Café.com Blog e empresas de tecnologia

Café.com BlogNo último dia 06, aconteceu em São Paulo o Café.com Blog, projeto em parceria de Lu Freitas, Manoel Netto e Manoel Fernandes. De um lado, blogueiros; de outro, representantes de empresas de tecnologia. E foi assim mesmo – cada um de um lado. Apesar da tentativa de misturar os dois times em cada mesa, o entrosamento não foi lá essas coisas, não.

Não é que blogueiros sejam arrogantes; simplesmente, respiramos internet. Para alguns de nós, blogar é hobby, mas daqueles bem exigentes, em que estamos ligados a todo minuto; para outros, é meio de vida mesmo. A primeira palestra, sob o comando de Aloísio Sotero, ignorou tudo isso e quis ensinar padre-nosso ao vigário por meia hora.

A palestra seguinte, da Forrester, foi mais interessante (e mais curta), trazendo dados e conceitos recentes, explicando como procedem à avaliação de blogs – basicamente, uma equação em que entram as variáveis “custo”, “benefício” e “risco” – e ressaltando o papel dos blogs na formação da opinião dos consumidores.

Depois, a rodada de perguntas, das quais a mais interessante foi a da Lu Freitas, patrocinada pelo Fugita via twitter: quantos daqueles representantes de empresas ali presentes têm o hábito de ler blogs? Dá pra imaginar a resposta? Isso mesmo: quase todos limitam-se a ler blogs apenas quando aparecem em buscas específicas.

Agora, como alguém que não tem o hábito de ler blogs pode entender o funcionamento deles?

O blog não é uma ferramenta estática e finalizada em si mesma, como um jornal. Blogs são feitos de interação ou, como lembrou o Edney, de conversas. Você, leitor, não é um mero receptor de informações. Você as analisa, deixa comentários nos blogs que acompanha, inicia bate-papos. Eventualmente, constrói seu próprio blog e cria discussões por lá, respondendo a textos de outros blogueiros. Forma-se uma teia de trocas e complementos. Um bom conteúdo é comentado. Um produto legal é divulgado. Um serviço péssimo (ou excelente, vá lá) torna-se conhecido de um público maior que a sua família, um público com poder de consumo e de divulgação de informações. É o boca-a-boca, nada novo, multiplicado via web.

O que leva à segunda pergunta mais interessante da manhã: uma representante de empresa (falha-me a memória) perguntou como o blogueiro reage quando é contactado para divulgar um produto. A resposta, como em quase tudo na vida, é “depende”.

O que você pensa quando um operador de telemarketing quer empurrar-lhe um produto? E o que acha quando recebe uma amostra grátis na sua caixa de correspondência?

Uma empresa que manda spam em forma de comentário ou email, dando uma de joão-sem-braço no estilo “Olha só que produto legal! Venha conhecer e divulgue!” ganha, na melhor das hipóteses, um clique no botão “apagar”. Já aquele contato franco, honesto e inteligente, do tipo “Tenho um produto interessante. Gostaria que você testasse e desse a sua opinião. Enviarei uma amostra/unidade/assinatura para tanto.” certamente será bem recebido pelo blogueiro. Um “por favor, avalie meu produto, pago X pela resenha” pode iniciar uma conversação produtiva.

Apesar do abismo entre blogueiros e empresas, o Café.com Blog foi proveitoso. Se queremos dar relevância aos blogs, precisamos descobrir como eles são encarados pelos diversos segmentos de produtores e consumidores e, a partir daí, corrigir as falhas na comunicação. A blogosfera está engatinhando. Estamos todos aprendendo juntos. É tempo de trocar experiências, traçar planos de ação, provar que blogs são uma importante ferramenta de mídia. Embora blogueiros não sejam um corpo homogêneo (“nunca serão!”), existem grupos com interesses afins e esse é o ponto de partida para ganhar visibilidade.

No próximo encontro, que tal uma reunião prévia de pauta entre os blogueiros participantes, para que saiam do papel de ouvintes para o de divulgadores?

Também falaram sobre encontro do dia 06:

O lado consumista da viagem

São Paulo não é São Paulo sem compras. Essa viagem rendeu várias aquisições. As mais legais:

A Pechincha

Terninho muito bem cortado, com blazer 7/8 forrado, por 70 reais. Garimpado na Rua José Paulino.

A Emergência

Depois de gastar uma caixa de band-aid e continuar sofrendo, uma sapatilha de pano de 19 reais quebrou o galho na segunda metade da viagem.

O Achado

A loja de calçados Banana Price é um parque de diversões para mulheres. Não sou tarada por sapatos como a maioria, mas mesmo assim saí de lá com3 pares. Também tem bolsas. Fica na Alameda Lorena, 1.604, Jardim Paulista.

A Extravagância

Sabe lá o que é pagar 60 reais por um caderno de anotações? Eu sei. Paguei isso numa imitação do moleskine vendida na lojinha da Estação Júlio Prestes pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP).

O Momento Mastercard

A lojinha do Museu da Imagem e do Som fecha às 18 horas em ponto. Quase bati com a cara no vidro, mas o vendedor, com toda a gentileza, reabriu a lojinha para que eu podesse comprar uma lembrança. Surpresa: a única coisa que fazia referência ao MIS era um par de havaianas…

Já indo embora, obviamente de mãos vazias, bati os olhos numa caixa cheia de cartões artesanais e… putz, eu sempre tive faro para achar qualquer coisa em que esteja escrito Star Trek. Lá estava ele, um livreto da Pocket Books com a lombada em amarelo: Star Trek – The Next Generation – Postcards. 30 cartões postais encadernados, celebrando o décimo aniversário de ST: TNG. Que, aliás, foi comemorado há exatos 10 anos.

A capa do livrinho. Segundo minhas googladas, está esgotado. Livreto importado, edição de colecionador. Essas coisas, quando chegam ao Brasil, custam sempre uma fábula. Perguntei o preço, preparada para a facada.

– 20 reais.

– Vou levar!

– Péra, acho que é 20 reais por cartão postal.

– O quê?!

– Só um segundo, vou ligar pra confirmar… Alô, Ana?… Aquele livrinho de Star Trek, ele estava aí, não estava?… Então, é 20 reais cada postal, ou o livro todo?… Ah, o livro todo?… Tem certeza?… Certo…

Nem esperei o vendedor desligar. Ao sinal de “positivo” dele, deixei a nota de 20 e agarrei a sacola com o livreto. Perto da porta, ouço mais uma frase:

– Mas Ana, você tem certeza de que custa 20 reais o livro todo, né?

Saí rapidinho da loja. Vai que a Ana mudasse de idéia.

E antes que digam que Momento Mastercard é aquele que não tem preço, aviso que 20 reais é igual a de graça nesse caso.

Um teatro a cada esquina

A farta vida cultural é uma das coisas que mais me encantam em São Paulo. No que tange a peças teatrais, então, a abundância é impressionante. Brasília tem poucos teatros, raramente é favorecida com grandes montagens e, quando isso acontece, o preço é exorbitante. Quando o valor é razoável, como no caso das apresentações no Centro Cultural Banco do Brasil, a temporada é curtíssima, a procura é enorme e você tem que passar longas horas na fila, dias antes do evento (e ainda contar com a sorte) para conseguir um ingresso.

Em São Paulo, você esbarra com montagens famosas e/ou interessantes a cada passo. Não conseguiu comprar antecipadamente? Não se preocupe, você encontra um ingresso em cima da hora (ainda que não seja no melhor lugar). As temporadas são longas, a oferta é vasta e, por maior que seja o público, sempre cabe mais um.

Dessa vez, assisti a três espetáculos.

Miss Saigon

5 estrelas

Miss Saigon Amo musicais, mas não estava empolgada para ver Miss Saigon. Não conhecia a história, nem as músicas. Uns amigos insistiram, e acabei me rendendo – ainda bem. Miss Saigon tem um elenco incrível, que interpreta músicas belíssimas, unidas de forma a construir uma história emocionante.

Um dos protagonistas, Victor Hugo Barreto (John), é bem conhecido dos brasilienses apreciadores de musicais, e faz bonito. Aliás, Brasília tem lançado grandes talentos do teatro musical. Outro deles também integra o elenco: Sandro Sabbas, no papel de um dos soldados.

O personagem masculino principal cabe a Nando Prado (Chris), o mesmo ator que fez o Raoul na montagem O Fantasma da Ópera – diga-se de passagem que o personagem de Miss Saigon é muito mais envolvente e dramático que o insosso Raoul.

Quem rouba a cena, no entanto, é o personagem Engenheiro, interpretado por Marcos Tumura. O Engenheiro alivia a carga de drama e tensão da história, propiciando boas risadas à platéia.

As montagens no Teatro Abril são sempre grandiosas, com cenários complexos e surpresas reservadas. Miss Saigon não decepciona. Há efeitos visuais de cair o queixo, aliados a efeitos sonoros que conferem realismo ao musical.

Comprei meu ingresso em Brasília mesmo, via Fnac, uma semana antes da viagem. Foi antecedência suficiente para garantir o melhor lugar do teatro. Ao contrário do que aconteceu com O Fantasma da Ópera, até se consegue comprar um ingresso na hora do espetáculo e ainda conseguir uma poltrona razoável.

Para os amantes do estilo, Miss Saigon é imperdível.

Serviço

Miss Saigon fala do amor nascido durante a Guerra do Vietnan entre um soldado norte-americano e uma vietnamita. Inspirado na ópera Madame Butterfly, a clássica história de amor impossível de Alain Boublil e Claude-Michel Schönberg é uma produção de Cameron Mackintosh – responsável também por outros grandes êxitos, como: Cats, Les Misérables e O Fantasma da Ópera. O musical, um dos mais premiados da história, conta com 18 músicos e um elenco de 40 artistas. (Sinopse extraída do texto oficial.)

Recomendado para maiores de 12 anos.

  • Local: Teatro Abril – Rua Brigadeiro Luiz Antônio, 411, Bela Vista, São Paulo, SP.
  • Duração: aproximadamente 2 horas e 40 minutos.
  • Horários: de quarta a sexta-feira, às 21 horas; sábado, às 17 e 21 horas; domingo, às 16 e 20 horas.
  • Preço: 65 a 150 reais (entrada inteira)

Informações retiradas do site Ticketmaster Brasil, que traz mais detalhes.

Closer

5 estrelas

Closer Essa, eu não podia deixar de ver. O filme, um dos meus Top 5, é uma adaptação da peça homônima do escritor inglês Patrick Marber. Em entrevista dada a Rachel Ripani (que faz Alice e também é produtora do espetáculo), Marber garante que se trata de uma comédia. O público ri, de fato, mas é aquele riso nervoso de quem se identifica com uma situação difícil. A comédia é irônica, como cabe ao humor inglês.

O sofrimento causado por paixões frustradas está presente o tempo todo na história dos dois casais que se misturam e confundem a si e ao outro. Uma dança de verdades e mentiras, ao som de sentimentos variados e contraditórios como carinho, necessidade, piedade, dor, dependência. Em outras palavras, uma síntese precisa desse tal de amor, tão falado, superestimado, romantizado. Em Closer, a visão do amor é pra lá de realista e choca quem insiste em acreditar em contos-de-fadas.

No palco, o quarteto interage com um cenário simples, sombrio, complementado pela bela trilha sonora original da peça. Uma boa sacada foi aproveitar a vista que se tem dos prédios de São Paulo para compor o plano de fundo em algumas seqüências, suspendendo-se o painel negro do cenário.

Encantou-me João Carlos Andreazza que, além de desempenhar com excelência o papel do dr. Larry, transborda charme. Rachel Ripani foi a que menos me cativou; não consegui me desvencilhar da interpretação de Natalie Portman, insistindo nas comparações. Em todo caso, é inegável Rachel estava excelente nas cenas fortes que cabem à sua personagem.

O texto original traz um desfecho mais dramático que a versão para o cinema (roteirizada pelo próprio Patrick Marber) e algumas cenas extras, que acrescentam ainda mais intensidade à história.

Comprei o ingresso meia hora antes da sessão e consegui um bom lugar (embora muito à frente). Aqui em Brasília, quem duvida que as filas seriam enormes e as entradas se esgotariam dias antes?

Serviço

Se você acredita em amor à primeira vista…Olhe mais perto. Uma espirituosa, romântica e perigosa história de amor sobre encontros coincidentes, atrações instantâneas e traições casuais. Closer é uma espiadela na vida de quatro estranhos com uma coisa em comum: o outro. (Sinopse extraída do texto oficial.)

Recomendado para maiores de 15 anos.

  • Local: Teatro Augusta – Rua Augusta, 943, Cerqueira César, São Paulo, SP.
  • Duração: 90 minutos.
  • Horários: sexta-feira, às 21:30 horas; sábado, às 21 horas; domingo, às 19 horas.
  • Preço: 30 a 40 reais (entrada inteira)

Site da sala: Teatro Augusta.

Site da peça: Closer.

O elenco montou um blog para compartilhar sua experiência.

Terra em Trânsito/Rainha Mentira

2 estrelas

Pague 1, leve 2: duas peças de Geald Thomas na seqüência. O cara é incensado pela crítica. A montagem em questão recebeu 4 estrelas no Guia da Folha. Eu não podia perder a chance. Então, fui conferir.

Ainda estou tentando entender o motivo de toda a badalação em torno do Gerald Thomas. É chique dizer que gosta de algo que não foi feito para o público, mas apenas e tão-somente para o próprio dramaturgo? Dá ibope ver uma maluquice no palco e fazer cara de quem tem conteúdo?

Alguém aí se lembra daquela propaganda da coca light que sacaneava quem fica olhando para uma tela pintada de azul com cara de inteligente e concluía com algo como “ah, é só um quadrado”?

A primeira peça, Terra em Trânsito, é interessante de verdade. Não é todo dia que ouvimos a voz do Paulo Francis direto “do aquém do além adonde que veve os mortos”, ou vemos uma atriz contracenar com um cisne. Toda a situação é comicamente surrealista. O texto traz uma série de críticas ao passado (como ao nazismo) e ao presente (à podre política brasileira, por exemplo). O desfecho é surpreendente.

Aí, veio a segunda peça, Rainha Mentira.

Um texto autobiográfico e pretensioso, com falas arrogantes pseudomodestas como “Mamãe, você já dizia, até com algum exagero, que carregava no ventre um gênio.”

Um longo, constrangedor e despropositado nu frontal envolvendo os cinco atores. Entenda, não sou puritana. Em Closer, Alice tem uma cena de strip muito picante e sensual (embora não envolva nu frontal), mas totalmente contextualizada. Não é o caso aqui.

Um embaraçoso réquiem para a mãe do autor encerra o texto. Finalmente.

Não tenho nada contra experimentalismo, mas Gerald Thomas exagera. Sua peça não é para o público, senão para si mesmo, e não entendo isso como qualidade. A arte pode ser hermética e desafiadora, mas não é arte se coloca-se dissociada do outro; pode massagear o ego e render loas da tal crítica especializada, mas não fica para a posteridade. Thomas jamais será um Nelson Rodrigues, porque é incapaz de conversar com o público. Prefere o monólogo.

Indico as duas estrelas pelas boas tiradas da primeira peça, apenas.

Não tem “Serviço”, e não é birra minha – a peça já saiu de cartaz.

Uma coisa, eu tenho que admitir: valeu o que custou – exatos sete reais e cinqüenta centavos.

Gotas da Viagem

(ou Twitterizando A Viagem A São Paulo)

Nenhum calçado é confortável quando você passa oito horas por dia andando.

Números de logradouros só são inúteis em Brasília.

Faixas de pedestre só são úteis em Brasília.

O Mercado Municipal é uma festa inigualável de cores e aromas.

Todo mundo ama House. O tema sempre surge, e raramente a culpa é minha.

Conhecer gente ao vivo e a cores é a melhor parte da internet.

Paulistanos são tão educados que o engraxate pede desculpas quando esbarra em você na rua.

Essa educação toda desaparece, no melhor estilo Pateta-atrás-do-volante, às 18 horas em ponto.

No metrô, simpatia não entra.

As opções culturais em São Paulo são tantas que você pode se dar ao luxo de comprar ingresso para uma ótima peça com menos de meia hora de antecedência (a 30 reais).

A 25 de março é para os fortes.

Em São Paulo, qualquer boteco copo sujo tem café expresso.

Bares, botecos e cafés não expulsam o cliente à meia-noite. Aliás, alguns nem fecham (e, ao contrário do raciocínio lusitano, abrem).

Táxi na capital paulista pode render bons papos. Pode ser bizarro. E custa caro.

Coca light custa caro.

Por outro lado, café bom e barato não é raro.

Falando em raridade, por que cargas d’água os pontos turísticos não vendem ímãs, postais e outros badulaques?

Moleskines (e imitações) só não são perfeitos porque custam uma fortuna.

Putz, que banheiro impecável o da rodoviária do Tietê.

Definitivamente, comer não engorda; o que engorda é sedentarismo.

Estranhamente, paulistanos fumam em restaurantes fechados, lado a lado com quem está comendo.

Paulistanos levam cachorros ao shopping.

Paulistanos sentam em cafés por horas a fio, e nenhum garçom ronda ansioso pela liberação da mesa. De fato, eles se esquecem completamente da presença do freguês.

O céu do centro de São Paulo limita-se a um quadrado azul-acinzentado.

Gastar dinheiro naquela cidade é mais fácil do que recomenda a prudência.

Aquela cidade muda de cara a cada esquina.

(and last, but not least…)

Caramba, quando vão abrir um Starbucks em Brasília?!