As aparências enganam

As aparências enganam - Danuza Leão
Razoável, apesar de repetitivo.

Danuza Leão tem dois livros imperdíveis: Na Sala com Danuza e Na Sala com Danuza 2. Ambos deveriam ser leitura obrigatória no ensino médio (no mais tardar). Embora nem tudo escrito ali seja unanimidade ou aplicável na prática, certamente veríamos uma elevação do nível geral de educação (não a educação formal, mas aquela que deveria ser ensinada em casa, pelos pais, e que anda tão negligenciada). Tem, ainda, uma autobiografia invejável. Já suas crônicas… diferentemente de meio mundo, não morro de amores por elas. Certo, deve ser complicado tentar criar tiradas geniais três vezes por semana, para veículos diferentes, com perfis de leitores também diferentes. Mas mesmo assim…

As aparências enganam reúne textos escritos entre 2001 e 2004 para a Folha de São Paulo. O livro decididamente não pertence ao seleto grupo de compilações bem-sucedidas; também não é um fiasco completo, graças a alguns textos francamente excelentes. Outros  são autobiográficos e, por isso mesmo, interessantes. O problema está no punhado de crônicas que parecem feitas mecanicamente, para cumprir prazo e em outras tantas recheadas de clichês e em mais algumas repetitivas.

A coisa vai assim, entre altos e baixos. Embora haja altos suficientes para não entediar, não é um livro memorável. Leia apenas se ele cair nas suas mãos assim, por acaso, como caiu nas minhas.

Trechos

Por mais que se torça para que as pessoas de quem gostamos se apaixonem e sejam muito felizes, quando isso acontece, a tendência é guardar uma certa distância; com o tempo, essa distância vai ficando cada vez maior, pois quem está apaixonado se transforma em outra pessoa, e tão diferente que ninguém reconhece mais. (p. 73)

Ele ainda te leva ao aeroporto quando você vai viajar e vai te buscar quando você volta? Se a resposta for não, é bom começar a pensar na vida. (p. 93)

Quem não cultiva um amigo bem maldito, que diz maldades vis mas sempre divertidas sobre nossos mais caros amigos? Quem nunca se apaixonou por um homem que nos fez passar por momentos atrozes, sempre em sobressalto, com o coração na boca, sofrendo mas morrendo de medo de que ele fosse embora? É elementar saber que esse amigo tão divertido vai, assim que você virar as costas, fazer comentários maldosos- e sempre divertidos – sobre você, que quando souber não vai achar a melhor graça. E que seu namorado, que faz com que você viva no fio da navalha – isso é que é vida, você acha – vai aprontar cada vez mais, muito mais do que você jamais sonhou, até te deixar arrasada – e sozinha. Quando se fazem escolhas erradas se está procurando a dor, e esta é uma procura inútil; supérflua, eu diria. Não é preciso procurar por ela porque mesmo tentando viver da maneira mais certa ela nos encontra na hora em que quer e bem entende. (p. 110)

Nada desorganiza mais a vida do que uma paixão. (p. 287)

Ficha

  • Título: As aparências enganam
  • Autora: Danuza Leão
  • Editora: Publifolha
  • Páginas: 309
  • Cotação: 2 estrelas
  • Encontre As aparências enganam.

Aproveite a Vida

Não espere uma época calma
para só então ler romances.
Não espere emagrecer
para comprar uma roupa nova.
Não espere ter companhia
para, enfim, ir ao cinema.
Não espere ter dinheiro
para planejar uma viagem.
Não espere ter amigos
para começar a se divertir.
Não espere ficar doente
para adquirir hábitos saudáveis.
Não espere ter tempo
para aprender um novo idioma.

Não espere o amanhã
para viver o agora.

Em cada ano da sua vida
desenvolva uma habilidade,
leia ao menos dez livros,
descubra um novo amigo,
prove uma comida diferente,
escute um cd além dos seus próprios,
tome uma decisão importante,
reveja suas metas.

Você não sabe se terá outra chance,
se há outra existência além desta.
Ninguém sabe, realmente.
Não guarde bons momentos para o futuro.
O futuro é hoje, aqui, agora.
Seu futuro é o presente.
Encare-o como uma dádiva
e aproveite cada minuto.

Originalmente publicado em 23 de maio de 2004,
no velho Dia de Folga.
É minha mensagem de fim de ano a você, leitor.

Minhas Mulheres e Meus Homens

Ou melhor, as mulheres e os homens de Mario Prata, que resolveu transformar em livro sua agenda telefônica. O resultado é o desfile de mais de duzentas pessoas – várias delas, famosas – em histórias indiscretas, curiosas, algumas melancólicas, quase todas divertidas.

Você vai descobrir, por exemplo, que o Julinho da Adelaide ficou furioso com o Chico Buarque, acusando-o de querer aparecer às suas custas. Lerá uma carta da Marília Gabriela, pessoal como são as cartas para os amigos. Vai rir com a experiência revolucionária de Prata na época da ditadura militar e com detalhes da criação de suas novelas e livros.  Conhecerá muita gente de Lins, cidade em que cresceu o cronista. Até personalidades internacionais dão as caras, como Gabriel García Márquez. Mario Prata é um homem de muitos contatos!

O livro vem em ordem alfabética, como toda agenda telefônica. O autor aconselha a leitura em ordem cronológica e apóio a escolha. Afinal, esse monte de fragmentos é uma autobiografia, com toques de história recente do Brasil. Nada melhor que ler na ordem em que os fatos aconteceram. Claro que, ainda assim, ficarão dúvidas, incertezas, perguntas da maior importância jamais respondidas – pra quem será que o Chico Buarque compôs “Olhos nos Olhos’, afinal de contas?

Aproveite pra ler o que o próprio Mario disse sobre o livro.

Ficha

  • Título: Minhas Mulheres e Meus Homens
  • Autor: Mario Prata
  • Editora: Objetiva
  • Páginas: 252
  • Cotação: 4 estrelas
  • Pesquise o preço de Minhas Mulheres e Meus Homens.

Alguns Quereres

Quero promessas coloridas embrulhadas em papéis de realidade.
Quero umas poucas certezas e alguns mistérios no meu caminho.
Quero dormir cedo do dia seguinte e acordar tarde de depois de amanhã.
Quero poesias e sonhos concretos, ao alcance das mãos e dos olhos.
Quero perder-me de vez em quando, para achar-me depois, em outras paragens.
Quero a eternidade para os bons momentos.
Quero prolongar sabores.
Quero toques macios e música contínua.
Quero não pensar demais, nem de menos – só na medida certa.
Quero amigos o tempo todo e amores de vez em quando.
Quero a leveza da manhã de sol após a chuva da madrugada.
Quero dias e noites livres.
Quero saber exatamente do que gosto hoje, que pode não ser o mesmo que me agradava ontem.
Quero tempos que tragam novos olhares.
Quero alguns velhos olhares dentro de tempos perenes.
Quero a beleza além da aparência.
Quero render-me ao nada, esvaziar o pensamento, jogar fora os medos.
Quero a inconsequência inocente da criança que cai e levanta em seguida.
Quero a vida toda, a cada segundo.
Quero saber que não existem metades, só o inteiro.
Quero demais, às vezes.
Quero continuar querendo, apesar disso, a cada dia renovando desejos.

separador

Em 03 de novembro de 2003, o Dia de Folga deixou de ser página no Pop para se tornar blog no Weblogger (eu sei, meu passado me condena).

Pra comemorar a idade “avançada”, nada como um texto velho. Republicar alguns daquela época está nos meus planos desde sempre. Esse aqui, porém, não seria republicado se não tivesse ganhado elogios recentemente. É de 18 de janeiro de 2005 e, possivelmente, a única tentativa de poesia que foi além do meu caderno.