Minimalismo versus Felicidade

Dia desses, a Sra. Monte sugeriu: “por que você não transforma o quarto de hóspedes num quarto de vestir, com armários pra suas roupas e tal?”. Minha resposta foi automática: “por que eu não preciso”.

O quarto de hóspedes ainda não está mobiliado. Ele receberá um armário, um dia, mas será mesmo apenas para os hóspedes. Tudo que tenho cabe no armário do meu quarto (que tem três portas e 2,30m. de comprimento). Inclusive as roupas de cama e banho estão lá, e ainda tenho três prateleiras grandes vazias dentro dele.

Eu realmente não preciso de mais roupas. Quase 200 peças é mais que suficiente pra mim (e não é para qualquer um?), como tenho comprovado desde 2010. Mas mesmo assim…

Parte da minha antiga coleção de cds. A felicidade não estava aqui.
Parte da minha antiga coleção de 400 cds (hoje, são menos de 100). A felicidade não estava aqui.

Sabe, essa coisa de minimalismo não é fácil. Não acordei um dia e falei “olha que legal, vou ser minimalista!”. Até hoje, aliás, não me fiz claramente essa afirmação, embora cada vez mais a minha visão e o meu comportamento me guiem nessa direção.

Mas não é fácil. Toda semana (às vezes, mais de uma vez por semana) eu me pego pensando “preciso comprar tal coisa” ou “bem que eu poderia trocar isso”. Na maioria das vezes, afasto rapidamente o pensamento, porque né, “ano sem compras” e tal. Quando a ideia volta, anoto numa lista de coisas a comprar a partir de 2013 (como comentei no texto de fevereiro sobre o Ano Sem Comprar). Alguns itens são realmente necessários, como uma sapatilha preta nova; outros são supérfluos mas me alegrariam muito, como um novo jogo de jantar.

Essa semana, peguei-me em outra linha de pensamento. E se eu fizesse o tal quarto de vestir? E se eu colocasse três paredes de armários e tivesse espaço para centenas de novas roupas? E se?

E se eu desistisse dessa coisa de reduzir, de consumir racionalmente, e se eu voltasse a comprar como fazia em 2008, 2009? E se?

Sei exatamente o que provocou esses pensamentos: uma reportagem antiga sobre o closet da Stacy London (a apresentadora do Esquadrão da Moda) em que ela mostra os 300 pares de sapatos, as duas araras de calças jeans etc. etc. etc. Aí, lembrei-me dos guarda-roupas enormes que a Revista TPM mostrou. E começou esse monte de “e se” na minha cabeça.

“E se” o quê, cara pálida? Se eu tivesse trocentas e sessenta peças de roupa, o que aconteceria? Talvez:

…eu fosse mais antenada.

…eu fosse mais fashion.

…eu fosse mais admirada.

Talvez. Mas… eu seria mais feliz?

Seria?

Passei um tempo tentando responder essa pergunta – a única, na verdade, que importa.

Ter um baita closet recheado de roupas lindas me faria mais feliz?

A mídia, a indústria da moda, as lojas de varejo, as revistas fazem acreditar que sim, roupas trazem felicidade. Você não vê nenhuma moça carrancuda ao exibir suas centenas de pares de sapatos. Ninguém sai triste de uma loja após comprar um vestido novo. Os shoppings são ambientes de música animada, cores brilhantes, luzes e felicidade.

São mesmo?

Quanto tempo essa felicidade dura?

Eu seria mais feliz com um guarda-roupas lotado?

Finalmente respondi:

Não, não seria mais feliz.

Teria alguns picos de felicidade, certamente, mas não seria mais feliz.

Para chegar a essa conclusão, olhei para as minhas próprias experiências.

Não fui mais feliz quanto tive um IMC indicativo de subnutrição do que sou hoje, com um IMC dito saudável.

Não sou mais feliz por ter 66 livros não lidos do que era quando tinha apenas dois ou três me aguardando (se algo, sou mais ansiosa).

Não sou mais feliz com meus 30 casacos/blazers/o-diabo do que era quando tinha a metade disso.

Não sou mais feliz com minha coleção de maquiagem que demorará uma vida para terminar do que era quando tinha a metade disso.

A maquiagem, aliás, é um bom exemplo.

Maquiagem arrumada na penteadeira nova
As gavetas de maquiagem. A felicidade também não está aqui.

Quando eu não conseguia fazer as maquiagens que queria porque não tinha os pincéis apropriados, ou os produtos necessários… não é que eu fosse infeliz, mas eu realmente queria aquelas coisas. Quando percebi que tinha o necessário pra fazer maquiagens bacanas e diversificadas, fiquei muito contente. Mas aí é que está: bastou-me uma certa quantidade para passar do desejo ao contentamento. O resto é supérfluo, dispensável. O segundo iluminador, o segundo e o terceiro primer, as várias paletas de sombras não aumentaram a minha felicidade no quesito “maquiagem”.

Então, posso dizer com um bom grau de certeza que eu não seria mais feliz tendo mais roupas do que tenho.

Tenho tudo o que preciso, tenho mais do que preciso. Eu seria infeliz se tivesse apenas duas ou três mudas de roupa, sem dúvida. Ou cinco, ou até dez. Mas tenho várias, tenho mais que o suficiente. Sou feliz com o que tenho. Acrescentar novos itens não aumentará minha felicidade do quesito “roupas”.

Não que as pessoas que têm 600, 800 ou 1.000 roupas sejam infelizes. Não é isso o que estou dizendo.

Talvez elas sejam felicíssimas, talvez não. Talvez elas fossem felizes com uma fração do que têm, talvez não. Talvez elas comprem para preencher um vazio, talvez comprem porque têm uma profissão que exija um comprometimento grande com a moda, talvez comprem só por prazer. Talvez estejam endividadas e deixem de fazer outras coisas que lhes dariam mais felicidade que as roupas. Talvez não.

O que as outras pessoas pensam ou sentem (sobre elas ou sobre o meu armário) não é importante para determinar o meu grau de felicidade com minhas roupas. O que a mídia, as revistas e as lojas vendem não importa. É isso que é tão difícil entender, e seguir. O sentimento de contentamento, de satisfação, de felicidade é algo interno, profundamente subjetivo. Independe do que os outros pensem, digam ou vendam.

Esse olhar para dentro quando tudo me chama a olhar para fora, para as cores, os brilhos e as novidades, esse movimento reflexivo não é fácil, não vem espontaneamente, não acontece num estalo. Por outro lado, pode desaparecer num passe de mágica, naquele segundo em que começo a acreditar que aumentar as minhas coisas necessariamente aumentará a minha felicidade. É dessa crença que o consumismo se alimenta. É essa crença que a publicidade prega. É essa crença que leva muita gente a pensar que a roupa comprada há duas estações já não presta porque está “datada”.

O “pulo do gato” do minimalismo está em deixar de olhar para o exterior; voltar os olhos para dentro; e perguntar, como naquela propaganda: o que faz você feliz?

O que faz você feliz?
O que faz você feliz?

FlyLady

Link: FlyLady

Em resumo, FlyLady é um método de organização e limpeza da casa. Há anos ouço falar, mas nunca tive vontade de segui-lo. A uma, porque achava mais fácil não ter rotina; a duas, porque imaginava que o sistema FlyLady era muito engessado.

Bem, numa primeira olhada, é engessado mesmo. Há regrinhas, listas, um cronograma de organização semana a semana etc. e tal. Só que a grande maravilha é que você pode adaptar tudo isso segundo as suas necessidades e interesses. Pode pinçar só uma dica ou outra, em vez de pegar o pacote completo.

Quanto a ser mais fácil manter a limpeza da casa sem uma rotina… não, não é. Isso até funcionava no meu quarto-e-sala de 30 metros quadrados, mas agora, num apartamento com mais que o dobro disso, comecei a me sentir sobrecarregada, como se fosse impossível manter a casa limpa sozinha (não tenho faxineira há um ano e meio e pretendo continuar assim).

No apartamento antigo, eu simplesmente resolvia “vou limpar a casa agora”. Em duas horas, estava tudo pronto. Na casa atual, isso é impossível, e começou a parecer que só usando um dia inteiro eu conseguiria limpar tudo. E quem tem um dia inteiro para usar? Quem quer passar o sábado fazendo faxina? Eu é que não.

Aí é que entra o método FlyLady, com o fracionamento da casa em zonas, uma rotina diária de manutenção básica e uma rotina semanal para cuidar dos detalhes cômodo a cômodo, ao longo do mês. Estou experimentando há três semanas e adorando. Fiquei mesmo fã.

Uma vez por semana, vou dar aqui algumas orientações baseadas na FlyLady – um misto das dicas do método com o meu próprio uso dele. Se quiser segui-las, você não precisa – nem deve – implementar tudo de uma vez. Vá escolhendo o que acha mais útil ou fácil, no seu próprio ritmo. Uma coisa que a FlyLady sempre repete: “baby steps”. Um passinho de cada vez. E transforme a limpeza da casa em algo divertido. 😉