Já vai tarde

A escolha dos ministros por parte de um príncipe não é coisa de pouca importância:
os ministros serão bons ou maus, de acordo com a prudência que o príncipe demonstrar.
A primeira impressão que se tem de um governante e da sua inteligência
é dada pelos homens que o cercam. Quando estes são eficientes e fiéis,
pode-se sempre considerar o príncipe sábio, pois foi capaz de
reconhecer a capacidade e de manter a fidelidade.
Mas quando a situação é oposta, pode-se sempre fazer dele mau juízo,
porque seu primeiro erro terá sido cometido ao escolher os assessores.

(O Príncipe, Maquiavel – início do Capítulo XXII.)

José Dirceu saiu do governo, enfim. Com mais de um ano de atraso. Quando estourou o caso Waldomiro, até hoje muito mal contado, deveria ter se mandado. Aliás, pensando bem, Dirceu nunca deveria ter feito parte do governo, porque nunca foi flor que se cheirasse.

“Antes tarde do que nunca”, é o que dizem. Só que as coisas não costumam ser tão fáceis assim na política. Seqüelas ficam, inevitavelmente.

Resta aguardar as cenas dos próximos capítulos de uma novela que promete arrastar-se até as eleições do ano que vem.

Difícil de engolir

A notícia já é da semana passada e todos estão carecas de saber: o CESPE, maior realizador de concursos do país, não é tão idôneo quanto parecia ou deveria ser.

Agora, o que tem me irritado tremendamente nos últimos dias são comentários do tipo “tá vendo?, por isso que eu nunca passo nos concursos”.

Ora, pílulas. Quem estuda, passa. Apenas uma minoria de vagas é vendida.

Não quero, com isso, defender essa máfia detestável. Claro que a história toda é um absurdo, um escândalo de grandes proporções, além de configurar crime. Só não estou para desculpas fajutas vindas de quem nunca teve empenho ou competência. Ponto final.

Se é pra radicalizar…

Depois do assassinato de uma família no Espírito Santo, motivado por aposta entre jogadores de RPG (role playing game), deputados capixabas protocolaram projetos de leis que visam à proibição da venda de livros para o jogo. O mesmo rebu já tinha acontecido em 2001, quando a estudante Aline Silveira Soareso foi assassinada em meio a uma partida do jogo. Os vereadores de Vila Velha chegaram a aprovar projeto de lei proibindo a comercialização dos livros (não encontrei confirmação de que o projeto tenha sido sancionado pelo Executivo local).

É isso aí. Vamos proibir a venda de livros de RPG. Vamos marginalizar os seus jogadores e taxá-los de bandidos.

Aproveitemos para banir, também, a exibição de filmes violentos e os desenhos animados de combates e tiros. Proibamos, ainda, as facas de cozinha, instrumentos de tantos crimes, e as banheiras, que podem servir para o afogamento. Ah, não esqueçamos de condenar todo e qualquer jogo de cartas, fonte potencial de apostas macabras.

Pessoas desequilibradas existem em qualquer meio. De uma forma ou de outra, acabam por extravasar sua insanidade. Podem usar como válvula de escape um jogo, um romance, uma novela ou o raio que os parta.

O que não faz sentido é tomar alguns loucos e usá-los como padrão para condenar todo um passatempo que, para noventa e nove por cento dos seus usuários, é lúdico e recreativo.

Ignorância e preconceito motivaram, ao longo da História, infinitamente mais mortes que todas as atividades de lazer somadas.