Justamente no sábado de lançamento da Feed-se Especial – Democracia, recebi por email um comunicado urgente escrito pelo fundador da rádio online Pandora: Traduzo:
Após um ano de negociações, Pandora, artistas e gravadoras finalmente estão otimistas sobre conseguirem um acordo de direitos autorais que salvaria Pandora e a rádio online. Mas logo quando estamos tão perto, grandes radiodifusoras tradicionais iniciaram uma campanha lobista para sabotar nosso progresso.
Ontem, o congressista Jay Inslee e diversos co-patrocinadores introduziram uma legislação para dar-nos o tempo extra que precisamos, mas a Associação Nacional de Difusores (AND), que representa os difusores de rádios como Clear Channel, iniciou intensa pressão sobre os legisladores para que matem a proposta. Temos apenas um dia ou dois para impedir seu colapso.
Trata-se de uma tentativa ostensiva das grandes companhias de radio para sufocar a indústria de transmissão via web que apenas começa a oferecer uma alternativa ao seu monopólio.
Por favor, telefone para seu representante no Congresso agora mesmo e peça-lhe que apóie a proposta (…) e que não se renda à pressão da AND. O Congresso está fazendo hora-extra, então até os telefonemas feitos à noite e durante o fim-de-semana devem ser atendidos.
(…)
Se o telefone estiver ocupado, por favor insista até conseguir. Essas ligações realmente fazem a diferença.
Esta é uma encruzilhada. Apenas a oposição massiva nos manterá a salvo de outros 50 anos dominados por 40 rádios. É hora de tomar posição e dar um basta nas amarras da radiodifusão.
A Pandora é bem parecida com o Last.fm, só que melhor. É bloqueada no Brasil há tempos, por problemas de direitos autorais, mas quem teve a chance de usar esse excelente site não se esquece dele. Esses mesmos problemas de direitos autorais quase liquidaram de vez o serviço, que sobrevive graças a um intenso trabalho junto aos detentores dos direitos das obras reproduzidas.
O que me chamou a atenção nesse episódio de 27 de setembro foi a convocação à abordagem direta dos congressistas norte-americanos, a fim proteger a rádio online. “Essas ligações realmente fazem a diferença”. Aliás, a Pandora é só uma de várias organizações que já vi recorrem a ações como esta.
Aqui no Brasil, como a coisa seria?
Primeiro, você nem saberia para quem ligar, porque provavelmente não se lembra em quem votou. Ah, lembra? Más notícias: é bem possível que seu voto tenha eleito outro parlamentar. Culpa do nosso sistema eleitoral torto.
Segundo, você não sentiria motivação para ligar: “ah, esses caras não ouvem a gente, mesmo”. É difícil pensar o contrário. Há um ano, quando os parlamentares queriam dobrar seus próprios salários, a mídia incentivou os cidadãos a reclamarem ligando para o Congresso e enviando emails. Em pouco tempo os telefones da Casa dos supostos representantes do povo foram desligados e os emails começaram a ser devolvidos.
Na remota possibilidade de seu protesto chegar a um congressista, você ainda corre o risco de receber uma resposta mal-educada que insinua sua má-fé.
Bem sei que os Estados Unidos não são a última coca-cola do deserto. A democracia canhoneira que aplicam no Iraque neste exato momento e a forma como lidam com estrangeiros, especialmente desde o 11 de setembro, não deixam margem a fantasias. É inegável, porém, que seus cidadãos usufruem de uma democracia muito mais concreta e participativa que a existente na República Federativa do Brasil.
Resta continuar tentando por aqui, fazendo o possível para escolher bem nossos representantes (você já sabe em quem vai votar dia 05 de outubro?) e botando a boca no mundo quando necessário.
Ah, sim: mesmo com o forte caos provocado pela crise de crédito exatamente no fim-de-semana passado, o clamor do fundador da Pandora surtiu efeito:
É com emoção que informamos que o projeto foi aprovado! Graças ao seu incrível apoio, conseguimos driblar os esforços da AND para arruinar-nos. Telefonemas inundaram os gabinetes dos congressistas nas últimas 36 horas. Simplesmente fantástico.
O pedido e os agradecimentos estão na íntegra no blog da Pandora.
(Quanto às velhas mídias, como as rádios estabelecidas e estagnadas há tempos, aprendam: evoluam ou vão sucumbir. Simples assim.)
Imagem: Wikipedia, domínio público.