Almanaque dos Seriados

Da série Livros Que Não Vou Comprar, Mas Gostaria de Ganhar.

Almanaque dos Seriados Achei ontem essa pérola, numa livraria próxima: o Almanaque dos Seriados é uma verdadeira jornada pelo túnel do tempo (sim, trocadilho infame, eu sei) das séries das últimas décadas. Numa folheada ligeira, sem procurar por nada específico, deparei-me com uma foto do McGyver[bb], outra da tripulação de Star Trek: The Next Generation[bb], uma notinha sobre a Dama de Ouro e uma página inteira dedicada ao Chaves[bb]. Nada mal, nada mal mesmo.

Só não comprei porque, no fundo, não há nada no livro que não possa ser encontrado na internet. Confesso que foi difícil pensar tão racionalmente… Seriados estão entre meus passatempos favoritos, isso não é segredo (e meu perfil no Orangotag está aí para não me deixar mentir).

Será que já tem House M.D. no Almanaque?

Como Falar Bem em Público

Você sabe falar em público?

Não estou dizendo aquele papinho de mesa de boteco, com uma dúzia de amigos.

Imagine que você precisa fazer uma apresentação para, digamos, 40 pessoas. Você não conhece a maioria. Todos os olhos e ouvidos estarão voltados para você pelos próximos 30 minutos. Você será avaliado – pelos ouvintes, sempre, e também pelo orientador/contratante/professor/coordenador da palestra. Sua carreira acadêmica/profissional pode se beneficiar disso… ou não.

Tremeu?

E se a situação é uma prova oral de faculdade ou concurso público? Piorou?

Até que não tenho grandes problemas para falar em público. Mesmo assim, confesso, os minutos que antecedem uma palestra ou apresentação me gelam o estômago. Os primeiros minutos de falação, também. Depois, relaxo.

O problema é quando tudo que tenho são poucos minutos.

Minha maior mancada nesse quesito foi há alguns meses, numa entrevista ao vivo para a CBN. Eu estava muito tensa. A primeira frase da entrevistadora, a Tânia Morales, foi completamente inesperada: “Diz para os ouvintes o endereço do teu blog”. Caramba, mídia tradicional divulgando endereço de blog? Aí, falei:

– Agá-tê-tê-pê-dois-pontos-barra-barra…

Putz. Quem é que fala “http://” antes de começar um endereço eletrônico?

Só quem está muito nervosa, mesmo.

Felizmente, a Tânia era um doce de entrevistadora, fui ficando mais tranqüila e, quando ela pediu novamente o endereço do blog, ao fim do programa, consegui dizer só “diadefolgapontocom”. Ufa.

Como Falar Bem em Público Tudo isso para contar que ganhei do Wagner Fontoura o livro Como Falar Bem em Público, escrito por William Douglas, Rogério Sanches Cunha e Ana Lúcia Spina. William Douglas é famoso entre concurseiros pelo seu best seller Como passar em provas e concursos[bb]. Rogério Sanches é um dos melhores professores que já tive. Ambos estão acostumados a lidar com platéia e fazem isso muito bem. Ana Lúcia Spina é especializada em preparar alunos para provas orais em concursos públicos.

Longe de apoiar-se em frases vagas de auto-ajuda (“Mantenha a calma”, “Respire fundo” e outras tantas que não ajudam nada), Como Falar Bem em Público dá conselhos práticos que vão desde o vestuário adequado até dicas de negociação (minha matéria preferida na faculdade).

Como ganhei dois exemplares, um deles será enviado a um dos leitores do Dia de Folga. Para correr o risco de ganhar, basta abrir o coração e dizer:

Qual a experiência mais embaraçosa que você teve ao falar em público?

Responda nos comentários, ou escreva um texto no seu blog e faça o trackback para este artigo (sem o trackback, não tenho como localizar o seu texto).

A promoção é curta. Reza a lenda que dia 31 de maio é o Dia Mundial da Comunicação Social. Então, é isso: você tem até o dia 31 de maio para compartilhar sua experiência traumática com o discurso em público.

Ah, nunca passou por um apuro desses? Invente, tente, faça um comentário diferente.

Ficha Técnica

  • Título: Como Falar Bem em Público
  • Autores: William Douglas, Rogério Sanches Cunha e Ana Lúcia Spina
  • Editora: Ediouro
  • Páginas: 190
  • Preço: pesquise por Como Falar Bem em Público no JáCotei.

Bônus Tracks

Big Brother também é cultura

Big Brother is watching you Essa aconteceu há quase um mês; porém, como a ignorância é atemporal, vale comentar.

O Caje (o equivalente à Febem no Distrito Federal) fez concurso público, dia 27 de abril, para o preenchimento de 127 cargos de agente. Uma das questões da prova dizia o seguinte:

O reality show Big Brother (do inglês ‘grande irmão’ ou ‘irmão mais velho’) tem sido há quase uma década um fenômeno da televisão brasileira. Qual a origem do nome do programa?

Aí, o ilustre (?) deputado distrital Chico Leite, autor de uma tal Lei dos Concursos (um tanto vazia, decididamente eleitoreira – lembre-se, Brasília é a terra dos concursos públicos – e atualmente suspensa devido a uma ação de inconstitucionalidade) enviou à imprensa local a seguinte nota:

O candidato que se dedica horas a fio para se preparar não tem tempo para assistir ao Big Brother. Esse tipo de questão não avalia conhecimento algum.

Puxando a brasa para a sua sardinha, afirmou que a falta de uma lei que dê transparência aos concursos públicos é que gera esse tipo de questão, que considerou “vexatória aos concorrentes que se preparam com afinco e seriedade”.

Ora, excelentíssimo (??) deputado, vexatória é a vossa ignorância.

O uso do termo Big Brother para designar o reality show em que um grupo fica confinado numa casa cercada de câmeras, sob a vigilância constante da audiência, não surgiu do nada. A referência é pra lá de óbvia: “Big Brother”, ou “Grande Irmão“, era o nome dado ao Estado totalitário apresentado no livro 1984[bb], um clássico de George Orwell.

Orwell inspirou-se em seu próprio tempo, dominado por tiranos como Stalin e Hitler, para compor o romance que, publicado em 1948, já é considerado um clássico, dada a qualidade da obra e seu aspecto visionário.

Na ficção de Orwell, o Estado havia se tornado todo-poderoso: onipresente, onisciente e onipotente, o Grande Irmão controlava cada passo de cada ser humano, regulando todos os aspectos da sua vida, mesmo seus pensamentos. Ninguém nunca via o Grande Irmão, mas por toda parte havia cartazes espalhados que proclamavam “Big Brother is watching you” – “O Grande Irmão está observando você”.

Alguma semelhança com o reality show da Endemol que faz sucesso na programação global?

(E, cá entre nós, alguma semelhança com o Google?)

A questão da tal prova era daquelas que privilegiam o conhecimento real, não meramente a decoreba tediosa de leis e regras gramaticais. Era, sim, autorizada no edital, no item Atualidades, sob a expressão “artes e literatura e suas vinculações históricas”. Um simples “Conhecimentos Gerais” já bastaria. Como é que o deputado diz que a pergunta “não avalia conhecimento algum”?! Certamente, avaliou o dele.

Ademais, era uma questão de múltipla escolha. Ninguém precisava escrever um tratado sobre 1984. Só marcar um X.

É certo que o espectador médio do Big Brother nem desconfia que o nome do seu programa favorito veio de um clássico da literatura. Talvez vários candidatos ao cargo de agente do Caje também desconhecessem o fato.

Agora, que o professor (???) Chico Leite desconheça a obra e, ainda por cima, dê provas cabais de sua ignorância é, realmente, de surpreender.

Pena que não é preciso fazer prova para ser político.

Aos Meus Amigos

“Il faut faire du scandale.”
(a frase preferida do personagem Léo)

Aos Meus Amigos A minissérie do início do ano da Rede Globo, desta vez, foi Queridos Amigos. A responsável pela adaptação de livro em minissérie foi a própria autora do original: Maria Adelaide Amaral escreveu Aos Meus Amigos em 1992 e reconstruiu a narrativa para adaptá-la à televisão. O resultado foi excelente, com atores de primeiro time e uma trilha sonora maravilhosa, com estrelas como Gonzaguinha e Elis Regina. Como geralmente acontece, porém, o livro supera a adaptação.

Aos Meus Amigos tem Léo (interpretado pelo excelente Dan Stulbach) como personagem central. Ele é a “cola” da história, embora o primeiro diálogo já anuncie: “O Léo morreu”. Léo foi inspirado numa figura real: o jornalista Décio Bar, que cometeu suicídio em 1991 e era amigo da escritora. Foi sua morte que motivou o livro, dedicado a ele. O pano de fundo, na ficção, é 1989, marcado pela volta das eleições diretas no Brasil e, no mundo, pela queda do Muro de Berlim. Era uma época de grandes transformações, de paradigmas quebrados e esperanças renascidas.

Toda a história de Aos Meus Amigos se passa em pouco mais de um dia. Os amigos de Léo se reencontram – alguns não se viam há anos – para o velório e o enterro. O leitor penetra em seus mundos, repletos de frustrações, casamentos desfeitos, fragilidades, amargura e incertezas. É um grande mosaico, formado de fragmentos de histórias pessoais mescladas a fatos históricos, frutos das reminiscências dos protagonistas.

Aos Meus Amigos flui facilmente, mas não espere encontrar um livro leve. Pelo contrário: há momentos em que é preciso interromper a leitura para respirar, dar uma pausa nas tragédias dos personagens, nos seus dramas. O livro não cansa, mas exaure em alguns momentos. Se você lembrar que boa parte dele se passa durante o ambiente depressivo de um velório, isso faz todo o sentido.

Queridos Amigos herdou do livro os personagens e seus contornos psicológicos, mas inovou muito na história. Na verdade, ela não foi adaptada, mas inspirada no livro, como frisa a nova edição e indicava a abertura da minissérie. A própria Maria Adelaide Amaral explicou, no Marília Gabriela Entrevista (canal GNT), que teve de criar várias situações novas para fazer as trezentas e poucas páginas preencherem 25 capítulos.

O resultado é que a minissérie, embora tocante, diluiu bastante a história. O primeiro capítulo apresenta Léo tentando reunir seus amigos para “celebrar a vida”; sua morte ficou para o final. Novos personagens aparecem e a trama se prolonga por dias e dias. Nesse processo, a grande perda foram os diálogos fortes do livro. No original, há debates intensos sobre política, crenças, movimento estudantil, crises existenciais, amor, filosofia. Na televisão, não há a mesma profundidade.

Queridos Amigos foi uma excelente minissérie, mas Aos Meus Amigos é ainda melhor. Seria interessante ver o livro transformado em filme. O cinema aproveitaria melhor toda a densidade e o drama da história, sem a necessidade de concessões, com mais fidelidade ao texto e ao ritmo. Aos Meus Amigos renderia um filmão e fugiria do tema vida-de-pobre-é-difícil, em que o cinema brasileiro tornou-se especialista.

Ficha Técnica

  • Título: Aos Meus Amigos
  • Autora: Maria Adelaide Amaral
  • Primeira edição: 1992
  • Editora: Globo
  • Páginas: 336
  • Pesquise o preço de Aos Meus Amigos.