Esse povo quer é feixe de ossos

Começou na semana passada o Brazil’s Next Top Model, clone do America’s Next Top Model (será que não dava para aportuguesar o nome?). Dezesseis gurias iniciaram a saga para conquistar o título de Top Model, e realizar o sonho de fama, fortuna e beleza internacionalmente reconhecida. Toda bonitas, magrinhas, a maioria provavelmente subnutrida segundo o IMC.

Estou vendo o programa sem grande interesse quando ouço de um dos jurados a pérola: “todas elas estão meio roliças”.

Agora, imagina o que se passa na cabeça de uma garota de 16, 17 anos que ouve isso e pesa, digamos, 60 quilos distribuídos em 1,70 m. Do alto da sua insegurança, a menina começa a se sentir uma baleia azul e passa a comer uma folha de alface por dia, vira anoréxica, bulímica, deprimida e o caramba a quatro.

Faça-me o favor. Esses tais “entendidos” que vão catar coquinho, pentear macaco, contar grão de areia. Isso que eles impõem como a oitava maravilha não é padrão de beleza, é psicose.

Há umas poucas vozes sensatas no mundo da moda que têm feito algo para mudar essa visão distorcida da beleza, como Oliviero Toscani, fotógrafo da Benetton, que iniciou uma campanha contra a anorexia. Precisamos de mais pessoas sensatas e campanhas decentes como esta.

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Mudando de assunto, é interessante notar as semelhanças e diferenças entre a versão brasileira e a norte-americana no programa. O formato é o mesmo, até os cenários são parecidos. Entre as diferenças, o que mais chama a atenção é o relacionamento entre as participantes, ao menos no começo: aqui no Brasil, todas se comportam como amigas de infância, aguardam a eliminação de mãos dadas, numa corrente-pra-frente; no programa norte-americano, você quase vê os dardos flamejantes disparados pelos olhares das candidatas a Top Model e por pouco não ouve os pensamentos despeitados: “tropeça, tropeça”.

Eu poderia dizer que as competidoras brasileiras são hipócritas, mas prefiro atribuir a diferença inicial de comportamento a essa tal afetividade latina que faz você confiar numa pessoa que nunca viu para pedir auxílio no caixa eletrônico, que leva o eleitor a votar no candidato mais carismático e não no mais competente, que cria uma atmosfera geral de condescendência.

Em alguns aspectos, isso é uma grande vantagem sobre outros povos menos tolerantes. Apesar disso, de vez em quando pergunto-me se não seríamos uma nação mais evoluída se fôssemos mais racionais e menos emotivos.

A web incentiva a leitura

Pilha de LivrosVeja, não estou falando de quantidade de leitura, mas de qualidade. Um adolescente que passa horas lendo fofocas no orkut, fotologs de amigos e mensagens em miguxês não enriquece o vocabulário, não aprende a escrever e tem tudo para tornar-se (se já não for) um analfabeto funcional. Deveria desligar a internet e abrir Dom Casmurro.

Agora, se você gosta de boa literatura, a internet pode ser uma mão na roda. Além da comodidade da compra via lojas online e da facilidade de baixar e-books nem sempre de acordo com os direitos autorais (o Dia de Folga não incentiva a pirataria), existem por aí serviços muito interessantes para os amantes dos livros. É de dois deles que quero falar.

Leitura Diária

O leituradiaria.com surgiu em junho deste ano e é o clone brasileiro do DailyLit. Para quem acumula pilhas de livros não lidos, como eu, por pura falta de controle do próprio tempo, é uma grande ajuda.

Você escolhe que livro quer ler e quantos minutos por dia quer dedicar a ele. O site calcula quanto tempo você demorará para finalizar o livro e pergunta como prefere recebê-lo: no seu email, no agregador de feeds ou no celular. Não há necessidade de cadastro – o único dado solicitado é um endereço de email. A partir daí, você começa a receber o livro em trechos compatíveis com o tempo de leitura que selecionou.

Acabei de escolher Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Vou receber trechos correspondentes a meia hora de leitura (na prática, geralmente levam uns 20 minutos), de segunda a sexta-feira, pela manhã. Acabarei o livro até 13 de novembro. Sem desculpas, sem procrastinação, sem “agora não tenho tempo”, sem “vai começar House[bb], depois tem Law & Order[bb], depois tem…”.

Faz quase um mês que não há acréscimo de novas obras no site, mas o acervo já fornece mais de 52 dias de leitura ininterrupta. Você pode pesquisar as opções pelo título, autor ou gênero.

Estante Virtual

Para quem aprecia o bom e velho livro em papel, a Estante Virtual é um achado. O site reúne quase 700 sebos espalhados por todo o Brasil e mais de um milhão de obras.

A Estante Virtual não faz as vendas, mas a ponte entre o leitor e os sebos. Você faz a pesquisa por um livro, descobre os sebos que têm o exemplar, quais são os preços e faz o pedido. A partir daí, quem entra em contato é o sebo, para informar custo de frete e formas de pagamento. É possível qualificar a loja após a compra, contribuindo para a confiabilidade do serviço.

Fiz minha primeira encomenda na semana passada. Pedi Tempo de Matar, considerado um dos melhores (para alguns, o melhor) livros de John Grisham e esgotado há alguns anos. Paguei 20 reais pelo livro, mais 6 reais de taxa de entrega. Chegou ontem, perfeitamente embalado e em excelente estado de conservação.

O único defeito da Estante Virtual é não funcionar bem no Firefox. Para realizar a pesquisa, o cadastro e o contato com o sebo, não tive problemas; para avaliar o vendedor, precisei abrir o Internet Explorer, já que minha página de compradora não carregava. Isso é o de menos, claro, mas já passei um email para o site reportando o problema.

Se você não liga para o best-seller do momento, se quer uma obra esgotada, se sua cidade não tem boas bibliotecas, se não há paciência que chegue para sair garimpando um livro de sebo em sebo ou, simplesmente, se deseja economizar uns trocados, vai amar a Estante Virtual.

Em tempo: o blog Alessandro Martins – livros e afins tem sempre textos e dicas interessantes para amantes da leitura. Vale a visita e a inclusão no seu agregador de feeds. Ah, a Estante Virtual também tem blog.

Seja solidário: doe órgãos

O assunto escolhido para abrir o projeto Nossa Opinião, criado pelo Ricardo Cabianca, é a doação de órgãos. Nada mais apropriado para inaugurar a iniciativa, visto que este ano faleceu um membro querido da blogosfera, Aldemir Silva, cuja história mobilizou vários blogueiros em prol da doação de órgãos e de sangue.
Visite o Nossa Opinião e leia os artigos dos blogueiros participantes. Assine o feed para ser informado das novidades.

Faces do problema da doação de órgãos

Nossa OpiniãoNo dia 27 de setembro foi o Dia Nacional do Doador de Órgãos. Não houve o que comemorar: pelo terceiro ano consecutivo, houve queda no número de doadores de órgãos. Em 2004, tínhamos 7,3 doadores por milhão; no primeiro semestre, a proporção era de apenas 5,4 doadores por milhão (via Agência Brasil). Para tentar reverter esse quadro, o Ministério da Saúde iniciou uma campanha sobre a importância da doação de órgãos.

A questão é mais complexa e deve ser atacada por várias pontas. Conscientizar futuros doadores é fundamental, mas insuficiente.

Imagine a dor que é perder um parente, o sofrimento dos familiares que precisam se despedir e, ato contínuo, preparar o enterro. A dor nos faz mais egoístas – quem pensará, no meio do desespero, em doar os órgãos do parente que se foi? Vai daí que é absolutamente indispensável, para aumentar o número de doações, que os hospitais contem com equipes treinadas para orientar os familiares, apresentando-lhes a doação como um ato simbólico de continuidade da vida que se encerrou, ou um gesto de solidariedade que pode evitar a mesma dor a diversas famílias.

De outro lado, há o descalabro do atendimento público de saúde. Como pedir que aquele pai que viu o filho morrer por falta de cuidados tenha o necessário desprendimento para ajudar outros pais? Claro que uma omissão (do serviço público) não justifica outra (do parente), mas quem consegue ser tão racional na hora do vamos ver? De novo, tem-se a necessidade de assistentes sociais e psicólogos preparados para orientar as famílias – além, obviamente, de uma rede pública de saúde decente, direito constitucional vilipendiado cotidianamente.

Além disso tudo, também faltam aparelhagem, pessoal e logística adequados para conservar o corpo do doador, captar cada órgão, encaminhá-lo ao receptor e realizar o transplante em tempo hábil. Todo esse trabalho deve ser feito em poucas horas, de modo coordenado e integrado ao longo do território nacional.

Para completar o cenário e diminuir as esperanças de quem precisa de uma doação para sobreviver, somam-se a falta de informação ou de solidariedade dos futuros doadores e das suas famílias. É aí que cada um pode ajudar.

O que você pode fazer

Está claro que eu e você não podemos solucionar os problemas do serviço médico, nem contar com a boa vontade e eficiência de cada hospital. Efetivamente, resta-nos conscientizar quem está ao nosso redor.

Somente o cônjuge, filhos, pais (na ausência destes, os avós) ou irmãos maiores de 18 anos podem autorizar a doação de órgãos. Eles é que devem ser informados do seu desejo de ser solidário após a morte. Converse com eles. Convença-os. Deixe seu desejo por escrito, se achar que será mais efetivo. Na hora da perda, todo mundo olha apenas para si mesmo – um documento escrito, por mais informal que seja (juridicamente, ele não tem nenhum valor), pode ajudar sua família a lembrar-se da sua vontade.

Ah, você ainda não sabe se quer ser doador? Bem, quais são suas dúvidas?

Ninguém vai matar você antes da hora para retirar seus órgãos – isso é lenda urbana, parente daquela de acordar numa banheira cheia de gelo e sem um dos rins.

Se existir uma vida eterna, você não precisará do seu corpo físico nela. Nenhuma religião – nem mesmo as testemunhas de jeová, que proíbem a transfusão de sangue – é contra a doação de órgãos. Por outro lado, se seus órgãos forem doados, quem sabe você não ganha uns pontinhos com Deus, Alá, a Deusa ou sei lá quem?

Se você é ateu e acha essa história de vida eterna uma grande bobagem, bem, então deve dar um enorme valor aos 70 anos que passamos sobre a Terra. Que tal ajudar algumas pessoas a ficarem juntas por mais uns anos, ou décadas?

Você sabia que cada doador pode ajudar mais de 20 pessoas? Agora, multiplique essas pessoas pelo número de familiares e amigos e terá alguma dimensão de quantas vidas podem ser modificadas por um gesto simples.

Informe-se, leia, pesquise. Transmita as informações à sua família e amigos. Dezenas de vidas podem ser salvas com a sua ajuda, agora e após a morte.

Referências

Não espere a morte

Se você tem mais de 18 anos e boa saúde, pode cadastrar-se como doador de medula (exige-se autorização judicial e consentimento dos pais se o doador for civilmente incapaz). Para a doação de sangue, também é necessária a idade mínima de 18 anos e o atendimento de alguns outros requisitos.

Mais informações sobre postos de coleta e condições para a doação de medula e sangue:

Café-da-manhã com o iG

Sexta-feira passada foi dia de café-da-manhã entre blogueiros e membros do iG. O encontro foi promovido pelo Manoel Fernandes, da Revista Bites. Os blogueiros presentes foram Manoel Netto, Lu Freitas, Gabriel Tonobohn, Bruna Calheiros, Tiago Dória, Edney Sousa e Patrícia Albuquerque, além de mim. Do iG, estavam Caio Túlio Costa (presidente), Gian Filli (CEO), Alex Rocco (marketing e vendas), Caíque Severo e Ale Blanco (conteúdo), Marcela Tavares (web2.0), Andrea Broglia Mendes (publicidade) e Ana Paula Piovesan (inteligência de mercado).

O encontro seguiu-se ao realizado com o Yahoo! Brasil em 11 de setembro passado e foi preparatório para uma série de eventos denominada Café com Blog.

O iG tem se colocado em posição vanguardista quando comparado a outros portais e à mídia tradicional. O leitor não é visto como mera esponja, mas também como gerador de conteúdo, como comprovam o Eu na Web e o slogan do portal: “o mundo é de quem faz”. Nesse mesmo sentido, blogs são entendidos pelo iG como uma forma relevante de produção de conteúdo.

A história complica quando se trata de apresentar os blogs como veículos rentáveis para o anunciante. Quando perguntei “de que vocês precisam para convencer o cliente a anunciar em blogs?”, a resposta foi “de audiência”. E aí começam os problemas: como mensurar a audiência nesse caldeirão que é a internet? Será que importa mesmo a quantidade? Ou vale a qualidade?

Quando o anunciante veicula 30 segundos de comercial durante o Jornal Nacional, atinge milhões de pessoas. Um blog atinge apenas algumas centenas ou milhares de leitores por dia. A diferença quantitativa é esmagadora. Por outro lado, quem forma a população brasileira com computador, internet e, mais importante, tempo sobrando para acessar blogs? Essa parcela engloba uma significativa parcela de consumidores.

A questão, então, é como atingir esse público. Banners, sinto muito, ficaram lá pelos anos 90. A tal cegueira de banner atinge 99,9% dos internautas. Eu entro em alguns sites todos os dias e não sei dizer quais são as suas propagandas, porque automaticamente desvio o olhar direto para o conteúdo. E não adianta fazer pular na cara do visitante uma animação qualquer – o internauta começa a procurar o X antes mesmo de ver a mensagem, e ainda fica irritado.

O que os editores do AdSense têm aprendido é que quanto mais integrada ao layout e relacionada ao conteúdo estiver a publicidade, mais eficiente ela será. Incomodar o visitante não é a saída – a solução é seduzi-lo.Por esse caminho também vão as resenhas patrocinadas, que cativam o leitor e agregam mais informações que um simples banner, ou um comercial de 30 segundos.

Também é preciso levar em conta que, se blogs (ainda) não atingem milhões de leitores como o Jornal Nacional, certamente também não custa centenas de milhares de reais anunciar neles, como foi lembrado durante a reunião. Blogs são uma mídia barata, segmentada, de penetração junto a um público jovem, antenado e com poder de consumo crescente.

O intercâmbio entre blogueiros e profissionais de marketing/publicidade/vendas foi uma das partes mais proveitosas do encontro. É assim, conversando, que podemos entender melhor esse formato de comunicação que são os blogs, ainda novo para muitos.

Outras partes proveitosas? Que tal a bandeja de docinhos? Ou o almoço VIP? 😉 Ou, como sempre, a interação ao vivo e a cores?

Decorreu diretamente do encontro uma pequena mudança no slogan do Dia de Folga, que já vinha sendo ensaiada há algum tempo: de “informação com gelo e laranja” para “opinião com gelo e laranja”. Afinal, vivo afirmando que blogs são, sobretudo, opinativos, nisso residindo sua principal diferença em relação à mídia tradicional.

Mais artigos sobre o encontro com o iG: