Você acha que já leu todo tipo de fantasia? Leia N. K. Jemisin. Ela foge aos clichês do gênero e cria histórias poderosas com palavras exatas. O leitor é conduzido com esmero por um mundo novo e logo tem a sensação de ter nascido nesse mundo. É o que acontece na duologia Dreamblood.
O primeiro livro, “Killing Moon”, demora um pouco a engrenar, o que não é raro em livros de fantasia com worldbuilding complexo. Quando engrena, agarra o leitor e não solta mais. Senti-me no deserto com Ehiru e Nijiri, compartilhei suas incertezas e naveguei com eles no mundo dos sonhos – eles são Gatherers, sacerdotes da deusa Hananji e do templo Hetawa que usam magia para (entre outras coisas) conduzir a alma dos suplicante ao além-vida. Subitamente, veem-se envolvidos por uma intriga política que começa sutilmente e se revela uma grande ameaça.
O segundo livro, “The Shadowed Sun”, transcorre no mesmo mundo, dez anos depois. Dessa vez, acompanhei os Sharers, outra vocação no Hetawa. Numa simplificação, se Gatherers curam a alma, Sharers curam o corpo, também por meio de magia e do mundo dos sonhos. Hanani, única Sharer mulher, enfrenta um enorme desafio enquanto tenta se encontrar em meio às exigências do Hetawa e às suas próprias necessidades. Jemisin me fez sentir as angústias de Hanani com tanta força que às vezes era preciso interromper a leitura.
O worldbuilding é excelente e os personagens são complexos e multifacetados, mas a força da escrita de N. K. Jemisin é a construção de relacionamentos. Essa habilidade torna Dreamblood uma história inesquecível.
Infelizmente, ainda não há tradução para o português. O jeito é ler em inglês ou aguardar a tradução pela @editoramorrobranco.
A @soterradaporlivros e a @livroseletricos também resenharam a duologia (era pra ser leitura coletiva, eu flopei), vai lá ver.
Estrelinhas no caderno: