Eu Sou a Lenda

Ficha Técnica

  • Título original: I Am Legend
  • País de origem: EUA
  • Ano: 2007
  • Gênero: Ficção Científica
  • Duração: 101 minutos
  • Direção: Francis Lawrence, que também dirigiu Constantine[bb].
  • Roteiro: Mark Protosevich e Akiva Goldsman, baseado em livro de Richard Matheson[bb].
  • Elenco: Will Smith, Alice Braga, Charlie Tahan, Salli Richardson, Willow Smith.
  • Sinopse: a população de Nova York foi dizimada por um vírus mortal. Um brilhante cientista (Will Smith) é imune e tenta desenvolver um antídoto e encontrar outros sobreviventes.

Comentários

Eu Sou A Lenda Essa minha mania de ir ao cinema sem ler nada a respeito do filme antes me mete em ciladas de vez em quando. Antes que você ache que Eu Sou a Lenda é uma cilada, deixe-me explicar: o filme é excelente, mas dá altos sustos – ao menos em mim, que sou um tanto covarde para filmes de monstros. Sem exageros, porém – há quem tenha se decepcionado com o filme justamente por esperar mais sustos. Para mim, a dose foi suficiente.

O filme se passa num futuro próximo: em 2009, o vírus do sarampo é alterado geneticamente para combater o câncer; a experiência sai do controle e o vírus mutante dizima a espécie humana. A maior parte da ação se situa em 2012, contando o dia-a-dia do Dr. Robert Neville em sua luta pela sobrevivência e pela busca de uma cura para a doença mortal.

O que conduz brilhantemente a produção, elevando-a a um patamar muito acima da mediocridade, é a interpretação de Will Smith. O ator sustenta a história praticamente sozinho, conferindo-lhe uma carga dramática tão grande que é difícil acreditar que seja o mesmo Will Smith da comédia boa, mas fácil, The Fresh Prince of Bel-Air – aqui no Brasil, Um Maluco No Pedaço. Smith tem outros bons filmes no currículo[bb], mas nenhum que exigisse tanto.

Já Alice Braga, a sobrinha de Sônia Braga, tem um papel curto, mas bem desempenhado. Alice mostra mais talento, simpatia e beleza que sua tia costuma exibir.

Os efeitos visuais são um show à parte – os infectados são todos gerados por computação. Os efeitos sonoros também impressionam. É provável que Eu Sou a Lenda seja lembrado nas categorias técnicas no Oscar 2009.

Sim, é mais um filme-catástrofe. Sim, é previsível (mas guarda uma ou outra surpresa). De toda forma, no seu gênero Eu Sou a Lenda merece 5 estrelas.

Cotação: 5 estrelas

Curiosidades

Eu Sou a Lenda é a terceira adaptação para o cinema do romance de Matheson, juntando-se a The Last Man on Earth (“Mortos que Matam”, 1964) e The Omega Man (1971, com Charlton Heston no papel principal). Segundo críticos, Eu Sou a Lenda distanciou-se demais do original, mais que seus predecessores.

Os mais atentos perceberão, numa das primeiras tomadas que mostram Nova Iorque arrasada, o pôster de um clássico nunca acontecido e sempre desejado pelos fãs dos quadrinhos: o filme Batman vs. Superman. Trata-se de uma piada de Akiva Goldsman, roteirista do filme.

Bob Marley[bb] permeia o filme: Three Little Birds aparece a todo momento; o cd preferido do Dr. Neville é Legend, uma coletânea do cantor de reggae; a música dos créditos é Redemption Song.

Além da Tela

O vírus que desencadeia a quase extinção da espécie humana é uma mutação construída em laboratório do vírus do sarampo. O sarampo é, hoje, raro em países desenvolvidos, graças à vacinação em massa; em países pobres, ainda infecta milhões de crianças por ano, levando à morte milhares delas. No Brasil, a doença está quase erradicada e a última morte foi registrada em 1999.

Vampiros rendem boas histórias há séculos, povoando a literatura e o cinema. Também fazem sucesso nos role playing games (RPG). O termo “vampiro” popularizou-se no século XVIII, mas o mito é muito anterior, remontando aos antigos gregos, hebreus e mesopotâmicos. O livro I Am Legend, escrito por Richard Matheson em 1954, oferece uma nova explicação sobre vampiros: em vez de tratá-los como criaturas sobrenaturais, como a literatura de horror fazia, Matheson vale-se da ficção científica para explicá-los à luz da ciência.

Atualização em 11 de março de 2008: a Fabiana Neves, do blog Rockerspace, publicou o final alternativo do filme, disponível no dvd norte-americano. Como ela, também prefiro a versão que foi exibida no cinema. E você?

Serviço

Desejo e Reparação

Ficha Técnica

  • Título original: Atonement
  • País de origem: Inglaterra
  • Ano: 2007
  • Gênero: Drama
  • Duração: 130 minutos
  • Direção: Joe Wright
  • Roteiro: Christopher Hampton, baseado no livro Reparação, de Ian McEwan
  • Elenco: Keira Knightley, James McAvoy, Romola Garai, Vanessa Redgrave, Brenda Blethyn, Juno Temple, Alfie Allen, Nonso Anozie.
  • Sinopse: uma jovem acusa o namorado de sua irmã e filho do caseiro de um crime, mudando a vida deles.

Comentários

Desejo e ReparaçãoA pior coisa de Desejo e Reparação é esse título. O filme baseia-se no livro Atonement, ou “Reparação”. Os tradutores brasileiros, sempre empenhados em inventar os piores títulos possíveis, optaram por uma junção de substantivos, certamente para pegar carona no filme Orgulho e Preconceito[bb] (que realmente se chama Pride and Prejudice e também é baseado em livro), pensando: “ah, o diretor dos dois filmes é o mesmo, a Keira Knightley está em ambos, então esse deve ser igualzinho àquele – vamos mostrar isso no título”.

Os filmes não têm nada em comum, claro. Orgulho e Preconceito se passa 150 anos antes de Atonement e conta uma história de amor com viés feminista. Desejo e Reparação adentra a Segunda Guerra Mundial e, sim, o amor é parte essencial de seu enredo, mas perturbado por julgamentos errados e pela própria guerra.

O espectador logo percebe que Briony (interpretada por Saoirse Ronan para primeira parte do filme) é uma adolescente passional e de imaginação fértil, antevendo as conseqüências negativas que isso provocará. Na segunda metade da história, o pano de fundo deixa de ser a bucólica Inglaterra e passa a girar em torno da Segunda Grande Guerra nos seus piores momentos para a Inglaterra: a Alemanha está ganhando terreno, as tropas em território francês estão encurraladas, parece não haver esperanças. Daí, a história caminha para um final aparentemente previsível – só aparentemente.

Desejo e Reparação surpreende pela plausibilidade. Não há lances estonteantes, não há situações forçadas, não há fantasia. Sua história poderia ter acontecido no mundo real – quem sabe? Essa verossimilhança garante o envolvimento do espectador apesar do deslocamento temporal.

Chama a atenção a bela reconstituição da Inglaterra dos anos 30, poética e burguesa. A trilha sonora é muito marcante, emocionando. É daquelas trilhas que se fazem notar, o que pode resultar em desastre; em Desejo e Reparação, o destaque é bem colocado. Seu autor é Dario Marianelli, mais um nome também presente em Orgulho e Preconceito.

Apesar das semelhanças de equipe, cabe ressaltar que Desejo e Reparação é um trabalho muito superior a Orgulho e Preconceito. Se este beirava o tédio em alguns momentos, aquele mantém a atenção do espectador por toda a sua extensão, com um enredo bem contado.

Merecidamente, ganhou o Globo de Ouro 2008 de melhor filme dramático. Concorre ao Oscar em sete categorias: melhor filme, melhor atriz coadjuvante (Saoirse Ronan), melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor figurino, melhor direção de arte e melhor trilha sonora. Faltou uma indicação para Kiera Knightley.

Cotação: 5 estrelas

Serviço

Globo de Ouro 2008

Nem deu gosto acompanhar a 65ª edição do Globo de Ouro. A greve dos roteiristas, que se arrasta por meses e prejudicou as temporadas de vários seriados (com efeitos sentidos, inclusive, no Brasil, apesar de sempre estarmos alguns episódios atrasados) impediu a realização da cerimônia com o tradicional jantar, a presença dos atores consagrados, a pompa e a circunstância. Esse ano, tudo não passou de uma coletiva à imprensa mixa, sem graça, com meia hora de duração.

Desejo e Reparação ganhou o Globo de Ouro de melhor filme dramático. Assisti ontem à produção (até o fim da semana, deve ter resenha por aqui) e posso dizer que o prêmio foi merecido. Desejo e Reparação também ganhou como melhor trilha sonora.

Conduta de Risco concorreu a quatro prêmio , mas morreu na praia.

Javier Bardem (um dos elementos que elevaram a qualidade de O Amor nos Tempos do Cólera) levou o prêmio de melhor ator coadjuvante por Onde os Fracos Não Têm Vez, ainda em cartaz no Brasil.

No universo dos seriados, meu amado-idolatrado-salve-salve Hugh Laurie perdeu o prêmio de melhor ator em série dramática para Jon Hamm, por Mad Men (que ganhou como melhor série dramática). A série, ainda inédita no Brasil, passa-se nos anos 60 e trata do universo de publicitários.

O curioso é que, das 3 temporadas completas de House M.D.[bb], a terceira, que levou à indicação de Hugh Laurie nesse ano, é a melhor. A Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood deve ter pensado “nah, ele já ganhou duas vezes seguidas, vamos dar chance a coisas novas”.

David Duchovny, o eterno Agente Mulder, levou o Globo de Ouro como melhor ator em série cômica. Ele interpreta um escritor em Californication, ótima série, levada ao ar pela Warner Channel no Brasil.

A festa do Oscar 2008 está agendada para 24 de fevereiro. Será que os fãs de cinema terão de contentar-se com outra coletiva tediosa?

Serviço

O Amor nos Tempos do Cólera

Ficha Técnica

  • Título original: Love in the Time of Cholera
  • País de origem: EUA
  • Ano: 2007
  • Gênero: Drama
  • Duração: 141 minutos
  • Direção: Mike Newell
  • Roteiro: Ronald Harwood, baseado no livro homônimo de Gabriel García Márquez
  • Elenco: Javier Bardem, Giovanna Mezzogiorno, Benjamin Bratt, Fernanda Montenegro, Catalina Sandino Moreno.
  • Sinopse: um homem se apaixona perdidamente por uma mulher, que também o quer. Ela é afastada pelo pai e, quando retorna, não quer mais nada com ele, que passa a acompanhar sua vida, sonhando com o momento em que ficarão juntos.

Comentários

O Amor nos Tempos do CóleraQuem leu o Amor nos Tempos do Cólera (está na minha lista para 2008) diz que o filme fica muito a dever ao livro. Conhecendo a literatura de Gabriel García Márquez[bb], não poderia ser diferente. Sua prosa é riquíssima, detalhista, poética. Amor nos Tempos do Cólera, com suas 400 páginas, dificilmente seria transposto em toda a sua plenitude.

Essa provável infidelidade do filme ao original não me incomoda. Cinema e literatura são duas linguagens muito diferentes; quando vejo uma adaptação de um livro, importa-me mais o bom desempenho do filme, analisado em si mesmo, que compará-lo ao livro para checar sua correção.

Isto posto, cabe dizer que o filme O Amor nos Tempos do Cólera é uma boa história, com poesia da primeira à última linha de roteiro. Poderia, no entanto, ser muito melhor, se não fossem alguns sérios deslizes da produção.

Duas coisas se destacam positivamente: a bela fotografia (do brasileiro Affonso Beato, de Orfeu, Tudo sobre minha mãe, A Rainha e outros) e a caracterização do protagonista Javier Bardem (Florentino Ariza), rejuvenescido e envelhecido por um trabalho cuidadoso de maquiagem . O mesmo cuidado não foi dedicado a sua parceira de tela Giovanna Mezzogiorno, que interpreta Fermina Daza.

A sinergia entre os protagonistas contribui para o andamento da história. O elenco é bom. Fernanda Montenegro também faz boa figura como mãe de Ariza. Não tem jeito, no entanto: todos os atores parecem perdidos num inglês forçado. A interpretação de Fernanda Montenegro, por exemplo, carece de força e só posso atribuir isso ao idioma.

O pior erro do diretor foi, sem dúvida, usar o inglês como idioma do filme. A língua ficou deslocada de todos os outros elementos: do cenário, da música, dos atores. Destoa, incomoda e empobrece a narrativa. Retira-lhe a musicalidade, além de esvaziar-lhe o realismo, mormente porque o elenco é composto por latinos e o inglês sai carregado de sotaque. Se o problema era a conhecida resistência norte-americana a filmes legendados, que se filmasse em espanhol e fizesse uma dublagem posterior – o resultado seria muito mais agradável para todos.

Outro aspecto do filme que me incomodou foram as canções da colombiana Shakira. Praticamente toda a trilha sonora foi construída em cima de suas composições, tornando-se monótona e, em alguns momentos, inoportuna. Nada contra a cantora; só acredito que a trilha poderia ser mais rica, mais diversificada, menos pop.

Apesar das falhas, a história de amor que atravessa mais de meio século, respaldada pelos belos cenários do século XIX, é comovente o suficiente para valer o ingresso.

Cotação: 3 estrelas

Além da Tela

Gabriel García Márquez relutou por 20 anos em ceder os direitos de filmagem de seu livro, certo de que um filme jamais conseguiria captar a essência da obra. O escritor é famoso por recusar a maior parte dos pedidos de filmagem de seus livros.

As locações foram feitas em Cartagena de las Indias, na Colômbia.

O tempo da história é o século XIX, marcado por epidemias de cólera na Ásia, África e América do Sul, registrando-se casos também na Europa. No Brasil, o cólera foi considerado erradicado no fim do século XIX, reaparecendo nos anos 1990. Em alguns estados do Nordeste, ontinua sendo uma ameaça, dadas as precárias condições sanitárias da região.

O Cólera

O cólera é causado pela bactéria Vibrio cholerae, presente na água e em alimentos crus contaminados pelos dejetos dos doentes. Causa forte diarréia, levando a um quadro grave de desidratação. Se não for diagnosticada e tratada a tempo, a doença mata em poucas horas.

A prevenção dá-se pelo cozimento dos alimentos e pela fervura da água, visto que o vibrião não suporta temperaturas superiores a 80ºC. A desinfecção de verduras e da água por meio de uma solução diluída de hipoclorito de sódio ou água sanitária também é eficaz.

O ideal, claro, para a prevenção da doença, é o investimento governamental em redes sanitárias adequadas e disponíveis a todos. Em países desenvolvidos, em que toda a população tem acesso a um sistema decente de água e esgotos, a contaminação é rara.

Serviço