Quais as chances?

Você mora numa capital. Não é nada que se diga “oh, mas que capital grande!”, mas é uma capital.

Aí, tem um problema com uma $%$&# de uma loja e precisa entrar com uma ação no Juizado Especial Cível.

No dia da conciliação (que demorou dois meses para chegar, em tempo real, e dois anos na sua percepção), você está no corredor, esperando e tentando acalmar o estômago (já disse que o-dei-o advogar?).

Finalmente, chega a sua vez. Você respira fundo, repassa mentalmente as alegações e entra na saleta.

E descobre que o advogado da empresa ré foi seu colega de faculdade.

Quais as chances de uma coisa dessas acontecer?!

Tá que Brasília é um ovo de codorna, mas isso é o cúmulo.

Blogueiras e Blogueiros do DF no orkut

Em maio de 2004, quando entrei no orkut, pouca gente tinha ouvido falar desse treco. Não sabíamos o que era, nem para que servia (certo, parece que voltamos àquela época, mas ao menos o conceito de “rede social” é difundido hoje). Ninguém mendigava/brigava/chorava/pagava por convites, porque ninguém conhecia o brinquedo. Um belo dia, aparecia uma mensagem na sua caixa de emails (que ainda não era Gmail) e, depois de se certificar que não era spam ou arquivo malicioso, você se deparava com um questionário enorme e um portal vazio.

A comunidade Brasília, que hoje tem 108.563 membros, mal tinha 200. Praticamente não havia comunidades em português. Aliás, ainda me lembro do ódio mortal dos norte-americanos quando começamos a usar o português nas comunas que eles tinham criado. Não demorou para que surgissem dezenas, centenas de (Preencha a lacuna) Brasil. Depois, vieram a versões para Estado/Cidade/Bairro/Escola/Boteco-da-Esquina. Neguinho começou a criar qualquer coisa, só pra ser “owner”.

Mas o alvorecer do orkut foi bacana. Amigos restabeleciam contatos, novas amizades eram criadas. Não havia pirralhos, nem spammers, nem miguxos. Trolls, claro, já estavam por lá, porque são onipresentes desde que a web é web. Apesar deles, as comunas eram saudáveis e interessantes, trocavam-se opiniões, informações, conhecimentos. Os famigerados jogos não eram uma praga.

Você ia para a “prisão” do orkut quando o Algoritmo Maluco dizia que era a sua vez – mas a polícia federal nem esquentava a cabeça com crimes cibernéticos nesse território. Não era preciso.

Scraps? Só de amigos/conhecidos. Ainda não existiam usuários de programinhas nojentos para enviar propagandas em lote. Nem mensagenzinhas de amizade ou sei lá o quê padronizadas.

*Sigh*… Bons tempos…

Talvez por ter conhecido aquele orkut, ainda acredito que algo de bom pode sair desse enrosco. Chame de idealismo, ilusão, ingenuidade, whatever.

O fato é que criei uma nova comuna: Blogueiras e Blogueiros do DF. A descrição é a seguinte:

Quantos somos? O que fazemos? Como podemos contribuir com nossa cidade?

Blogar é um ótimo passatempo, mas pode ser mais que isso. Pode ser uma excelente forma de conhecer pessoas e, principalmente, de assumir responsabilidade social.

Denúncias, campanhas, redes de solidariedade, blogagens coletivas – podemos fazer muito por meio dos nossos blogs.
_________________________________

Regras da Comunidade:

1. Para participar, você deve morar no DF (Brasília ou cidades-satélites). Além disso, deve ter um blog, obviamente.

2. Miguxos não serão aceitos.

3. Spammers e trolls também estão vetados.

4. Respeito e cooperação são imprescindíveis.
_________________________________

Vamos aproveitar nossos blogs para contribuir com nossa cidade!

A idéia é criar um espaço saudável de convivência e troca de idéias entre os blogueiros do Distrito Federal. Mais para a frente, imagino atuações em campanhas, denúncias, redes de solidariedade.

Se você mora em Brasília, Taguatinga, Cruzeiro, Ceilândia, Guará, Sobradinho ou qualquer cidade-satélite, tem um blog e quer partilhar informações e interesses, sinta-se convidadíssimo/convidadíssima.

Atualização em 10 de abril de 2008: agora, também temos uma lista de discussão, Blogs DF. Se você tem um blog e mora no Distrito Federal, junte-se a nós.

E teve a peça sobre o Renato Russo

A montagem chama-se simplesmente Renato Russo. O ator Bruce Gomlevsky representa o cantor e compositor num monólogo de duas horas. Ilustra as várias fases da vida do Renato, canta algumas das suas mais famosas composições e emociona a platéia com uma interpretação memorável.

Sou fã de carteirinha do Renato Russo e da Legião Urbana. Fiquei doida pra ver a peça assim que soube da sua temporada em Brasília, mas desisti quando descobri a loucura que era conseguir um ingresso: só quem se dispunha a ficar seis, oito, dez horas na fila da bilheteria saía com o cobiçado prêmio. A temporada no Centro Cultural Banco do Brasil nem foi tão curta, para os padrões do CCBB. Só que um mês e meio de espetáculo numa cidade que idolatra o Renato foi absolutamente insuficiente. Acabei desencanando, na esperança de que a peça voltasse a Brasília depois de alguns meses.

Então, no sábado de manhã, me liga a Ciléia com a mais inesperada notícia: depois de ter ficado cinco horas na fila para conseguir dois convites, o acompanhante desistiu em cima da hora, e o ingresso estava disponível! Dá pra acreditar na minha sorte?! Dá pra imaginar o tanto que pulei de alegria?!

Ainda mal acreditando, vi-me na mesma noite diante de um ator excepcional, numa caracterização muito competente e, acima de tudo, emocionada do Renato. Tá que nos primeiros dez minutos bate a frustração: “Ah, não é o Renato…”. Claro que não é, ora bolas – afinal, é uma peça teatral, não uma sessão espírita.

A decepção irracional dissipa-se rapidamente, graças ao carisma de Gomlevsky e à qualidade da produção. A iluminação é um show à parte, o uso bem bolado de um telão para exibir imagens ligadas à vida do cantor enriquece a apresentação e a banda que acompanha o ator ao vivo (chamada Arte Profana e, no palco, referida como 42th Street Band, banda imaginária criada por Renato durante a adolescência) contribui para dar um clima realista à peça.

Longe de retratar Renato como herói de uma geração, posição que ele sempre recusou, Bruce Gomlevsky mergulha nas dores, fraquezas e inseguranças do ídolo, trazendo à tona uma figura frágil e imperfeita de um lado, sensível e carismática de outro. Foi graças a essa fusão de luz e sombra que Renato Russo criou letras memoráveis, críticas à sociedade, à juventude e ao Brasil, hinos de milhares, retratos de momentos pessoais e, ao mesmo tempo, universais.

São duas horas que passam voando. No fim, resta com a sensação de ter (quase) visto o Renato Russo ao vivo e a cores. Para quem, como eu, jamais assistiu a um show da Legião, já é um grande consolo.

A peça segue temporada pelo Brasil. Pesquise a programação cultural da sua cidade e, se tiver a chance de vê-la, não a deixe passar. Se retornar a Brasília, assistirei novamente.

Ci, mais uma vez, obrigadíssima!

A vida é cheia de som e fúria

“As pessoas mais afetivamente infelizes que eu conheço
são as que mais gostam de música pop.”
(Rob Fleming)

Tem gente que, aos domingos antes do almoço, zapeia pela televisão. Outras pessoas lêem o jornal. Eu, como não tenho tv a cabo e detesto jornal impresso (por razões pessoais e frescas), surfo pela internet por uma hora, mais ou menos, entre acordar (lá pelo meio-dia) e sair para o almoço. Às vezes leio blogs, às vezes fico à toa, às vezes procuro o que fazer à noite.

E, procurando o que fazer, descobri ontem uma peça fantástica, em cartaz no CCBB de Brasília. A vida é cheia de som e fúria é baseada no livro Alta Fidelidade, de Nick Hornby, um dos meus favoritos. O livro já rendeu até filme, mas a montagem teatral é anterior à cinematográfica e, em alguns aspectos, ainda melhor.

O filme, de 2000, conta com John Cusack no papel de Rob Gordon, um sujeito que acaba de ser chutado pela namorada e, como uma forma de aliviar sua dor, resolve fazer uma lista dos cinco maiores foras. Gordon tem 35 anos, é dono de uma loja de discos, tem amigos esquisitos, não sabe o que quer da vida e é fissurado em música pop. Tem mania de fazer listas no estilo “5 mais” (Top 5) sobre todo e qualquer assunto.

A versão do cinema consegue ser bem fiel ao livro que é, realmente, fantástico. Sem dúvida, o filme está no meu “Top 5” de filmes favoritos – e sim, eu também tenho a mania dos Top 5. Não é à toa que tenho uma categoria com esse nome aqui no blog que, aliás, chamava-se “Alta Fidelidade”. Como quase ninguém entendia a referência, mudei o nome da categoria.

John Cusack é fantástico e dá vida a Rob Gordon – que, no livro, tem o sobrenome Fleming – brilhantemente. O filme só peca em dois pontos: passa-se nos Estados Unidos – a história original situa-se em Londres – e, talvez justamente por isso, não é fiel às referências musicais presentes na história de Nick Hornby, quase todas inglesas. O diretor Stephen Frears preferiu desenvolver uma trilha sonora nova, ao invés de aproveitar a fantástica trilha sugerida pelo livro.

A peça corrige essas diferenças: Rob Fleming (o nome do protagonista é respeitado) é londrino e a trilha sonora é toda tirada do livro – e melhor que a do filme, na modesta opinião de quem conhece muito pouco de pop internacional. Comparações entre John Cusack e Guilherme Weber são inevitáveis, mas duram apenas os primeiros cinco minutos. Weber é excelente ator, com um carisma incrível e interpreta fantasticamente Fleming. O livro é em primeira pessoa e assim também é a peça. Weber passa quase três horas em cena, sem deixar cair o ritmo. O elenco todo, aliás, está impecável, em atuações ágeis e cheias de personalidade.

O título da peça é uma alusão (também presente no livro de Hornby) a Macbeth, de William Shakespeare:

A vida é só uma sombra; um mau ator
que grita e se debate pelo palco,
depois é esquecido; é uma história
que conta o idiota, toda som e fúria
sem querer dizer nada.

A cenografia é inovadora, fazendo uso de um telão à frente dos atores, em que são projetados trechos de clipes e de algumas letras mencionadas, além, é claro, das listas de Fleming. O cenário por trás dos personagens representa vários dos ambientes da história e a criatividade dos atores ilustra outras tantas situações.

A vida é cheia de som e fúria é uma adaptação fidelíssima do romance que retrata toda uma geração, perdida em meio da milhares de canções pop, sem saber a que veio, solitária em meio às multidões das metrópoles e sempre em busca de amores e amigos.

Uma montagem que está, definitivamente, entre as minhas cinco favoritas de todos os tempos.

A vida é cheia de som e fúria

  • CCBB Brasília
  • De 13 a 23 de outubro
  • De quarta-feira a domingo, às 20h
  • Ingressos: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia)
  • SCES Trecho 2 Conjunto 22 – Brasília-DF
  • Informações: (61) 3310- 7087
  • Montagem da Sutil Companhia de Teatro.

Para mais informações sobre a peça e a relação dos diversos prêmios que recebeu, visite o link da Companhia.