Às vezes, a gente precisa levar um chacoalhão para perceber o quanto a vida é frágil.
Na terça-feira passada, jantei com amigos muito queridos. Durante o papo, combinamos uma festinha na casa de um deles, para a sexta-feira.
Na sexta de manhã, liguei para o dono da casa a fim de acertar alguns detalhes. Ele me perguntou: “Lu, você já sabe o que me aconteceu?” Respondi que não, sem entender. Então, ele explica.
Meu amigo sofreu um seqüestro-relâmpago na quinta-feira à noite. Passou mais de uma hora nas mãos de três bandidos. Foi aterrorizado e humilhado. Teve a certeza de que ia morrer.
Graças a Deus, sobreviveu.
A festinha aconteceu. Quando foi combinada, era pra ser uma reunião sem motivo. Acabou ganhando a motivação de comemorarmos a vida do nosso amigo.
Não quero, aqui, entrar no mérito da violência crescente em Brasília, da bandidagem, da onde de seqüestros-relâmpago. É tudo sem sentido, eu sei (e Renato Russo já disse isso).
Fiquei com ódio dos bandidos, claro. Quem me conhece, já sabe que não tolero ouvir falar em “direitos humanos” para quem não tem o menor respeito pelo seu semelhante. Fiquei com medo, também. Estou assustada até agora, de fato.
O que mais me assombrou, no entanto, foi o que não aconteceu, mas poderia. Foi saber que o amigo com quem almocei na terça e que tinha a certeza de rever na sexta poderia ter morrido na quinta.
Quando morre alguém amado, percebemos como a vida é um sopro. Quando alguém escapa da morte, também.