A contracapa informa que este é o livro “mais radical” de John Grisham. Certamente, não é “radical” na gíria para “excelente”, porque há diversos livros melhores do mesmo autor. Também não é “radical” no sentido de dedicar-se às raízes do Direito porque, de todos os livros de Grisham, este é o menos jurídico – o foco dele está na política. Em todo caso, é um livro muito bom.
O tema jurídico é o processo indenizatório milionário que corre contra uma empresa acusada de lançar lixo tóxico nos arredores de uma cidadezinha do Mississipi, contaminando a água e o solo e levando câncer à população local – causando, inclusive, a morte de vários habitantes. Lembra a trama de Erin Brockovich, só que aqui, do lado da população desamparada, temos uma casal de jovens advogados inteligentes, dedicados, esforçados e quase falidos.
Após meses de um árduo julgamento, o tribunal local dá ganho de causa às vítimas e condena a corporação Krane Chemical a pagar 41 milhões de dólares de indenização. É nesse ponto que o livro começa – porque, como se sabe, você pode ganhar e não levar… e a corporação vai jogar sujo para não perder dinheiro. Em sede de apelação, o caso será julgado pela Suprema Corte do estado do Mississipi. Juridicamente, as chances estão contra a Krane – mas… e politicamente?
A Suprema Corte do Mississipi é composta de nove juízes eleitos para um mandato (o cargo não é vitalício). Basta, talvez, um juiz para mudar o destino do processo. As eleições para a magistratura se aproximam, e a Krane começa a mexer os pauzinhos financeiros para colocar no tribunal um juiz honesto, dedicado, mas absolutamente contrário ao sistema de indenizações milionárias que afeta os julgamentos norte-americanos.
A parte do livro dedicada ao processo eleitoral é longa demais. O leitor quer chegar logo ao resultado e à conclusão do processo. Os que estão acostumados com os livros de Grisham têm uma boa ideia do que esperar…
John Grisham carrega no conteúdo dramático de O Recurso, além de dar uma boa ideia das mazelas de ter um Poder Judiciário eleito. Se aqui no Brasil já temos tantos dissabores com o Legislativo e o Executivo, imagine o que aconteceria se a magistratura também fosse escolhida pelo sistema eleitoral?
Ficha
- Título Original: The Appeal
- Autor: John Grisham
- Editora: Rocco
- Páginas: 380
- Cotação:
- Encontre O Recurso.
Emília,
Já acompanhei alguns pacientes durante o processo de conseguir se aposentar e receber o benefício do INSS. Não estou falando de pacientes com depressão mas sim de pacientes com comorbidades e quadros complexos (algo tipo paciente com esquizofrenia, parkinson e câncer, tudo ao mesmo tempo). É um absurdo o que as pessoas passam. É absurdo o número de recursos e obstáculos que essas pessoas têm de enfrentar e olha que isso nem tem nada a ver com eleição alguma. Quem trabalha nessa área (Direito) tem uma respoansabilidade IMENSA. Não sei se conseguiria ler esse livro sem ter um troço!!! Tem um livro maluco do Kafka que fala sobre burocracia e sobre esse labirinto da justiça em que as pessoas se veem muitas vezes, se chama O Processo. Se vc animar dê uma passada de olho. O Castelo, também dele, é outro livro que segue mais ou menos o mesmo rumo. Li os dois e não me esqueço desses livros de jeito nenhum… parece que fica fazendo parte da gente! O John Grisham eu nunca li, mas assim que acabar a fila de livros que tenho em casa, vou procurar alguma coisa dele. Abraço!
@Marina, gosto dos livros do Grisham justamente por guardarem semelhança com o que acontece na realidade, ainda que ele escreva no contexto do direito norte-americano. Quando for ler, recomendo “Tempo de Matar” e “O Júri”. Por trabalhar na área de saúde, acho que você gostaria bastante de “O Homem Que Fazia Chover”, que aborda as mazelas envolvendo planos de saúde. “O Processo” é excelente, um dos livros mais marcantes e angustiantes que já li. Não li “O Castelo”, vou colocá-lo na lista. Obrigada pela dica!