emocionais com objetos e é justamente esse tipo de comportamento que leva à acumulação (patológica em alguns casos). Não tenho que pensar se um objeto me traz alegria, e sim se ele me é útil, se combina com meu estilo de vida e se me proporciona ganhos superiores a eventuais frustrações (como a obrigação de manter o objeto limpo/funcionando e de gastar um espaço da minha casa com ele).

“Mas e os objetos com valor sentimental?” Ora, é super normal ter um punhado de objetos com valor sentimental e poucas pessoas conseguem se livrar totalmente deles. Aí, o segredo é separar um pequeno espaço (uma gaveta, uma caixa, algo assim) para guardá-los, fazendo uma curadoria para realmente só manter o que traz boas e fortes lembranças. O resto pode ser fotografado antes de ser descartado, ou pode simplesmente ir pro lixo quando a gente percebe que o que importa são as memórias, não as coisas.

Se você entende inglês, recomendo a leitura do post Does it spark joy? para mais reflexões sobre esse ponto.

Por fim, a dica de manter todas as coisas da mesma categoria no mesmo lugar é perfeita quando se está no meio do processo de destralhamento e organização, mas pode ser bem improdutiva no dia-a-dia. Durante a fase de destralhe, serve para evitar duplicatas e redundâncias inúteis. No dia-a-dia, porém, pode ser interessante manter uma caneta e um bloco na mesa de cabeceira e outro kit desses no escritório (caso você use ambos em diferentes momentos do dia), pode ser prático deixar o batom de uso mais frequente no banheiro e não no quarto (lembrando que maquiagem em geral deve ser guardada em local seco, o banheiro é úmido demais e ela acaba estragando mais rápido). O minimalismo serve, antes de mais nada, para simplificar a vida e eventuais “regras” devem ser adequadas à realidade de cada pessoa.

Acho bacana que A Mágica da Arrumação tenha se tornado um best seller em 2014 e colocado em evidência temas como organização e minimalismo numa época em que apenas um punhado de blogs falava do assunto (hoje o tema anda na moda). O livro é fininho, de leitura fácil e pode ser um bom começo para quem está pensando em livrar-se dos excessos consumistas. Mas é importante saber que o método konmarie não é o único, não é o ideal pra todo mundo e não é completo.

4 comentários on “O método da Marie Kondo é bacana?

  1. Fiquei pensando se o konmarie é melhor aplicado no Japão onde os espaços são cada vez menores, deve ser por isso que faz mais sentido o “jogue tudo fora!” . Pra mim não faz, jogo o que é inútil ou não serve mais a algum propósito , coisas que não uso há tempos etc. Acho que não existe método completo, o importante é nos sentirmos bem sem a necessidade de mil tralhas pra isso! Beijo 😉

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