Ficha Técnica
Brasil, 2007. Ação. 118 minutos. Direção: José Padilha. Com Wagner Moura, Caio Junqueira, André Ramiro, Milhem Cortaz, Fernanda de Freitas, Fernanda Machado, Fábio Lago.
1997. O dia-a-dia do grupo de policiais e de um capitão do BOPE (Wagner Moura), que quer deixar a corporação e tenta encontrar um substituto para sua função. Paralelamente dois amigos de infância se tornam policiais e se destacam pela honestidade e honra ao cumprir suas atribuições, se indignando com a corrupção existente no batalhão em que servem.
Mais informações: Adoro Cinema.
Comentários
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A pirataria não parece ter atrapalhado o desempenho de Tropa de Elite no cinema. Poucas vezes vi uma sala tão abarrotada e em nenhuma delas tratava-se de filme nacional. Se é verdade que o filme foi liberado pela própria podutora, a tática de marketing funcionou.
Sim, é um filme violento. Não, não é o banho de sangue que alguns críticos querem fazer crer. Tropa de Elite não é mais violento que Cães de Aluguel, Trainspotting ou Jogos Mortais. Evidentemente, ao contrário dos exemplos, não é uma história de ficção. José Padilha transpôs para o cinema o que acontece cotidianamente nos morros cariocas. Talvez essa proximidade com a realidade é que tenha agredido os mais puritanos.
Afinal, qual é a surpresa? Alguém ainda duvida que o Rio de Janeiro vive em estado de guerra? Alguém aí não sabe que os traficantes agem como um Estado dentro do Estado de direito, muito mais poderoso e articulado que este, impondo sua lei e sua ordem por meio da força?
“Só rico com consciência social é que não entende que guerra é guerra.”
As críticas que ando lendo sobre Tropa de Elite assustam-me mais que o próprio filme. Articulistas, teoricamente formadores de opinião, declararam-se chocados com a vibração da platéia diante das ações drásticas do Capitão Nascimento, o protagonista brilhantemente interpretado por Wagner Moura.
É necessário estar totalmente alheio à realidade – como não deveria estar um formador de opinião – para não chocar-se com o comportamento dos espectadores. A violência não é um fantasma. Também não é uma questão restrita ao Rio de Janeiro ou aos morros. Quase todo mundo tem uma história de terror para contar, protagonizada por algum criminoso e acontecida consigo ou com algum parente, amigo ou conhecido.
Ver num filme, a bandidagem ser punida, traz uma sensação de alívio e de justiça que quase não é possível no mundo real. É isso que a platéia aplaude. Nascimento não contemporiza, não negocia, não justifica. Simplesmente, age.
Não, o Cap. Nascimento não é um santo e Tropa de Elite não pretende canonizá-lo, bem como, ao contrário do que mal-intencionados espalharam, não faz apologia da tortura. O comportamento de Nascimento é criticado pelos seus pares e pela sua própria consciência, embora ele se aferre à idéia de que “os fins justificam os meios”.
“O curso do BOPE prepara os policiais para a guerra e não adianta me dizer que isso é desumano.
Enquanto os traficantes tiverem dinheiro pra se armar, a guerra continua.”
Será que, para extrair informações, restaria a Nascimento outra alternativa além da tortura? Lembre-se de que os torturados são traficantes, a pior laia de gente que pode existir. Seu idealismo é o dinheiro farto proporcionado pelas drogas. Armados até os dentes, não pensam duas vezes antes de matar barbaramente quem os desafia (ninguém mais se lembra de Tim Lopes?). Essa gente não tem escrúpulos e não hesita em eliminar quem se põe em seu caminho, encarando policiais como inimigos e pessoas comuns como peças de seu jogo de poder.
Não me venha com o discurso “eles não tiveram outra chance”. Acreditar nisso é assumir que todo pobre é bandido, o que está longe da verdade. Essa falácia, criada e propagada aos quatro cantos com intenções nem sempre samaritanas, serve apenas para aliviar a culpa das classes economicamente privilegiadas. O discurso torto “direitos humanos” que temos ouvido nas últimas décadas, e em que muita gente boa tem acreditado, transforma traficantes em vítimas e polícia em bandido. A hierarquia de valores anda completamente deturpada.
“Quantas crianças a gente tem que perder pro tráfico só pra um playboy enrolar um baseado?”
Tropa de Elite tem o grande mérito de bater em todo mundo. Nesse processo, não poupa as classes mais favorecidas e a imprensa. A hipocrisia do discurso social “pela paz” e “contra a violência” é desnudada várias e várias vezes, sem meias palavras. A visão torta que a elite tem do que é certo ou errado, permitido ou proibido, é confrontada.
É dito com todas as letras: quem fuma maconha ajuda traficante; quem enrola baseado financia a violência; quem cheira pó é culpado pela situação calamitosa a que chegou o Rio de Janeiro. Esse discurso enfático atinge boa parte dos espectadores do filme que, afinal, pertencem à classe privilegiada com poder aquisitivo para pagar uma entrada de cinema.
Não sei aí na sua cidade, mas aqui em Brasília maconha é tão acessível quanto cigarro, e quase tão consumida quanto. Por quem? Por secundaristas que vivem de mesada e universitários que se acham gente grande, pelos cidadãos-de-bem com carro na garagem e celular da moda. Pela mesma classe que fica furiosa quando tem o som do carro roubado.
“O sistema não trabalha para resolver os problemas da sociedade;
o sistema trabalha para resolver os problemas do sistema.”
Tropa de Elite também bate na polícia militar carioca, responsável pela criação do tal “sistema”. Corrupto e corruptor até a medula, o “sistema” é uma intrincada rede de propinas, subornos, adulteração de estatísticas, cumplicidade com criminosos. Ocupa os espaços que o Estado e o tráfico deixam para trás. Atua em causa própria, tendo como único fim a retroalimentação.
Infelizmente, não há ficção aqui. Os poucos casos de corrupção que chegam ao conhecimento da imprensa são uma pequena parte da podridão que assola a polícia militar carioca, mal-preparada, mal-remunerada e desvalorizada. Não que essa situação seja desculpa para suas ações – não é. Por outro lado, por que envonver-se numa troca de tiros se é mais fácil aceitar um suborninho?
Por que arriscar sua vida para matar um traficante se, além de tudo, você ainda será acusado de violentar os “direitos humanos”?
A situação de descalabro a que chegou a polícia militar carioca não é só culpa do governo; é culpa da inversão de valores na sociedade. Em última análise, é culpa de cada um de nós.
“O BOPE tem guerreiros que acreditam no Brasil.”
O BOPE – Batalhão de Operações Especiais – está fora do sistema. Se há algum heroísmo no filme, é este: um punhado de homens que se mantém fiel ao combate ao crime, sob risco de morte, em troca de um salário ínfimo e apesar das pressões da mídia. “Faca na caveira e nada na carteira”.
Para esse pequeno grupo altamente treinado, a corrupção é injustificável e a omissão é uma vergonha. Sim, nesse aspecto, o Capitão Nascimento é um herói. É aqui que se entende a reação da platéia. Nascimento, honesto e fiel aos seus princípios, lava a alma de cada brasileiro que já foi vítima da violência.
Se era a intenção de Padilha transformar Nascimento num herói ou não, pouco importa. O que realmente me preocupa é o esforço de certos segmentos em demonizar o protagonista. Sejamos maniqueístas, sim, mas conservemos a noção de certo e errado. Um estado de guerra produz excessos e condutas condenáveis, mas não se deve confundir os papéis: quem trafica é bandido; quem combate o tráfico é mocinho.
Afora a exclente história, que traz diversos pontos de reflexão, Tropa de Elite é uma produção de primeiro nível. A atuação de Wagner Moura é irretocável, brilhante mesmo. A direção é tensa, a trilha sonora é dramática, a cenografia é realista. A rápida movimentação de câmera envolve o espectador, colocando-o dentro da ação.
Tropa de Elite merecia ser o candidato do Brasil ao Oscar 2008. Claro que jamais conseguiria tal proeza. A elite de esquerda prefere criticar a ditadura militar, que se encerrou há mais de 20 anos, a atacar reais inimigos.
Além da Tela
Eu poderia usar este espaço para despejar estatísticas da criminalidade relacionada ao tráfico, ou encher de notícias relacionadas a mortes violentas, corrupção, suborno, consumo de drogas. Nada disso é necessário. Você lê jornais e assiste a noticiários. Você está a par das estatísticas. Se há controvérsia sobre um ou outro número – “não morre tanta gente, morre menos” -, não há dúvidas de que, por menores que sejam, são muito mais elevados do que o aceitável.
Tropa de Elite é baseado no livro A Elite da Tropa que, por sua vez, baseia-se em relatos de policiais do BOPE.
A polícia militar anda bastante preocupada com o filme, a ponto de ter intimado para depor seu diretor e um dos autores do livro. Deve ser falta de serviço.


1. Peposo: meu primeiro bicho de pelúcia. Não tinha muito a ver com os bichos de hoje, que têm o pêlo tão sedoso que lembra o verdadeiro. O Peposo era um urso bem mais modesto, mas uma graça. Lançaram uma companheira pouco tempo depois, a Peposa, que vinha de vestidinho. Velho de guerra, meu Peposo existe até hoje – é o único brinquedo de infância que guardo. Há uns 15 anos passou por uma pequena cirurgia, muito bem realizada pelo meu pai, e agüenta firme desde então.
2. Ursinhos Carinhosos e Nuvenzinha: a primeira leva de ursinhos carinhosos tinha 6 personagens coloridos, durinhos e pouco maiores que um batom. Depois, veio uma versão em pelúcia. Pesquisando para o texto, descobri que
A Nuvenzinha era o seu carrinho conversível com carinha e vinha com guarda-sol, toalha e cestinha de piquenique. Para alegria dos meus pais, fazia aquele tec-tec-tec-tec dos infernos quando era arrastado.
3. Cilada: meu primeiro quebra-cabeças. Umas 60 peças vazadas em forma de X, O e quadrado e um tabuleiro em alto relevo que servia de estojo para as pedras. No tabuleiro, você tinha que encaixar uma determinada combinação das peças. Eram 50 séries diferentes, se bem me lembro. Umas, facílimas. Outras, de fundir a cabeça de uma garota de quatro ou cinco anos. Recentemente,
4. Mãezinha: perdi a conta de quantas vezes coloquei essa boneca pra funcionar. Você dava corda e ela tocava uma cantiga de ninar, enquanto mexia a cintura de um lado para o outro, embalando um bebezinho nos braços. Esse brinquedo realmente quebrou, eventualmente. Se bem me lembro, mandei consertar já na idade adulta. Quase ficou de herança para a minha mãe, mas acabou seguindo para algum orfanato.
5. Atari: éramos típica classe média, equilibrada na corda bamba todo mês. Nas CNTP, uma novidade do tamanho, impacto e preço do Atari era algo impensável, insonhável. De repente, ganho de aniversário de 7 anos.
Rendeu horas intermináveis na frente da tv, calos, controles quebrados e olhos vidrados no Frostbite e outros joguinhos (lembra das fitas de 64 jogos em 1?). Até hoje meus pais atribuem ao Atari o estado lastimável a que chegou nossa primeira televisão colorida – lenda urbana, videogame não detona tv.
6. Chuquinhas: tive várias, sei lá quantas. Tinha uma que vinha num carrinho-maleta, cheia de acessórios; tinha a do cestinho de dormir, a mais linda de todas; tinha a do carrossel, a do balanço, a do cercadinho, as avulsas… Era o tipo de boneca que não contribuía nem um pouco para desenvolver o instinto maternal: para trocar a roupa dela, era preciso arrancar-lhe fora a cabeça.
7. Quebra-cabeça de 1.000 peças da Grow: ganhei no mesmo dia em que meus pais contaram que Coelhinho da Páscoa e Papai Noel não existiam (sim, eu acreditava, e daí?). Era Páscoa de algum ano, com Fórmua 1 na televisão. A revelação chocante não tirou a graça do brinquedo, montado e remontado tantas vezes que eu sabia de cor algumas partes. Já adulta, comprei um de 5.000 peças que nunca montei, em parte por falta de uma superfície grande o suficiente, em parte por falta de tempo, mesmo. Existem
8. Pogobol: esse não quebrava; a gente é que se quebrava toda, de tanto pular. No mínimo, os tornozelos perdiam a pele. Não adiantava band-aid, gaze, meia grossa, várias meias, nada. Depois de horas em cima daquele treco, a meia começava a ficar manchada de sangue. Se o bom senso infantil era insuficiente para interromper a brincadeira, a dor funcionava com uma eficácia incrível.
9. Escolinha da Moda: na caixa, vinham várias placas em alto relevo com desenhos de saias, calças, camisas; um apoio para as placas e para o papel; um giz de cera para marcar o papel com os contornos dos modelos. O resultado eram bonequinhas de papel graciosas que eu passava horas pintando e recortando.
10. Papel: em boa parte das minhas recordações de infância, tem papel – papel de carta, jogos de tabuleiro de papel (que algum chocolate dava mediante embalagens vazias), recortes de jornais de ofertas que viravam itens de cozinha, baralhos, bonecas de papel (inclusive as da Escolinha da Moda), gibis, cadernos de atividades, álbuns de figurinhas. Havia os livros também, que ocupavam parte do meu tempo destinado à brincadeira e propiciavam a mesma quantidade de diversão. Até hoje, tenho uma facilidade incrível para juntar papel e uma dificuldade igualmente impressionante para livrar-me dele.