Desde que mudei pra São Paulo, Sampa toca em loop infinito na minha cabeça. Esse deve ser um dos maiores clichês do recém-chegado à cidade, mas clichês se perpetuam por traduzirem verdades.
É que quando eu cheguei por aqui, eu nada entendi
da dura poesia concreta de tuas esquinas
(…) Ainda não havia para mim, Rita Lee
a tua mais completa tradução.
(…)
E foste um difícil começo, afasto o que não conheço
e quem vem de outro sonho feliz de cidade
aprende depressa a chamar-te realidade,
porque és o avesso do avesso do avesso do avesso.
Dentre as perguntas que habitualmente tenho ouvido, a que tem a resposta mais difícil e variável é “E aí, está gostando de São Paulo?”. Dependendo do dia, do tempo, do trabalho e do meu humor, responderei de um jeito diferente.
São Paulo não é uma cidade fácil. Se você não se cuidar, ela te engolirá viva.
São Paulo é cara, muito cara (nunca mais ousarei dizer que Brasília é cara).
São Paulo tem muitas sombras no caminho, quase sempre tem calçadas, tem gente andando pelas ruas noite e dia.
São Paulo tem um número doloroso de gente morando nessas mesmas ruas.
São Paulo é multicultural, cheia de opções e com um transporte público bastante decente (comparado com Brasília).
São Paulo não entedia.
São Paulo contém o mundo.
Eu, que sempre tive fascinação por São Paulo e passei vários feriados na cidade como turista, ainda estou tentando me encontrar como residente. Chega a ser uma surpresa pra quem me conhece – “ué, mas você não adorava viajar pra São Paulo?”.
É que existe uma diferença enorme entre passar férias e morar. É por isso que aquelas pessoas que se resolvem largar tudo e mudar pr’aquela praia em que passaram dez maravilhosos dias de férias frequentemente se arrependem.
No meu caso, não se trata de arrependimento. Até porque a mudança não foi causada por um deslumbramento momentâneo, mas por um trabalho permanente e do qual gosto. Mas é a tal história, a diferença entre passar férias e morar – ainda estou me adaptando.
Lembro de novo de Sampa. A canção, no fim das contas, é uma declaração de amor pela cidade. Um amor que não surgiu de uma hora pra outra, um amor que foi construído com o tempo e com a convivência. Esse é o melhor tipo de amor.
Alguma coisa acontece no meu coração…