Dreamgirls – Em Busca de um Sonho

Ficha Técnica

Dreamgirls. EUA, 2006. Musical. 131 minutos. Direção: Bill Condon. Com Jamie Foxx, Beyoncé Knowles, Eddie Murphy, Danny Glover, Jennifer Hudson, Anika Noni Rose.

Detroit, década de 60. Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx) é um vendedor de carros, que sonha em deixar seu nome marcado no mundo da música. Ele deseja abrir sua própria gravadora, mas ainda não tem o formato e o produto certo para vender ao público. Curtis encontra o que procura ao conhecer o grupo The Dreamettes, formado pelas cantoras Deena Jones (Beyoncé Knowles), Lorrell Robinson (Anika Noni Rose) e Effie White (Jennifer Hudson). Elas se apresentam em um show de talentos local, usando perucas baratas e vestidos feitos em casa. Suas vidas mudam quando Curtis, já seu agente, consegue que elas façam o backup do show de James “Thunder” Early (Eddie Murphy), o pioneiro de um novo som em Detroit. Posteriormente o grupo alça vôo solo, mudando de nome para The Dreams. Porém Curtis sabe que para alcançar o sucesso o grupo precisará apostar na beleza provocante e tímida de Deena, mesmo que tenha que deixar de lado a voz potente de Effie.

Mais informações: Adoro Cinema.

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3,5 estrelas

Dreamgirls é baseado em musical da Broadway que, por sua vez, inspirou-se na história real de Diana Ross e as Supremes. O grupo, inicialmente chamado “The Primettes”, era liderado por Florence Ballard, mas Diana Ross acabou tomando seu lugar graças ao corpo mais atraente, embora sua habilidade vocal fosse inferior.

O pano histórico é um dos elementos mais interessantes em Dreamgirls: nos Estados Unidos do fim dos anos 50, a discriminação racial estava no auge, os conflitos eram constantes e cada vez mais violentos. Tudo que vinha dos negros era recusado; as músicas, de excelente qualidade, eram ignoradas enquanto não aparecesse um branco para gravá-las e embolsar o dinheiro – Elvis Presley foi mestre nessa “arte”.

Ao longo do filme, pode-se notar a leve revisão de padrões acontecida na época, especialmente após o célebre discurso “Eu tenho um sonho”, de Martin Luther King. Paulatinamente, a influência negra na música passou a ser reconhecida, aceita e valorizada, o que se reflete no sucesso gradual das cantoras que forma as “Dreamgirls”. Verdade seja dita, porém, que foi necessário certo “branqueamento” para que as cantoras realmente chegassem ao estrelato.

A surpresa do filme é Eddie Murphy, que canta, dança e interpreta (só faltou apresentar programa infantil) muito bem, num papel dramático que lhe valeu sua primeira indicação ao Oscar, como ator coadjuvante. Aliás, Dreamgirls concorreu a oito estatuetas, três delas por melhor canção original, e levou apenas duas: melhor som e melhor atriz coadjuvante, para Jennifer Hudson.

Jennifer, a propósito, é um show à parte. Rejeitada sem motivo convincente na terceira edição de American Idol, a cantora deu a volta por cima, mostrando toda a sua competência também como atriz dramática. Seu vozeirão é de fazer cair o queixo. Jennifer Hudson é motivo suficiente para assistir ao filme.

Dreamgirls é um bom filme e agradará aos fãs de musicais. Quem não gosta, no entanto, mantenha distância. As músicas são longas (belas, mas longas), há diálogos cantados passíveis de irritar os não-fãs do gênero e a história torna-se demasiadamente arrastada em alguns momentos. Chicago, do mesmo roteirista (Bill Condon, que também dirigiu Dreamgirls), é um filme muito mais envolvente.

Babel

Ficha Técnica

Babel. EUA, 2006. Drama. 142 minutos. Direção: Alejandro González-Iñárritu. Com Cate Blanchett, Brad Pitt, Gael García Bernal, Adriana Barraza, Rinko Kikuchi.

Um ônibus repleto de turistas atravessa uma região montanhosa do Marrocos. Entre os viajantes estão Richard (Brad Pitt) e Susan (Cate Blanchett), um casal de americanos. Ali perto os meninos Ahmed (Said Tarchani) e Youssef (Boubker At El Caid) manejam um rifle que seu pai lhes deu para proteger a pequena criação de cabras da família. Um tiro atinge o ônibus, ferindo Susan. A partir daí o filme mostra como este fato afeta a vida de pessoas em vários pontos diferentes do mundo: nos Estados Unidos, onde Richard e Susan deixaram seus filhos aos cuidados da babá mexicana; no Japão, onde um homem (Kôji Yakusho) tenta superar a morte trágica de sua mulher e ajudar a filha surda (Rinko Kinkuchi) a aceitar a perda; no México, para onde a babá (Adriana Barraza) acaba levando as crianças; e ali mesmo, no Marrocos, onde a polícia passa a procurar suspeitos de um ato terrorista.

Mais informações: Adoro Cinema.

Comentários

3,5 estrelas

Babel é aquele tipo de filme que parece ter virado moda nos últimos tempos: várias tramas interligadas, num vaivém. A fórmula não é nova (o exemplo mais recente e bem-sucedido é Crash), mas é bem explorada pelo diretor Alejandro Iñárritu, ao contar quatro histórias tão interessantes que não se a passagem das quase duas horas e meia de exibição. Aliás, Babel encerra a trilogia do diretor, iniciada com Amores Brutos e dada seqüência em 21 gramas, cujo propósito era contar, de modo descontinuado, histórias interligadas.

Um dos pontos altos do filme é o elenco, tanto assim que duas atrizes foram indicadas ao Oscar de melhor coadjuvante: Adriana Barraza, que fez a babá mexicana Amelia, e Rinko Kinkuchi, no excelente e difícil papel da surda-muda Chieko. A melhor coisa de Babel, no entanto, é a trilha sonora, tão marcante e bem conduzida que se torna um personagem imprescindível. A trilha sonora é responsável por criar alguns dos mais tensos do filme, fazendo o espectador prender a respiração e mergulhar na história. Seu criador, Gustavo Santaolalla, foi merecidamente agraciado com o Oscar pelo belo trabalho – o único que Babel levou (badaladíssimo, concorreu a sete estatuetas), e o segundo da carreira de Santaolalla (o primeiro foi ano passado, pela trilha sonora de O Segredo de Brokeback Mountain).

Babel aborda duas faces de uma moeda: o estrangeirismo, o sentimento de estar deslocado, ilhado, desconectado dos demais seres humanos; e o preconceito contra o estrangeiro, o diferente, o inesperado. Para passar essa idéia, o diretor vale-se de estereótipos: a juventude rebelde japonesa, a família perfeita norte-americana, a mexicana clandestina, a constante ameaça terrorista muçulmana.

Esse uso de estereótipos trunca a mensagem do filme e deixa o espectador na dúvida: o que o diretor pretende, afinal? Reforçar preconceitos por meio de clichês, ou refutá-los? Tende-se a acreditar nas boas intenções do cineasta, daí muitos espectadores apostarem na primeira opção. Uma análise mais fria, entretanto, revela o contrário: Babel é tão preconceituoso quanto parece e os únicos personagens verdadeiramente altruístas – o guia turístico e a velha que ajudam a mulher norte-americana baleada e seu marido – funcionam como a exceção que confirma a regra.

Talvez Babel seja um espelho da sociedade, com seus falsos julgamentos e valores deturpados; não passa, contudo, de uma superfície reflexiva inerte. Qualquer crítica que se faça ao status quo parte do espectador, não do filme, que limita-se a contar uma história dramática sem tecer juízo de valor. Poderia ser uma história mais rica e relevante se o fizesse.

Campanha da Fraternidade e Ecologia

Todos os anos, na quarta-feira de cinzas, a Igreja Católica lança a Campanha da Fraternidade (CF), que vigora durante os quarenta dias que antecedem a Páscoa. Acima de qualquer doutrinação, a CF procura despertar a sociedade civil para problemas comuns a todos os seus membros. A proposta é gerar o debate, sensibilizar e buscar soluções para questões que ultrapassam qualquer denominação religiosa.

Freqüentemente, o tema escolhido liga-se a algum grupo social marginalizado. Idosos, deficientes, índios e desempregados, por exemplo, já estiveram no foco da Campanha. Em 2007, fugindo a essa regra, o assunto é a Amazônia.

Não é a primeira vez que a CF aborda uma questão ecológica: em 2004, o tema foi “Fraternidade e Água”, revelando-se a preocupação com a poluição e com a má distribuição dos recursos hídricos. O pioneirismo da Campanha da Fraternidade 2007 está em tratar um tema localizado geograficamente (embora de interesse nacional e mesmo mundial).

A abordagem integra as preocupações ambientais e sociais. De um lado, tem-se o cuidado com os indíos, caboclos e ribeirinhos, com a preservação do seu espaço, dos seus hábitos e dos seus meios de subsistência; de outro, a questão climática – apesar do consenso de que a Amazônia não é o “pulmão do mundo”, sabe-se que um desequilíbrio em seu complexo ecossistema implica na perda de riquezas naturais inestimáveis e as constantes queimadas na região são responsáveis por grande parte das emissões de gás carbônico do Brasil, incrementando o aquecimento global.

Presente se faz, também, a preocupação com o braço da globalização avançando gananciosamente em direção aos recursos amazônicos que, se são patrimônio mundial, são, antes de mais nada, patrimônio do Brasil. Cabe, então, ao povo brasileiro agir para a preservação da Amazônia e para a proteção de seus povos, pressionando as autoridades para que implementem medidas de desenvolvimento sustentável, patrulhamento, combate ao desmatamento e à evasão de recursos naturais e melhoria dos índices de desenvolvimento humano da população amazônica.

Cartaz da Campanha da Fraternidade 2007Dos vários textos lançados todos os anos para a divulgação da Campanha da Fraternidade, tradicionalmente um deles traz os elementos principais que embasam e justificam a escolha do tema: a explicação do cartaz escolhido para ilustrar a CF (foto ao lado). Dada a clareza do texto, transcrevo-o abaixo.

Explicação do Cartaz da CF 2007

“Na parte superior do Cartaz, a terra seca e rachada representa a realidade de algumas partes da Amazônia durante a estiagem e adverte que, sem o devido cuidado, toda a região pode ser destruída.

A abundante presença da água lembra que a Amazônia é uma importante reserva de água doce no planeta, além de transmitir uma sensação de transparência, força e vitalidade.

O elemento principal do Cartaz é a vitória-régia, conhecida pelos índios como “panela de espíritos”. Considerada um dos símbolos da Amazônia, essa planta é forte e tem raízes profundas que tocam o leito do rio; ao mesmo tempo, é sensível, assim como o povo nativo da região, que sobrevive com muita garra, mas precisa do apoio fraterno de toda a sociedade brasileira.

As três flores brancas e amarelas têm extrema relevância no Cartaz, uma vez que representam a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Essas flores lembram que a Amazônia é obra de Deus Criador e Providente entregue aos nossos cuidados.

A criança representa os índios e toda a comunidade da região, suas crenças, sonhos e esperanças. Seu olhar inocente e o sorriso sutil são um convite à superação das dificuldades e à construção de um futuro melhor para a Amazônia.

Ao mostrar o contraste entre a terra seca e a exuberância da água, o Cartaz chama a atenção para a devastação da Amazônia e o descaso com a vida. Representa a esperança de encontrar uma solução para os conflitos da região com base na solidariedade e no respeito às diferenças.”

Referência

Oscar 2007

Chegará o ano em que a festa do Oscar será uma minissérie em quatro ou cinco capítulos, televisionada ao longo da semana. A 79ª edição da premiação atingiu a impressionante duração de quatro horas e vinte minutos – sem contar a tansmissão da passagem das celebridades pelo tapete vermelho. Quem aguenta? Eu aguentei, mas a duras penas. A Academia premiou alguns dos meus filmes favoritos, o que compensou o esforço. Vamos aos destaques.

Babel, um dos filmes mais badalados do ano, com sete indicações, levou apenas o Oscar de melhor trilha sonora. Merecidíssimo, sem dúvida, porque se trata daquele tipo de filme em que a trilha é personagem principal, respondendo por momentos de forte apelo.

Dreamgirls, o recordista de indicações (oito, três delas na categoria de melhor canção original) saiu com somente dois prêmios: melhor atriz coadjuvante (a excelente cantora e boa atriz Jennifer Hudson, gongada na terceira temporada de American Idol, aparentemente sem motivo) e melhor mixagem de som. Não merecia nem mais, nem menos. É um bom musical, mas não se justifica todo o barulho feito em torno dele.

A estatueta de melhor canção original foi, surpreendentemente (mas com mérito), para I need to wake up, de Melissa Etheridge, feita para a seqüência final de Uma Verdade Inconveniente. A belíssima canção pode ser ouvida no youtube.

Aliás, o filme de Al Gore sobre o aquecimento global levou, também, o Oscar de melhor documentário em longa-metragem, para minha felicidade. Quem sabe agora volte às telas dos cinemas brasileiros e, ainda, faça sucesso nas locadoras quando o dvd chegar por aqui.

Helen Mirren, absolutamente convincente no papel da Rainha Elizabeth II, confirmou o favoritismo e ganhou o prêmio de melhor atriz pelo filme A Rainha. Esbanjou elegância ao recebê-lo.

Sherry Lansing no tapete vermelho do Oscar 2007Falando em elegância, ela foi uma constante entre os que passaram pelo palco do Oscar. Destaque para os belos vestidos de Kate Winslet, Cate Blanchett e, especialmente, Sherry Lansing (foto à direita), homenageada com o prêmio de benemerência Jean Hersholt. Você pode ver as roupas das outras estrelas no site do Oscar.

O adorável Pequena Miss Sunshine levou para casa as premiações de melhor ator coadjuvante (Alan Arkin, no papel do avô viciado em heroína) e melhor roteiro original – nada mais justo diante de uma excelente história recusada por todas as grandes produtoras (ahá, bem-feito para elas!) e que só saiu do papel graças à perseverança de seu autor, Michael Arndt.

Piratas do Caribe – O Baú da Morte, divertidíssimo como o anterior e concorrente em quatro categorias, ganhou a estatueta de efeitos especiais graças à incrível fusão entre cenas reais e computação gráfica.

Para fechar a noite com chave de ouro, Martin Scorsese finalmente foi reconhecido com o Oscar de melhor diretor – e aplaudido de pé pelos colegas – pelo excelente Os Infiltrados, que também foi premiado como melhor filme do ano. Nada mais justo, embora, diga-se de passagem, seus demais concorrentes também estivessem à altura da estatueta.

Uma cerimônia de grandes filmes, algumas surpresas e premiações merecidas. Também excelentes as diversas montagens com cenas de filmes de todos os tempos, numa verdadeira viagem pela história do cinema, e belíssimas as encenações de imagens significativas dos principais concorrentes, feitas por bailarinos por trás de uma tela branca, num gracioso jogo de movimento, luz e sombra.

Só faltou ser menos cansativa. E não, desta vez não vou comentar sobre a péssima tradução simultânea de Rubens Ewald Filho.

Referências