Das capitais da Região Sul, faltava conhecer Porto Alegre. Por ser uma cidade pouco turística, sempre deixava pra depois, até que a conjunção de passagens baratas com o feriado de páscoa fez a viagem acontecer.
Realmente, Porto Alegre não tem muitos atrativos turísticos, e ainda dei o azar de ir pra lá pouco antes da Bienal de Arte do Mercosul: os museus estavam fechados, preparando as mostras da Bienal. Sério, POA, não dava pra fechar depois do feriado? Ou pra deixar parte dos museus abertos? Enfim, não pude conhecer o acervo do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), nem deu pra visitar o Santander Cultural.
Todos os museus do centro histórico têm entrada franca.
Também não rolou conhecer a Fundação Iberê Camargo que, incrivelmente, só funciona aos sábados e domingos, das 14h às 19h, nem a Usina do Gasômetro, fechada para reformas (passando na frente, fiquei com a impressão de que está abandonada, isso sim).
Achei meio estranha a falta de hospitalidade do portoalegrense, que guarda sorrisos como quem guarda ouro. Talvez o reflexo de ser uma cidade pouco turística. O mais engraçado foi quando parei numa lanchonete pra pedir informações para o atendente: “Por favor, a Rua José Inácio é essa?”. Olhando-me como se eu fosse uma ignorante completa, o atendente respondeu: “José Inácio não, Vigário José Inácio. E você já passou, é a debaixo”. Quase pedi desculpas.
Quanto tempo ficar
Fiquei quatro dias em Porto Alegre, mas três dias teriam sido suficientes. Se estiver com muita pressa, em dois dias dá pra ver os principais pontos turísticos. Por isso, POA serve bem como pit stop pra Serra Gaúcha.
O bônus é que o aeroporto é perto da cidade e tem, inclusive, um transporte público bacana que o liga ao centro (aeromóvel + metrô, ou melhor, trem de superfície, com ponto final no Mercado Público). Todo o percurso não dura meia hora. Não usei porque cheguei tarde da noite (a região do Mercado é perigosa depois que escurece) e na volta estava chovendo, o que me fez optar pelo táxi.
Onde Ficar
Fiquei no Intercity Cidade Baixa. Hotel de rede, não há muito o que falar a respeito. Foi inaugurado há pouco tempo e fica muito bem localizado, a cerca de 15 minutos (a pé) das atrações do centro histórico, e a uns 5 minutos do Parque da Redenção.
A Cidade Baixa é conhecida pela vida noturna e reúne opções para todos os gostos. O hotel fica a poucos minutos da boemia, longe o suficiente pra proporcionar noites de sono tranquilas. O café-da-manhã é bom (com opções low carb). O último andar fornece uma vista muito bonita da cidade. O armário do quarto em que fiquei é pequeno para duas pessoas – pra mim, que viajei com mochila, foi mais que suficiente.
O que fazer
Antes de descobrir os free walinkg tours, minha maneira preferida de conhecer uma cidade era com ônibus turísticos hop on/hop off (ou seja, com paradas em pontos turísticos, nas quais você pode descer e subir sem pagar nova passagem). Porto Alegre tem um muito bom, a Linha Turismo, que leva aos principais pontos de interesse enquanto conta um pouco da história da cidade. Desci no Parque Moinhos de Vento (apelidado de Parcão) e no Mercado Público de Porto Alegre.
O Parcão é bonito e bem cuidado, mas a atração principal – o moinho de vento – está fechada pra reforma. Mesmo assim, vale passear pelo parque, contemplar os patos e, sobrando tempo, dar uma volta pelo bairro Moinhos de Vento, o mais chique da capital.
Descendo no Mercado Público, dá pra conhecer todo o centro histórico (gastei menos de duas horas), no qual se destacam belos prédios nos estilos eclético e art déco. Lembra bastante o centro de Buenos Aires, seja pela arquitetura, seja pela sensação de decadência, já que muitos prédios estão a merecer uma revitalização da fachada.
No centro, merecem destaque a Rua dos Andradas, a Praça da Alfândega e seus edifícios imponentes – MARGS, Santander Cultural, prédio dos Correios) e, claro, o Mercado Público. Na Rua dos Andradas, recomendo duas paradas: o Centro Cultural Érico Veríssimo e a Casa de Cultura Mário Quintana.
O Centro Cultural Érico Veríssimo fica em um prédio tombado construído nos anos 20. O sexto andar é o mais interessante, guardando rascunhos e anotações do autor para seus livros, inclusive um mapa de Antares (Incidente em Antares) e outro de El Sacramento (O Senhor Embaixador). O terceiro andar também trata das obras principais do escritor. O prédio tem, ainda, um (pequeno e desinteressante) museu sobre a energia elétrica.
Seguindo a mesma rua, chega-se à Casa de Cultura Mario Quintana, que funciona no antigo Hotel Majestic, no qual o poeta viveu por anos. O quarto que costumava usar está preservado e há também um pequeno memorial dedicado a Elis Regina. O centro cultural conta com fonoteca, bibliotecas e um jardim muito agradável. No último andar, há um café decadente, com serviço ruim e preços absurdos (um cappuccino e uma coca zero me custaram incríveis 27 reais). Suba se quiser apreciar a vista (que nem é essas coisas), mas dê meia volta sem consumir nada.
A Linha Turismo passa também pela Praça da Matriz (ladeada pela Catedral, pelo Theatro São Pedro e pelo Palácio da Justiça; sem parada), pela Usina do Gasômetro, pela Fundação Iberê Camargo e pelo Estádio Beira-Rio. O ingresso custa 30 reais. No centro de informações de onde ela parte dá pra pegar um mapa bacana da cidade.
Outro passeio interessante é a bordo do Cisne Branco, pelas ilhas do Guaíba. Dura cerca de uma hora e, proporciona uma bela vista da orla de POA e, curiosidade, uma das ilhas pelas quais o barco passa é a Ilha das Flores, do famoso curta-metragem do fim dos anos 80. O documentário é mencionado no passeio, mas nada se fala sobre a realidade dos catadores ou do lixão, e não consegui descobrir se ele ainda existe (desde 2014 os lixões estão proibidos no Brasil e os já existentes deviam ter sido fechados). O ingresso custa 35 reais no cartão ou 30 reais em dinheiro.
Finalmente, o Parque da Redenção (oficialmente Parque Farroupilha) é passeio imperdível. O parque de diversões, os pedalinhos e o trenzinho me levaram diretamente aos anos 80. O paisagismo da área central é muito bonito e é complementado por um belo e merecido monumento à Força Expedicionária Brasileira, com uma placa listando os soldados gaúchos mortos na Segunda Guerra Mundial. Queria conhecer o famoso Brique da Redenção, mas só funciona aos domingos. Na sexta-feira santa, havia apenas dez ou doze barraquinhas – numa delas comprei o tradicional ímã de geladeira pra minha coleção.
Porto Alegre tem um free walking tour, mas só sai aos sábados às 11 da manhã. Uma pena que seja tão limitado. Justamente no sábado em que passei na cidade choveu e, obviamente, não houve o passeio.
Outros pontos de interesse: Travessa dos Venezianos e Rua Gonçalo de Carvalho, considerada a mais bonita do mundo (ok, há um certo exagero nisso).
Onde Comer
La Basque Rooftop: fui pela vista, que é linda (muito mais bonita que a do café do Hotel Majestique), mas fiquei pelo cardápio. O sorvetes são enormes. O sundae é um dos menores e foi minha escolha. Lindo e delicioso. Fica no último andar do prédio da Lebes, loja de departamentos quase em frente ao Mercado Público. Olha só a vista:
Café à Brasileira: um achado no centro histórico, na Rua Uruguai. Tinha que matar umas duas horas e o café é grande o suficiente pra não ficar lotado a ponto de garçons quererem expulsar os clientes. Pedi um cappuccino que veio perfeito e um espresso romano (com raspas de limão), com um aroma sensacional. O cardápio é extenso, com opções de café-da-manhã, lanches, almoço e sobremesas. Passei o tempo com o kindle. Vale dizer que o café não tem internet.
Charlie Pub: descoberta deliciosa da amiga portoalegrense – uma casa especializada em brownies! Serve sorvetes, cafés e bebidas (tem drinks lindos), mas não há nada salgado no cardápio, o que não foi problema pra gente. Fica na Cidade Baixa.
Fiz questão de ir ao restaurante Koh Pee Pee, conhecido como o melhor tailandês do Brasil. Reservei por email e achei bem estranho quando a confirmação da reserva trouxe, também, o tempo máximo de permanência. Nunca tinha visto isso. Escolhi um menu semifechado de entrada, prato principal e sobremesa justamente pra não correr o risco de “estourar” o tempo (esses combinados costumam estar engatilhados na cozinha, saem rápido), mas extrapolei mesmo assim. Não por culpa minha, mas por demora no serviço, mesmo. Enfim, não me encheram a paciência por isso. O ambiente é bonito e climatizado (levei uma jaqueta que foi bem útil). A caipirinha de lichia que pedi estava ótima. A entrada (rolinho primavera com camarão, porco e legumes) estava muito boa, sequinha, mas confesso que não vi camarões. O prato principal foi pad kapao moo (porco picado com pasta de alho, pimenta, raiz de coentro e manjericão tailandês), acompanhado de arroz thai jasmim. Estava gostoso nas primeiras garfadas, mas depois me pareceu muito salgado e com um gosto forte de caldo de carne industrializado. Os demais temperos nem apareciam (a pimenta aparecia um pouco, claro, afinal era um restaurante tailandês). A sobremesa (banana empanada com calda de açúcar de palmeira e sorvete de creme) estava ótima, mas eu preferia menos sorvete – pô, todo mundo conhece sorvete de creme – e dois pedaços de banana, em vez de um (e pequeno). A banana vem empanada numa massinha leve com coco ralado e é uma delícia.
Resumo da ópera: só recomendo o Koh Pee Pee se você tiver mesmo muita curiosidade de visitar o famoso restaurante.
O tradicional Barranco estava nos planos, no último dia de viagem, mas foi por água abaixo por causa da chuva (perdão pelo trocadalho). Não deu tempo de ir na Lancheria do Parque (na frente do Parque da Redenção), famosa pelo “a la minuta”, prato típico da cidade composto de arroz, bife, ovo e batata frita.
Meios de Transporte
Andei a pé quase todo o tempo e me perdi horrores, primeiro porque seguir mapas não é comigo, segundo porque parece que é moda arrancar as placas com os nomes das ruas em Porto Alegre.
Além dos pés e da Linha Turismo, usei o táxi (via Easy Táxi). Para o aeroporto, custou meros 23 reais. Do aeroporto ao hotel, R$ 38,50 (bandeira 2).
Porto Alegre não tem metrô, exceto pela linha de superfície que liga o aeroporto ao centro histórico.
Custos da Viagem
- Hotel: R$ 749,70
- Comida e bebida: R$ 300,04 (quase metade no restaurante tailandês)
- Transporte: R$ 90,50
- Passeios: R$ 60,00
Fiquei triste em sentir pelo texto que você não gostou muito da minha cidade natal…ou talvez você não tenha tido sorte….pena que os Museus não estavam abertos, você não visitou o Theatro São Pedro e também não foi no Brique – tenho certeza que gostaria!
Já moro em Brasília há quase 20 anos, mas gostei de passear com o seu olhar pela minha cidade do coração – por muitos anos morei atrás do Theatro e muitos dos lugares citados eram o meu caminho todos os dias…espero que você volte (quem sabe durante uma Feira do Livro) e seja melhor recebida, prove uma salada de frutas no Mercado e veja um pôr-do-sol inesquecível nesse Porto tão querido pra mim…
Ana Célia, faltou um pouco de sorte, sim, mas no geral eu gostei de Porto Alegre. Os parques são muito bacanas, o pôr-do-sol é realmente lindo (e quem está acostumado com o de Brasília – como eu e você – se torna bem exigente nesse quesito), o Guaíba é um sossego para os olhos.
Ah, eu bem quis visitar o Theatro São Pedro, mas a visita guiada está suspensa por tempo indeterminado e a programação de eventos estava reduzida em função do feriado.
O pior mesmo foi pegar tanta coisa fechada. Viajante sempre passa alguns perrengues, faz parte. 🙂