Em 2010, percebi que tinha coisas demais. Coisas que nem em dez anos conseguiria usar ou aproveitar – até porque depois de dez anos é comum que a gente sequer goste das mesmas coisas, sejam elas roupas, música, livros ou maquiagem. Na época eu ainda não sabia, mas essa foi a porta de entrada para o minimalismo na minha vida.
Em 2012, decidi fazer um ano sem compras. Foi um grande aprendizado. Revendo o post, sorri por ter escrito que ficar um ano sem comprar revistas seria difícil – realmente foi, mas também serviu para quebrar um hábito de consumo que, a bem da verdade, não me acrescentava grande coisa. A última revista que comprei foi em setembro de 2015 e nem achei tão legal. O Ano Sem Compras me ajudou também a diminuir a pilha de livros não lidos, a pilha de roupas sem uso e a compra quase compulsiva de produtos de maquiagem.
Também em 2012, descobri que ainda tinha 195 peças de roupa (provavelmente tinha umas 300 em 2010), o que me lançou em um novo desafio, o Project 333: usar trinta e três peças de roupa, calçados e acessórios durante três meses, tirando as outras do armário. Adaptei o projeto e os trinta e três itens eram todos roupas – não incluí acessórios e calçados. Segui o Project 333 por mais de quatro anos. Foi uma experiência riquíssima. Algumas coisas que aprendi:
- ninguém percebe quando você repete roupa (ou, se percebe, não enche o saco);
- não vale a pena ter montes de roupas nas quais você não se sente bem;
- trinta e três peças por estação (lembrando que, no Brasil, temos no máximo duas) são suficientes.
Na verdade, depois de uns quatro ou cinco ciclos, passei a usar menos de 33 peças a cada 3 meses. Quando selecionava as roupas para o próximo período, parava em 25 ou 26, o que me dava margem para comprar uma peça ou outra, ou para buscar entre as minhas próprias roupas engavetadas algo que fizesse falta.
Era comum que, no fim de um ciclo, sobrassem algumas peças sem uso, o que claramente indicava que eu não tinha o menor interesse nelas (afinal, mesmo com poucas opções no armário, não me dava ao trabalho de usá-las). Às vezes eu conseguia desapegar, às vezes acabava guardando para tentar usar em um ciclo futuro. E havia uma peça ou outra que entrava em rigorosamente todas as minhas seleções – minhas verdadeiras favoritas.
Em 2015, precisei renovar o armário em função da mudança de carreira, que também foi acompanhada por mudança de cidade. Durante todo o ano de 2016, segui mais ou menos o Project 333, só que várias peças. Nem tocava na maior parte do meu guarda-roupa antigo que, aliás, estava em outra cidade. No segundo semestre, embora minhas roupas já estivessem comigo, mal as usei.
Eis o problema: estava fazendo (mais ou menos) o Project 333, mas havia pilhas de roupas que eu não usava há mais de um ano. Então, por que diabos as guardava?
Comecei a achar que tivesse voltado aos velhos hábitos consumistas e em dezembro de 2016 fiz uma contagem das minhas peças. Eis o resultado:
- Camisas e camisetas: 61 (em 2012: 59)
- Saias: 18 (em 2012: 23)
- Vestidos: 20 (em 2012: 29)
- Calças e bermudas: 10 (em 2012: 23)
- Casacos, casaquetos, jaquetas e blazers: 27 (em 2012: 35)
- Roupas de festa: 1 (em 2012: 5)
- Roupas de dormir: 4 (em 2012: 6)
- Roupas de ginástica: 15 (em 2012: 15)
Total: 156 peças. Excluindo-se as roupas de dormir e as de malhar (porque realmente uso todas), sobram 137 peças.
Ah, os calçados: 20 pares (em 2012: 24), sem contar os chinelos (dois pares).
Concluí que não, não voltei aos velhos hábitos. Refreei o consumismo. Tenho menos roupas que em 2012, e a maior parte das categorias sofreu uma redução (exceção para as roupas de ginástica, cujo número se manteve, e para as camisas e camisetas, que estão quase na mesma). Além disso, fica evidente que revi meu estilo e passei a focar no que realmente gosto e uso (odeio usar calça, então obviamente nunca precisei de 23; quase não vou a festas que exijam trajes “chiques”, então não preciso de 5 deles)
Ainda assim, persiste a questão: muito do que tenho não é usado há mais de um ano. Algumas coisas não são usadas há mais de dois anos. Andei comprando muita roupa, em vez de aproveitar as que já tinha.
Nada errado em comprar, especialmente levando-se em conta a mudança de carreira, de cidade, de vida. Não daria mesmo pra “congelar” o guarda-roupa.
Tudo errado, porém, em acumular tanta coisa sem uso.
Assim, o ano de 2017 começa com duas resoluções ligadas ao consumo:
- Será um Ano Sem Compras.
- Até dezembro, as 137 peças devem ser reduzidas a 100.
Pra isso, é fundamental interromper o Project 333. Preciso ver tudo que tenho para saber o que ainda vale a pena manter e o que merece ser doado. Então, esvaziei praticamente todas as gavetas (faltou cabide, por isso sobrou uma gaveta e há várias peças no chão do armário) e deixei quase tudo à vista:
Agora posso ver tudo que tenho. A primeira vantagem é que em duas semanas já separei umas dez peças para doação – coisas que tentei usar ao longo desses dias e não têm mais nada a ver comigo. Nesse ritmo, será muito fácil cumprir a segunda parte do desafio.
Quanto à primeira parte, criei algumas regras, não muito diferentes das que usei em 2010:
O que não posso comprar:
- roupas
- calçados
- acessórios
- cosméticos
- livros (físicos ou digitais)
- cds, dvds e revistas (a parte mais fácil, porque já não consumo essas coisas há anos)
- eletrônicos (a não ser para reposição por quebra)
- itens de decoração e utensílios domésticos
- itens de papelaria
Exceções:
- posso comprar roupas para temperaturas abaixo de zero (serão necessárias para uma viagem)
- posso comprar roupas no exterior, se houver real vantagem financeira
- posso comprar presentes
- posso comprar experiências (viagens, passeios, ingressos para teatro etc.)
- posso comprar itens consumíveis (comida, bebidas, material de higiene e limpeza)
Flexibilizei a regra das roupas, diferentemente do que fiz em 2012, porque ainda estou um tanto insegura com meu novo guarda-roupas e porque os desafios que me proponho devem ser fonte de crescimento, autoconhecimento e aprendizado, não de frustração e stress. Mesmo assim, ao fim do ano devo ter 37 peças a menos, não a mais. Cada compra deve levar isso em consideração.
Ao fim do ano, espero ter melhorado um pouco mais meus hábitos de consumo e, principalmente, espero ter um guarda-roupas com a minha cara, apenas com roupas que sejam frequentemente usadas, que me caiam bem e de que eu goste.
O que você acha disso tudo? Aproveitando o espírito do ano novo, você fez alguma resolução referente a hábitos de consumo?
O que eu acho de tudo isso??? Que vou te copiar:))))
Adoro ler, Lu. Li os antigos projetos por alto, não acompanhei a fio mas sei que me inspiraram de alguma forma.
Gostaria de resumir a minha experiência: de trabalhar dentro de um shopping e surtar de consumo (roupas, sapatos acessórios) pulando (um mês) pra trabalhar em home office e depois ter bebê. Reduzi a dez peças praticamente Hahahahaha E a quantidade de itens de decoração tb foi enxugada, principalmente com mudança de casa e, agora, bebê que engatinha e fica de pé. Acho que tenho aprendido muito de 2014/15 pra cá, mas a novidade é segurar o consumo de coisas pra filha!Rsrs a oferta é alucinante e sem contar a questão de gênero que renderia muito papo.
Enfim, espero que seu “projeto” seja prazeroso e desafiador.
Beijo!
(Saudade de ler e comentar em blogs!!)
Adorei! Ja tinha ouvido falar, mas nao conhecia seu blog. Essa é a minha meta – um ano sem comprar roupa, sapato e acessorios! Investimento em experiencias e na montagem do meu ap!
Muito boa a sensaçao! E o primeiro mês já está acabando ?! Um dia de cada vez!
Que perfeito, preciso colocar em prática!! Copiando em 3, 2, 1…
@Andréia, como está indo o projeto por aqui? Logo devo fazer mais um post a respeito.
@Emily, só imagino o desafio de segurar o consumo tendo um bebê em casa! Com tantas coisas fofinhas nas lojas e tanta pressão para o consumo…
@Ana, é isso aí, um dia de cada vez, exercitando a criatividade e economizando!
@Pietra, fica à vontade pra copiar e depois volta pra contar a experiência.
Pior é comprar aquisições por impulso de maior valor. Eu, solteira e sem filhos, tenho um jogo playstation que comprei muito barato no exterior em comparação aqui (no Brasil custava 3 ou 4 mil na época) que só joguei no primeiro mês e não quis vender. Agora desvalorizado nem compensa mais. Os eletrônicos trabalham com publicidade semelhante a moda. Você só precisa de celular para Whatsapp e redes sociais, mas se vê compelida a comprar os lançamentos do ano (e os modelos mais caros). Você só precisa de carro para transporte, mas propagam como status trocar de carro de ano em ano. Vejo culpabilização feminina na maioria dos papos sobre consumismo, como se homens também não o fossem. Não são em relação a roupas por não terem importância validada pela aparência, mas tem sobre vários outros produtos. Gastam rios de dinheiro em jogos e carros (os de classe média alta, claro).
Sobre roupas, eu fui educada num ambiente hostil em relação a isso. Meu pai, enquanto estudava, recebia um salário mínimo que usava para sustentar as filhas, e a gente só comprava as roupas que precisava (na verdade menos, pois criança cresce muito e precisa de troca frequente). O salário mínimo hoje é ridículo, imagina o de 15 anos atras? Depois ele conseguiu empregos melhores e como a gente não foi socializada para consumir moda passageira, já não era tão importante. Na adolescência até passou a ser, mas pouco depois caguei de novo.
Beijos!