Fim dos Tempos

Ficha Técnica

  • Título original: The Happening
  • País de origem: EUA
  • Ano: 2008
  • Gênero: Drama
  • Duração: 91 minutos
  • Direção: M. Night Shyamalan
  • Roteiro: M. Night Shyamalan
  • Elenco: Mark Wahlberg, Zooey Deschanel, John Leguizamo, Ashlyn Sanchez e Betty Buckley.
  • Sinopse: estranhas mortes ocorrem em várias das principais cidades dos Estados Unidos. Elas desafiam a razão e chocam pelo inusitado. O professor Elliot Moore (Mark Wahlberg), sua esposa Alma (Zooey Deschanel), o amigo Julian (John Leguizamo) e sua filha Jess (Ashlyn Sanchez) resolvem partir em busca de um local mais seguro.

Comentários

Fim dos Tempos Lidar com as expectativas alheias é um incômodo e pode chegar a ser uma tortura. Ná é à toa que tem gente que prefere mantê-las baixas.

Um estudante que começa o semestre fazendo uma colocação medíocre, por exemplo, não cria grandes expectativas acerca de sua inteligência. Se sua próxima participação for muito boa, terá superado as expectativas. Se for ruim, não chegará a frustrar ninguém.

Por outro lado, um aluno que faz uma observação brilhante conquistará o respeito do professor (e, provavelmente, o despeito dos colegas). Se sua próxima intervenção for estúpida, decepcionará; se for tão brilhante quanto a primeira, atenderá às expectativas – mas quantas vezes conseguirá fazê-lo? Aos poucos, começará a sentir a pressão do padrão que ele próprio criou. Se nunca mais abrir a boca em classe, bem, esta também é uma forma de frustrar expectativas.

M. Night Shyamalan é esse aluno que começou brilhantemente e não conseguiu manter o nível.

O indiano já tinha algumas produções no currículo, mas era desconhecido do grande público até O Sexto Sentido, que fez enorme sucesso. Naturalmente, alçou as expectativas em torno dele às alturas a partir de então. Seu filme seguinte, Corpo Fechado, não foi excepcional como O Sexto Sentido, mas não chegou a frustrar a maior parte da audiência, que continuou esperando o melhor de Shyamalan.

Aí, veio Sinais, e foi o início da desilusão para alguns. O filme dividiu opiniões (estou no grupo que gosta de Sinais) e lançou dúvidas: será que o tal Shyamalan é mesmo aquilo tudo? Ou deu “sorte de principiante” em O Sexto Sentido?

A Vila foi, para dizer pouco, fraco. Revelou-se um verdadeiro fiasco de crítica e de público. A Dama Na Água suscitou opiniões tão negativas que muita gente – inclusive eu – nem teve ânimo de ir ao cinema para tirar a prova.

Fim dos Tempos, a mais nova obra de Shyamalan, também tem sido alvo de bombardeios de todos os lados. Desta vez, no entanto, assisti ao filme e acredito que várias críticas ao filme são injustas.

Não que Fim dos Tempos seja um filme fantástico – não é, nem de longe. Talvez o título original, The Happening, fosse menos impactante, gerando menos expectativas. Seria melhor que tivesse sido mantido, para evitar que se esperasse mais da produção do que ela oferece.

Por outro lado, o filme cumpre o papel de divertir a platéia. O enredo é interessante e, embora não haja sustos – eu, que pulo da cadeira por qualquer coisa, só me assustei uma vez -, há suspense suficiente para manter o público ligado na história.

O problema é que as pessoas vão assistir aos filmes de Shyamalan esperando novos O Sexto Sentido. O cara fez um grande filme e todos esperam que ele faça vários outros tão espetaculares quanto. Acontece que O Sexto Sentido está fora da curva das produções de suspense em geral, e das produções de Shyamalan em particular; não deveria servir de parâmetro para julgar seus trabalhos seguintes.

Se Fim dos Tempos for avaliado por si, pode-se ver o filme como realmente é: uma história que diverte, contada num bom ritmo, sem grandes destaques. Medíocre, sim, mas não ruim. De quebra, traz a moral da moda: se não cuidarmos bem da natureza, ela não cuidará bem de nós.

Se quiser ver um filme bastante razoável, assista a Fim dos Tempos (pode esperar o lançamento em dvd – é daqueles filmes que não perdem nada na tv). Se, por outro lado, você espera uma obra-prima, é melhor nem passar perto.

Cotação: 3 estrelas

Curiosidades

Fim dos Tempos foi filmado em apenas 44 dias.

John Leguizamo já participou de vários seriados. Seu papel mais conhecido foi em E.R. (Plantão Médico), como o Dr. Victor Clemente, na décima-segunda temporada da série eterna (dizem que a décima-quinta, com início em setembro de 2008, será a última).

Mark Wahlberg, por sua vez, não costuma mostrar a cara em séries, mas está na produção de Em Terapia, seriado que vai ao ar pela HBO no Brasil. Dizem que é ótimo.

Além da Tela

Fim dos Tempos apresenta, logo no início, uma frase atribuída a Albert Einstein:

Se as abelhas desaparecerem da superfície da Terra, a humanidade pode não ter mais de 4 anos de vida.

Em seguida, o professor Elliot comenta com sua classe sobre o misterioso desaparecimento das abelhas nos Estados Unidos.

Embora não haja comprovação de que Einstein tenha dito essa frase algum dia, o mistério do desaparecimento das abelhas é real. Em 2007, a National Geographic publicou matéria em que mencionava o desaparecimento de inúmeros enxames do território norte-americano – alguns relatos afirmam que 90% deles deixaram de existir. Nem os cadáveres são encontrados – as abelhas simplesmente somem. Um belo dia, saem para fazer seu trabalho e não retornam à colméia, como aquele cara que foi comprar cigarros e nunca mais voltou.

Ainda não se estabeleceu a causa para o sumiço das abelhas: aquecimento global, poluição e doença são algumas das hipóteses, mas não há certezas.

Já há relatos de desaparecimento em larga escala das abelhas em países da Europa.

Serviço

Outros filmes citados

Apenas Uma Vez

Ficha Técnica

  • Título original: Once
  • País de origem: Irlanda
  • Ano: 2006
  • Gênero: Musical
  • Duração: 85 minutos
  • Direção: John Carney
  • Roteiro: John Carney
  • Elenco: Glen Hansard, Markéta Inglová, Hugh Walsh, Geoff Minogue, Bill Hodnett, Danuse Ktrestova, Mal Whyte, Niall Cleary, Gerard Hendrick, Alastair Foley.
  • Sinopse: Dublin, Irlanda. Um músico de rua (Glen Hansard) irlandês encontra, por acaso, uma jovem mãe (Markéta Inglová) tcheca, vendedora ambulante, nascendo um forte relacionamento entre eles.

Comentários

Apenas Uma Vez Embora Apenas Uma Vez seja “oficialmente” classificado como um drama, vá à sessão (ou alugue o dvd) sabendo que verá um musical. Sim, é bom avisar logo – há gente que simplemente odeia o gênero. Eu gosto muito, e Apenas Uma Vez ajuda mesmo os não-apreciadores por ser daqueles musicais mais realistas – a história se desenvolve em torno da e graças à música, mas os protagonistas não “conversam cantando”, como sói acontecer.

As canções são pop e muito bonitas – tanto assim que levou o Oscar 2008 de Melhor Canção Original por Falling Slowly (composta pelo casal protagonista). Nenhuma surpresa. O que realmente me surpreende é que Apenas Uma Vez tenha ganhado o prêmio do público de melhor filme dramático no Festival de Sundance. Once é um bom filme, sim, mas não tem nada de original, não é nenhuma Pequena Miss Sunshine. Será que não havia nenhum filme independente mais interessante este ano? Ou o charme é filmar com uma câmera de mão e pronto, o prêmio está no papo? Deixe-me explicar minha bronca, antes que venham as pedras. Apenas Uma Vez é legal, mas se resume a uma colagem de alguns excelentes filmes: Rent[bb] (a boemia, as dificuldades financeiras), Letra e Música[bb] (o par romântico se junta graças à música e estabelece uma parceria em torno dela) e Antes do Amanhecer[bb] (o encontro inesperado e o forte laço criado rapidamente). Por melhor que a colagem fique, a pergunta que não quer calar é: para que fazer um filme que apenas repete outros?

As belas vozes do casal Glen Hansard e Markéta Inglová são, realmente, o melhor do filme. Os dois estão em perfeita sintonia e é um prazer ouvi-los cantar. Diga-se de passagem que é uma pena não haver mais espaço para Markéta – a voz da moça é belíssima, redonda, cheia, tocante. O solo ao piano, já próximo do fim do filme, é a cena mais emocionante.

Cotação: 3 estrelas

Curiosidades

O protagonista Glen Hansard é cantor, violonista e compositor. Integra a banda The Frames e lançou seu primeiro álbum, The Swell Season, em 2006, projeto no qual a multi-instrumentista, compositora e cantora Markéta Inglová também participou.

Glen e Markéta começaram a namorar durante as filmagens de Once que, aliás, duraram apenas 17 dias.

Serviço

Outros filmes citados:

Onde os Fracos Não Têm Vez

Ficha Técnica

  • Título original: No Country for Old Men
  • País de origem: EUA
  • Ano: 2007
  • Gênero: Suspense
  • Duração: 122 minutos
  • Direção: Ethan Coen e Joel Coen
  • Roteiro: Ethan Coen e Joel Coen, baseado em livro de Cormac McCarthy[bb].
  • Elenco: Tommy Lee Jones, Javier Bardem, Josh Brolin, Woody Harrelson, Kelly Macdonald.
  • Sinopse: um caçador (Josh Brolin) pega uma valise cheia de dinheiro após encontrá-la com um traficante de drogas abandonado no deserto. Um assassino psicótico (Javier Bardem) parte em seu encalço e, por sua vez, é seguido pelo xerife local (Tommy Lee Jones).

Comentários

Onde os Fracos Não Têm Vez Sou a primeira a defender que filmes não precisam e não devem ser mastigadinhos e que pontos de interrogação tornam os roteiros mais interessantes, mas Onde os Fracos Não Têm Vez[bb] exagera. Você sai do cinema com a nítida sensação de que pegou o bonde andando, sentou na janelinha e foi jogado pra fora antes do ponto.

Pegar o bonde andando não foi nada, já que é fácil acompanhar o trajeto. Ruim mesmo foi, depois de 2 horas, olhar para a telona com cara de “acabou mesmo?”, como o restante do cinema. Embora a cena final não tivesse nada de engraçada, o corte foi tão abrupto que uma parte da platéia soltou risadinhas nervosas.

Inegavelmente, o filme é muito bem realizado. As locações, as interpretações e os diálogos passam perfeitamente o clima de tensão, perseguição e luta pela sobrevivência. A direção dos irmãos Coen é excelente. O encadeamento de cenas é ótimo e os diálogos enriquecem o filme. Mesmo assim, falta alguma coisa – algo como uns 20 minutos a mais.

Motociclistas (não confunda com motoqueiros ou motoboys) costumam dizer que o importante, numa viagem, não é a chegada, mas o trajeto. Onde os Fracos Não Têm Vez apóia-se nessa premissa, acreditando que o fundamental é a caçada. Só que quando você vai ao cinema, naturalmente espera um desfecho para 2 horas de projeção. Mesmo que seja um desfecho aberto (por contraditório que seja), daqueles que oferecem múltiplas interpretações e tornam o filme mais interessante justamente por isso. Onde os Fracos Não Têm Vez não se dá nem a esse trabalho – está mais para Você Decide que para Vanilla Sky[bb].

Onde os Fracos Não Tem Vez é o recordista de indicações ao Oscar 2008: concorre às estatuetas de melhor filme, melhor direção, melhor ator coadjuvante (Javier Bardem), melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor som, melhor edição de som e melhor edição. A fotografia e o som, realmente, são excelentes. A interpretação de Javier Bardem é impecável, muito superior ao que mostrou no recente O Amor nos Tempos do Cólera. Diga-se de passagem, aliás, que Tommy Lee Jones e Josh Brolin também estão excepcionais, completando magnificamente o trio que se reveza nos papéis de caça e caçador.

Agora, melhor filme de 2008? Vamos lá, Academia: não queira ser mais realista que o rei ou, em termos cinéfilos, mais cult que os cults.

P.S.: este texto foi agendado. Você, que está lendo agora, já assistiu ao Oscar e sabe se Onde os Fracos Não Têm Vez levou ou não. Aproveite e conte o que achou da premiação.

Cotação: 3 estrelas

Serviço

Juno

Ficha Técnica

  • Título original: Juno
  • País de origem: EUA
  • Ano: 2007
  • Gênero: Comédia
  • Duração: 92 minutos
  • Direção: Jason Reitman, que também dirigiu Obrigado por Fumar.
  • Roteiro: Diablo Cody
  • Elenco: Ellen Page, Michael Cera, Jennifer Garner, Jason Bateman, Allison Janney, J.K. Simmons.
  • Sinopse: Juno, uma jovem de 16 anos, engravida sem querer e procura casal que queira adotar o bebê.

Comentários

Juno Juno é uma dramédia, como convencionou-se chamar histórias que misturam drama e humor em doses tão semelhantes que se torna difícil classificá-las em um ou outro gênero. Juno faz essa mistura muito bem, valendo-se de cenas ágeis e de uma protagonista muito talentosa, a canadense Ellen Page.

A forma como o filme lida com a gravidez na adolescência também é ótima. Também não há longas e tediosas lições de moral sobre a falta de cuidado dos adolescentes, o sexo irresponsável e sem compromisso, o perigo da transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, os males da gravidez na adolescência. Juno não enche a paciência do espectador.

A discussão sobre o aborto tangencia a história, mas não há tomada de posição contrária ou favorável. Juno faz sua escolha e segue em frente. Ótimo. Discussões sobre o tema costumam vir encharcadas de preconceitos (no sentido literal mesmo, conceitos preexistentes) e dificilmente levam a algum lugar. Sou partidária do “cada um na sua”, e o filme segue essa linha.

O que me incomodou, especialmente na reta final, foi a romantização, a água-com-açúcar transbordante e melada. Juno desenvolve uma ótima e realista trama, para derrapar no final e sucumbir à pieguice desmedida. É o velho “nadou tanto e morreu na praia”. Seria um melhor filme se evitasse os clichês sobre o amor com a mesma maestria com que evita julgamentos. Do jeito como ficou, Juno é um filme bonitinho, mas falta-lhe um algo mais.

Juno concorre ao Oscar 2008 em 4 categorias: melhor filme, melhor direção, melhor roteiro original e melhor atriz. Não é para tanto: Juno é um filme fácil; não tem a complexidade de Desejo e Reparação, por exemplo, e não demanda uma direção primorosa. Por outro lado, o roteiro é a alma do filme e a interpretação é seu sopro de vida – sem dúvida, Ellen Page e Diablo Cody mereceram as indicações.

Cotação: 3 estrelas

Serviço