#vidativa

Como recusar um passeio pela fábrica da coca-cola? Quando recebi o convite, minha criança interior vibrou – e olha que ela já tinha visitado uma fábrica, aos oito anos de idade.

O passeio aconteceu no fim de abril e a visita à fábrica foi apenas uma das atrações. Devo confessar que a visita que fiz quando criança foi mais interessante… minha memória foi confirmada por outras pessoas: antigamente, a gente chegava mais perto das máquinas, do “chão de fábrica”. Hoje, com todas as normas de segurança, ficamos separadíssimos do processo, vemos tudo do alto, protegidos por paredes e vidros.

Ainda assim, foi bacana saber da supermáquina que pega um tubinho de plástico, sopra em forma de garrafa e já enche de coca-cola. Também foi interessante aprender mais sobre a coca-cola em números:

  • existe uma preocupação com o uso racional da água: cada litro de coca-cola gasta 1,27 litros de água nas fábricas mais modernas (como a que visitei);
  • 94% dos habitantes do planeta reconhecem a marca, presente em mais de 200 países;
  • o Brasil é o quarto mercado da coca-cola, que gera 60.000 empregos diretos e 600.000 empregos indiretos;
  • a quantidade de coca-cola produzida por cada máquina é absurda – e esqueci de anotar.

Além de instrutivo, o passeio foi, literalmente, delicioso.

Na fábrica, um café-da-manhã com comidinhas feitas com os refrigerantes da marca. Tentei de todas as formas conseguir a receita de tartelete de fanta uva, mas parece um segredo tão bem guardado quanto a fórmula da coca-cola.

Tartelete de fanta uva

O brownie de coca-cola foi meu segundo favorito.

Brownies de coca-cola

Depois da visita, almoço no Dudu Bar, do chefe Dudu Camargo, um dos mais respeitados de Brasília. Todos os pratos levaram algum produto da coca-cola na sua elaboração. Todos deliciosos, com destaque para a combinação perfeita entre o filé ao molo de coca-cola e o arroz de limão siciliano.

Filé grelhado ao molho de redução de coca-cola e rum, acompanhando de arroz de limão siciliano.

A seguir, o ponto alto do evento: uma palestra tremendamente informativa com o Dr. Victor Matsudo sobre a importância de ter uma vida ativa para manter a saúde. O Dr. Victor apresentou diversos estudos, gráficos e pesquisas destacando os benefícios da atividade física:

  • reduz o risco de câncer de mama em 50% e reduz o risco de recidiva em 58%
  • reduz em 73% a incidência de demência senil
  • reduz em 91% o risco de morte por AVC
  • reduz a necessidade de remédios em geral, contribuindo para o funcionamento regular do organismo (e do bolso, claro)

A boa notícia é que não é preciso fazer muita atividade física para usufruir dos seus benefícios. Meia hora de caminhada (em intensidade moderada) por dia já basta. Essa meia hora não precisa ser feita de uma vez, nem de forma programada. Pode ser fracionada ao longo do dia e pode ser espontânea, como por exemplo:

  • deixar o carro mais longe do trabalho para forçar uma caminhada;
  • descer do ônibus uma parada antes do destino e caminhar;
  • desapegar do elevador e subir alguns lances de escada.

Também vale concentrar os minutos em apenas três dias da semana. O objetivo a mirar são 150 minutos por semana de atividade moderada (claro que não adianta querer fazer tudo num dia só). Se a atividade for vigorosa, bastam 75 minutos por semana (3 dias x 25 minutos). Crianças e obesos – por razões distintas – deveriam ter 300 minutos de atividade física por semana para manter/recuperar a saúde.

O Dr. Victor ressaltou que “tempo sentado mata”. Ele destacou que o ser humano tem 4 milhões de anos de evolução e apenas um século de sedentarismo. Até a era pré-industrial, consumíamos cerca de 3.000 calorias por dia, e as atividades físicas diárias exigiam 1.000 calorias. Hoje, consomem-se, em média, 2.100 calorias por dia, mas gastam-se apenas 300 calorias em atividades físicas. Ou seja, não adianta diminuir a quantidade de comida, é necessário gastar o que se come. Nas palavras do Dr. Victor, “comer mal não é bom, mas ser inativo explica muito mais a obesidade do que comer mal”.

Dr. Victor Matsudo

O sedentarismo traz uma série de doenças, levando à morte 300.000 brasileiros por ano e  de 145.000 pessoas por dia ao redor do mundo. É uma epidemia de graves proporções.

Nosso corpo não evoluiu para ficar sentado o dia inteiro. Certo, a vida contemporânea exige de muita gente longas horas no escritório, mas o tempo que passamos sentados em frente à tv ou no escritório corrói pela metade o efeito benéfico da atividade física, segundo o Dr. Victor. Como combater isso? A dica dele é ficar 5 minutos em pé para cada 30 minutos sentado (ou dez minutos para cada hora). Em casa, pode-se aproveitar os intervalos do programa de tv. No trabalho, basta continuar seu trabalho de pé.

Desde o dia da palestra, tenho ficado em pé durante 15 ou 20 minutos a cada hora. Continuo fazendo meu trabalho, não perco rendimento e sei que estou cuidando da minha saúde ao mesmo tempo. Os benefícios vão além do físico: tenho notado que essa movimentação me deixa mais alerta e produtiva. É verdade que no começo foi difícil sair da inércia, mas agora já estou acostumada. Ou seja: a dica é quente, faz aí e me conta!

PS: “ain, mas coca-cola faz mal, não é saudável, demagogia, blá, blá, blá”. Olha, eu acho louvável uma empresa usar sua marca – ainda mais quando é uma marca tão relevante – para promover bons hábitos. Ademais, tudo em excesso faz mal. Até água. Até exercícios físicos. A virtude, já dizia o filósofo, está no meio termo. E, para descobrir qual é esse meio termo, nada como ter mais e mais informações.

Fotos oficiais do evento.

Boeuf Bourguignon (adaptado)

Quando o senhor meu pai avisou que faria bouef bourguignon no fim-de-semana, lembrei na hora de Julie e Julia (veja o filme, leia o livro etc. etc. – mas o filme é bem melhor que o livro, coisa rara), da tragédia que foi esse prato na vida da protagonista e, bem, sabia que não seria uma missão fácil. Então, diferentemente da maior parte das receitas que posto aqui, já aviso que esta não é simples. Não é propriamente difícil, mas há várias etapas e é demorada. O Sr. Monte fez algumas adaptações que contribuíram para a redução do tempo de preparo (especialmente por usar uma carne mais macia).

O resultado desse trabalho todo compensa: o cheiro se espalha deliciosamente pela casa toda e o sabor é divino!

Ingredientes

  • 500 gramas de filé mignon cortado em cubos
  • 400 ml. de vinho tinto seco
  • 100 gramas de champingnon em conserva
  • 50 gramas de farinha de trigo
  • 8 cebolas roxas pequenas
  • 2 cenouras descascadas e cortadas em rodelas
  • 50 gramas de bacon picadinho
  • 30 ml. de azeite (cerca de 2 colheres das de sopa)
  • 20 gramas de manteiga (uma colher das de sopa)
  • 2 dentes de alho picados
  • quanto baste de cheiro verde (tomilho, salsinha, cebolinha, louro)

Você também precisará de

  • panela grande e funda
  • frigideira

Preparo

Amarre o cheiro verde com um barbante, ou com uma cebolinha resistente (o nome “chique” é bouquet garni) e reserve.

Em uma panela funda, frite o bacon no azeite até ficar dourado, e reserve.

Frite a carne na mesma gordura até dourar. Reserve.

Doure as cebolas inteiras (sempre na mesma gordura), e reserve.

Boeuf Bourguignon (adaptado)
Quase pronto.

Refogue o alho. Retorne a carne, a cebola e o bacon para a panela. Acrescente a cenoura.

Adicione o vinho. Tampe a panela e deixe cozinhar por meia hora.

Em uma frigideira, derreta a manteiga e refogue o champignon. Acrescente-o ao cozido e deixe cozinhar destampado por mais meia hora.

Quando a carne estiver macia, adicione a farinha dissolvida em água, misture bem e acrescente o bouquet garni. Deixe cozinhar por mais uns quinze minutos, até o caldo engrossar. Retire o cheiro-verde.

Sirva com arroz branco, batata ou pão italiano.

Dicas e Complementos

Boeuf Bourguignon (adaptado)
O trabalho vale a pena!

O vinho não precisa ser excelente, mas deve ser decente. O cheiro e o sabor do vinho são penetrantes nessa receita. Com menos de vinte reais, você consegue um vinho decente em qualquer supermercado (sugestões: Concha y Toro, Tarapaca, Santa Helena). Em hipótese alguma use vinho suave!

A receita original leva fraldinha. O sabor fica mais acentuado, mas demora o dobro do tempo pra cozinhar a carne.

Há outras modificações nessa receita, que não tem a pretensão de ser “tradicional”, apenas saborosa.

  • Tempo de preparo: umas duas horas, no mínimo
  • Grau de dificuldade: moderado
  • Rendimento: quatro porções generosas

Falta menos de um mês para o terror, digo, para o NaNoWriMo.

Eu gosto de projetos. Já deu pra perceber, né? Gosto de listas, desafios, prazos. Mas olha, dessa vez não estou tão confiante em conseguir completar a próxima missão que me coloquei.

NaNoWriMoÉ que, depois de dois anos ensaiando, resolvi participar do NaNoWriMo, ou National Novel Writing Month. Trata-se de uma maluquice inventada por um grupo de uns vinte doidos há 14 anos e que hoje conta com centenas de milhares de participantes ao redor do mundo. Em resumo, é o seguinte: novembro é o mês de escrever um romance (“novel) de pelo menos 50.000 palavras. Ou seja, quase 1.700 palavras por dia.

Todo mundo que já tentou escrever sabe que esse número é insano, mas essa é mesmo a ideia da coisa. Com uma meta tão ambiciosa, você se força a desligar o censor interno. Não pode editar enquanto escreve. Não tem tempo pra buscar a frase ideal. Por não se render ao perfeccionismo, as chances de conseguir concluir o romance são maiores.

“Ah, mas e a qualidade?”. Ela não é o foco do NaNo. O foco é escrever como se não houvesse amanhã, e chegar em dezembro com o primeiro rascunho do seu romance. Já dizia Hemingway: “o primeiro rascunho de qualquer coisa é uma merda”. Sempre. Mas é a peça mais importante para, enfim, produzir algo que valha a pena. Sem o primeiro rascunho de merda, você nunca terá um bom livro.

As regras para participar do NaNo são poucas. Em resumo:

  1. Você deve começar a escrever a história do zero em primeiro de novembro (mas pode fazer um planejamento antes).
  2. O texto deve ser um romance, ou seja, uma prosa ficcional.
  3. Para ser considerado vencedor, precisa copiar e colar o romance no contador de palavras do NaNo até 30 de novembro, e conseguir validar 50.000 palavras (para isso, você precisa se cadastrar no site).
  4. Ninguém vai ler seu texto. Você não precisa ficar com vergonha.
  5. Você pode escrever em qualquer idioma (mas o site do NaNo é todo em inglês, com exceção dos foruns regionais – o Brasil está lá).

No site do NaNo você encontra as respostas a todas as suas dúvidas e toda a história e os números do desafio. No blog Nem Um Pouco Épico há alguns textos sobre o NaNo, inclusive um FAQ bem-humorado. Existe também um twitter oficial e uma comunidade de brasileiros participantes no facebook.

Então, vai encarar? Quanto mais gente entrar no surto na brincadeira, mais divertida a coisa fica!

Qual é a experiência que importa?

Cena 1: seu namorado passa na sua casa, de carro. Vocês vão sair pra jantar. No trajeto até o restaurante (digamos, uns quinze minutos), ele mal olha para você. As atenções do moço estão todas voltadas para a ligação no celular (bem, você espera que tenha sobrado um pouquinho de atenção para o trânsito). Enquanto isso, você vai contando os postes da rua para se distrair.

Cena 2: você e sua amiga marcam um almoço para colocar o papo em dia. Vocês mal fazem o pedido e sua amiga recebe uma mensagem. Ela responde e, finalmente, você começa a contar as novidades. Um minuto e meio depois, o celular da amiga toca novamente. Ela lê a mensagem, e responde. Vira para você e diz “pode continuar”. Ah, que bom que você pode continuar. Você tenta e… o celular da amiga toca de novo. Outra mensagem, que ela responde. O papo – com o celular – deve estar bem interessante. Você desiste de entabular qualquer conversa. Melhor não atrapalhar.

Cena 3: você e dois amigos resolvem se encontrar para um happy hour. Eles sabem que você sai mais tarde do trabalho e vai se atrasar uns vinte minutos. Quando você chega, um dos amigos está com cara de bunda, enquanto o outro está pendurado num tablet. Há vinte minutos. Ignorando solenemente o amigo que está na frente dele. E nem vê que você chegou, claro.

Cena 4: você resolveu almoçar sozinha num dos seus restaurantes favoritos. Na mesa ao lado, estão quatro pessoas, provavelmente quatro amigos (você supõe, ao menos, que não sejam inimigos). Um está teclando furiosamente (provavelmente postando fotos no instagram), outro está aos berros numa ligação e os outros dois são os únicos realmente tentando interagir – mas não conseguem manter o fio da meada por causa do companheiro gritando ao celular. Aliás, ninguém no restaurante consegue.

Se você nunca passou por uma dessas situações (ou por alguma outra bem parecida), você é um sortudo. Ou um privilegiado, porque todos os seus amigos e conhecidos sabem se comportar. Hum… mais provavelmente, é você o amigo desagradável.

Veja, eu entendo essa conectividade permanente e, confesso, sou fã número 1 dela. Tenho computador, tablet, smartphone (que até faz ligações, embora eu deteste usar esse recurso), pacote de dados, wifi. São poucos os momentos em que não há uma tela conectada no meu nariz. Isso, bem entendido, quando estou sozinha. Quando almoço sozinha, o twitter é uma companhia agradável. Em casa, vendo televisão, uma das telinhas também está constantemente em uso.

Quando, porém, saio com outras pessoas, as telas somem. Só deixo o celular em cima da mesa se estiver esperando uma ligação, quase sempre de algum amigo que ainda não chegou. Nem olho eventuais mensagens que cheguem e, se tiver mesmo que atender o telefone, peço desculpas e procuro resolver em menos de um minuto. De preferência, nem atendo – sempre posso retornar a chamada mais tarde. E, certamente, não serei eu a fazer uma ligação e alienar as pessoas que estão comigo.

Amo meu celular, a internet, a possibilidade de estar sempre conectada e a chance de conversar com novos e velhos amigos a qualquer momento. Só que, por princípio, a pessoa que está na minha frente é sempre mais importante que qualquer outra. Eu não saí contigo para que você tenha que contar as mesas do restaurante pra se distrair, nem tenha que recorrer ao seu próprio celular se quiser algum tipo de interação social. Eu saí com você para estar com você. As outras pessoas, por mais interessantes ou legais que sejam, não estão comigo. Não sou médica ou veterinária, portanto não posso salvar a vida delas ou dos eventuais bichinhos de estimação (sim, dou salvo-conduto aos profissionais de saúde, e só a eles). Qualquer assunto que brote no meu celular pode esperar.

Deixar você plantado ouvindo o vento enquanto eu me ocupo de outras coisas é sinal de absoluto desrespeito. É descaso profundo. É como se eu dissesse “eu sou importante demais para focar meus olhos e ouvidos em você, tenho mais o que fazer – e estou aqui, fisicamente, por uma deferência à sua pessoa, mas meu espírito e minha atenção estão em outro lugar; contente-se com isso”.

Aí, você pode me dizer: “ah, mas isso é o progresso, nós estamos sempre conectados, conseguimos fazer várias coisas ao mesmo tempo e, olha só, eu posso perfeitamente estar batendo papo no twitter ou me pendurar num telefonema e te dar atenção ao mesmo tempo”.

Não, cara-pálida. A conectividade, a modernidade, a contemporaneidade, o raioqueopartadade não são desculpas para a sua falta de consideração.

Entenda: a pessoa que está na sua frente abriu mão de algo para estar ali. Ela podia estar fazendo qualquer outra coisa. Ela podia, inclusive, estar fazendo nada. Pelo simples fato de estar ali, ela merece que você também esteja, e não só de corpo presente.

Se você não é capaz de entender isso, lamento muito pelas pessoas com quem se relaciona – se é que sobrou alguma.

(Texto inspirado por essa crítica. Há algo
errado quando o que importa é a experiência de
um produto, não quem está na sua frente.)