Vanderlei Cordeiro de Lima, 39 anos, aposentou-se no último dia 31, após correr a São Silvestre de 2008.
“Quem é esse cara?”, você pergunta.
Vanderlei é ex-bóia-fria, fundista, medalhista olímpico e herói. Nas Olímpiadas de Atenas, em 2004, corria em direção a uma inédita medalha de ouro na maratona. No 36º quilômetro, um maluco invadiu a prova e agarrou Vanderlei. O sujeitinho era um padre irlandês e, na cabeça torta dele, estava fazendo um protesto religioso, cuja consequência foi a perda do ouro de Vanderlei.
Foi por sorte que o atleta não se contundiu. Ele se assustou, perdeu o ritmo e a vantagem, mas conquistou a medalha de bronze – o melhor resultado da história do Brasil na prova.
O que me faz erguer o brinde nem é a medalha de bronze, mas a ombridade de Vanderlei: ele viu o ouro olímpico escorrer de suas mãos e, mesmo assim, suas entrevistas após o acontecido foram engrandecedoras. Claro que o maratonista ficou indignado com o doido varrido, mas carregou o bronze com orgulho e satisfação. O ex-bóia-fria deu uma lição de humildade em muita gente culta que, achando-se a última coca-cola do deserto, fica ofendidinha quando perde um prêmio e ainda tem a deselegância de desmerecer o vencedor (sim, estou falando da Fernanda Montenegro).
Vanderlei não ganhou medalha na última São Silvestre, mas subiu ao pódio como herói e foi homenageado. Seu caráter já tinha lhe valido a Medalha Pierre de Coubertin, honraria concedida a pouquíssimos atletas (cinco até hoje, dois em reconhecimento póstumo) e que simboliza o verdadeiro espírito olímpico.
Faz muito bem começar o ano pensando em alguém tão batalhador e honrado quanto Vanderlei Cordeiro de Lima. É um alívio, frente a tantos canalhas que lotam diariamente as manchetes, e um exemplo a ser seguido.
Um brinde ao Vanderlei, e feliz 2009 para todos nós!
Imagem: Ricardo Stuckert/PR, para Agência Brasil. Wikipédia. CC 2.5.