A Ciência Médica de House

A Ciência Médica de House Norte-americanos têm um talento especial para capitalizar em cima de qualquer filme ou seriado – na verdade, em cima de tudo que se torne popular. Desde revistas em quadrinhos até brinquedos da Disney, passado por bonecos, os caras inventam tudo. Agora, a moda são os tais universos expandidos, como fizeram para Lost e Heroes. Os fãs, claro, consomem tudo que podem, seja dedicando seu tempo, seja abrindo a carteira.

Provavelmente, o modelo de exploração mais tradicional são os livros, graças ao seu baixo custo, tanto para quem produz quanto para o público, e à sua capacidade de alimentar a imaginação. Há centenas de histórias sobre Star Trek, Star Wars e Arquivo X, por exemplo, que jamais estiveram nos planos dos seus idealizadores. Às vezes, não passam de fanfics – contos ou romances escritos por fãs, que circulam livremente na internet e, antes, ocupavam os fanzines “de papel xerox”. Algumas histórias são publicadas e, eventualmente, passam a integrar a mitologia oficial das produções. Também há as novelizações de filmes e episódios.

E, claro, existem os livros de referência. Enciclopédias, dicionários, guias de episódios, de civilizações, de citações, de lugares, de comidas que tal seriado exibiu… tudo que possa ser catalogado/copiado/listado vira livro de referência. É óbivo que todos são caça-níqueis – afinal, você paga (caro, às vezes) por eles. Alguns não passam disso (para que, em nome do Grande Pássaro da Galáxia, alguém precisa aprender a falar klingon?). Outros são realmente bons, interessantes e inspirados, como os livros da coleção “________ e a Filosofia”.

Quando vi A Ciência Médica de House, fiquei na dúvida sobre que tipo de caça-níqueis seria. Comprei, li e, oh boy, é caça-níqueis do tipo bom.

Se há uma queixa, é a de que o livro foi escrito cedo demais. Os episódios usados como exemplos pelo autor, jornalista especializado em medicina (daí a linguagem acessível do livro), limitam-se às duas primeiras temporadas da série. Algumas descrições do livro seriam perfeitamente ilustradas por episódios mais recentes, como o da histeria coletiva (Airbone, episódio 18 da terceira temporada – e sim, isto foi um spoiler, mas o episódio já passou no Brasil há um ano). No mais, não há o que reclamar.

Uma das melhores coisas da ficção é que você aprende sobre assuntos com os quais, normalmente, não teria contato. “________ e a Filosofia” aprofunda esse processo muito bem, discorrendo sobre conceitos filosóficos ao analisar séries e filmes. A Ciência Médica de House tem a mesma qualidade, apoiando-se na série a fim de traduzir aspectos da medicina para o público leigo: como funcionam exames e testes; o sistema de saúde norte-americano; a burocracia; o processo de diagnóstico e por aí afora.

House M.D. - divulgação da quarta temporada Outro aspecto muito interessante é a análise do comportamento do Dr. Gregory House. O autor destaca que, na vida real, um médico arrogante, viciado e prepotente como House não duraria nada num hospital-escola, ainda que fosse um gênio do diagnóstico. Aliás, não duraria em canto nenhum e mal teria tempo para fazer outra coisa além de defender-se em tribunais. A agravante é que, na vida real, não há ninguém tão sagaz a ponto de fazer os diagnósticos mais brilhantes e prescrever os tratamentos mais obscuros sem obedecer às normas e sem cometer, no processo, muitos erros médicos.

Os últimos parágrafos do livro (ora, não é um romance, não estou “estragando o final”) resumem bem a idéia:

Um renegado médico brilhante, como o dr. House, que marcha sobre a burocracia e a convenção médica em sua batalha individual para salvar seus pacientes, é muito mais interessante do que os metódicos médicos que seguem as diretrizes e os protocolos mais recentes, tentando não causar mais mal do que bem com seus testes e tratamentos.

No entanto, quando você entra em um avião para atravessar o país, está procurando diversão ou um vôo sem sustos que o leve de maneira segura para o destino informado em seu bilhete? E se um dia precisar ser hospitalizado, com sua vida em jogo, que tipo de médico você realmente vai querer que esteja no controle de seu caso?

O público assiste a House e imagina se as doenças mirabolantes que aparecem no seriado são mesmo possíveis. Talvez também se pergunte se um médico como Dr. House é possível. Bem, surpreendentemente, o livro indica que as doenças da série são muito mais factíveis que seu protagonista.

Mas quem se importa? Eu quero é diversão.

Ficha Técnica

  • Título original: The Medical Science of House, M.D.
  • Autor: Andrew Holtz
  • Primeira edição (nos EUA): 2006.
  • Editora: Best Seller
  • Páginas: 283
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Imagens: divulgação.

Por que gosto tanto de House

Ou “Por que gosto tanto de séries em geral e de House em particular”

Raramente choro com a vida real. Não sou nenhum Chandler Bing, mas o fato é que a última vez que chorei de verdade foi há mais de 2 anos, e eu estava de porre (aliás, a causa do choro era uma tremenda bobagem). A exceção são as despedidas: fico mais sentimental nessas situações e quase sempre acabo chorando.

Já na ficção, afogo-me em lágrimas o tempo todo. Choro com filme sessão-da-tarde, com desenho animado, com comédia romântica. Choro com livros, eventualmente. Já manchei uma tirinha de Calvin e Haroldo. Chorava com novelas, quando as acompanhava. E caio em prantos com seriados. Sério mesmo. Sou capaz de lembrar de um episódio que vi há anos e ficar com os olhos cheios d’água.

Antes que você diga “get a life” ou “mas é só um filme”, esclareço que não sou nenhuma tapada. Sei que tem tanta gente por aí sofrendo de verdade, coitadinhos. Sei que é ridículo chorar por essas bobagens. Tão ridículo quanto torcer até as lágrimas por 11 babacas correndo em volta de uma bola. Estamos conversados?

O lance é que escolho envolver-me a esse ponto com a ficção. É catártico É divertido. É essa mesma capacidade de desligar-me da realidade e entrar na fantasia que me permite sair deliciada do cinema com Indiana Jones, por exemplo, ou rir até hoje de Chaves, ou de um quadro antigo d’Os Trapalhões.

É essa característica, por outro lado, que me impede de ver filmes sanguinolentos/nojentos/aterrorizantes, a não ser em condições especialíssimas. Minha pior experiência no cinema foi Seven. O filme é ótimo, eu sei; só que eu quis sair correndo e, juro, se estivesse sozinha, não teria assistido até o fim. Seria a primeira e única vez em que sairia no meio de uma exibição.

Obviamente, é esse mesmo salto para a ficção que me faz cair em prantos toda vez que vejo a morte do Dr. Mark Greene ou de Edith Keeler. Choro rios no fim de Friends (e, veja só, nem é triste – no máximo, melancólico). E me emociono horrores em alguns episódios de House MD – como, por exemplo, no episódio de ontem, a motivação para escrever esse texto hoje. Season finale. Último episódio da quarta temporada. Na verdade, episódio duplo, embora cada um tenha um nome: House’s Head e Wilson’s Heart. Títulos apropriadíssimos, por sinal.

(Ok, é impossível continuar a escrever sem dar spoilers. Se você ainda – está esperando o quê?! – não viu o fim da temporada de House e não quer estragar a surpresa, pare de ler agora. É sério. Depois, não reclame.)

O Donizetti twittou que o episódio duplo estava entre as melhores coisas que ele viu na tv em todos os tempos. Eu assino embaixo. O interessante é que, na média, esta nem foi a melhor temporada de House. A coisa melhorou mesmo após a greve dos roteiristas (aliás, se mantiverem esse padrão, que façam greve sempre que quiserem). Analisada como um todo, foi uma boa temporada, mas não tanto quanto a terceira, que teve um belo (e grande) arco inicial e terminou de forma tão inusitada que era quase inacreditável, com a remoção de metade dos personagens fixos do seriado.

Parece que a turma que faz House gosta mesmo de subverter a lógica das séries, já que fizeram isso novamente, ao fim da quarta temporada. De um modo primoroso, diga-se. Gradualmente, ao longo de alguns episódios, os roteiristas envolveram o espectador e prepararam o caminho para os 90 minutos mais surpreendentes e intensos que um fã poderia desejar. Nessa hora e meia final, tudo foi muito bem cuidado: fotografia, sonorização, efeitos visuais. A direção foi de babar (curioso que foram dois diretores, um para cada metade: Greg Yaitanes e Katie Jacobs).

O argumento é meticulosamente tecido para conduzir o espectador pelos mesmos labirintos em que House está, fazendo-o chegar às conclusões certas no mesmo momento em que o personagem as percebe.

Os atores, então, estavam em sua melhor forma. Hugh Laurie é bom demais, isso todo mundo sabe. Um sorrisinho ou um olhar traduzem uma gama de emoções. Como em:

– Você está pedindo que eu arrisque a minha vida para salvar a dela?

Há surpresas, porém. House e Wilson não fazem sua dança usual. House não está em condições de ser o sabe-tudo-arrogante de sempre. Wilson não dá conta de ser o grilo falante/melhor amigo. O grilo falante, nesse episódio, é Foreman. A amiga, tanto de House quanto de Wilson, é Cuddy. A arrogância ficou de fora.

Robert Sean Leonard é um espetáculo à parte. O cara sempre foi bom – haja vista Sociedade dos Poetas Mortos -, mas eu não sabia que era tão bom.

A dança das cadeiras, a ousadia em mexer com o estabelecido tem sido um ponto forte de House. Você simplesmente não sabe o que vai acontecer. Na maioria das séries, as coisas são bem mais previsíveis. Em Star Trek, sabíamos que só os camisas-vermelhas morriam nas missões. Em Law & Order, os detetives sempre acabam bem. Em Third Watch, há um verdadeiro massacre contra as unidades de bombeiros e de polícia, e nenhum dos protagonistas morre – só um se ferra, na verdade.

Você não tem essa mesma segurança assistindo a House. Se é óbvio que o personagem-título não pode morrer (não enquanto a série faz tanto sucesso), ele não está, por outro lado, livre de tragédias. Nenhum deles está. Ali, ninguém tem o cartão de saída livre da prisão.

A canção mais característica de House MD, que acaba por definir o seriado, é um clássico dos Rolling Stones. O refrão (e o título) é You can’t always get what you want – você não pode ter sempre o que quer. Isso é seguido à risca pela equipe que faz a série. Os personagens não vivem felizes para sempre.

O último diálogo da temporada retoma a tal canção. House diz para Amber (original – ou quase – aqui):

– A vida não devia ser randômica. Misantropos solitários e viciados deveriam morrer em batidas de ônibus, e jovens de boa-vontade e apaixonadas que foram tiradas de casa no meio da noite deveriam sair ilesas.
– Autopiedade não combina com você.
– Não. Bem, estou lutando entre auto-aversão e autodestruição. Wilson vai me odiar.
– Você meio que merece.
– Ele é meu melhor amigo.
– Eu sei. E agora?
– Eu poderia ficar aqui com você
– Desça do ônibus.
– Não posso.
– Por que não?
– Porque aqui não dói. Eu não quero sentir dor. Não quero ser infeliz. E não quero que ele me odeie.
– Você não pode ter sempre o que quer.

A letra continua: “but if you try sometimes you might find you get what you need” – mas se você tentar às vezes, pode descobrir que tem o que precisa.

Será que essa é uma das vezes para House e Wilson?

Como será a quinta temporada? Destruíram um elemento vital da série – para mim, o elemento vital. Ele será reconstruído? Haverá mudanças radicais? Restarão seqüelas, cicatrizes, isso é certo; mas em que profundidade?

House já aprontou das suas antes, é bem verdade. Atribui-se a ele a culpa pelo fracasso de três casamento do Wilson. Dessa vez… bem, dessa vez, House nem teve a intenção. Racionalmente falando, ele não é realmente culpado. Tudo não passou de uma junção infeliz de fatores. A vida é randômica – e injusta.

Agradecimentos ao Cardoso, que
leu meus lamentos na última semana e não deram spoilers.
E à minha mãe, por ter falado, há uns anos, “Assiste até o fim, que você vai gostar”.
Minhas duas maiores paixões televisivas são culpa dela.
(E quem falar “e pra você, Xuxa” apanha!).

PS: provavelmente, esse artigo mal começa a explicar por que gosto de séries, ou de House

PPS: tem mais spoiler nos comentários.

PPPS: House merecia um universo expandido (não, A ciência médica de House não conta).

Quem é você em Sex and the City?

Quem é você em Sex and the City? Acabei de ver no Chá de Hortelã: Quem é você em Sex and the City? Teste rápido, 15 questões. Perfeito para preparar o espírito para um dos filmes mais aguardados dos últimos tempos (por mim, pelo menos). Sim, Sex and the City[bb] estréia hoje nos cinemas brasileiros e mal posso esperar por uma brecha na agenda que me permita conferir as novas aventuras do mais famoso quarteto de Nova Iorque.

Meu resultado? Miranda Hobbes, claro.

Honestidade e competência são os adjetivos que melhor definem sua forte personalidade. Como Miranda, personagem vivida por Cynthia Nixon no seriado, você acredita em seu trabalho e o executa com grande prazer. Miranda sempre se sente dividida entre a profissional e a pessoa que se diverte e ama, isso pode ser comum na sua vida. Feminista por natureza, você defende seus direitos e de seus amigos com garras, principalmente se forem mulheres. Pode ser um grande desafio para você se permitir ser amada por um homem. Aprender a simplesmente “deixar para lá” certos conceitos podem parecer ferir seu orgulho, mas na verdade são apenas concessões normais para se relacionar com alguém.

Digamos que 90% da descrição batem com esta que vos escreve. E o mais legal é que nem titubeei ao dar as respostas.

Almanaque dos Seriados

Da série Livros Que Não Vou Comprar, Mas Gostaria de Ganhar.

Almanaque dos Seriados Achei ontem essa pérola, numa livraria próxima: o Almanaque dos Seriados é uma verdadeira jornada pelo túnel do tempo (sim, trocadilho infame, eu sei) das séries das últimas décadas. Numa folheada ligeira, sem procurar por nada específico, deparei-me com uma foto do McGyver[bb], outra da tripulação de Star Trek: The Next Generation[bb], uma notinha sobre a Dama de Ouro e uma página inteira dedicada ao Chaves[bb]. Nada mal, nada mal mesmo.

Só não comprei porque, no fundo, não há nada no livro que não possa ser encontrado na internet. Confesso que foi difícil pensar tão racionalmente… Seriados estão entre meus passatempos favoritos, isso não é segredo (e meu perfil no Orangotag está aí para não me deixar mentir).

Será que já tem House M.D. no Almanaque?