Um teatro a cada esquina

A farta vida cultural é uma das coisas que mais me encantam em São Paulo. No que tange a peças teatrais, então, a abundância é impressionante. Brasília tem poucos teatros, raramente é favorecida com grandes montagens e, quando isso acontece, o preço é exorbitante. Quando o valor é razoável, como no caso das apresentações no Centro Cultural Banco do Brasil, a temporada é curtíssima, a procura é enorme e você tem que passar longas horas na fila, dias antes do evento (e ainda contar com a sorte) para conseguir um ingresso.

Em São Paulo, você esbarra com montagens famosas e/ou interessantes a cada passo. Não conseguiu comprar antecipadamente? Não se preocupe, você encontra um ingresso em cima da hora (ainda que não seja no melhor lugar). As temporadas são longas, a oferta é vasta e, por maior que seja o público, sempre cabe mais um.

Dessa vez, assisti a três espetáculos.

Miss Saigon

5 estrelas

Miss Saigon Amo musicais, mas não estava empolgada para ver Miss Saigon. Não conhecia a história, nem as músicas. Uns amigos insistiram, e acabei me rendendo – ainda bem. Miss Saigon tem um elenco incrível, que interpreta músicas belíssimas, unidas de forma a construir uma história emocionante.

Um dos protagonistas, Victor Hugo Barreto (John), é bem conhecido dos brasilienses apreciadores de musicais, e faz bonito. Aliás, Brasília tem lançado grandes talentos do teatro musical. Outro deles também integra o elenco: Sandro Sabbas, no papel de um dos soldados.

O personagem masculino principal cabe a Nando Prado (Chris), o mesmo ator que fez o Raoul na montagem O Fantasma da Ópera – diga-se de passagem que o personagem de Miss Saigon é muito mais envolvente e dramático que o insosso Raoul.

Quem rouba a cena, no entanto, é o personagem Engenheiro, interpretado por Marcos Tumura. O Engenheiro alivia a carga de drama e tensão da história, propiciando boas risadas à platéia.

As montagens no Teatro Abril são sempre grandiosas, com cenários complexos e surpresas reservadas. Miss Saigon não decepciona. Há efeitos visuais de cair o queixo, aliados a efeitos sonoros que conferem realismo ao musical.

Comprei meu ingresso em Brasília mesmo, via Fnac, uma semana antes da viagem. Foi antecedência suficiente para garantir o melhor lugar do teatro. Ao contrário do que aconteceu com O Fantasma da Ópera, até se consegue comprar um ingresso na hora do espetáculo e ainda conseguir uma poltrona razoável.

Para os amantes do estilo, Miss Saigon é imperdível.

Serviço

Miss Saigon fala do amor nascido durante a Guerra do Vietnan entre um soldado norte-americano e uma vietnamita. Inspirado na ópera Madame Butterfly, a clássica história de amor impossível de Alain Boublil e Claude-Michel Schönberg é uma produção de Cameron Mackintosh – responsável também por outros grandes êxitos, como: Cats, Les Misérables e O Fantasma da Ópera. O musical, um dos mais premiados da história, conta com 18 músicos e um elenco de 40 artistas. (Sinopse extraída do texto oficial.)

Recomendado para maiores de 12 anos.

  • Local: Teatro Abril – Rua Brigadeiro Luiz Antônio, 411, Bela Vista, São Paulo, SP.
  • Duração: aproximadamente 2 horas e 40 minutos.
  • Horários: de quarta a sexta-feira, às 21 horas; sábado, às 17 e 21 horas; domingo, às 16 e 20 horas.
  • Preço: 65 a 150 reais (entrada inteira)

Informações retiradas do site Ticketmaster Brasil, que traz mais detalhes.

Closer

5 estrelas

Closer Essa, eu não podia deixar de ver. O filme, um dos meus Top 5, é uma adaptação da peça homônima do escritor inglês Patrick Marber. Em entrevista dada a Rachel Ripani (que faz Alice e também é produtora do espetáculo), Marber garante que se trata de uma comédia. O público ri, de fato, mas é aquele riso nervoso de quem se identifica com uma situação difícil. A comédia é irônica, como cabe ao humor inglês.

O sofrimento causado por paixões frustradas está presente o tempo todo na história dos dois casais que se misturam e confundem a si e ao outro. Uma dança de verdades e mentiras, ao som de sentimentos variados e contraditórios como carinho, necessidade, piedade, dor, dependência. Em outras palavras, uma síntese precisa desse tal de amor, tão falado, superestimado, romantizado. Em Closer, a visão do amor é pra lá de realista e choca quem insiste em acreditar em contos-de-fadas.

No palco, o quarteto interage com um cenário simples, sombrio, complementado pela bela trilha sonora original da peça. Uma boa sacada foi aproveitar a vista que se tem dos prédios de São Paulo para compor o plano de fundo em algumas seqüências, suspendendo-se o painel negro do cenário.

Encantou-me João Carlos Andreazza que, além de desempenhar com excelência o papel do dr. Larry, transborda charme. Rachel Ripani foi a que menos me cativou; não consegui me desvencilhar da interpretação de Natalie Portman, insistindo nas comparações. Em todo caso, é inegável Rachel estava excelente nas cenas fortes que cabem à sua personagem.

O texto original traz um desfecho mais dramático que a versão para o cinema (roteirizada pelo próprio Patrick Marber) e algumas cenas extras, que acrescentam ainda mais intensidade à história.

Comprei o ingresso meia hora antes da sessão e consegui um bom lugar (embora muito à frente). Aqui em Brasília, quem duvida que as filas seriam enormes e as entradas se esgotariam dias antes?

Serviço

Se você acredita em amor à primeira vista…Olhe mais perto. Uma espirituosa, romântica e perigosa história de amor sobre encontros coincidentes, atrações instantâneas e traições casuais. Closer é uma espiadela na vida de quatro estranhos com uma coisa em comum: o outro. (Sinopse extraída do texto oficial.)

Recomendado para maiores de 15 anos.

  • Local: Teatro Augusta – Rua Augusta, 943, Cerqueira César, São Paulo, SP.
  • Duração: 90 minutos.
  • Horários: sexta-feira, às 21:30 horas; sábado, às 21 horas; domingo, às 19 horas.
  • Preço: 30 a 40 reais (entrada inteira)

Site da sala: Teatro Augusta.

Site da peça: Closer.

O elenco montou um blog para compartilhar sua experiência.

Terra em Trânsito/Rainha Mentira

2 estrelas

Pague 1, leve 2: duas peças de Geald Thomas na seqüência. O cara é incensado pela crítica. A montagem em questão recebeu 4 estrelas no Guia da Folha. Eu não podia perder a chance. Então, fui conferir.

Ainda estou tentando entender o motivo de toda a badalação em torno do Gerald Thomas. É chique dizer que gosta de algo que não foi feito para o público, mas apenas e tão-somente para o próprio dramaturgo? Dá ibope ver uma maluquice no palco e fazer cara de quem tem conteúdo?

Alguém aí se lembra daquela propaganda da coca light que sacaneava quem fica olhando para uma tela pintada de azul com cara de inteligente e concluía com algo como “ah, é só um quadrado”?

A primeira peça, Terra em Trânsito, é interessante de verdade. Não é todo dia que ouvimos a voz do Paulo Francis direto “do aquém do além adonde que veve os mortos”, ou vemos uma atriz contracenar com um cisne. Toda a situação é comicamente surrealista. O texto traz uma série de críticas ao passado (como ao nazismo) e ao presente (à podre política brasileira, por exemplo). O desfecho é surpreendente.

Aí, veio a segunda peça, Rainha Mentira.

Um texto autobiográfico e pretensioso, com falas arrogantes pseudomodestas como “Mamãe, você já dizia, até com algum exagero, que carregava no ventre um gênio.”

Um longo, constrangedor e despropositado nu frontal envolvendo os cinco atores. Entenda, não sou puritana. Em Closer, Alice tem uma cena de strip muito picante e sensual (embora não envolva nu frontal), mas totalmente contextualizada. Não é o caso aqui.

Um embaraçoso réquiem para a mãe do autor encerra o texto. Finalmente.

Não tenho nada contra experimentalismo, mas Gerald Thomas exagera. Sua peça não é para o público, senão para si mesmo, e não entendo isso como qualidade. A arte pode ser hermética e desafiadora, mas não é arte se coloca-se dissociada do outro; pode massagear o ego e render loas da tal crítica especializada, mas não fica para a posteridade. Thomas jamais será um Nelson Rodrigues, porque é incapaz de conversar com o público. Prefere o monólogo.

Indico as duas estrelas pelas boas tiradas da primeira peça, apenas.

Não tem “Serviço”, e não é birra minha – a peça já saiu de cartaz.

Uma coisa, eu tenho que admitir: valeu o que custou – exatos sete reais e cinqüenta centavos.

Gotas da Viagem

(ou Twitterizando A Viagem A São Paulo)

Nenhum calçado é confortável quando você passa oito horas por dia andando.

Números de logradouros só são inúteis em Brasília.

Faixas de pedestre só são úteis em Brasília.

O Mercado Municipal é uma festa inigualável de cores e aromas.

Todo mundo ama House. O tema sempre surge, e raramente a culpa é minha.

Conhecer gente ao vivo e a cores é a melhor parte da internet.

Paulistanos são tão educados que o engraxate pede desculpas quando esbarra em você na rua.

Essa educação toda desaparece, no melhor estilo Pateta-atrás-do-volante, às 18 horas em ponto.

No metrô, simpatia não entra.

As opções culturais em São Paulo são tantas que você pode se dar ao luxo de comprar ingresso para uma ótima peça com menos de meia hora de antecedência (a 30 reais).

A 25 de março é para os fortes.

Em São Paulo, qualquer boteco copo sujo tem café expresso.

Bares, botecos e cafés não expulsam o cliente à meia-noite. Aliás, alguns nem fecham (e, ao contrário do raciocínio lusitano, abrem).

Táxi na capital paulista pode render bons papos. Pode ser bizarro. E custa caro.

Coca light custa caro.

Por outro lado, café bom e barato não é raro.

Falando em raridade, por que cargas d’água os pontos turísticos não vendem ímãs, postais e outros badulaques?

Moleskines (e imitações) só não são perfeitos porque custam uma fortuna.

Putz, que banheiro impecável o da rodoviária do Tietê.

Definitivamente, comer não engorda; o que engorda é sedentarismo.

Estranhamente, paulistanos fumam em restaurantes fechados, lado a lado com quem está comendo.

Paulistanos levam cachorros ao shopping.

Paulistanos sentam em cafés por horas a fio, e nenhum garçom ronda ansioso pela liberação da mesa. De fato, eles se esquecem completamente da presença do freguês.

O céu do centro de São Paulo limita-se a um quadrado azul-acinzentado.

Gastar dinheiro naquela cidade é mais fácil do que recomenda a prudência.

Aquela cidade muda de cara a cada esquina.

(and last, but not least…)

Caramba, quando vão abrir um Starbucks em Brasília?!

O BlogCamp foi…

…melhor que a encomenda!

Não sou tímida nas CNTP e, depois de não sei quantos orkontros, aprendi que conhecer um monte de gente ao mesmo tempo é divertido, passados os primeiros 5 minutos de pânico. Mesmo assim, confesso que quase amarelei. Gente demais pra ver de uma vez só e, ainda por cima, blogueiros. Medo, muito medo nessa hora.

Fui, apesar disso. E foi como sempre: passados os primeiros 5 minutos (repetidos algumas vezes, a cada nova rodinha), senti-me à vontade, com aquela familiaridade comum a encontros movidos pela internet desde os tempos da BBS (da qual só ouvi falar, não tenho tanta idade). No caso dos blogs, a coisa é ligeiramente diferente, já que a interação não se dá em forma de diálogo como no IRC ou orkut. Disso resulta que, às vezes, você lê determinado blog por anos e o(a) dono(a) nem sabe da sua existência, e vice-versa. Por outro lado, blogueiros são seres comunicativos e articulados, o que ajuda a quebrar o gelo rapidinho.

O melhor do BlogCamp Brasil 2007 aconteceu fora das desconferências. Conhecer gente ao vivo e a cores continua sendo uma das coisas mais interessantes da face da Terra. Os almoços, botecos e cafés foram o ponto alto. Sobre as desconferências? A melhor parte foi a dancinha do Edney. A segunda melhor coisa foi a idéia de um wiki sobre blogs, feito para e por blogueiros, que já está no ar.

Admito que não tive paciência para boa parte das discussões travadas. Quando me falam em querer organizar a blogosfera, meu espírito anárquico se arrepia. Acho impossível e infundado querer enquadrar tantos e tão diferentes blogs dentro de uma forma única. Deixem correr, gente. No fim, tudo dá certo.

Outros temas abordados foram redes sociais, proteção do blogueiro de acusações de crimes contra a honra, direitos autorais na internet e a licença Creative Commons. Nem de férias consegui escapar do direito. Na segunda-feira seguinte, acabei comprando um livro que aborda algumas dessas questões, Direitos autorais na internet e o uso de obras alheias.

Sim, houve papos sobre monetização (aka “ganhar dinheiro com blogs”), mas quem não tinha interesse encontrava outra sala com um tópico diferente. É injusto afirmar que esse foi o tema principal do BlogCamp, como fez o Estadão – que no mesmo texto disse que “a palavra que mais se falou foi ‘Estadão’.” – tá, só porque eles querem. Mania de insistir nessa “guerra”.

Claro que não deu pra falar de tudo. Claro que podiam ter surgido outros tópicos interessantes. Mas, caramba, foram só dois dias de evento. Não dá pra esgotar o mundo de assuntos que circundam os blogs em dois dias. O BlogCamp é um começo, uma provocação, não um fim em si mesmo.

Da coisa mais chata que aconteceu, já falei abaixo. Ajuda, galera!

Parabéns ao Manoel Netto, à Lu Freitas e ao Gabriel Tonobohn que organizaram o BlogCamp. Valeu, Marco Gomes, pelo coffee break, delicioso apesar da ausência do café

Eu queria sair listando o povo legal que conheci por lá, mas tenho certeza de que deixaria gente de fora, então adotei outro modus operandi: listar quem escreveu sobre o BlogCamp. Quem não foi ao evento pode formar um painel interessante a partir desse mundo de artigos.

Artigos

Fotos

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Ainda não deu pra ti? Então pesquise mais artigos pelo Technorati e pelo BlogBlogs e fotos via Flickr.

Taí, eu não ia escrever nada sobre o BlogCamp por causa do meu atraso de mais de uma semana, mas até que saiu um texto grandinho.

De Volta!

E cheia de coisas a contar e pendências a resolver antes da volta ao trabalho, depois do feriado.

Primeiro, tem a minha clássica implicância com o ato de viajar. Odeio. Arrependo-me assim que deixo meu lar, doce lar e a reclamação perdura quando chego ao hotel. Odeio a fila para o check in da empresa aérea, atraso de vôo, voltinhas sobre Guarulhos, altorização de pouso cancelada, engarrafamento às onze da noite, fila para o check in do hotel, cartão-chave que não funciona, quarto de hotel que não gosto (pelamordedeus, alguém sugira algo melhor que o Fórmula 1 pelo mesmo preço). 6 horas entre sair do trabalho e abrir a mala no destino. Logo, logo, será mais vantajoso ir de carro.

Depois, essa rabugice passa e, no fim das contas, não quero mais ir embora. É isso, detesto o deslocamento, sou movida pela inércia – fico onde estou e não quero sair nunca mais. Especialmente se estou em São Paulo, cidade que amo e, ah vá, quero morar lá um dia. Ou ter grana o suficiente para passar uns dias por lá a cada 3 meses. É, essa segunda opção é bem melhor.

Se o Dia de Folga fosse um diário, transcreveria meu roteiro por aquela cidade apaixonante. Como não é, vou fazendo uma ou outra anotação durante a semana.

Alê, obrigadíssima pelos papos, botecos, cafés e caronas. Adorei tudo, adorei tua turma. Vê se avisa quando estiver neste quadradinho azul-avermelhado do Centro-Oeste!

Agora dá licença, que tenho 493 emails não lidos trazendo terror ao meu coração.