Quem não leu gibi, não teve infância. Quem leu, mas deixou de lado a Turma da Mônica, teve uma infância menos divertida.
Minha recordação mais antiga da turminha não é dos quadrinhos, mas do LP As Aventuras da Turma da Mônica. O disco foi lançado em 1982 e foi o primeiro vinil que chamei de meu. Do alto dos meus três anos de idade, sabia todas as músicas de cor e até hoje posso ouvir nas minhas memórias o “Sou a Mônica, sou a Mônica, dentucinha e sabichona”, alto e claro. E sim, ainda tenho o disco.
Depois vieram as revistinhas, as assinaturas, os desenhos animados (levanta o mouse quem curtiu A Sereia do Rio, com participação da Tetê Espíndola!), os gibizinhos (você juntava não sei quantas tampinhas de refrigerante, ganhava um e começava a coleção)… A Turma da Mônica marcou minha infância, sim, e se tenho uma queixa é não terem feito o Sansão de pelúcia quando eu era criança.
Ontem tive a honra de ver ao vivo e a cores, a poucos metros de distância, o criador desse mundo que cativa geração após geração. Mauricio de Sousa brindou mais de 1.000 pessoas com recordações, casos divertidos, vídeos (Cebolinha e Mônica falando mandarim provocaram furor) e lições como só alguém que sempre perseguiu seus sonhos pode dar.
Quando apresentou seus desenhos a um editor pela primeira vez, Mauricio foi aconselhado a desistir. Em vez disso, tentou novamente anos depois e conseguiu emplacar suas tirinhas na Folha de São Paulo. Isso foi há 51 anos. De lá pra cá, a cada década ele se colocou um novo objetivo: ampliar a tiragem das revistinhas, criar um parque temático, emplacar desenhos animados, levar os personagens ao exterior… Conseguiu tudo isso e muito mais. Pra você ter uma ideia, a Turma da Mônica já está em 50 países, e esta semana foi inaugurado o primeiro Parque da Mônica no exterior (em Luanda, capital da Angola). E vem mais pela frente: entre outros planos, um longa-metragem com animação de babar está no forno (tivemos uma prévia); um braço da Mauricio de Sousa Produções desenvolve, no Nordeste, soluções em softwares; um Parque do Cebolinha (“ladical!”) está a caminho, e outro do Chico Bento, antenado com as questões relativas a meio ambiente e sustentabilidade e pronto a ensiná-las às crianças (Mauricio conhece e acredita no poder educativo das suas histórias).
Sobre a queda das vendas de quadrinhos apregoada por alguns, o desenhista diz que é puro papo; segundo ele, as vendas só aumentam. A Turma da Mônica Jovem, por exemplo, é a revistinha mais vendida no Brasil hoje. Aliás, a ideia para a publicação tomou forma no dia em que Mauricio percebeu que seu filho mais novo (hoje com onze anos de idade) pela primeira vez não pegou as revistinhas da Turma da Mônica de cara, mas titubeou entre elas e os mangás. “Meu filho não pode deixar de me ler!” – e assim Mônica e cia. ganharam cara de mangá.
O caminho para o sucesso não costuma ser fácil pra ninguém, e também não foi sempre um mar de rosas para o Mauricio. Quando, por exemplo, decidiu sair da Editora Abril nos anos 80, ao sentir que não crescia por estar à sombra das historinhas da Disney (publicadas pela mesma editora), passou quatro anos negociando o novo contrato com a Editora Globo. Valeu a pena: no primeiro mês na casa nova, a tiragem das suas revistinhas saltou de um milhão para três milhões e meio. Focar num objetivo é fundamental, ensina, ainda que eventualmente seja necessário mudar o curso.
Mauricio não descansa sobre os louros e não pára no tempo. Enquanto muita gente não entende e até mesmo teme a internet, ele diz que ela “veio para ajudar mais ainda”. Em vez de intimidar-se pelo novo, afirma com clareza que não há nada a temer, pois sua empresa é uma fábrica de conteúdo, “a mercadoria mais importante hoje em dia”. Não se trata de desenhos, produtos ou merchandising, mas de conteúdo de qualidade, “que está fazendo falta no mundo”. Novas plataformas não o assustam: “iPod, iPad, iPid, iPud, temos que estar em tudo”. Enquanto muito tiozinho não se entende com o caixa eletrônico do banco, Mauricio, que já é bisavô, tem um BlackBerry que serve, entre outras coisas, para atualizar sua ótima página no twitter.
Essa capacidade de se renovar e de traçar novas metas deve ser a fonte da eterna juventude do Mauricio. No próximo dia 27, ele faz 75 anos de idade. Ninguém diria. O corpo é de 50 (se tanto) e a mente é de um jovem de 20 anos empreendedor, ousado e cheio de planos. Arrependimentos? Nenhum. Segundo ele, o segredo “é terminar o dia achando que você fez o possível para aquele dia, sem se angustiar; amanhã é um novo dia”.
PS.: muito obrigada ao Marietta, que sorteou dois convites para a palestra de ontem pelo twitter @marietabsb; e à VBN, fã nº 1 do Mauricio, que foi comigo; se eu estivesse sozinha, não teria a determinação necessária para conseguir o autógrafo no meu História em Quadrões 2, nem a foto ao lado do Mauricio de Sousa.