Marina Silva pediu demissão do MMA

Marina Silva Lembrei-me do texto Um passo à frente, dois atrás, que publiquei aqui no DF no fim de 2007. A saída de Marina Silva do comando do Ministério do Meio Ambiente representa exatamente isso: um retrocesso, um atraso tremendo na política ambiental brasileira – provavelmente, o seu fim. Isso menos de uma semana depois da notícia de que a cana-de-açúcar já ocupa o segundo lugar na nossa matriz energética. Como eu disse: um passo à frente, dois – ou dez – atrás.

Com a partida de Marina Silva, cai um dos pouquíssimos bastiões de integridade do governo Lula. No que tange ao meio ambiente, descem por água abaixo quaisquer esperanças de um desenvolvimento sustentável, em que o interesse coletivo seja colocado em primeiro lugar.

Marina lutou bravamente enquanto esteve à frente do MMA, com uma determinação que contraria sua imagem frágil de quem já sofreu muito. Perdeu quase todas as lutas para interesses financeiros, corporativos e imediatistas. Percebeu a iminência da sua última derrota ontem, quando era claro que seria aprovava a medida provisória que amplia a extensão das áreas da União que podem ser exploradas e desmatadas na Amazônia sem a necessidade de licitação, medida provisória esta que veio para legalizar a situação de criminosos.

Hoje deveria ser um dia triste para todos que se preocupam com o meio ambiente e com o Brasil.

Serviço

Foto: Agência Brasil, encontrada na Wikipédia.

Reitor da UnB pede afastamento

Educação É Progresso O reitor da Universidade de Brasília, Timothy Mulholland, pediu afastamento do cargo hoje, por 60 dias. Já se vão dois meses desde as primeiras denúncias contra Mulholland, que envolviam o uso de verbas da Finatec (Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos) para mobiliar luxuosamente o apartamento funcional que ocupa.

Acampamento O que pesou na decisão do reitor foi, sem dúvida, a ocupação do prédio da reitoria pelos estudantes há uma semana. O protesto estudantil deu visibilidade nacional a um caso que ameaçava juntar-se a outros tantos desmandos nunca apurados.

A ocupação teve início na quinta-feira passada. Desde segunda-feira, estendeu-se para todos os andares do prédio, apesar da resistência dos seguranças e do corte de água e luz (já restabelecidas). As atividades administrativas da reitoria foram suspensas e o prédio de concreto foi transformado em um ambiente de protesto agitado e colorido.

O afastamento de Mulholland na manhã de hoje, 10 de abril, deu novo gás aos manifestantes para que continuem pedindo a renúncia do reitor. Até lá, os estudantes dizem que tudo fica como está – a ocupação continua, mais forte que nunca.

Cadê o orçamento? Até porque não seria mesmo possível contentar-se com o novo estado de coisas: com Mulholland afastado, assume o vice-reitor, Edgar Mamiya, contra o qual também pairam denúncias de mau uso dos recursos da Finatec e da Funsaúde (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico na Área da Saúde). Sua renúncia, e a dos decanos da universidade, também têm sido pedidas pelo movimento de ocupação.

Como ex-aluna da UnB, estou muito orgulhosa da manifestação estudantil. Sim, eu a achava improvável. Que bom que estava enganada, que bom que os estudantes estão se fazendo ouvir em âmbito nacional, que bom que mesmo a decisão judicial de reintegração de posse não foi capaz de abalá-los, que bom que resistiram aos seguranças, à manifestação de apoio ao reitor (que contou com poucas dezenas de servidores), ao corte de água e de luz, às condições precárias das “acomodações”.

A praça de alimentação montada pelo C.A. de Agronomia A ocupação prossegue pacífica e bem-humorada. Cartazes provocativos decoram a reitoria. Barracas de acampamento foram armadas. O Centro Acadêmico de Agronomia (tradicionalmente, um dos mais divertidos da Universidade) improvisou um quiosque com comida e refrigerante. Músicas conhecidas são cantadas com letras adaptadas para refletir as motivações da ocupação. Aulas de ioga fazem parte do cronograma, para revitalizar os manifestantes.

Pauta de reivindicações Com tanta disposição, organização e bom-humor, dá pra acreditar que a ocupação pode durar o tempo que for necessário para alcançar seus propósitos. Aliás, a pauta não se restringe à renúncia dos chefões da Universidade: entre as reivindicações, estão as eleições paritárias e a abertura de concurso público para professores.

Enquanto isso, o Ministério Público impetrou ação de improbidade administrativa contra o reitor que, hipocritamente, diz-se “aliviado”, já que poderá “conhecer as acusações” e se defender. É isso aí, Vossa Excelência. Sustente a infâmia, a corrupção e a indignidade até quando lhe for possível. A lei lhe garante esse direito.

As fotos e o vídeo foram feitos por mim. Há outras imagens no meu Flickr.
Você pode usar, mas cite a autoria.

Reitor de universidade tem alta visibilidade, é?

Leia a notícia: Justiça afasta conselheiro de entidade ligada à UnB por suspeita de uso irregular de cartão (via Folha Online).

A Justiça é o TJDF. O conselheiro é Nelson Martim. A entidade é a Finatec. O cargo que Martim ocupava era, veja só, a presidência do Conselho Fiscal. O cartão é o de crédito do governo, claro – essa excrecência chamada cartão corporativo.

O gasto: 470 mil reais para redecorar o apartamento funcional de Timothy Mulholland, reitor da Universidade de Brasília. A justificativa: o cargo de Mulholland é de grande visibilidade, o que justifica a redecoração do seu apartamento funcional. A cereja do bolo: entre as aquisições, há lata de lixo de quase mil reais.

Agora, as perguntas que não querem calar:

  1. Desde quando reitor de universidade tem tanta visibilidade assim, neste país de iletrados?
  2. Em que país um governo compra uma lixeira de mil reais? Na Suécia, vá lá, eu entenderia. Mas aqui no Brasil, onde mal se tem saneamento básico?
  3. Como anda a UnB? Porque, da última vez em que eu estive lá, era assim: banheiro interditado; bebedouro desligado; quadros negros gastos; carteiras quebradas; alunos sem professores; estacionamentos sem segurança. Isso para apontar só alguns problemas que, aliás, são comuns a todo o ensino público.
  4. Será que os dirigentes da universidade não podiam aproveitar sua, er, influência junto ao governo Lula para corrigir um pouco do tanto que há por fazer, em vez de rasgar dinheiro?

Não, claro que não. Porque a coisa funciona assim: se seus adversários estão no poder, você diz que as condições da instituição são péssimas porque o governo não libera verbas; se o poder está com seus cupinchas aliados, você aproveita pra encher os bolsos, a cueca, as malas.

A universidade? Que se exploda, como diria Justo Veríssimo, junto com o resto do Brasil.