Aceita um cafezinho?

Café passado na hora, fresquinho. Café torrado no empório da esquina. Café com leite de manhã – ou média, em carioquês -, espresso depois do almoço. Café puro, café forte, café com bolo, café no bolo, café irlandês, cappuccino. Pausa pro cafezinho.

Café é assim: aroma que invade o ambiente, calor que congrega, desculpa pra colocar o papo em dia, ritual, aconchego.

O Espresso do Meio-Dia é o ponto de encontro dos apreciadores do ouro negro. Curiosidades, acessórios, imagens e histórias passam por aqui. O cheiro de café fresco fica por conta da imaginação.

Essa é pra ficar passada (alguém me amarrota?)

Todo mundo que mora ou morou em Brasília sabe como é difícil conseguir um bom atendimento nesta cidade. Ainda assim, algumas situações são tão fora do esquadro que quase não dá pra acreditar.

Senta que lá vem a história…

Colo e Sofia, os gatos da Virginia, têm sido acompanhados por uma veterinária muito gentil, que recentemente adquiriu um petshop/consultório num local de fácil acesso.

Havia inconvenientes. O lugar não tem uma sala de espera, obrigando clientes e animais a aguardarem no meio da calçada.  Para piorar, uma criança, que pensávamos ser filha de uma das funcionárias, sempre está por lá, mexendo com os bichos (sem qualquer preocupação em averiguar a agressividade, o stress ou a saúde deles) e até entrando no consultório durante os atendimentos. Falta de profissionalismo, sim, mas a facilidade do local e a gentileza da veterinária pareciam um bom negócio.

Até o último sábado.

Estávamos em pé, na calçada, com os dois gatos em caixas de transporte, como sempre. A tal criança já havia quase caído sobre as caixas enquanto tentava ver os gatos. Preocupação com a segurança ou com o conforto dela e dos gatos? Só eu e Virginia ligávamos pra isso.

Uns quinze minutos depois, a mesma criança volta com outra, mais nova (possivelmente o irmão) e uma bola dessas grandes e coloridas. No caminho, jogou a bola na direção das caixas de transporte e pegou na minha perna. Ato contínuo, pegou a bola novamente, posicionou-se nas costas da Virginia (que estava de frente para mim) e jogou a bola na cabeça dela. Sim, na cabeça. Sim, de propósito.

“P*rra!” – a Virginia tomou um baita susto e soltou o palavrão. Em seguida, percebendo o que tinha acontecido e virando-se para a criança, falou “Isso é falta de educação!”.

Eis que, finalmente, descobrimos que a criança tem mãe, ora veja! Você acha que ela repreendeu a filha pela falta de educação? Que nada. A tal “educação moderna” manda achar bonitinho e natural tudo que os filhos fazem. A mãe veio, isso sim, repreender a gente.

“Vocês não convivem com crianças, não? É isso que criança faz, é normal, foi sem querer!”

Não, não convivemos com crianças que atiram bolas nos outros. Não, não foi sem querer. Não, não é normal. É coisa de criança mal-educada. Foi isso que respondemos.

A partir daí, o festival de baixarias da tal mãe não teve fim e foi acompanhado de berros e gestos ameaçadores. Alguns exemplos (omito os erros de concordância da mulher pra não dificultar a leitura):

“Vocês são duas mal-amadas!”
– claro, por isso é que a má-educação da filha dela incomoda.  Tuuudo a ver.

“Precisam de duas picas!” – sim, esse é o vocabulário da tal mãe.

“Vocês vão virar duas velhas loucas cheias de gatos” – tudo que uma funcionária de petshop quer é que ninguém tenha animais de estimação, muito menos preocupe-se com o bem-estar deles.

“Mentirosa!” – essa foi especialmente pra mim, porque vi o que a filha dela fez; ela, claro, não viu, ou não quis ver.

“Branquelas azedas!” – e ainda dizem que não há racismo no Brasil, hein?

“O filme de vocês está queimado!” – o nosso? Sério? Só porque não gostamos de crianças que atiram bolas nas costas dos outros?

A cereja do bolo foi quando ela resolveu dizer “Se vocês voltarem aqui, vou quebrar a cara de vocês”.

Qual não foi nossa surpresa quando descobrimos que essa criatura mal-educada, grosseira e vulgar é veterinária! Mais ainda: é sócia dessa petshop/consultório.

Ter curso universitário, hoje em dia, não quer dizer ter boa educação. Ainda assim, é chocante constatar o baixo nível de alguns diplomados. Gente que acha que está na própria casa e, por isso, pode levar os filhos para um ambiente de trabalho e deixá-los fazer o que bem entendem. Gente que, metendo-se a abrir empresa, pensa que pode tratar feito lixo os clientes, inclusive ameaçando-os fisicamente. Gente que tem um vocabulário tão chulo e um comportamento tão vulgar que parece coisa de novela. Pra completar: uma veterinária que entende que a preocupação com o bicho de estimação é coisa de gente louca ou mal-amada.

Não consigo acreditar que uma pessoa destemperada como aquela possa gerir um negócio que inclua lidar com pessoas e bichos de estimação. Não entendo como alguém faz veterinária se não entende a primeira coisa sobre animais (racionais ou não): estressá-los não é o caminho para conseguir nada. Não admito que alguém que não consegue educar a própria “cria” (palavra que ela mesma usou para referir-se à filha – eu não sabia que gente tinha “cria”) ache-se capacitada para tratar de outros seres vivos.

O mundo está, sim, de pernas para o ar. No meu tempo, uma criança que atirasse uma bola nas costas de alguém (cliente ou não), receberia uma bela bronca imediatamente e ficaria sem a bola. Hoje, a culpa é nossa, que não convivemos com crianças e não entendemos que elas são assim mesmo…

Resumo da ópera: quase  uma hora perdida nesse lugar, gatos estressados, veterinária (não a grosseira, a outra, sócia) que nos pediu para voltar outro dia, em outra clínica em que ela atende, viagem perdida. Dia arruinado? De forma alguma. A coisa toda foi tão surreal que, passados o susto e o espanto, sobrou-nos essa história pra contar.

Em tempo: a petshop fica na CLSW 101 (Sudoeste). Tenho a obrigação de fazer esse esclarecimento para que não pairem sombras sobre outras lojas. O nome da petshop foi apagado deste texto em alteração feita em 18 de setembro de 2009 porque uma das sócias ameaçou-nos de processo e nós não merecemos ainda mais dor-de-cabeça do que já tivemos naquele fatídico dia.

Atualização em 23 de setembro de 2009: comentários a este texto estão fechados. Ninguém reclame de “censura”, já que este é um espaço particular; que todos vejam uma amostra das ofensas que estamos sofrendo desde o último dia 12.

Comentários favoráveis ou contrários feitos sobre este assunto em outros textos não serão publicados.

Quando formos processadas, faremos questão de compartilhar aqui todos os detalhes e passos do processo.

Tá me esperando na janela, ai, ai.

O síndico parece ter se esquecido de mim (se você não viu o início da história, leia o post Síndico? Senhor Feudal, isso sim). Tive o desprazer de encontrar com ele (e ter de dirigir-lhe a palavra) há umas duas semanas. O dito cujo não tocou no assunto. Dois dias depois, ele até fingiu ser educado e abriu a portaria pra mim.

Posso escalar, mamãe? Posso?? Posso???
Posso escalar, mamãe? Posso?? Posso???

Acho que não ligou o nome à pessoa, ou melhor, o apartamento à inquilina.

Ou então, vai ver que percebeu quão errado estava. Um pedido de desculpas? Nah. Seria exigir muito. Ao menos não recebi nenhuma multa na minha última taxa condominial.

Agora estou em compasso de espera pela próxima; coloquei a rede de proteção no último domingo (finalmente!) e, se o síndico tinha se esquecido do caso, assim que olhar pra minha janela vai lembrar.

A tal rede é discretíssima, é verdade. Uma cortina causa muito mais “alteração na fachada” do que ela. Uma grade, então, nem se fala.

Mel está numa felicidade só. Tenho aberto a janela apenas quando estou em casa, até ela se acostumar com a novidade e eu ter certeza de que ela não ficará enganchada. A branquela fica tão contente quando vai pra rede que até se esquece de mim.

Síndico? Senhor Feudal, isso sim.

Tem síndico que vai se elegendo ad infinitum e, com o tempo, acaba se achando o dono do prédio. O do meu é assim – e descobri isso da pior forma. Senta que lá vem a história…

Sexta passada, chamei instaladores de rede de proteção para janelas. Os caras foram pela manhã, fizeram todos os furos, mas a anta aqui informou a metragem errada e o pedaço de rede que eles levaram não serviu. Ficaram de voltar à tarde.

Eu estava no trabalho e ligou minha faxineira, informando que o síndico não autorizou a subida do instalador. Como assim, Bial? A casa é minha (sou locatária, na verdade, mas o direito de propriedade é todinho do inquilino), quem tem de autorizar sou eu. Liguei pra portaria pra falar com a criatura.

Bem, dizer que ele foi grosseiro não é o suficiente. O cara já atendeu o telefone com a voz alterada. Disse que, pela convenção de condomínio, eu não podia instalar as redes, e que só as grades acordadas em assembléia estavam autorizadas. Perguntou pra que eu queria a rede. Eu disse “para proteger a minha gata”. Aí o sujeito se alterou de vez. Começou a esbravejar que eu estava violando a convenção de condomínio, que ia me denunciar pra imobiliária e pedir o meu despejo, blá blá blá. Ficou fulo da vida quando eu disse que o imóvel não está na mão de imobiliária, que alugo direto de proprietária e me dou bem com ela. Espumou (eu não vi, mas imagino) quando falei que a convenção é clara, admitindo animais que não perturbem o sossego, a segurança ou a salubridade dos demais moradores.

Falei que ele que me acionasse judicialmente se estivesse insatisfeito.

Lá pelas tantas, fiquei muda, enquanto ele gritava que não ia me acionar coisa nenhuma e que estava proibindo a subida do instalador. E desligou na minha cara, obviamente.

Liguei para o instalador e pedi mil desculpas. Ele disse que entendia, que isso já tinha acontecido antes, e acrescentou que “o síndico só não precisava ter sido tão estúpido”. Não precisava, mas tem gente que usa ferraduras, fazer o quê?

Falei com minha faxineira, e disse pra jamais deixar alguém entrar no apartamento sem a minha autorização. Vai que esse síndico maluco tenta fazer algo com a Mel?

Quem não entende a angústia não tem animais, ou pouco se importa com eles, ou nem está ligando para a paz dentro do seu próprio apartamento.

Imagina se o seu animal de estimação é ameaçado? Imagina se você sofre ameaça de despejo (ainda que sem a menor validade jurídica)? Imagina ter a sua autoridade dentro da sua casa completamente desrespeitada, num claro abuso de poder?

Agora, imagina  saber que o crápula mora no seu prédio e pode dificultar a sua vida no dia-a-dia?

Ainda na sexta-feira passada, passei um email para a proprietária do apartamento e contei o caso todo. A resposta chegou ontem, segunda-feira: “Fique tranquila, estou do seu lado, você está com a razão”. Suspirei aliviada – porque, afinal, se ela resolvesse pedir o apartamento, estaria no seu direito (o contrato de aluguel vence mesmo no mês que vem, nem seria preciso rescindi-lo).

As questões legais envolvidas:

  • Nenhum, repito, nenhum condomínio pode proibir a manutenção de animais de estimação dentro do apartamento, desde que não prejudiquem a saúde ou a segurança dos demais condôminos (até o sossego é mitigado: há várias decisões reconhecendo o direito do morador em manter poodles e outros animais muito mais barulhentos que gatos).
  • A convenção do meu condomínio realmente autoriza animais de estimação.
  • O regimento interno proíbe e comina pena de multa progressiva.
  • A convenção de condomínio é superior ao regimento interno.
  • A lei federal que regula condomínios (Lei nº 5.941/64), o Código Civil e a Constituição garantem o direito de propriedade, que inclui a posse de animais de estimação. Tais normas se impõem sobre qualquer convenção condominial.
  • A jurisprudência ampara a permanência de animais em apartamentos.
  • Quanto às redes de proteção, o site Síndico.net, criado para – adivinha? – orientar síndicos, afirma categoricamente que redes de proteção não constituem alteração na fachada. A lei confirma (alteração na fachada quer dizer mudança na cor ou na forma, segundo a lei)  e a jurisprudência é escassa, mas vai no mesmo sentido.

O resumo da ópera:

  • Mel não vai pra rua nem por decreto real. Não vou devolvê-la a abrigos ou feiras de adoção.
  • Vou entrar com o instalador qualquer dia desses, direto para o meu apartamento, e colocar a bendita rede. Até lá, janelas fechadas (como têm ficado desde que adotei a Mel).
  • Quando/se vier a multa condominial, ingresso no Juizado Especial – e ganho, claro.

Por que estou contando tudo isso aqui?

  • Porque esse blog é sobre gatos e esta é uma chance de orientar gateiros que tenham os mesmo problemas.
  • Para que você saiba que ninguém pode impedir que você tenha animais de estimação. Não abra mão do direito de conviver com seu animalzinho. Não o abandone ante a primeira dificuldade.

Um agradecimento especial à Débora, do site Protetores Voluntários, que prestou informações importantes e permitiu o uso, caso seja necessário, de ótimo parecer jurídico sobre o tema.

Conforme o caso for seguindo, atualizo as notícias.