Ficha Técnica
Babel. EUA, 2006. Drama. 142 minutos. Direção: Alejandro González-Iñárritu. Com Cate Blanchett, Brad Pitt, Gael García Bernal, Adriana Barraza, Rinko Kikuchi.
Um ônibus repleto de turistas atravessa uma região montanhosa do Marrocos. Entre os viajantes estão Richard (Brad Pitt) e Susan (Cate Blanchett), um casal de americanos. Ali perto os meninos Ahmed (Said Tarchani) e Youssef (Boubker At El Caid) manejam um rifle que seu pai lhes deu para proteger a pequena criação de cabras da família. Um tiro atinge o ônibus, ferindo Susan. A partir daí o filme mostra como este fato afeta a vida de pessoas em vários pontos diferentes do mundo: nos Estados Unidos, onde Richard e Susan deixaram seus filhos aos cuidados da babá mexicana; no Japão, onde um homem (Kôji Yakusho) tenta superar a morte trágica de sua mulher e ajudar a filha surda (Rinko Kinkuchi) a aceitar a perda; no México, para onde a babá (Adriana Barraza) acaba levando as crianças; e ali mesmo, no Marrocos, onde a polícia passa a procurar suspeitos de um ato terrorista.
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Babel é aquele tipo de filme que parece ter virado moda nos últimos tempos: várias tramas interligadas, num vaivém. A fórmula não é nova (o exemplo mais recente e bem-sucedido é Crash), mas é bem explorada pelo diretor Alejandro Iñárritu, ao contar quatro histórias tão interessantes que não se a passagem das quase duas horas e meia de exibição. Aliás, Babel encerra a trilogia do diretor, iniciada com Amores Brutos e dada seqüência em 21 gramas, cujo propósito era contar, de modo descontinuado, histórias interligadas.
Um dos pontos altos do filme é o elenco, tanto assim que duas atrizes foram indicadas ao Oscar de melhor coadjuvante: Adriana Barraza, que fez a babá mexicana Amelia, e Rinko Kinkuchi, no excelente e difícil papel da surda-muda Chieko. A melhor coisa de Babel, no entanto, é a trilha sonora, tão marcante e bem conduzida que se torna um personagem imprescindível. A trilha sonora é responsável por criar alguns dos mais tensos do filme, fazendo o espectador prender a respiração e mergulhar na história. Seu criador, Gustavo Santaolalla, foi merecidamente agraciado com o Oscar pelo belo trabalho – o único que Babel levou (badaladíssimo, concorreu a sete estatuetas), e o segundo da carreira de Santaolalla (o primeiro foi ano passado, pela trilha sonora de O Segredo de Brokeback Mountain).
Babel aborda duas faces de uma moeda: o estrangeirismo, o sentimento de estar deslocado, ilhado, desconectado dos demais seres humanos; e o preconceito contra o estrangeiro, o diferente, o inesperado. Para passar essa idéia, o diretor vale-se de estereótipos: a juventude rebelde japonesa, a família perfeita norte-americana, a mexicana clandestina, a constante ameaça terrorista muçulmana.
Esse uso de estereótipos trunca a mensagem do filme e deixa o espectador na dúvida: o que o diretor pretende, afinal? Reforçar preconceitos por meio de clichês, ou refutá-los? Tende-se a acreditar nas boas intenções do cineasta, daí muitos espectadores apostarem na primeira opção. Uma análise mais fria, entretanto, revela o contrário: Babel é tão preconceituoso quanto parece e os únicos personagens verdadeiramente altruístas – o guia turístico e a velha que ajudam a mulher norte-americana baleada e seu marido – funcionam como a exceção que confirma a regra.
Talvez Babel seja um espelho da sociedade, com seus falsos julgamentos e valores deturpados; não passa, contudo, de uma superfície reflexiva inerte. Qualquer crítica que se faça ao status quo parte do espectador, não do filme, que limita-se a contar uma história dramática sem tecer juízo de valor. Poderia ser uma história mais rica e relevante se o fizesse.