Em dezembro, não fiz nenhuma comprinha. Nada, zero, niente.
Podia até ter comprado alguma coisa para a casa (quero muito uma toalha de mesa nova) ou para mim (precisava de havaianas), mas era o último mês e tirei mais satisfação do ato de não comprar nada, como forma de marcar a data. 😉
Resumo da Ópera
Tenho de dizer que adorei fazer esse ano sabático. Não foi sempre fácil, não. Em alguns momentos, resistir à tentação foi uma batalha interna. Em outros, sucumbi, pero no mucho. No geral, saí-me muito bem.
Economizei dinheiro, que foi reinvestido na casa, já que me mudei esse ano. Ou seja, não guardei nada – mas foi por uma boa causa.
Continuei meu processo de destralhamento. Muita, muita, muita coisa saiu. Nesse aspecto, o Project333 serviu de impulso extra, já que fiquei mais exigente com o que visto – roupas mais-ou-menos ou não-me-sinto-bem foram embora. Além disso, para cada um dos poucos itens que comprei (os sapatos de setembro e novembro, e o colar de novembro), pelo menos outro foi doado (na verdade, doei mais sapatos e colares do que comprei).
O modo diferente de lidar com minhas roupas foi um efeito muito importante do Ano Sem Comprar e, pra ser mais exata, dos dois anos sem comprar nenhuma peça: passei a aproveitar melhor o meu armário, fiquei mais crítica com o que tenho, comecei a trabalhar meu estilo e, com isso tudo, tenho um guarda-roupas que me satisfaz muito mais hoje do que quando estava abarrotado. Por outro lado, quando passeio por um shopping hoje em dia (coisa que agora acontece muito raramente, e que antigamente era uma atividade quase semanal), acho tudo caro. Não sei se fiquei pão-dura, se fiquei exigente, ou se as lojas simplesmente perderam a noção e não fazem mais a menor ideia de quanto vale 100 reais, porque estão cobrando isso por muita coisa de gosto e qualidade duvidosos.
De fato, o efeito mais crucial dessa experiência foi a forma como lido com meu dinheiro.
Nunca tive dívidas, nunca gastei mais do que podia pagar, mas certamente passei alguns anos gastando mais do que precisava e acumulando tranqueiras. Já tinha colocado um freio nisso em 2010. Há mais de dois anos não compro roupas. Ainda assim, continuo tendo mais que o suficiente. Não compro livros há quase três anos (com exceção de dois em 2011) e ainda tenho mais de quarenta livros físicos não lidos, fora quase uma centena no kindle (todos “comprados de graça” na Amazon, ou adquiridos em sites de obras em domínio público). Ainda tenho dvds não vistos, e reduzi meus cds a apenas um quarto do que tinha em 2011 – e nem ouço a maior parte deles. Preciso de umas duas ou três vidas para usar todas as sombras que tenho.
Nem tudo isso é tralha, e há coisas que uso pouco, mas das quais não consigo abrir mão. Tenho cds queridos de coleção (como a discografia completa da Legião Urbana) e dvds que, embora não vistos, não preciosos para mim (Star Trek, estou falando com você). Tenho roupas que exigem ocasiões formais ou um tempo mais frio do que costuma fazer em Brasília (mas é verdade que ainda tenho um abuso de casacos e não preciso comprar nenhum por umas três encarnações).
Em todo caso, tenho hoje consciência de que gastei muita grana acumulando tanta coisa – grana que poderia ter sido gasta com outras coisas de que gosto, como viagens e restaurantes, ou poderia ter sido simplesmente poupada.
E Agora?
Como será 2013?
Não vou fazer outro ano sem compras. Pelo menos, não imediatamente. Sei muito bem que não preciso de mais colares, bolsas ou echarpes, mas ao mesmo tempo meu armário está desfalcado em alguns itens:
1. Cintos: só tenho dois, ambos largos, que não vão com tudo. Preciso de uns fininhos e médios (por outro lado, passei a usar echarpes como cintos com mais frequência e gosto muito do resultado). Dei uma passada na C&A essa semana e vi cintos remarcados pela “bagatela” de 50 reais. Desculpa aí, mas achei caro. Vou dar uma olhada em brechós.
2. Calças: por mais que eu odeie calças, ainda não acho viável ter um guarda-roupas sem elas. A maior parte das minhas calças foi doada porque, bem, não me favoreciam. Sobraram poucas. Gostaria muito de aproveitar a rebarba da moda das pantalonas – o único estilo de calça de que gosto de verdade – mas, pelo que vi em lojas de departamentos, não sobrou nada nas araras. Achei apenas um, remarcada por 90 reais. Nesse preço, tinha que ficar perfeita, e não ficou. Bem, de repente eu não preciso de calças… exceto que preciso, porque quando viajo uso tênis pra poder bater perna à vontade, e eles não fazem uma composição harmônica com saias.
3. Camisas: essa é outra complicação. Gostaria de ter umas camisas mais formais, mais arrumadinhas. Por outro lado, tenho horror a passar roupas, e camisas formais normalmente exigem ser passadas. Aguardo uma solução mágica para o dilema.
4. Havaianas: bem no início do Ano Sem Comprar, um dos meus dois pares de havaianas arrebentou. Um par é insuficiente (detesto ter que ficar de sapato em casa porque lavei as havaianas e elas ainda não secaram). Ademais, esse que sobrou já está bem velho. Ainda essa semana, devo comprar dois pares novos.
Não vou voltar ao ponto de consumo/consumismo em que estava, isso é certo. Não vou encher novamente minhas gavetas e armários. Na verdade, vou continuar destralhando. Quando sair para comprar roupas, terei foco e procurarei peças que complementem o que já tenham, que sigam o meu estilo e que tenham uma boa relação qualidade x preço.
Tenho outras coisas em mente para o meu rico dinheirinho: viagens já marcadas, outras ainda a planejar; vinhos, chocolates e restaurantes para aproveitar; experiências que signifiquem e acrescentem mais que coisas.
Toda essa jornada de reavaliação do consumo tem valido muito a pena, e não está nem perto de terminar. É tudo um grande processo: o que importa não é chegar, mas seguir em frente.
Leia os outros relatos mensais no fim do texto de abertura deste projeto: Um Ano Sem Comprar – Um Ano Sabático.