Livro da vez: Primeira Pessoa do Singular, de Haruki Murakami (via netgalley).
É complicado resenhar livros de contos porque dificilmente todos têm a mesma qualidade ou despertam os mesmos sentimentos. Nos oito contos desse livro, o ponto de contato é o narrador em primeira pessoa, um homem claramente bem-sucedido e um tanto obcecado por música clássica e por si mesmo. Seria o alter ego do autor?
O primeiro conto, Sobre um travesseiro de pedra, é um dos mais interessantes, justamente porque o narrador cede um pouco de espaço em favor de uma poetisa misteriosa que conheceu na juventude. Em Nata, a contraparte é uma musicista que de quem o leitor pouco chega a saber, que serve como pretexto para reflexões adolescentes sobre o sentido da vida.
Charlie Parker Plays Bossa Nova é bem-humorado. Em With the Beatles vemos novamente o narrador usar as memórias que guardou de uma adolescente para falar de si mesmo e de sua relação com a música.
Coletânea de poemas Yakult Swallows é o mais intimista – e monótono – da coletânea. Em Carnaval, de novo o recurso a uma mulher misteriosa para que o narrador possa falar de si mesmo.
A confissão do macaco de Shinagawa é o texto mais interessante do livro, de um absurdo surrealista e, ao mesmo tempo, convincente. Primeira pessoa do singular fecha o livro e também tem um tom surrealista, até mais forte que o anterior, mas o desfecho me agradou menos por acrescentar um elemento desnecessário a um sonho que já bastava por si.
Em resumo: gostei muito de dois ou três contos, fiquei entediada em outros dois ou três. A leitura valeu a pena para ter um primeiro contato a obra do autor, e provavelmente buscarei um de seus romances no futuro, mas não estou com pressa.