A Nospheratt deu a dica em bom português: Darren Rowse, pioneiro do “probloguismo”, está promovendo um Top 5. Você pode escrever no seu idioma, sobre o que desejar.
Os incentivos? Dois links num blog ultra-hiper-maxi-popular e, se você for muito sortudo, mil e uma doletas. Leia as regras no blog da Nospheratt, em versão resumida, ou no original, em inglês.
Eu, que quase nem gosto de listas (imagina…), não poderia ficar de fora.
Para participar da brincadeira, quis fazer um Top 5 útil – e quer coisa mais útil que apreciar a leitura? Ser um bom leitor é atributo importantíssimo num tempo em que boa parte das informações relevantes vem em forma de texto, por internet ou periódicos. Ademais, quem lê bem escreve com facilidade e se comunica corretamente. Certamente, estará melhor preparado para qualquer entrevista de emprego ou prova de seleção do que aquele candidato que mal sabe “juntar as letrinhas”.
Confesso que me afastei dos bons e velhos livros nos últimos tempos, embora continue sendo uma leitora voraz – atualmente, voltada demais para a web. Preciso dar um jeito de incorporar à minha rotina meia hora diária de leitura à moda antiga, e dou a você o mesmo conselho. Para começar, que tal ler as indicações deste Top 5 até o fim do ano?
Escolhi livros com estilos e propostas bem diferentes, pois acredito que a diversidade de temas é um dos segredos para se tornar um bom leitor.
1. Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis: literatura universal em língua portuguesa. Publicado em 1881.
Se você foi (ou é) um adolescente estudioso, leu no segundo grau. Em todo caso, é daqueles livros que merecem ser relidos na idade adulta, quando você será capaz de analisá-lo sob outras luzes. O morto Brás Cubas faz, do além, um retrato afiado da burguesia e da oligarquia brasileiras, ainda aplicável nos dias de hoje. Lança sobre tudo um olhar cáustico – o bom dr. House é um aprendiz da arte da ironia se comparado a Brás Cubas. Sua frase final é, em si, um clássico: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.” O livro está disponível para download, sem violação de direitos autorais.
Machado de Assis é, na opinião de muitos, o maior escritor brasileiro de todos os tempos. Pena que Paulo Coelho faça mais sucesso.
2. Cem Anos de Solidão (Cien Años de Soledad), de Gabriel García Márquez: literatura universal em língua estrangeira. Publicado em 1967.
Valendo-se do realismo fantástico, Marquez conta a história de várias gerações da família Buendía, da fictícia cidade de Macondo. É comum, ao iniciar a leitura, sentir-se a tentação de traçar a árvore geneálogica da família Buendía, num esforço para se localizar em meio às sucessivas gerações, em que prenomes se repetem e histórias se cruzam. Não vale a pena. Mais proveitoso é deixar-se levar pela narrativa mágica que, a certa altura, conta de uma época em que choveu tanto que “os peixes poderiam entrar pelas portas e sair pelas janelas”. Cem Anos de Solidão é uma metáfora, por vezes bela, freqüentemente cruel, das sociedades latino-americanas.
Gabriel García Marquez ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1982.
3. Não me Abandone Jamais (Never Ler Me Go), de Kazuo Ishiguro: literatura contemporânea/drama. Publicado em 2005.
Na primeira página, é apresentada Kathy M., uma cuidadora de doadores que foi treinada para o ofício durante toda a sua vida, num orfanato inglês. Aos 31 anos de idade, está prestes a encerrar sua carreira. O leitor vê-se diante de palavras e situações cujo significado não compreende. A narrativa retroage, então, para a infância de Kathy e seus amigos no internato. Aos poucos, descortina-se uma história profundamente comovente e trágica. O romance provoca questionamentos éticos intensos e abala convicções. Você pode ler as primeiras páginas aqui.
Kazuo Ishiguro, japonês radicado na Inglaterra, também escreveu Resíduos do Dia, que foi transformado em filme cujo título, no Brasil, é Vestígios do Dia.
4. Alta Fidelidade (High Fidelity), de Nick Hornby: literatura contemporânea/cultura pop. Publicado em 1995.
Rob Flemming é um solteirão na casa dos 30, mal-sucedido em seus relacionamentos amorosos e não muito melhor quando o assunto é financeiro. Seu passatempo preferido, depois da música, é fazer lista ao estilo – adivinhe? – Top 5. Após ser chutado mais uma vez, decide fazer um Top 5 das suas separações mais memoráveis. O livro é um passeio pelos anos 70 e 80, regado a muito rock e cheio de referências à cultura pop. Uma viagem pelo mundo masculino – e, por isso mesmo, muito interessante para as leitoras – que conta com pérolas como “As pessoas afetivamente mais infelizes que conheço são as que mais gostam de música pop.”
Alta Fidelidade virou filme (com excelente trilha sonora, claro) e peça teatral. Nick Hornby é um dos mais festejados escritores britânicos da atualidade.
5. Antologia Poética, de Vinicius de Moraes: poesia. Publicado em 1977?
Sou uma pessoa de prosa, muito mais que de poesia. Gosto de poucos poetas, não por desprezar o gênero, mas por não ter mesmo o hábito de lê-lo. Dentre esses poucos “eleitos”, está Vinicius de Moraes, chamado carinhosamente de “poetinha”. Essa antologia, uma raridade atualmente, reúne textos produzidos entre 1933 e 1946. Traz poesias famosas como Soneto da Separação e Soneto da Fidelidade, e outras menos conhecidas, como Balada do Morto-Vivo – uma de minhas preferidas e, salvo engano, presente somente nesta antologia.
Não tenho certeza de quando esse livro foi publicado, até porque há várias antologias poéticas do Vinicius, o que complica a pesquisa. Esta saiu pela Editora Companhia das Letras. Infelizmente, a obra está esgotada e você terá sorte se encontrá-la em um sebo. Por outro lado, há várias antologias do poetinha fáceis de encontrar, algumas por preços camaradas.
Boa leitura!