O ano da consciência ecológica

Quando um assunto aparece no Fantástico, é sinal de que é popular. Assim, é uma boa notícia saber que a “revista eletrônica” da Globo deu início a uma série chamada O Caos no Clima, em que aborda os responsáveis pelo aquecimento global, as conseqüências das mudanças climáticas e as formas de solução do problema.

2006 tem sido apontado por especialistas como o ano da consciência ambiental. As expectativas são boas – se 2006 foi o ano da consciência, é possível acreditar que 2007 marcará o ponto de inflexão, o momento em que governantes e sociedade civil passarão a agir em larga escala para evitar que o aquecimento global atinja proporções catastróficas.

Disseminar informações sobre o problema ainda faz parte da ação, já que resta uma parcela dos políticos e da sociedade a despertar para o tema. Desde a semana passada, o Dia de Folga tem uma nova categoria, Ecologia, um espaço para abordar questões relativas ao meio ambiente em geral e ao aquecimento global em particular.

Referências

Depois que morre, todo mundo vira bonzinho…

…até o Saddam Hussein.

Desde o seu enforcamento por crime contra a humanidade, em trinta de dezembo passado, líderes políticos pelo mundo afora vêm criticando a condenação do ex-ditador iraquiano. Mais ainda: organizações de defesa dos direitos humanos protestam contra o julgamento e a execução de Saddam. É politicamente correto repudiar o fim que foi dado a ele.

Ora, bolas. O sujeito foi um dos maiores violadores dos direitos humanos da história recente mundial. As barbáries que o Saddam Hussein perpetrou ao longo de quase vinte e cinco anos no poder são incontáveis. Será que as tais organizações pelos direitos humanos não têm mais nada o que fazer, nenhuma outra bandeira a defender? Será que não existem causas infinitamente mais justas ao redor do globo?

Não cabe, aqui, a discussão sobre a correção moral da pena de morte. Decidir por incluí-la entre as possíveis punições é ato soberano de cada nação. Ela é prevista na legislação iraquiana, e ponto. Saddam foi julgado por seus pares, ou seja, por um tribunal iraquiano (especificamente, pelo Alto Tribunal Penal Iraquiano) e executado segundo as leis do país. Até se pode aproveitar o caso para discutir a pena de morte abstratamente (aceita por vários países e rejeitada por outros tantos), mas criticar a sua aplicação no julgamento de Saddam é misturar alhos com bugalhos.

Nesse história toda, só lamento as provocações lançadas pelos carrascos contra o condenado, não por ter pena dele, mas por considerar indigno o comportamento de pisar em quem está caído. Ou de chutar cachorro morto.

Enquete: pesquisas eleitorais

A última enquete do Dia de Folga perguntou:

Você acredita nas pesquisas eleitorais que proclamam a reeleição do Lula ainda no primeiro turno?

152 leitores responderam à pesquisa. Eis os resultados:

Sim. A maioria dos eleitores ainda acredita no Lula, apesar das denúncias de corrupção: 37%, ou 56 votos.

Não. Trata-se de uma tentativa de fraudar o regime democrático e induzir o voto: 59% – com 89 votos, foi a escolha predominante.

Que pesquisas?…: 5% – 7 votos.

O resultado das urnas confirmou minha teoria – e a da maioria dos leitores – de que as pesquisas de intenção de voto estavam, no mínimo, mal feitas. Claro que, se fosse escolhida uma determinada faixa econômica ou uma certa região geográfica, pareceria óbvia a vitória do Lula em primeiro turno, da mesma forma que uma pesquisa feita exclusivamente em São Paulo revelaria vitória inquestionável do Geraldo Alckmin. Estatística é uma ferramenta altamente manipulável – e manipuladora – travestida de ciência exata.

Seja como for, eu não poderia ficar mais feliz com esse segundo turno. Se houver uma vitória do Lula, após tantos escândalos, certamente ficarei decepcionada, mas ao menos terá existido um maior debate sobre os candidatos e o povo terá tido a chance de repensar suas escolhas.

Agora, decepcionante mesmo foi a votação para os cargos legislativos. Para o povo brasileiro, parece não fazer a menor diferença se determinado candidato foi envolvido em denúncias de corrupção e fraude. São Paulo elegeu Paulo Maluf, Celso Russomano, Palocci e José Genoíno sem hesitação. Para completar, Clodovil – que já declarou que não tem, o que importa é que vai chegar chiquérrimo em Brasília – foi o candidato mais votado, e Frank Aguiar agora vai cantar na Câmara dos Deputados. Isso pra não mencionar outras figurinhas que estão de volta, como Fernando Collor de Mello que, após 14 anos sem mandato, é senador por Alagoas.

Com votações como essas, fica realmente difícil acreditar que qualquer investigação, manifestação ou sejá lá o que for possa fazer a diferença e melhorar o cenário político nacional.

Sobre os institutos de pesquisas e sua influência nas eleições, indico um texto curto e interessante do site Mídia Sem Máscaras.

A celebração da violência

Não queria comentar a atitude insana e absolutamente anti-esportiva do Zidane ontem, na prorrogação do jogo decisivo da Copa do Mundo 2006, porque todos os jornais do mundo já disseram tudo sobre o tema. Claro que o Le Monde insiste que o jogador francês deve ter sido muito provocado para reagir assim – não vejo que provocação seria justificável – e que houve violação ao regulamento, que não prevê o auxílio da imagem televisiva para esclarecer impasses – o quarto árbitro foi o único a ver o incidente e solicitou a reprise para que o árbitro principal pudesse decidir pela expulsão do jogador. Na Blogosfera, este também é o assunto do dia.

O que me leva a criar esta entrada é apenas o desejo de externar minha profunda indignação contra a decisão da FIFA de, ignorando completamente a conduta violenta, indigna e injustificável de Zidane, conceder-lhe o título de melhor jogador da Copa 2006.

Sim, o cara jogou um bolão. Foi o responsável por vários dos lances mais bonitos da Copa. No jogo contra o Brasil, eu estava quase apaludindo os dribles do Zidane em cima da nossa apática seleção.

Só que, no meu entendimento, um evento esportivo mundial deve celebrar, acima de tudo, a integração dos povos e a tolerância entre as pessoas. Não é justamente por isso que a FIFA decidiu, este ano, promover uma campanha contra o racismo, por meio de textos lidos pelos jogadores antes do início das partidas?

Copa do Mundo não é Olimpíadas, mas é do senso comum entender que o espírito olímpico deve estar presente: a competitividade saudável, a colaboração mútua, o respeito a valores tidos por universais – honestidade, cooperação e, acima de todos os outros, paz. A cabeçada do Zidane é a antítese de tudo isso. Registrou-se um dos momentos mais tristes do esporte mundial. Foi deprimente, e confesso que fiquei mesmo com pena do Zidane, pelo fecho melancólico que ele próprio criou para sua carreira brilhante. Por mais que se lamente, no entanto, é tremendamente injusto premiar um jogador após cometer tamanha agressão. É passar ao mundo a mensagem “tudo bem, o que o Zidane fez não foi nada de mais”, quando foi, sim. É referendar um comportamento intolerável vindo de qualquer pessoa e, especialmente, de um esportista de alto nível, cuja imagem influencia milhares de fãs.

Não se diga que ele foi magnífico durante a Copa inteira e que esta foi só uma escorregadela. Um só ato indigno deveria ser o suficiente para diferenciar Zidane de jogadores como Cannavaro e Pirlo que, além de mostrarem um bom futebol, agiram com respeito e esportividade.

Há tempos, uma empresa veiculou uma propaganda falando da importância que um segundo pode ter numa vida. A cabeçada do Zidane é um típico exemplo disso. Aparentemente, porém, os valores andam tão esquecidos que nada mais realmente conta.

Parabéns à Itália pelo tetracampeonato. A França jogou melhor até a saída do seu craque, é verdade, ficando completamente desnorteada depois (mais um fato que deve estar pesando na consciência de Zidane agora). Não foi capaz, entretanto, de converter sua supremacia num gol decisivo. A Itália fez uma campanha bonita e saiu de um jejum de 24 anos, espantando o fantasma de 1994, quando perdeu a Copa para o Brasil, também numa decisão por pênaltis. Agora temos, novamente, uma seleção na nossa cola em número de títulos mundiais.