O Grande Truque

Agora, você está procurando pelo segredo… mas você não o encontrará, porque você não está procurando de verdade.
Você não quer realmente conhecer o segredo… você quer ser enganado.
(Cutter)

Ficha técnica

The Prestige. EUA, 2006. Suspense. 128 min. Direção: Christopher Nolan. Com Hugh Jackman, Christian Bale, Michael Caine e Scarlett Johansson.

Século XIX, Londres. Robert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale) se conhecem há muitos anos, desde que eram mágicos iniciantes. Desde então eles vivem competindo entre si, o que faz com que a amizade com o passar dos anos se transforme em uma grande rivalidade. Quando Alfred apresenta uma mágica revolucionária, Robert fica obcecado em descobrir como ele consegue realizá-la.

Mais informações: Adoro Cinema.

Cometários

4 estrelas

Quem não gosta de mágica? É razoavelmente comum uma criança não gostar de palhaços, mas todos nós sempre nos deixamos mesmerizar pelos truques dos mágicos nos palcos, picadeiros ou pátios da escola. O Grande Truque explora esse fascínio e vai além, mostrando como a mágica pode ser convertida em arma contra o maior rival e pior inimigo, num crescendo de ira e vingança que culmina em morte – e este é o início do filme.

Um dos truques preferidos do diretor Chistopher Nolan é a não-linearidade. Amnésia, seu grande sucesso, é construído inteiramente inteiramente “de trás pra frente”. O Grande Truque não chega a tanto, mas é suficientemente descontínuo para intrigar o espectador e fazê-lo perguntar-se algumas vezes: “como é que isso aconteceu?”. Nada mais apropriado para um filme de mágica.

Aliás, é fácil traçar paralelos entre a arte da mágica e a sétima arte: ambas visam ao entretenimento por meio da ilusão. Você não vai ao cinema para descobrir como o iluminador, o roteirista e o editor trabalham, embora possa interessar-se pelo assunto e observar com mais atenção um detalhe ou outro. Essencialmente, você vai para se iludir, para tentar adivinhar o rumo da história e, quando o filme é realmente bom, surpreender-se com o seu desfecho, ou ao menos encantar-se com ele. Com a palavra, o engenheiro Cutter (personagem de Michael Caine):

Todo grande truque de mágica consiste em três atos. O primeiro ato é chamado “A Promessa”: o mágico mostra à platéia alguma coisa ordinária… mas que naturalmente não o é. O segundo ato é chamado “A Virada”: o mágico faz essa coisa ordinária fazer algo extraordinário. Agora, você está procurando pelo segredo… você não o encontrará, e é por isso que há um terceiro ato chamado “A Fascinação” [“The Prestige”]: esta é a parte das reviravoltas, onde as vidas ficam suspensas e você vê algo chocante que nunca havia visto antes.

O Grande Truque realmente suspende a respiração da platéia com um enredo tão impressionante quanto um bom número de mágica. É desses filmes que merecem ser vistos mais de uma vez, já de posse de toda a história, para recapitular as pistas com o olhar de quem conhece a solução do mistério.

Curiosidade copiada descaradamente do Cinema Com Rapadura: o cantor David Bowie interpreta o inventor Nikola Tesla, personagem inspirado no engenheiro eletricista que viveu entre 1856 e 1943 e descobriu o campo magnético rotativo, criou os circuitos trifásicos e teve uma unidade de medida, a tesla, batizada em sua homenagem (eu sabia que já tinha ouvido a palavra “tesla” antes – Google é meu pastor, nada me faltará).

Os Infiltrados

Eu não quero que ser um produto do ambiente que me cerca.
Eu quero que o ambiente que me cerca seja um produto meu.
(Frank Costello)

Ficha técnica

The Departed. EUA, 2006. Suspense. 149 min. Direção: Martin Scorsese. Com Jack Nicholson, Leonardo DiCaprio, Matt Damon, Martin Sheen, Mark Wahlberg, Anthony Anderson e Alec Baldwin.

A polícia trava uma verdadeira guerra contra o crime organizado em Boston. Billy Costigan (Leonardo DiCaprio), um jovem policial, recebe a missão de se infiltrar na máfia, mais especificamente no grupo comandado por Frank Costello (Jack Nicholson). Aos poucos Billy conquista sua confiança, ao mesmo tempo em que Colin Sullivan (Matt Damon), um criminoso que foi infiltrado na polícia como informante de Costello, também ascende dentro da corporação. Tanto Billy quanto Colin sentem-se aflitos devido à vida dupla que levam, tendo a obrigação de sempre obter informações. Porém quando a máfia e a polícia descobrem que entre eles há um espião, a vida de ambos passa a correr perigo.

Mais informações: Adoro Cinema.

Cometários

4 estrelas

Os Infiltrados exige a atenção do espectador desde a primeira cena. Não é cerebral, longe disso. Acontece que é um filme de ação como poucos em Hollywood, primando pelo roteiro tremendamente bem encadeado, não por explosões manjadas e perseguições a duzentos por hora.

O filme, girando em torno da perseguição da polícia à máfia, traz uma aura de gangsterismo, mas sem romantismos. Há uma nítida divisão entre bandidos e mocinhos. Apesar disso, uma audiência menos atenta pode perder-se em meio ao jogo duplo feito pelos personagens de Matt Damon e Leonardo DiCaprio, a ponto de não saber mais quem é quem e quais são os objetivos de cada lado. A idéia é mesmo essa: confundir a platéia tanto quanto foram confundidos o chefe do departamento de polícia e o líder da máfia irlandesa.

O elenco é primoroso. Nicholson e Damon, DiCaprio e Sheen (que, aliás, já haviam atuado em um mesmo filme, o ótimo Prenda-me Se For Capaz), formam as fantásticas duplas antagônicas que, tal qual em um jogo de xadrez, devem pensar sempre dois ou três lances à frente para fugir do xeque-mate. Inevitavelmente, porém, peças vão caindo, o cerco vai se fechando, e um dos reis tombará. São tantas as reviravoltas que é difícil conseguir prever o desfecho.

Para conferir mais realismo à sua interpretação, Matt Damon participou de algumas batidas policiais em pontos de tráfico de Massachusetts. Numa das ações, embora houvesse duas vezes mais policiais que o normalmente utilizado, Damon confessou ter sentido ansiedade e medo. Também acompanhou policiais em missões de reconhecimento nas quais agentes disfarçados de consumidores de drogas colhiam provas para incriminar traficantes.

Scorsese é um dos grandes injustiçados pela Academia. Responsável por filmes memoráveis e fartamente premiados como O Aviador, Gangues de Nova Yorque (ambos também com DiCaprio) e o antológico Taxi Driver, nunca ganhou o Oscar, embora tenha sido indicado cinco vezes como melhor diretor e outras duas vezes por melhor roteiro adaptado. Com Os Infiltrados, a Academia terá mais uma excelente chance de conferir um merecido Oscar a este diretor, ao invés de recorrer, daqui a alguns anos, às homenagens pelo conjunto da obra, que sempre trazem um gosto insosso de “prêmio de consolação”.

Os Infiltrados é refilmagem do asiático Mou Gaan Dou (Hong Kong, 2002), lançado nos Estados Unidos em 2004 como Infernal Affairs e disponível no Brasil sob o título Conflitos Internos.

No terreno da fofoca, note-se que o ex-casal queridinho de Hollywood, Jennifer Aniston e Brad Pitt, são dois dos produtores de Os Infiltrados.

Ponto Final – Match Point

Ficha técnica

Match Point. Inglaterra/EUA/Luxemburgo, 2005. Drama. 124 minutos. Direção: Woody Allen. Com Jonathan Rhys-Meyers, Scarlett Johansson, Alexander Armstrong, Matthew Goode, Brian Cox, Penelope Wilton.
Chris (Jonathan Rhys-Meyers) é um ex-jogador de tênis que se apaixona por Nola Rice (Scarlett Johansson), a namorada de seu amigo Tom (Matthew Goode), que será também seu cunhado em breve.

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Comentários

5 estrelas

Um filme do Woody Allen em que ele não atua e que não é comédia – ao invés disso, muita tensão e suspense. Outras coisas que o destacam na filmografia de Allen é que se trata do filme mais extenso que ele já fez, e é o primeiro rodado na Inglaterra.

A teoria do caos é o foco de Match Point. A primeira frase resume a idéia de todo o enredo: “O homem que afirmou que é mais importante ter sorte que trabalhar duro entendeu o sentido da vida”. Toda a história gira em torno dessa premissa. O personagem principal é um sujeito esforçado, mas acima de tudo sortudo – o que fica ainda mais evidente quando comparado a Nola Rice, personagem interpretada pela atual queridinha de Allen, Scarlett Johansson.

Mesmo nas situações em que se acredita que Chris está no controle da sua própria vida, logo depois percebe-se a intervenção do acaso (ou da sorte, como queira). A vida é uma sucessão de fatos aleatórios que nos conduzem a um ou outro resultado, quase sem querer. Não que não tenhamos controle algum – o controle existe, mas as coisas dificilmente ocorrem como o planejado. Para que dêem realmente certo, o componente sorte é essencial. Se você é uma pessoa genial, dedicada, competente, mas não encontra alguém no caminho pra dar aquele empurrão, ou não topa com uma boa proposta de emprego antes do seu concorrente, de nada adianta todo o talento.

Eu poderia falar muito mais sobre o tema, mas a idéia aqui é comentar o filme, não entrar numa discussão filosófica. E, sim, o filme é excelente, um dos melhores de Woody Allen.

E é melhor nem comentar a tradução de “match point”, expressão esportiva sem correspondente no português, como “ponto final”, que tem um sentido absolutamente diferente na nossa linguagem coloquial.

O Exorcismo de Emily Rose

Ficha técnica

The Exorcism of Emily Rose. Estados Unidos, 2005. Terror. 119 minutos. Direção: Scott Derrickson. Com Laura Linney, Tom Wilkinson, Campbell Scott, Jennifer Carpenter.
Emily Rose (Jennifer Carpenter) é uma jovem que deixou sua casa em uma região rural para cursar a faculdade. Um dia, sozinha em seu quarto no alojamento, ela tem uma alucinação assustadora, perdendo a consciência logo em seguida. Como seus surtos ficam cada vez mais frequentes, Emily, que é católica praticante, aceita ser submetida a uma sessão de exorcismo. Quem realiza a sessão é o sacerdote de sua paróquia, o padre Richard Moore (Tom Wilkinson). Porém Emily morre durante o exorcismo, o que faz com que o padre seja acusado de assassinato. Erin Bruner (Laura Linney), uma advogada famosa, aceita pegar a defesa do padre Moore em troca da garantia de sociedade em uma banca de advocacia. À medida que o processo transcorre o cinismo e o ateísmo de Erin são desafiados pela fé do padre Moore e também pelos eventos inexplicáveis em torno do caso.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

3 estrelas

Quem vai ao cinema e, como eu, não lê nem a sinopse antes, poderá se surpreender. O Exorcismo de Emily Rose está mais para “filme de tribunal” (deveriam incorporar de uma vez essa expressão na lista de gêneros do cinema) do que para filme de terror – o que acabou contribuindo para que eu gostasse bastante da história.

Apesar disso, os sustos existem e são bons, não decepcionando quem gosta de passar medo no cinema. A trilha sonora contribui decisivamente para criar momentos de tensão, ao lado da maquiagem, impactante especialmente na primeira imagem exibida de Emily no tribunal.

O argumento é muito interessante e provoca reflexões sobre os papéis que cabem à ciência e à religião. Esses questionamentos, no entanto, não quebram o ritmo da fita. Você pode passar batido por eles e simplesmente curtir o filme.

A atuação de Jennifer Carpenter é um tanto caricata do início, mas depois encaixa-se bem na trama. Por outro lado, o padre exorcista é interpretado fantasticamente por Tom Wilkinson, e Laura Linney também está ótima no papel da cética advogada.

O Exorcismo de Emily Rose é baseado na história de Anneliese Michel, jovem alemã que morreu em 1976.

Filme despretencioso, de baixo orçamento, com um resultado muito bom.

Para saber mais sobre a história que deu origem ao filme, leia a crítica no site Universo Católico.

Outros filmes que valem a pena, vistos no fim de 2005

Os Produtores: mas apenas se você gosta de musicais e aprecia uma historinha que foge do “politicamente correto”.3 estrelas

Quem somos nós?: em cartaz apenas no circuito cult, Quem Somos Nós? é um documentário que tenta explicar o ser humano por meio da física quântica. Esse sim, é um filme capaz de provocar profundos questionamentos a respeito das nossas crenças e das premissas sobre as quais construímos nossas vidas.5 estrelas